Aquele Piloto (Romance Gay)

By IanFontinele

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Aaron é jogador de futebol americano em uma escola particular de adolescentes importantes em Colorado (US). A... More

Correr Para Viver?
Me Intimide Com Seu Olhar
Ás Vezes Não Temos Escolha
Tudo Para Ficar Mais Próximo De Você
Uma Visão, Várias Vozes
Falta De Conhecimento Traz Ignorância
Impulsos Provocados Pela Raiva
A Mídia E A Falta De Privacidade
Quais As Consequências Dessa Paixão?
O Nervosismo Provocado Pela Falta De Informação
Por Água Abaixo
Em Que Foi Se Meter?
A História Se Repete
Se Gosta Tem Que Tentar
O Outro Lado Da Mídia
Manipulação Mental Em Forma De Pessoa
Vitória Pública Merece Comemoração Particular
Foco Para Alcançar Os Sonhos
Descobertas E Emoções À Flor Da Pele
Uma Tragédia De Grande Impacto
Tudo Em Câmera Lenta
Consequências Doloridas
O Mundo Em Uma Nova Perspectiva
Uma Nova Rotina Com Liberdades
O Amor Sempre Ajuda A Vencer Obstáculos
Aceita Ser Feliz Comigo Pra Sempre?
E Aí, Tá Pronto?
Mais Invasão, Menos Paciência
Tente Segurar Sua Raiva
Não Divido O Que É Meu
Desconforto E Compromissos
Ódio Correndo Pelas Veias
O Nascimento De Um Novo Romance?
Início De Algumas Paranoias
Reconhecimento Merecido
Experimente O Gosto Amargo Do Meu Ódio
Deixe-me Descobrir Quem Realmente É Essa Mulher
Fim De Uma Fase
Amigos Não Dizem Adeus, Dizem Até Logo
Too Good At Goodbyes (Penúltimo Capítulo)
Olá, Vida Adulta (Último Capítulo Part I)
Olá, Vida Adulta (Capítulo Final)
Nota Final
Capítulo Bônus (Único)

Uma Vida Em Exposição

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By IanFontinele

×Visão de Aaron

– Você é ainda mais lindo pessoalmente... – A mulher que me maquiava comenta. Ela é bem simpática e engraçada, desde que cheguei no estúdio fazia brincadeiras pra tentar melhorar meu nervosismo. – Não é Alaric? – pergunta ao rapaz que a ajudava.

– Sim, ele é uma graça. – o rapaz fala e eu sorrio.

Após ser maquiado, fui andando para o estúdio, é um programa ao vivo e fui obrigado a ir depois da escola. Eu só queria ir pra casa jogar vídeo game já que estava longe de Finn, mas minha mãe me obrigou a ir pra aquele lugar.

– Ele é considerado o melhor atleta do estado, um rapaz engraçado e de uma índole incrível, além de beleza comentada desde que foi visto pela primeira vez. Hoje a nossa entrevista vai ser com... Aaron McDevitt. – vou andando até a apresentadora com um sorriso falso no rosto, olhando para as câmeras como se eu fosse a pessoa mais feliz do mundo.

Hoje eu tenho consciência de que uma pessoa não é o que você vê na televisão ou nas redes sociais. Muitas pessoas, aparentemente, felizes são totalmente infelizes na sua vida pessoal. Muitas dessas que sorriem demais em fotos ou em entrevistas, voltam para tristeza, quando entram em casa e isso é... péssimo.

– Muito obrigado, Cassie. – me sento na outra cadeira do estúdio, de frente pra ela.

– E então, vamos começar pela sua escola. – concordo com a cabeça.

– Claro. – no telão ao lado, os comentários no Twitter sobre a minha entrevista passavam em uma velocidade enorme, deixando quase impossível a leitura dos mesmos. A entrevista estava acontecendo em um horário de pico adolescente, por ser após a saída do pessoal da escola.

– O primeiro jogo já está marcado, como vem sendo a tensão durante esse tempo para treino? – Cassie pergunta e eu sorrio, entrelaçando minhas mãos sobre a mesa.

