Cap. 12

10.3K 797 177
                                    

Hauana

O ódio e milhares de emoções indecifráveis me consomem agora e eu não sei qual o rumo da vez, não faço ideia pra onde ir, ou o que fazer, apenas sei que preciso ficar longe de todo mundo, e se alguém insistir em se aproximar, consequentemente será mais uma vítima.

"Me deixem em paz! Eu preciso ficar só.. melhor não insistirem.." aviso enquanto ando até a moto.

"Filha por favor podemos sentar e conversar!" minha mãe grita chorando enquanto eu ponho o capacete.

"Você teve 19 anos para isso e resolveu fazer agora? Não temos nada para falar Ohana, nada." solto com toda a minha frieza possível.

"Garota, me dê uma oportunidade, me escuta, escuta tua mãe, fica para conversamos.." o cara que diz ser meu pai implora.

"Qual é cara? Você tem filho à vontade para criar e encher o saco! Vai mesmo ficar no meu pé?" resmungo e ligo a moto.

"Hauana desça já dessa moto, você bebeu, não pode sair assim por aí! Eu sou sua mãe, independente de qualquer situação, eu te criei, me deve respeito!" minha mãe grita e eu não consigo segurar o sorriso maldito no rosto.

"Perante a constituição a madame aí não tem mais poder algum sobre mim, se não me engano já sou maior, dona do meu próprio nariz, não preciso mais de nenhum dos dois inclusive. Se explodam, não mandei me colocarem no mundo." atiro sem pensar em nenhuma vírgula.

"Hauana sempre estive com você, sou a mulher que te ama acima de tudo, te criei, vai me dizer que não tenho poder algum sobre você?" minha mãe diz mas não estou em consciência para ter um diálogo.

"O pior é que você iria continuar sustentando essa mentira." cuspo. Arranco na moto e vejo eles entrarem no carro. Sério isso? Vão mesmo dar uma de pais super protetores? Que inferno, se eles querem brincar, que comece. Estou tão alcoolizada e eufórica que se alguém me tacar um fósforo eu viro o motoqueiro fantasma.

A estrada está totalmente escura, só a luz do farol e o céu estrelado. Estou cortando o vento, e a saudade dessa sensação é aliviada a cada palitinho que sobe no velocímetro. Vejo o carro deles atrás de mim, é horrível ter um dos pais no pé, e agora eu tenho os dois.

Kiara

Eu e o Apolo pegamos a moto do meu pai sem pedir, ele não queria de jeito algum liberar o carro, disse que os pais dela iriam conseguir alcança-la, o que eu e o Apolo sabemos que não vai acontecer de jeito algum.

Preciso fazer algo por ela, esse é um momento em que ela mais deve precisar de um ombro, independente dela ter sido idiota comigo quase sempre, ela me salvou de um dos piores pesadelos que uma mulher pode passar e eu ainda penso em retribuir, mesmo sabendo que isso vai me custar paciência.

O Pedro tenta me interrogar mas tenho pouco tempo agora, nem tinha reparado sua presença no restaurante e me julgo por isso. Preciso adiantar os passos, eu e o Apolo iremos sair pelos fundos, ele conhece a Hauana mais que qualquer pessoa, sei que vai conseguir encontrar um jeito de achá-la.

Ele liga e acelera, estou sem capacete mas bem, não é hora para pensar nisso, esse é o mínimo dos problemas quando se tem uma garota alcoolizada pilotando por aí.

"Segura firme Kia! Acabo de avistar a maluca, ela está bem à frente do carro do meu pai." o Apolo grita através do capacete enquanto faz a ultrapassagem.

A Hauana nem desconfia, mas acelera a ponto de quase não conseguir fazer a curva em sua frente, o que dificulta o Apolo que não pilota o suficiente para acompanhar ela.

Já pegamos distância do pai do Apolo, mas ainda estamos longe da Hauana que perfura o trânsito com uma facilidade surreal, parece até uma bicicleta.

"Estou tão preocupado Kia! Ela está totalmente fora de si, posso sentir daqui.." o Apolo diz e sinto o mesmo no momento.

Entramos em uma estrada mais deserta, sem nenhum sinal de carro, não faço ideia de onde iremos parar. O Apolo faz o máximo para não perdê-la de vista.

"Tudo bem se eu der mais uma acelerada..?" ele pergunta com receio.

"Já era pra ter feito.." respondo apertando sua cintura para dar mais confiança.

O Apolo pisa fundo e consigo ver direitinho uma moto vermelha em alta velocidade.

"É ela! " o Apolo grita empolgado e um sorriso se faz no meu rosto.

Ela parece sentir que está sendo seguida e pisa fundo, o Apolo faz o mesmo e sinto um frio na barriga, um pressentimento ruim, como se isso não fosse acabar bem de algum modo.

O Apolo buzina para tentar dar um sinal. Tem um caminhão atravessado na pista há alguns metros dela, que está em alta velocidade e não vai parar tão cedo, ele consegue freiar a tempo pois está mais atrás. Já ela.

"Merda!!" o Apolo grita desesperado, ela olha para trás rapidamente fazendo um "não" com a cabeça e eu aperto o Apolo colocando minha rosto em suas costas, eu não quero ver isso, vi de relance a Hauana passar por debaixo caminhão junto com a moto, não quero saber o que aconteceu com aquele corpo tatuado, queria mesmo que fosse um filme, por que eu desligaria a tv.

Estou pasma, totalmente sem reação, sem acreditar no que aconteceu, desço da moto me sento no chão. O Apolo deita na pista e parece não acreditar no que aconteceu, assim como eu.

"Não pode ser Kia..." ele diz se aninhando a si mesmo, em busca de um consolo.

"Eu não estou acreditando no que acabou de acontecer." digo em choque, com um bolo no peito que vai se desfazer em lágrimas em breve. Eu queria fugir da realidade ao menos uma vez.

"Eu acabei de descobrir.. e perder uma irmã..?" ele levanta com o rosto vermelho. Ele parece estar chorando, estou sem chão, sem nada. Vim até aqui para ver a Hauana morrer?

"Não da pra acreditar.." o Apolo diz mais uma vez e sinto a dor de uma punhalada no peito. Eu acho que estou chorando muito. Ainda sentada, com a cabeça entre as pernas aquecendo a dor no peito que consome todo meu corpo.

...

Quando mundos colidem |ACASOS|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora