Aquele Piloto (Romance Gay)

Door IanFontinele

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Aaron é jogador de futebol americano em uma escola particular de adolescentes importantes em Colorado (US). A... Meer

Correr Para Viver?
Me Intimide Com Seu Olhar
Ás Vezes Não Temos Escolha
Tudo Para Ficar Mais Próximo De Você
Falta De Conhecimento Traz Ignorância
Impulsos Provocados Pela Raiva
A Mídia E A Falta De Privacidade
Quais As Consequências Dessa Paixão?
O Nervosismo Provocado Pela Falta De Informação
Por Água Abaixo
Uma Vida Em Exposição
Em Que Foi Se Meter?
A História Se Repete
Se Gosta Tem Que Tentar
O Outro Lado Da Mídia
Manipulação Mental Em Forma De Pessoa
Vitória Pública Merece Comemoração Particular
Foco Para Alcançar Os Sonhos
Descobertas E Emoções À Flor Da Pele
Uma Tragédia De Grande Impacto
Tudo Em Câmera Lenta
Consequências Doloridas
O Mundo Em Uma Nova Perspectiva
Uma Nova Rotina Com Liberdades
O Amor Sempre Ajuda A Vencer Obstáculos
Aceita Ser Feliz Comigo Pra Sempre?
E Aí, Tá Pronto?
Mais Invasão, Menos Paciência
Tente Segurar Sua Raiva
Não Divido O Que É Meu
Desconforto E Compromissos
Ódio Correndo Pelas Veias
O Nascimento De Um Novo Romance?
Início De Algumas Paranoias
Reconhecimento Merecido
Experimente O Gosto Amargo Do Meu Ódio
Deixe-me Descobrir Quem Realmente É Essa Mulher
Fim De Uma Fase
Amigos Não Dizem Adeus, Dizem Até Logo
Too Good At Goodbyes (Penúltimo Capítulo)
Olá, Vida Adulta (Último Capítulo Part I)
Olá, Vida Adulta (Capítulo Final)
Nota Final
Capítulo Bônus (Único)

Uma Visão, Várias Vozes

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Door IanFontinele

×Visão de Finn

– E então, qual o carro dele? – pergunto, enquanto Aaron dirigia até a casa de Eddie, onde Mitchell precisava de ajuda com seu carro.

– Jeep Compass 2015. – Aaron fala.

– Ótimo. 

– Sabe mexer nele? – Aaron pergunta e eu sorrio, o observando por alguns segundos antes de .

– Se tem quatro rodas é minha especialidade. – ele começa a rir com a minha resposta. Era muito bom vê-lo sorrir.

– Você gosta muito de carros? 

– Eu sou fascinado por carros.

– Aprendeu com quem? – o observo.

– Sozinho. Ficava em casa depois de meses me limpando das coisas que eu usava, aí comecei a ler uma revista sobre mecânica e me interessei de vez. – explico.

– Não tem medo de enjoar? – Aaron pergunta e eu sorrio, fazendo "não" com a cabeça. Sempre que ele me olhava, procurava meus olhos, mas aquilo me deixava desconfortável. Eram raras as vezes que eu deixava com ele os visse.

– Bem impossível de isso acontecer. – ele parece não entender.

– Por quê? – pergunta. Eu queria falar da minha mania em ter compulsão pelo o que me interessava, mas faltou coragem.

– É ele ali, né? – mudo de assunto, vendo Mitchell, que mexia no celular. Bem coisa de gente rica mexer em celular em uma parte perigosa da cidade, achando que está na sua bolha segura de assaltos.

– É. – Aaron fala parando o carro.

– Então vamos nessa. – me preparo para descer do carro.

– Oi. Ele não quer pegar. – Mitchell fala, quando vê que me aproximo dele.

– Abre o capô pra mim. – peço.

Ali mesmo começo a examinar e a arrumar o carro de Mitchell. Bom, Eddie nunca dirigiu bem e ele acabou sobrecarregando o motor do carro. Ele também causou alguns problemas elétricos e no alinhamento das rodas. Eu arrumei tudo o que consegui no carro de Mitchell, mas a parte da sujeira eu preferi deixar pra ele e o alinhamento também.

