Hauana
Vou em direção ao bar e peço uma dose.
Logo vejo ela entrar na sala com o Apolo e o meu casaco, os dois se dão bem, devem ser grandes amigos. E sim, tenho que admitir que nenhuma garota caiu tão bem no meu casaco quanto ela.
Meu próprio corpo me traiu essa noite, meu autocontrole foi inteiro pelo ralo, não senti a Hauana que conheço, perdi a fala, me perdi. Ela de sutiã em minha frente, ela me olhando na piscina e segurando meus ombros, ela sendo ela. Sorrindo, brigando, respirando. Um combo de reações perigosas para o equilíbrio de alguém.
Preciso apagar essa garota, vai ser simples, eu só preciso me enfiar em alguma outra garota, nada que a adrenalina do sexo não resolva.
Nossos olhares se batem, eu tenho que me sair dessa carga.
A Luanna aparece e me puxa dos pensamentos.
Ela bebe do meu copo e eu assisto impaciente, torturas me deixam a mil.
"Quanta audácia." comento e ela passa a língua na borda do copo.
"Então aquela ali foi a garota que lançou na piscina?" ela aponta e ri em seguida quando eu afirmo com a cabeça
"Gesto lindo da sua parte lançar a garota na piscina e em seguida dar um casaco."
Permaneço calada. É um pouco maluco, mas ela não sabe o tamanho da língua daquela baixinha. Não sabe o que realmente me fez perder o controle.
"E você curte garotas?" pergunto na inocência.
"Curto quem me convence de que vá valer a pena.."
"Mas isso só depois de uma prova não acha?" sussurro em resposta.
"Me ganha primeiro.." ela diz e eu a puxo contra mim, pressiono enquanto nos beijamos lentamente, apenas deixo a excitação tomar conta de mim.
"Continuação?" pergunto baixinho ainda tonta pelo efeito do beijo, com os lábios inchados e um sorriso cafajeste.
"Sim ou claro?" ela confirma e nos beijamos novamente.
Posso sentir os olhares em nós duas, o da Duda principalmente que está surpresa e doida pra saber o que vai rolar depois, consigo ver de relance a garota do casaco e tento não ser levada pelo seu olhar.
Olho para mim mesma, sem camisa, ainda com as calças molhadas e descalça. Hauana original.
"Minha casa é aqui perto." fazemos o esquema, ela sai na frente e eu espero um pouco. Sumo em seguida.
A rua da é deserta, silenciosa, trás uma energia horrível, e eu sem camisa nesse frio. É um perigo e tanto. Mas não me causa medo. Não mesmo.
Kiara
O Apolo descreveu ela numa frase, e descreveu na forma correta, é notável seu comportamento com garotas.
"Devia tomar algo." umas das minhas amigas, a Bia, me oferece.
"Não, de verdade, não bebo."
"O Pedro não ligaria, ele é tão tranquilo contigo." a Bia tenta me convencer.
"Não é o Pedro, sabe como sou em relação a bebida.."
"Aquela é a garota que te jogou na piscina, não é?" a Ju aponta e olhamos para a garota em frente o bar da sala, que está beijando uma outra garota.
"Ela é muito gostosa." a Bia comenta e a Ju ri.
"Ela parece novinha." a Ju diz.
"E a Luanna uma mulher." a Bia comenta.
"Vou aqui fora rapidinho." me retiro.
Saio um pouco, vejo o André todo empolgado dançando.
"Se anima Kia." ele tenta se manter de pé.
"Estou animada, qual a sua sugestão?"
"Vamos dançar." ele me puxa.
Danço algumas músicas com o André, ele manda bem, e não me gabo, mas não fico para trás quando o assunto é esse.
Resolvo ir, já está ficando tarde e esse clima de festa não é dos meus favoritos.
Entro para me despedir das garotas e do Apolo, que está com uma garota nova, sempre é uma nova.