– O técnico Bratt consegue fazer milagres com aquele time. – ela concorda, mostrando que entende o que eu digo. – Todos nós trabalhamos muito para manter o senso de equipe para que ocorram bons treinos e posteriormente um ótimo jogo, mas ele sabe fazer com que o nosso foco não seja perdido.

– Claro que sim. Os seus pais apoiam sua carreira de jogador de futebol americano? Tem expectativas de continuar jogando quando for pra faculdade? – reflito, respirando fundo e sorrindo em seguida, mais uma vez.

– Claro que sim, estava pensando em ir pra Universidade daqui, do Colorado mesmo e jogar por lá. 

– É muito importante continuar a carreira de jogar, certo? –ela pergunta e eu concordo com a cabeça, umedecendo a boca com a língua e me preparando para responder, enquanto gesticulava.

– Eu acho importante sim, sempre foi um sonho pra mim e desde muito novo meu pai sempre me apoiou nos meus sonhos. – concluo. Isso era verdade, quando eu falei que queria jogar futebol americano, antes mesmo do meu pai ser eleito, ele me apoiou bastante, como ninguém antes.

– Concorda comigo, Aaron que... – ela olha mais uma vez para a ficha de perguntas e eu já sabia que tinha algo errado. – É importante também mostrar a representatividade em meio as pessoas, já que não existem muitos jogadores homossexuais assumidos no meio do esporte? –  meu sorriso dá uma leve neutralizada.

– O que? – pergunto de volta, como se não tivesse ouvido. Minha vontade era tomar aquela ficha dela e rasgar, afinal eles tinham me colocado em uma emboscada.

– Bom, se quiser falar da sua homossexualidade... – eu não acreditava que ela estava falando isso.

– Desculpe, é que eu não achei que fôssemos falar da minha vida pessoal. – corto, segurando exaltação.

– É que acabou de chegar essa foto... – a foto em questão é a minha foto beijando Finn e foi colocada no telão, atrás de nós. A primeira coisa que me veio na cabeça é que o Finn fica bem bonito de costas.

– Ah, sim... – recolho minhas mãos de cima da mesa e olho pra ela em seguida.

– E então, tem algo a dizer sobre ela? – Cassie pergunta. A barra onde mostrava os comentários do Twitter aumentou ainda mais, começou a voar e um rapaz avisou que entramos no trending de assunto mais comentado dos Estados unidos aquele dia. Sim, a entrevista estava sendo transmitida para todo o país e para a internet.

– Bom, eu tô com um rapaz, acredito eu. – respondo, em tom irônico, observando a foto mais uma vez. – Um rapaz bem bonito. – Cassie solta um sorriso com a minha brincadeira. 

Eles provavelmente esperavam que eu fosse ficar incomodado e me recusasse a responder, mas não pretendia dar esse gosto para essas pessoas. Além disso, fui obrigado a vir, então faria com que meus pais se arrependessem disso.

– Então, retornando a pergunta. Você acha importante ter mais representatividade nesse meio? Tem alguém dentro do futebol americano profissional que te inspira? – Cassie pergunta e imediatamente eu sinto seu tom de voz mudar.

– A ser gay? – ela põe as fichas onde estavam as perguntas na mesa, se apoiando nela em seguida.

– Não necessariamente. 

– Bom, eu não tenho como base absolutamente ninguém pra me inspirar em como jogar ou como ser, mas em questão de coragem com certeza o Michael Sam. Quero fazer a minha marca no futebol americano, por isso que não me vejo imitando ninguém. Mas em questão de ter coragem o suficiente para expor quem é de verdade, com certeza o Michael.

– Oh, o Michael. 

– É, ele sofreu preconceito por ser gay e tinha medo de não entrar pra NFL, mas veja só... tudo bem que ele mal pode jogar, afinal o preconceito no esporte sobre homossexuais é ridículo. Parece que a humanidade evolui, mas o esporte faz questão de projetar imagens de que ser hetero é o melhor, por isso a quantidade enorme de esportistas dentro do armário ou de esportistas que só se assumem após se aposentar.

– Então você se assume homossexual, Aaron? – Cassie pergunta e eu sorrio, um sorriso mais irônico do que os últimos.