– Cara, você é um gênio. – Mitchell fala, quando carro pega e volta a funcionar normalmente.

– Bem menos que isso. Vou lavar minha mão... – aviso, indo até as escadas do apartamento de Eddie.

– Eu te espero aqui. Pra te dar carona até em casa. – Aaron diz e eu confirmo com a cabeça.

Bato algumas vezes na porta do apartamento de Eddie e ele fica surpreso por me ver ali. Eu já vou entrando, sem esperar que ele me convide e vou até a pia, lavar as mãos que estavam sujas do conserto no carro.

– Tá bem próximo do Groot e do Rocket ali fora. – Eddie fala e eu o encaro, sem entender o que ele quis dizer com isso.

– O que? Para com isso, você sabe que eu não entendo essas coisas. – rebato, jogando a água que estava nas minhas mãos nele e ele faz careta.

– Nunca assistiu guardiões da galáxia? – pergunta, enquanto vou andando até a porta, pronto para ir embora.

– Já. Mas você sabe que eu tenho problemas com analogias. – concluo e lá fora começa uma gritaria. Eu procuro a janela do apartamento de Eddie para ver o que acontecia, mas estava emperrada.

Saio daquele lugar e desço as escadas, quando chego na rua, Aaron e Mitchell saem em disparada com seus carros, fugindo dos paparazzi. Eu olhei para Eddie, que estava atrás de mim e ele mostrou sua insatisfação, voltando pra dentro do apartamento. Eu fiquei pensando uma forma rápida de voltar pra casa, afinal, já que Aaron tinha ido embora eu... Bom, estava sem qualquer escolha.

Como estava sem dinheiro para pagar um ônibus ou qualquer coisa do tipo, decidi ir andando até a minha casa do outro lado da cidade e seria uma longa caminhada. Não, eu não iria pedir dinheiro a Eddie, pois mesmo ele sendo meu melhor amigo, ele não iria se segurar de cobrar mais pelo o que eu pedi quando fosse pagar. 

Enquanto andava, eu observava tudo ao meu redor meio perdido, até que quando estava passando pela parte onde tinha acontecido aquele racha que participei um jovem se aproximou ao meu lado, com seu carro.

– Você é o cara que ganhou a corrida daqui, não é? – ele pergunta.

– É, sou eu. – respondo, sem ligar muito pra presença dele ali.

– Eu sou o Dylan. – ele fala e eu confirmo com a cabeça. – Entra aí, tá perdido? – ele pergunta, abrindo a porta do carro pra mim e só aí eu observo ele. Dylan é branco, loiro e tem olhos castanhos escuros. Seu rosto é quadrado e ele tinha um risco na sobrancelha esquerda.

– É, um amigo me deixou pra trás.

– Eu posso te dar uma carona. – ele se oferece e como eu estava sem escolha, resolvi entrar no carro. – E então, você tem muita prática com corridas. – eu não o olho novamente em nenhum momento, me mantenho olhando a estrada o tempo inteiro.

– É, tenho compulsão por treinar e isso faz com que eu fique bom.

– Queria ter essa força vontade. Geralmente eu faço o percurso uma vez só pra saber aonde ir e paro. – solto um sorriso simpático de lado. Eu não conseguia confiar nele. – E então, onde você mora? – pergunta, com uma voz suave.

~Se eu fosse o Finn descia desse carro. ~Penso.

~Você é o Finn. ~Penso.

~Ele tem cara de maníaco, psicopata, sociopata... ~Penso.

Minha cabeça não parava e estava começando a sentir dor de cabeça com tantos pensamentos que nasciam dentro dela. Eu tentei me concentrar na pergunta dele e consegui finalmente depois de alguns segundos soltar uma resposta.

– Lado norte. Início do subúrbio. – respondo e Dylan afunda o pé no acelerador, cortando diversos carros.

– Que rolê, você ia pra lá a pé? – ele continua seu interrogatório. Eu não gostava de suas perguntas, mas como ele estava me fazendo um favor, eu tinha que responder. Embora não me achasse no dever.