"Já estou de saída." aviso pra eles.
"Mas já?" eles dizem em um coral.
"Sim, tenho mesmo que ir."
"Quer que eu te leve?" o Apolo oferece.
"Não, tudo bem seu bobo, eu sei me virar."
"Posso ir sem problemas."
"Não, realmente não precisa. Tchau turma." me despeço de todos.
Vou seguindo, minha casa não é longe daqui, é logo em uma rua próxima.
Lembro que tem uma rua antes, que é deserta, pouco iluminada, e me arrependo de não ter aceito a carona do Apolo, só não queria incomodar na verdade.
As pessoas somem, e sinto escurecer, uma energia forte sempre que passo nessa rua. Avisto dois caras fumando e meu coração faz um nó. O medo toma conta de mim. Mas decido seguir, já estou aqui, e correr não ajudaria muito.
"Boa noite gatinha." o maior diz e joga o cigarro no chão.
"O que faz sozinha na rua a essa hora?" o menor pergunta e eu já estou sem chão.
"Licença." peço e tento seguir mas o maior agarra meu pulso.
"Me solta! É melhor me deixarem em pa.. " grito com o restante de forças que ainda havia em mim e um deles tapa minha boca.
"Fica calminha aí gata, não adianta desespero, vai ser pior pra você." o maior diz eu tento fugir, mas um deles segura meu pulso com força. Eles começam a me tocar, e não consigo controlar o choro, que vem com toda força pela garganta. Penso em tudo, em tudo que pode acontecer depois daqui. Nunca passei aflição pior que essa antes. As lágrimas começam a rolar.
Hauana
Saio do banho com a roupa que trouxe na mochila. A Luanna já está na cama apenas com as roupas íntimas e eu sinto meu corpo ferver.
Era disso que eu precisava, era apenas isso.
Nos beijamos novamente, e dessa vez é rápido e ofegante. Deslizo minha mão pelo seu corpo e já consigo arrancar seus gemidos.
Posso sentir seus seu corpo pedindo toque cada vez mais.
Ela rebola em cima de mim e suspiro.
Estamos a mil mas estou com um pressentimento ruim, e no silêncio daquela noite consigo ouvir uma voz de fora.
"Me solta! É melhor me deixaram em pa..."
Paramos ali. A Luanna está assustada, e eu mais ainda, eu conheço essa voz porra, eu sei de quem é essa voz. Ela. É ela.
"Fica aqui!" peço e a Luanna assente em pânico.
"Liga pro Apolo, manda ele vim agora, fala que eu quero ele aqui em questão de segundos." digo rapidamente enquanto pulo da cama e vou em direção a porta.
"Tudo bem, cuidado pelo amor de Deus." Luanna me pede assustada.
Procuro pela voz. Procuro por ela. Meu coração entra em pânico, eu sei do que se trata, sei o que significa um grito de uma mulher em uma rua deserta a meia-noite, eu sei. Eu preciso encontrar com ela. Ela com certeza estava indo pra casa. Apenas indo pra casa porra. Qual o problema em ir pra porra da casa?
Avisto dois caras e uma garota, a baixinha da festa. É ela. Graças ao universo. Ela está viva e inteira. Meu coração salta pela guela e não posso negar as emoções. Não agora. Corro.
"Solta ela porra!" grito antes de chegar e os caras se assustam.
Kiara
"Solta ela porra!" ouço uma voz familiar, em meio a tanta escuridão, é aquela luz no fim do túnel, eu conheço essa voz, essa mania de falar um palavrão a cada frase. É ela, ela me ouviu de algum lugar, ela sentiu, assim como um pedaço meu acreditava em uma saída.
Eles começam a rir.
"Ora ora se não é a amiguinha do Apolo." eles atiram.
"Eu mandei soltar ela." ela diz em um tom alto e eles continuam rindo.
"Você está só agora, somos dois, e você, uma garota." eles provocam.