– Depende. – digo, ainda sorrindo.

– Do que? – me ajeito na cadeira, ficando totalmente sério.

– As pessoas vão me ver da mesma forma se eu me assumir? Ou ao invés de avaliarem minha potência em campo vão se preocupar e me rotular unicamente como "o cara gay filho de político que joga futebol americano"? – olho no fundo de seus olhos e Cassie parece desmontar.

– É... – ela tenta falar algo, mas eu interrompo.

– Porque tenho a impressão que a minha sexualidade vale mais do que o meu talento. – começo. – Uma fofoca sobre quem eu beijo vale mais do que a minha potência em campo e a minha índole. Você poderia ter falado dos meus planos futuros como jogador, poderia ter falado mais da minha base familiar sobre o esporte que eu pratico, mas não. Achou melhor jogar um furo pra puxar audiência.

– Aaron...

– Eu sei que você foi contratada pra isso e que é pra isso que a imprensa serve: se enfiar onde ninguém chamou, mas eu não tinha me assumido antes, por não me sentir preparado. Pela minha família não sentir que era o momento. 

– Tudo bem, eu posso retirar as perguntas.

– Mas eu não quero. Já que vocês estão tão desesperados por audiência e pela minha vida pessoal que nem puderam respeitar o meu momento de descobertas comigo mesmo, vou dizer que sim, eu sou homossexual. – falo, enquanto gesticulo. Após a última frase, eu coloco minhas mãos na mesa, cruzo meus dedos e encaro Cassie. – Satisfeita? – pergunto, olhando nos olhos dela, que claramente fica intimidada.

– Queria agradecer a sua presença aqui hoje, Aaron. E pedir desculpas por qualquer inconveniente. 

– Tá tudo bem, só não quero fazer como muitos outros jogadores que vivem a vida inteira sabendo quem são, mas não tem coragem o suficiente pra falar. – fico de pé e cumprimento ela. – Por último, pra toda a mídia, uma dica de como ser melhor: preserve pelo menos a saúde mental das pessoas, eu ou qualquer artista não merecemos sofrer pra que vocês tenham mais uma pauta semana que vem. 

– Espero que possamos conversar mais vezes. – ela diz.

–  Não vamos. – concluo, dando as costas. 

Saio do estúdio e percebo que aquela entrevista foi bem mais rápida do que achei que seria. Eu sabia que não viria nada de bom disso tudo, afinal... mesmo o Michael, primeiro jogador assumidamente homossexual que entrou para a NFL, não jogou tanto e agora não joga mais, então... o que será da minha carreira no futebol? Nem eu sei.

Não é comum existir um jogador assumido gay em futebol americano. A maioria dos atletas que são, não assumem até o fim da carreira e quando se assumem, sofrem problemas imensos com os times. Eu sabia que meu pai também ia sofrer com a exposição que eu vinha levando, principalmente pela televisão alcançar muitas pessoas, ainda mais junto com a internet.

Bom, levando em consideração o que o ex-jogador Ryan O'Callaghan que se assumiu esse ano tinha planos de se matar na aposentadoria... só me vem o que ele mesmo disse sobre isso. Quer exemplos? Frases como: "Ninguém vai supor que um jogador de futebol americano grande é gay" e "Por isso um time de futebol era um lugar tão bom para se esconder" vieram na minha mente, enquanto eu andava por aquela emissora, pensando que agora a minha vida dentro do esporte seria destruída.

Quando saí do lugar, dezenas de paparazzi estavam loucos, lutando por uma foto, por uma palavra minha, por alguma declaração após ser exposto. Todos eles estavam atrás de grades, com repórteres que também eram barrados pelos seguranças.

– Aaron, você tem mais coisa a dizer? – um dos repórteres pergunta.

– Aaron, como você acha que a sua vida vai ficar agora que se assumiu? – outro repórter pergunta.

– Aaron, o governador McDevitt sabia de sua opção sexual? Como ele reagiu? – um outro repórter pergunta e essa pergunta me chama atenção.

– O que você disse? – pergunto a ele.

– Como seu pai reagiu com isso? – ele repete meia pergunta e eu o encaro.

– Com a minha o que? Você chamou de opção? 

