— Será que estamos muito atrasados?
— Provavelmente sim. — respondo.
Depois de passar o dia inteiro na pista de skiing, eu e o Matt corremos até o hotel, trocamos de roupa como dois flashes e agora estamos no elevador prontos para correr até a grande sala de jantar de aniversariantes do hotel.
Fecho os olhos e sinto o sono me dominar.
— Tenta não dormir, pimenta. Nós ainda temos que enfrentar esse jantar.
Matthew tem razão. Eu bufo e me concentro em ficar acordada. É o aniversário da Hillary, eu não posso simplesmente voltar para o quarto e fingir que não sabia sobre esse jantar. Como eu disse, eu já estou cansada de decepcionar as pessoas, e não quero fazer isso com a Hillary.
— Pode apoiar a sua cabeça no meu ombro até chegarmos lá. Você está quase dormindo em pé. — aceito a sugestão do Matthew e apoio a minha cabeça em seu ombro enquanto esperamos a porta do elevador se abrir.
Assim que a porta do elevador se abre eu e Matthew andamos até a sala de jantar encontrando todos comendo e rindo em volta da mesa. Assim que entramos todos param de comer e se viram para nos encarar.
É constrangedor.
— Por que demoraram tanto? — Hilly pergunta, cruzando os braços.
— Fui comprar o seu presente com o Matthew e não achamos nada. Depois quando estávamos voltando houve a nevasca do mês.
- Mas...filha, eu não vi nevasca alguma hoje. - O meu pai comenta.
- É porque fomos na cidade vizinha comprar o presente, aqui não tinha nada de interessante. - Minto.
Ficamos todos em silêncio.
- Sentem-se, a pizza está deliciosa. Querem algo para beber? - A minha mãe decide quebrar o gelo. Sorrio, e busco alguma cadeira para sentar.
- É a primeira vez em vários dias que vejo as três meninas super poderosas reunidas. Corrigindo: as três ruivas super poderosas. - Rio. Thomas é um idiota.
Eu e Hilly gargalhamos, mas a Nath não exala uma sequer emoção.
Lembro da conversa que ela teve com o Thomas. O que deve ter acontecido?
- Esse programa ainda existe? - A Kylie gargalha, mordendo um pedaço da sua pizza.
- Gostava mais de peixonauta. - O Jason conta, bebericando o seu suco.
- Como assim, gente? Backyardigans era mil vezes melhor. - Thomas diz parecendo estar indignado.
- Você diz isso porque nunca viu Hannah Montana. - Digo.
- Quem é Hannah Montana perto da Uniqua? - Thomas rebate com raiva. Ele parece estar irritado.
- Por que está com essa cara?
- Quantos graus de miopia você tem para não conseguir ver que eu estou estressado?
- Que grosseiro! - Respondo.
- Desculpa, estou estressado. Netflix tirou a minha série do ar. Qual é o problema que eles têm comigo?
- Odeio quando isso acontece. - A Kylie revira os olhos. - Vamos ser sinceros, Thomas, ninguém barra as três espiãs demais.
- Vocês são doentes. - Matthew conclui depois de um tempo.
- Eu gostava de Bob o construtor e o maravilhoso Toy Story. - Hillary diz.
- Você é muito nova Hillary, não tem direito à opinar. - Nathalie brinca.
- Deixa ela dar a opinião dela, filha! Sua irmã já está grandinha, daqui à pouco vai estar até namorando.
- Tia Susi, você se drogou?! A Hillary só vai namorar com trinta anos e com meu consentimento. Se o cara for um zé droguinha eu não aceito não. - O Thomas brinca, rindo, e a Hillary fica um pouco envergonhada.
- Você é ridículo, Thomas! Deixa a garota. Ela está na idade. - Kylie reclama.
- Hilly ainda é um bebê. - Thomas protesta e nós rimos. - Falando nisso, pirralha, eu tenho que te entregar seu presente. - Ele sorri pegando uma caixa enorme da Barbie atrás da sua cadeira, com um laço rosa gigantesco.
- Você sabe que eu odeio Barbie. - A Hillary resmunga fazendo bico.
- Por isso mesmo eu comprei uma caixa da Barbie.
Ela mostra a língua para o mesmo e pega a caixa da sua mão, abrindo-a logo em seguida. Ela toma um susto com o que vê, e chora em seguida.
- OBRIGADA, THOMAS! - Ela pula em cima dele e começa a agradecer milhões de vezes enquanto ele ri.
- De nada, pirralha!
Todos ficando curiosos para saber o que tem dentro da caixa. Hilly volta a se sentar na sua cadeira depois de dar um abraço apertado em Thomas e tira um cãozinho pequenino, peludo e fofo da sua caixa.
- Meu Deus que coisinha mais fofa desse mundo! - Minha mãe vai até o cão. Ela é muito apaixonada por cães.
Todos ficamos emocionados com o maravilhoso e mais novo integrante da família. Eu sorrio.