– É, sai sem dinheiro ou celular. 

– Muita sacanagem desse seu amigo. – Dylan fala e eu o encaro. Ele não podia falar do Aaron assim.

– Ele não teve escolha, não culpo ele. – rebato, olhando a paisagem que passava de forma rápida pela janela. Aquele Audi A4 corria bem, mas ainda preferia meu carro. Dylan tinha cara de corredor experiente, daqueles que corre não só no subúrbio, como na cidade inteira. – E você, o que estava fazendo ali?

– Treinando, depois de ver o que você fez ali, eu fiquei tão sem reação que queria fazer igual. 

– Aquela corrida foi sorte, eu não treinei pra ela. – digo, mesmo não acreditando em sorte ou qualquer tipo de empurrão sobrenatural. Eu olho para Dylan, enquanto dirige, ele tinha algo que me deixava tenso. E não era um tenso legal.

– É, mas os caras estavam comentando a sua prática com o volante, não com aquela parte em si. – Dylan fala e me olha, me obrigando a desviar o olhar dele rapidamente. Ele então percebe que eu o olhava e solta um sorriso de lado. Eu acabei me prometendo de não olhá-lo novamente.

– Entendi.  

Dylan fez o favor de me deixar próximo de casa e quando entrei Emma ainda não tinha chegado, o que me deixou mais aliviado, afinal eu... Não queria levar uma bronca bem dada dela. Acabei indo diretamente fazer nosso jantar e depois disso me joguei no sofá e liguei a televisão para assistir algo, enquanto ela não chegava. Fiquei assim por alguns minutos, até ouvir a porta se abrindo.

– Obrigada por limpar tudo... – Emma fala, assim que entra.

– Você resolveu os problemas do aluguel? – pergunto, me levantando do sofá e ficando próximo de Emma, que colocava o casaco na cadeira. Como eu já tinha feito o nosso jantar, deixei tudo pronto pra quando ela chegasse e apenas comesse.

– É, mais ou menos. O senhor Miller ficou com os olhos brilhando quando viu aquela quantidade de dinheiro vivo. – ela fala. Esse termo de "dinheiro vivo" é estranho, por qual motivo ela não fala "dinheiro em espécie"?

– A nossa dívida com aqueles homens diminuiu? – pergunto, tenso. Eu não tinha muito contato com essa parte, por causa da minha condição. Esse tipo de coisa requer muita paciência e eu não sou o exemplo de pessoa paciente.

– Bom, ainda devemos, mas eles vão dar um tempo. Um tempo valioso.

– E o aluguel? 

– Ele me deixou pagar o resto no próximo mês. – comemoro.

– Então tudo tá começando a ficar bem? – pergunto e ela sorri.

– É, depois de 4 anos tudo tá começando a ficar bem. – Emma fala e se senta a mesa, para começarmos a comer.

No início tínhamos uma dívida alta pra pagar, aluguel e algumas contas atrasadas. Emma trabalhou duro quando ainda estava sozinha, pois eu estava viciado. Essa coisa de eu usar drogas naquela época só piorou tudo, pois a casa de reabilitação se tornou mais uma dívida. Fora que eu não ajudava em casa e só trazia problemas pra Emma. Algumas vezes ela faltava ao trabalho pra ir na casa cuidar de mim e por um período até foi ameaçada de demissão.

Quando eu saí de lá, jurei que nunca mais usaria nada e depois de ficar preso decidi que mudaria completamente. Só correr me ajudou bastante, já que mesmo sendo ilegal, eu não seria pego, porque a polícia não anda nos lugares onde corremos e mesmo se andasse, provavelmente não ligaria.

– Eu tô pensando em dar aula em uma escola para crianças especiais. – Emma fala, depois de alguns segundos de silêncio e eu a olho.

– Especiais no meu sentido? – pergunto. Qual era o problema em falar "crianças com deficiência"?

– É... Mas não se trata de você. – sorrio.

– Eu sei, mas se você quiser, vai em frente. Você é uma ótima professora, você me ajudou a aprender a ler, escrever e falar, ensinou a ter empatia e eu não estou sendo sarcástico... Até porque eu entendo sarcasmo, mas não saberia usá-lo de forma eficiente porque eu... – quando olho para Emma, tem lágrimas em seus olhos.