– Vamos Aaron, sua mãe tá te esperando. – Austin, o motorista que estava dirigindo pra mim no dia fala.

– Espera. – peço. – Primeiro eu quero dizer que não é opção pra ninguém ser homossexual. Não é opção, você não escolhe quem amar, você não escolhe nada disso, então antes de me fazer uma pergunta é melhor você estudar direito como deve falar. – respondo e o rapaz que parece ficar intimidado sai andando com os seguranças.

No carro, só conseguia pensar na bronca eterna da minha mãe sobre mim. Eu não estava bem, mas mesmo assim decidi ver mais uma vez a entrevista do Ryan sobre tudo o que ele passou e assim fiquei, depois de alguns minutos.

– "Ser gay não era apenas um detalhe da minha vida, isso a consumia. Era tudo que eu conseguia pensar. Mas agora que eu não escondo, raramente passa pela minha cabeça". – ele fala e após disso eu guardo meu celular, olhando pra janela do carro.

Em certo momento, meu celular começou a vibrar, com muitas notificações de Instagram e Twitter. Minhas contas foram invadidas por comentários, muitos de apoio e muitos de xingamento também. Comentários pedindo para que o Mitchell se tornasse o novo capitão, falando que eu não era homem pra jogar futebol entre outros, dominaram meu telefone.

– Para o carro. – peço para Austin.

– O que? 

– Para a merda do carro. – ele freia, parando o carro.

Quando desço, jogo meu celular no chão com força, pisando diversas vezes nele com força. Eu me sentia um impotente, um ser sem caráter e índole. A pior parte é que eu não acreditava em nada disso, mas os comentários negativos sobre mim me fizeram pensar. Eles me cortaram, eles me consumiram.

– Aaron, a gente precisa sair daqui. – Austin fala e eu entro no carro. – Pega o resto do seu celular. 

– Pra que? Não quero mais essa bosta. – rebato e ele sai do carro. Austin pega o resto do meu celular e entra novamente, colocando no porta-luvas.

– Em algum momento você vai precisar. – ele fala e volta a dirigir. Eu estava abalado, mas não queria chorar na frente dele e muito menos na frente da minha mãe. Precisava do Finn. – Seu pai mandou avisar que está voltando.

– Não quero ter contato com ele. – aviso, enquanto olho para a janela, observando as casas e prédios que passavam por nós.

– É, mas ele foi confrontado pra vir. 

– Sabe de mais alguma coisa? 

– Sei que enquanto ela te perguntava sobre a sua sexualidade, sua mãe ligou. Ela disse que ia contornar a situação ou você não teria uma carreira no futebol. – seguro minhas lágrimas.

– É uma droga esse mundo.

– O preconceito bate na porta o tempo inteiro, Aaron. Mas se você não se levantar e não aguentar a porrada, como as pessoas no futuro vão poder falar abertamente quem são?

– Como? 

– Você não foi apedrejado hoje, porque antes de você, o Michael e o Ryan falaram que eram e você sabe disso. Eles aguentaram as pancadas que vieram e agora você tem que aguentar, ajude as próximas gerações. Se você mesmo não for um bom motivo pra resistir, resista pelos que virão. Não deixa que esse momento ruim faça você se mascarar novamente. – ele pede, me olhando pelo retrovisor e eu confirmo com a cabeça.

– Valeu, Austin. – ele concorda com a cabeça também.

– Estou ao seu dispor, senhor. Sempre.

Quando chegamos em casa, a minha mãe gritou bastante comigo, como se eu tivesse mandado aquela bendita foto pro programa ou tivesse ido porque quis pra lá. Eu nem sabia como aquilo tinha ido parar ali, então como eu poderia ter mandado?

Depois de longos minutos, ela finalmente me deixou ir para o quarto e foi nesse momento que eu me joguei na cama, abracei meu travesseiro e comecei a chorar. Eu chorei tanto, que depois de horas não saiam mais lágrimas dos meus olhos. Meus olhos ficaram vermelhos e inchados, como se eu estivesse com conjuntivite ou qualquer outra doença.