"Eu já mandei soltar ela porra não quero ter que pedir de novo." ela grita já vermelha de raiva. E agora eu acho que eles vão machucar ela também. Sinto meu coração apertar mais.
"Parece que não entendeu o recado.. perdeu Hauana, vamos apagar você." eles dizem, e suponho que já brigaram alguma vez. Eles também conhecem o Apolo. Estranho.
O menor me segura. O maior da alguns passos em direção a Hauana e ela acerta um soco na cara dele. Vejo ele perder o equilíbrio e cair ao meu lado com a mão no rosto.
A esperança só aumenta, e eu torço pra que a gente consiga sair daqui bem. O menor me empurra pra trás e eu bato com a cabeça na parede. Ainda meio tonta, consigo assistir a cena ao redor.
A Hauana parece perder o controle quando me vê no chão sem forças, percebo que suas veias saltam pra fora e o mel de seus olhos já estão fechados com o preto das pupilas. Eu consigo ler o corpo dela.
"Covarde da desgraça, vou fritar sua cara no óleo quente." ela grita e ele acerta a boca do estômago dela. Ela cambaleia para trás tentando esconder a dor e logo em seguida ele estoura a boca dela. Aí meu Deus. Isso é doloroso.
Ela vai pra cima e estrategicamente acerta o meio das calças dele, imobiliza o cara.
"Acha mesmo que vou apanhar pra playboy de bairro chique?" ela atira e cospe na cara do menor que está se contorcendo no chão.
"Vadia! Quebrou a porra do meu nariz." o maior se recupera e levanta com o nariz ferido. Ele vai pra cima dela e acerta seu rosto com um murro. Ouço barulho de osso sendo quebrado, e vejo a Hauana dar o melhor de si para não cair e ficar vulnerável a esses monstros. Começo a chorar, e não é mais pela dor, meu corpo dói, mas dói mais ainda ver a Hauana apanhar por tentar salvar uma garota de uma coisa que ela também não tem a menor culpa.
"É isso que se faz com uma vadia como você, sua filha da puta desgraçada." ele provoca enquanto ela limpa o sangue do nariz.
Preciso fazer algo.
"Ordinário covarde, você é um covarde, sua mãe deve ter nojo de você, desgraçado." tento distrair ele. Ela percebe o plano e quando ele se vira, o derruba.
"Eu vou acabar com você Tony, eu vou rasgar essa carinha toda." ela diz com raiva na voz e eu sinto pânico.
Ela sobe em cima dele e começa a bater, sem parar, no rosto. Eu só consigo ver sangue e mais sangue.
"Hauana por favor para." grito e ela parece não ouvir, a raiva tomou conta dela. Seu rosto já não é o mesmo. Sua respiração está falhando e ela apenas o acerta na cara. Ele defende algumas e desconta. Mas ela está por cima totalmente sem controle.
O carro do Apolo aparece e eu corro em direção a ele. Ele freia e desce desesperado.
"Kia!" ele grita e vem em minha direção.
"Eu estou bem, só faz alguma coisa!" grito tentando não chorar pela milésima vez, corremos em direção a eles. O Apolo separa os dois. A Hauana está com o nariz sangrando e o Tony meio que desacordado.
"Chega cara! Chega!" ele puxa a Hauana pra trás. Ela ainda nervosa tenta se soltar.
"Seu burro imbecil! Eu mandei a porra da Luanna te ligar e era pra você estar aqui pra me ajudar com essa porra toda, eles machucaram ela.." Hauana grita quase sem voz e acerta um murro no peito do Apolo que se espreme um pouco. Posso ver o sofrimento do Apolo por não ter vindo a tempo e por ter levado um murro também.
"Para, por favor!" eu grito e seguro o braço dela. Ela se vira rapidamente ainda com raiva e me assusto. Ela abaixa a guarda quando percebe que sou eu.
Sinto seu ritmo diminuir.