– Tudo bem, Finn... – ela fala, passando a mão pelas minhas costas. – Tudo bem. – volta a comer.

Após o jantar, me joguei na cama e fiquei ali olhando para o teto por alguns minutos. Olhei as mensagens no meu celular pra ver se algo aconteceu no período da tarde e nada tinha acontecido, como sempre. Acabo deitando de lado, com a minha cabeça no meio de uma briga mental e quando olho, Emma está na porta, parada me olhando.

– No que tá pensando? – ela questiona e eu dou espaço para que ela se deite ao meu lado.

– Em qual das vozes você se refere? Cada uma delas fala uma coisa diferente. – respondo e Emma me olha. Eu quase nunca comentava a minha inquietação mental com ela.

– Referente a quem? 

– Aaron. 

– O que vocês tem? – a encaro ela por alguns segundos.

– Vocês quem? 

– Você e Aaron. – sorrio de lado, sem acreditar no que ela disse.

– Não existe Aaron e eu. 

– Não é o que parece. – rebate.

– O que quer dizer com isso? 

– Eu sei que ele estava aqui. – Emma fala e eu fico confuso.

– Como? 

– As louças lavadas... – ela começa e eu já entendo tudo.

– Entendi. 

– O que fizeram? – Emma pergunta, deitando sobre meu peitoral, enquanto eu mantinha as mãos para o alto. Ela apoia as mãos sobre o meu peito e o queixo sobre as mãos. Me estudando.

– Assistimos filme. 

– Percebeu algo nele? – Emma pergunta. Ela sabia que a resposta seria negativa se ela não tivesse me ensinado a analisar pessoas para tentar me enquadrar melhor entre elas.

– Ele parecia chateado. 

– Deve ser pelo idiota do pai dele. 

– Sem palavras de baixo calão, por favor. 

– Desculpa, eu esqueci... 

Emma sabia que eu não entendia os níveis de palavras ofensivas, pra mim todas eram ruins. Eu nunca falava nada para os meus amigos por achar desnecessário, mas como Emma era a minha irmã, ela precisava saber que pra mim não existe níveis de palavrões. Eu não consigo entendê-los.

– Eu tô pensando em falar pra ele. – falo e ela se senta na cama, enquanto me olha.

– Por quê? Você disse que ele não é ninguém importante. – ela acaba demostrando clara aversão ao meu pensamento.

– Eu não sei. Só não quero pensar que ele não sabe sobre meu autismo. 

– Ele te trata de alguma forma que você não gosta? – Emma pergunta e eu sorrio, me sentando na cama.

– Não, não. Não tem nada disso... 

– Bom, é uma escolha sua, mas acredito que você deva falar só se tiverem algo. – Emma fala. Eu respeitava a opinião dela. – Tenho uma pergunta...

– Faz agora.

– O que as vozes falam sobre ele? Seus pensamentos são constantes e inquietos... são sobre ele? – ela pergunta. Minha irmã conhecia a inquietação da minha mente.

– Da última vez falaram que ele beija bem. – falo brincando, mesmo que essa não seja a última vez que elas falaram dele e Emma começa a rir, me empurrando em seguida.

Brincamos mais uma vez internamente entre nós até nos deitarmos juntos e ela pegar no sono. Quando acordei, estava só. Ao me levantar, percebi que Emma estava na cozinha, tomando café.

– Quer que eu te leve hoje? – pergunto e ela me olha, sorrindo em seguida. Minha irmã era bastante bela.

– Depende, você me daria seu carro pra dirigir? 

– Até emprestaria, mas hoje tenho alguns compromissos. 

– E meu carro? Tá quase pronto?

– Vou pegar peça pra ele hoje. – falo e ela já mostra desconforto com isso.

– Eddie? – Emma pergunta, se virando de costas pra mim.

– É, mas relaxa. 

– Impossível. – minha irmã fala já tremendo. Eu não entendia exatamente o problema dela com Eddie, mas respeitava.

– Tenta. – concluo.