No jantar, Lisa me trouxe comida. Ela tentou conversar, mas como eu não estava pra papo, ela me deixou ali sozinho novamente. Mais tarde a luz do meu quarto se acendeu. Eu logo fiquei irritado, pois não queria falar com ninguém.

– Você pode, por favor, ir embora daqui!? – falo em alto tom me sentando na cama e quando abro os olhos, Finn está diante de mim. – Finn? – minha voz volta a ficar chorosa.

Ele, então, abre os braços e eu saio depressa da cama, indo até ele e o abraçando forte. Fecho a porta do quarto e dou vários beijos nele, em um tom claramente desesperado. Finn estava cheiroso e parecia ter acabado de tomar banho, pois seus cabelos estavam molhados.

– Eu tô com você, Aaron. – ele tenta me acalmar, enquanto continua me abraçando, depois de receber meus beijos.

Eu acabei chorando novamente e dessa vez ainda mais. Puxei Finn para se deitar comigo na cama ele fez. Enquanto estávamos de conchinha, chorei por mais um longo período seguido, até pegar no sono, com ele me fazendo cafuné o tempo inteiro, tentando me manter calmo.

No dia seguinte, quando acordei, Finn ainda dormia atrás de mim, um sono pesado. Eu me levantei e fui escovar os dentes. Quando saí do banheiro, ele ainda dormia. Finn estava relaxado, como estava na outra vez que dormiu na minha casa, mas não demorou muito até ele acordar e ficar me olhando.

– Dormiu bem? – ele pergunta e eu confirmo com a cabeça, segurando ainda mais choro que viria em seguida. ele, percebendo que eu ainda não estava bem, se levanta rapidamente e me abraça novamente, acabamos ficando assim por muitos minutos.

Quando saímos do quarto, meu pai tomava café com a minha mãe na mesa, eles conversavam sobre algo relacionado ao governo, mas assim que nos viram ficaram calados.

– Bom dia aos senhores. – meu pai diz.

– Bom dia, pai. – respondo. Acabo pegando a mão de Finn e entrelaçando nossos dedos. Já ele, segurou nossas mãos com força, me dando apoio.

– Bom dia, governador McDevitt. – Finn responde e meu pai o cumprimenta com um movimento rápido com a cabeça.

– O da esquerda... – meu pai fala se referindo a mim. – Você tem uma entrevista sobre diversidade de gênero mês que vem na Califórnia. – avisa e volta a olhar para comida, comendo mais um pouco em seguida.

– O que? – ele me encara, mastigando a comida.

– A Gloss Magazine quer promover um bate-papo com você. 

– Pai, você tá falando sério? 

– Tô. Fora a Ellen, quantos filhos de governadores você sabe que são gays? Agora que você é assumido, eles querem te ouvir. Depois do que você disse, eu recebi apoio de algumas pessoas, inclusive de um senador, o que foi bom. – ele explica. Era como se tivesse acabado de chegar em casa, pois ainda estava de terno e todo arrumado, como se tivesse vindo de uma reunião.

– Pai... – tento falar, mas ele me interrompe.

– Não vai ser fácil. – meu pai respira fundo. – Querem que você saia do time, querem que eu me posicione contra você e querem que eu faça você ir na televisão novamente pedir desculpas e dizer que não é assim que funciona, ou seja... que mentiu, que enganou a imprensa e que não é gay. Me pediram pra te convencer a se assumir pelo menos bissexual, isso é um abuso. Ninguém me diz o que fazer na criação do meu filho! – ele diz, irritado.

– Eu não sei como aquela foto foi parar lá. – digo, apertando a mão de Finn e ele acaricia minha mão com seu dedão.

– Eu sei. Eu sei que vocês não têm culpa e eu não vou brigar ou gritar com vocês. Mas eu quero você vocês vejam o que está acontecendo e saibam que era exatamente isso que eu queria evitar. Eu não sou uma má pessoa... – meu pai reflete em voz alta. – Eu sou uma má pessoa? –  pergunta, olhando pra Lisa que faz um "não" com a cabeça, olhando pra minha mãe em seguida que faz o mesmo gesto e me encara.

– Não, pai...

– Obrigado. – ele diz. – O fato é que... – meu pai respira fundo. – Estávamos pensando de você ir morar na Califórnia.