- Obrigada, Thomas. - Sussurro baixinho enquanto todos os outros estão distraídos demais olhando e admirando o cão.
- Pelo que?
- Pelo presente, e por tratar a minha irmã como se fosse a sua também. Eu só tenho a te agradecer. - Sorrio e ele sorri de volta.
- Eu acho que o nome do cachorro deveria ser Thomas. - Kylie comenta dando uma garfada no seu macarrão com molho vermelho.
- Por que? - Pergunto.
- Porque ele é um cachorro. - Ela termina a sua piada e começa a rir e gargalhar, assim como todos.
- Você é péssima, Kylie! - Thomas resmunga.
- Sou realista.
Levo um susto ao ver Ethan entrar no salão ao lado de alguns amigos.
Droga! Droga! Droga!
Finjo deixar um garfo e uma colher caírem debaixo da mesa. Me escondo lá por alguns segundos para o Ethan não notar a minha presença. Quando sinto que ele foi embora eu levanto e dou de cara com o Ethan em frente à minha cadeira, encarando o Matthew Sink, que está sentado ao meu lado.
Ao me ver ele leva um susto.
- Vocês dois viraram amigos? - Ele pergunta apontando para nós dois.
Todos em volta da mesa ficam em silêncio apenas observando a novela mexicana que começa a se desenrolar.
- Eles são namorados. - Hillary diz como se fosse algo óbvio.
Fecho os olhos e respiro fundo. Que droga! Ele não sabia que eu estava fingindo ser namorada do Matthew.
- Isso é algum tipo de brincadeira?
- Ethan, cai fora! Ok? - Matthew começa a se estressar.
- Julieta, me diz que isso é alguma palhaçada! - Ethan ignora o Matt e olha para mim, me implorando com o olhar para eu dizer que é uma grande mentira, e que eu não namoro com o Matthew, mas para a sua infelicidade eu me mantenho calada. Ele passa a mão pelos seus cabelos como se estivesse irritado.
- Ethan... - Começo, mas ele me interrompe.
- Não, Julieta! Eu pensei que você estava a fim de mim. Desde aquele dia do nosso encontro eu não consigo te tirar da cabeça. - Ethan confessa.
- Encontro? - O meu pai arqueia a sobrancelha.
Droga! Droga! Droga!
- Encontro? - Matthew repete a pergunta, me encarando com a expressão surpresa.
- Encontro? - Até eu pergunto.
Todos me encaram com os olhos arregalados, principalmente os meus pais e minhas irmãs, que não fazem a mínima ideia do meu namoro falso com o Matthew.
- Gente, eu posso explicar tudo.
Matthew levanta da cadeira como se estivesse incomodado com a situação.
- Obrigada pelo jantar, gente. - Ele vai até minha irmã e dá um beijo no topo da sua cabeça. - Peço minhas sinceras desculpas, Hillary, mas acho que preciso descansar ok? Quero ir embora.
- Matthew, fica aqui. - Minha mãe pede, com pena dele. Ela gosta muito dele, assim como o meu pai.
- Tia Susi, eu estou muito cansado. Preciso descansar. - Ele diz antes de sair do salão o mais rápido possível.
A culpa invade o meu peito. Eu só decepciono as pessoas!
Ethan deveria saber que não era um encontro! Eu só queria ter um amigo aqui no Chile, e ele transformou tudo em um romance. Eu sei que a culpa não é dele, é minha. Eu deveria ter deixado as coisas mais claras.
Ethan se afasta, decepcionado, e anda até os seus amigos sentados na outra mesa apenas observando.
Meus pais, minhas irmãs, e todos os outros me encaram cabisbaixos. A culpa me invade mais uma vez.
- Licença. - Levanto da cadeira e corro até a saída do salão. Preciso conversar com o Matthew.
Procuro-o por todos os cantos da recepção com o coração acelerado.
Eu preciso contar para ele o que eu sinto, preciso contar para ele que eu gosto dele. Espero que Matthew Sink acredite nas minhas palavras.
- Boa noite, senhor! Você viu um garoto alto de cabelo castanho por aqui? - Pergunto desesperada e assustada para um dos senhores da recepção.
- Acho que ele acabou de sair para fora do hotel. - Ele me conta e eu sorrio correndo para o lado de fora.
E aí eu o encontro
Atrás de um dos muros do lado de fora da recepção
Beijando uma garota.
Muito bonita por sinal.
Ele agarra a sua cintura enquanto ela passa as mãos por todo seu cabelo. As mãos dele vão descendo até a coxa da garota e o beijo se intensifica. A loira sorri no meio do beijo e os lábios de Matthew descem até o seu pescoço. Eles se beijam sob a luz das estrelas.
E eu, fiquei lá parada, com o coração na mão e com lágrimas nos olhos.
Eu quis fugir, quis correr. Mas, tudo aquilo me feriu tanto, que eu não consegui nem me mover.
E aquilo doeu
Doeu como o inferno
Porque eu respirava paixão
E respirar nunca doeu tanto como naquele momento.