Tomamos café juntos e eu decidi ir de blusa regata levar ela na escola. Pela primeira vez no ano o colorado mostrava uma manhã com o clima quente e eu sentia a necessidade de ir confortável.

– Esses garotos leem livros pelo menos? – pergunto, me referindo a pilha de livros que tinha no banco de trás do meu carro.

– Alguns sim. Eles gostam de aprender literatura. – Emma fala. Eu odiava quando ela mentia, mas preferia não comprar briga por isso. Eu sabia que ela estava mentindo pelo sorriso falso constante em seu rosto, ela sempre fazia isso quando contava alguma mentira ou queria disfarçar uma decepção.

– Uma vez, um amigo meu me falou que os adolescentes exalam hormônios na adolescência... –eu começo, tentando puxar um assunto diferente.

– Nem termina. 

– Mas é verdade? Da pra sentir eles? – pergunto.

– Me diz você, você que tá beijando um. – Emma fala e eu encaro ela.

– Eu não tô beijando ninguém. 

– Quando eu digo que você está "beijando" um quero dizer que você o beija com recorrência, não que está beijando agora. 

– Tudo bem. – é tudo que digo, estacionando o carro e pegando seus livros.

Começamos a andar pela escola, até a sala onde ela daria a primeira aula do dia.

– Oi professora. – uma menina fala pra ela, animada.

– Oi meninas... Esse é meu irmão, o Finn... Já conhecem? – Emma fala e as meninas cravam seus olhos em mim. Bom, eu estava assustado me vendo rodeado por garotas.

– Não... Nossa Finn, você é um gatinho. – uma delas diz e eu olho para Emma pedindo socorro. Ela tinha mesmo me comparando a um animal? Devem ser meus olhos.

– Eu não... – quando vou começar a explicar os motivos pelo qual não me pareço um gato Emma me interrompe.

– Não pode ficar. Tchau irmão, se cuida. – Emma fala pegando os livros da minha mão e colocando sobre a mesa.

– Tá. Tenho alguma tarefa pra hoje? 

– Não faça nada que a justiça ou eu consideremos errado. – Emma fala e eu reflito no que ela diz.

– Isso é meio difícil, você considera tudo errado. – rebato e ela sorri, fazendo com que as meninas acompanhem seu sorriso.

– Exatamente. Cuide-se. – ela diz e eu sorrio, por não ter resposta aquele pedido.

Me viro e saio da sala sem me despedir das meninas, elas me encaravam e procuravam me olhar nos olhos o tempo inteiro. Me lembrei da época em que estudava e com isso uma crise de pânico foi me subindo. Acabei andando pelos corredores da escola em direção à saída, sentindo os olhares daqueles estudantes sobre mim. Eu me sentia confuso, ansioso e bastante perturbado.

Quando finalmente saí da escola e comecei a andar no pátio pude ver Aaron com seus colegas do time. Eu estava completamente atordoado e me sentia sendo o centro das atenções naquele momento. Minha única necessidade era ir embora daquele lugar. Assim que Aaron me viu, ele também tentou procurar meus olhos, mas é claro que eu desviei meu olhar. Mesmo vencendo essa barreira às vezes ela ainda me incomodava bastante quando não estávamos em um momento íntimo sozinhos.

– Finn... – Aaron me chama e eu me viro, vendo que ele vinha correndo em minha direção. – Como você tá?

– Fora o cansaço mental, o desconforto por ter todas essas pessoas me olhando, o sufoco por ter que vir aqui mesmo não querendo, as vozes na minha mente falando coisas aleatórias o tempo inteiro e a vontade interminável de beijar você eu tô... confuso. – respondo e ele parece ficar surpreso com aquilo, ele acaba passando a mão no cabelo, mostrando estar envergonhado.

– Você é sempre tão sincero assim? – Aaron pergunta e eu vejo que mais uma vez que falei mais do que deveria.

– Sempre é uma palavra perigosa, nunca somos ou estamos sempre algo ou de alguma forma, mas você pode considerar um quase sempre. – respondo e ele me encara por alguns segundos. Eu ainda estava me sentindo desconfortável naquele lugar e incomodado pela presença das outras pessoas.