– O que?

– Você conhece esse estado? Esse lugar é conservador, você vai sofrer preconceito, as pessoas vão rir de você, você não vai conseguir estudar direito e vai estragar a sua vida. Boulder ainda é minimamente mais calma que aqui, mas mesmo assim. Você sabe que aqui as coisas são péssimas para casais homossexuais.

– Pai, eu tô no meu último ano... – começo a falar, mas mais uma vez ele me interrompe.

– E ainda tá no começo do ano letivo. Você vai ter mais chances de mostrar seu valor em São Francisco ou Washington DC, onde a sua vida não vai virar o foco dos holofotes, você vai poder jogar, você vai poder ser você. – ele explica. Eu sabia que era pro meu bem, mas eu não sabia se era o melhor pra mim no momento.

– Eu não quero me separar do Finn.

– Tá tudo bem, olha... não tem problema, você vai ser feliz. E eu nem fui exposto. – Finn fala e meu pai limpa a garganta.

– Foi sim. 

– Como é? – pergunto.

– Eu falei que não queria vocês dois juntos, um dia depois o bonitinho aí foi te encontrar e alguém tirou essa foto. – meu pai fala, me jogando o Ipad.

A foto foi tirada no dia em que conversamos. Finn estava encostado no carro e eu o beijava, dessa vez ele quem estava de frente para a foto e tinha seu rosto exposto. Na manchete, que tinha letras grandes e ressaltava o meu relacionamento escondido do mundo, a reportagem dizia: É oficial. O filho do governador James McDevitt mantém relacionamento homoafetivo com Finn Longford, rapaz que foi acusado de tráfico há alguns anos atrás.

Parece que o que é fora da lei é realmente mais atrativo. Hoje, após se assumir homossexual, tivemos mais fotos de Aaron McDevitt, filho do governador James McDevitt beijando quem parece ser o mesmo rapaz da cachoeira de dias atrás. O fato é que: O rapaz de ambas as fotos se chama Finn Longford, foi preso anos atrás por tráfico de drogas e era, também, um dos envolvidos na investigação policial que procura acabar com os rachas de rua no subúrbio de Denver.

Aaron McDevitt era o mais cotado a ocupar a posição mais importante no campeonato estudantil de futebol americano, mas agora já sabemos que o novo mais cotado se trata de Mitchell, filho do prefeito e melhor amigo de Aaron.

Ao terminar de ler a matéria, olhei pra Finn, que colocou a mão no meu pescoço e me puxou, deixando que nossas cabeças se encostassem. Eu respirei fundo e bloqueei o Ipad, colocando-o sobre uma mesa próxima de mim.

– Agora você entende? – meu pai pergunta.

– Eu não quero ir embora agora. – meu pai revira os olhos. – Olha, eu tenho amigos, tenho uma vida. Eu quero ficar pelo menos até as férias de inverno. – ele dá de ombros.

– É uma escolha sua, mas se prepara pra perder o cargo de capitão do time.

– Tanto faz. – digo, mas é claro que é mentira. Eu me importava demais com o meu cargo.

– E o relacionamento de vocês? 

– O que tem?

– Pretendem assumir? Ou vai continuar escondendo o Finn? Todos sabem de vocês agora. – meu pai fala. Eu agradecia silenciosamente o fato da minha mãe ficar calada naquele momento.

– Eu não sei. 

– Tenho que fazer uma ligação. – Finn fala, após olhas as horas no celular.

– Pra quem? – meu pai pergunta.

– Pro meu chefe, vai dar meu horário, tenho que falar que vou me atrasar. – Finn explica e meu pai faz sinal de desdém com a mão.

– Não precisa, eu já liguei e ele te deu folga hoje. O senhor McDevitt também não vai pra escola hoje. Mas eu espero um posicionamento. Outra coisa... – meu pai fala, pegando uma caixa e me jogando ela.

– O que é? 

– Seu celular. Se quer pelo menos conquistar a simpatia de todos com essa história, começa pela internet. 

– Eles me odeiam... sempre me chamaram de antipático, por eu não conseguir socializar como o Mitchell, agora tudo piorou.

– Não. Antes já tinham fãs clubes com seu nome, agora tem mais. A diferença é que esses que foram criados agora tem como alvo o público gay. Eles esperam que você diga algo. Bem-vindo a exposição completa da sua vida. – meu pai fala.

– Eu posso ir pro meu quarto?

– Vai, daqui a pouco a Lisa te leva o café de vocês. – meu pai conclui.

– Tudo bem. – dou as costas e Finn me segue.

×°×

– Tem comentários falando que eu sou bonito? – Finn pergunta, tirando onda.

– Tem, mas quero deixar claro que você é lindo... e é meu. – digo. O astral estava baixo no meu quarto.

Já tínhamos tomado café e Finn já tinha avisado Emma de tudo. Por sorte , ela não foi atingida com essa maré de notícias sobre nós dois. Finn estava sentado e eu estava deitado sobre seu colo. Ele acariciava meu rosto, enquanto assistia filme e eu estava no celular, vendo os comentários que tinham crescido ao meu respeito.

Comentários positivos acabaram se tornando mais comuns que comentários homofóbicos e diversas revistas ao redor do mundo decidiram contar a novidade a respeito da minha sexualidade por aí. Felizmente, algumas se referiram com tons de deboche e sarcasmo a forma invasiva como fui exposto no colorado e deixavam claro que eram contra essa invasão clara de privacidade de um adolescente. Muitos usuários me deram apoio, mas é claro que muitos comentários negativos vieram também.

"Olha, eu não acho que ele tinha obrigação de se assumir gay e nem acho que a mídia tem o dever de arrancar ninguém do armário. É a privacidade dele, se ele quisesse falar ele deveria ter dito." – Olívia pelo Twitter.

"Aposto que ele não vai conseguir jogar, como foi com o Michael. Claro que é triste, afinal vai ser mais um grande talento desperdiçado pelo preconceito no futebol americano." – Lukas pelo Twitter.

"Eu achei ótimo. Futebol americano não é coisa pra bicha, se quer ser viado que seja fora do meu esporte favorito." – Thalles pelo Twitter.

"Não acho que seja ruim, ele sendo gay ou não, o show do intervalo do NFL vai ser foda de qualquer forma." –Scar pelo Twitter.

-Para de ler comentários e vem assistir comigo. – Finn pede, com voz manhosa. Acho que ele não se importava com nada e queria apenas curtir a minha companhia, por isso guardei o celular.

– Tá vendo o que?

– O sexto sentido.

– É filme de terror... – ele sorri.

– Exatamente, aí todas as vezes que você sentir medo, pode agarrar em mim. – Finn fala e me olha.

Passamos o dia inteiro vendo filme e a noite Finn teve que ir pra casa. Não preciso nem dizer que no dia seguinte ir à escola foi difícil. A primeira parte complicada foi chegar nela. Na frente da escola paparazzi estavam aos montes, tentando tirar fotos minhas e por isso só cumprimentei meus amigos quando estava dentro do prédio.

– Que merda. – Alec fala, quando lê a matéria.

– O seu pai disse o que? – Amber pergunta. Mitchell estava sentado conosco, mas não perguntava nada sobre o assunto.

– Me deu a opção de ir pra um estado melhor que esse pra gays, aqui eu não vou conseguir ser nada. – Amber parece sentir o peso da decisão.

Não preciso nem dizer que os olhares de todos nos seguiam, enquanto estávamos juntos. Todos no refeitório nos encaravam, ou melhor... me encaravam como se eu fosse uma aberração.

– Isso é uma merda. Meu irmão ficou chateado do irmão da namorada dele ter sofrido essa exposição. – Alec fala e eu o encaro.

– O que? – pergunto.

– Meu irmão, o Marc, namora a Emma, irmã do Finn. – fico perplexo, o encarando por alguns segundos.

– Você tá falando sério? 

– Tô, ué, foi ele que escolheu meu nome depois do início da transição. Ele queria algo pra parecer uma dupla dinâmica, aí ficou Alec e Marc. – Alec fala e faz Amber e Mitchell sorrir.

– Você acabou de me dar uma ideia. – todos me olham.

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