– Tá, tudo bem. Vai fazer alguma coisa? Depois do horário da minha escola? – reflito.

– Vou passar a manhã no Eddie, arrumando o carro da Emma e depois disso eu não tenho mais nada programado. Qual o motivo da pergunta?

– É que eu queria ficar com você... – reflito sua afirmação.

– Ficar... – falo em baixo tom, procurando sentido a palavra.

– É, passar um tempo.

– Claro, entendi. Se você quiser, eu posso passar na sua casa a tarde. Eu tava pensando em ir tomar um café. 

– Aqui em Denver? 

– Não, em Boulder. – respondo e ele levanta a sobrancelha, não acreditando naquilo.

– Você vai em outra cidade apenas pra tomar um café? 

– É. Vou sim. 

– Você é maluco... 

– Tudo bem. – respondo, dando as costas.

– Espera. – paro de andar. – Foi brincadeira. – ele diz, vindo e parando diante de mim. – Você leva tudo pro lado literal, às vezes as pessoas brincam.

– Eu sou uma pessoa com limitações... Você vai entender se aceitar meu convite pro café.

– Eu aceito. – ele fala e sorri, eu me aproximo, mas ele dá alguns passos para trás. – O que você tá fazendo?

– Eu ia beijar você.

– Não, não pode fazer isso comigo.

– Nunca? – pergunto. Eu sabia que na minha condição as palavras "nunca" e "sempre" eram perigosas, mas não me lembrava que Aaron não conhecia esse perigo.

– Nunca. – concordo com a cabeça.

– Tudo bem. – respondo, dando as costas e andando em direção ao meu carro.

– Então até mais. – Aaron fala animado, segurando a alça de sua mochila alça transversal.

– Até mais tarde. – falo, entrando no meu carro e finalmente saindo dali em seguida.

Eu vou até a casa de Eddie e quando bato na porta ele abre ela com um olhar de puro e absoluto ódio. 

– O que você quer? – ele pergunta.

– As peças. 

– São 8h da manhã. – reclama.

– Eu sei e ainda quero as peças. 

– Ótimo. Entra aí, fazer o que. 

– Você deu uma festa? – pergunto, olhando que o apartamento dele estava pior que da última vez que estive ali, além de ter algumas pessoas deitadas no chão e sobre seu puff.

– Não. Chamei três idiotas pra chapar e ele chamaram 5 minas pra chapar. – Eddie fala e a minha cabeça não processa metade das informações.

– Eddie...

– Oi.

– Toma cuidado com os termos e gírias, por favor. 

– Desculpa. Quer ajuda pra montar lá? – ele pergunta, me entregando as peças.

– Tá tudo certo. – falo desconfiado, olhando algumas meninas em sua cama. A porta estava aberta e dava pra ver bem que elas estavam nuas. Eu não entendia como alguém poderia ter relações com uma pessoa com índole tão duvidosa como Eddie e em um lugar tão sujo como seu apartamento.

– Não me olha assim. – Eddie pede e eu fico sem entender.

– Assim como? 

– Mesmo você não me olhando nos olhos nunca, eu sei quando você quer perguntar se as pessoas que estão no meu apartamento estão porque querem. – ele fala e eu sinto a entonação falsa em sua voz. Se ele estava tentando despertar a minha empatia aprendida, ele falhou miseravelmente.

– Não estão? 

– É claro que estão. Que droga irmão, não faz eu me sentir mal. – Eddie fala e a expressão "irmão" me deixa levemente irritado.

– Por que se sentiria mal se não fez nada de ruim? – ele abre a porta.

– Tudo bem, tchau. – fala, me colocando pra fora e fechando a porta.

Eu saí andando dali e fui direto em direção ao meu carro. Entrei nele com as peças da suspensão do carro da minha irmã e vi que me esqueci de pedir o macaco para Eddie. Quando estava voltando ao apartamento, vi que a rua estava vazia e eu me sentia uma pessoa péssima por entrar ali. Não pensem que sensações assim são comuns, pois comigo não são.

Quando bati na porta Eddie apareceu e dessa vez parecia apavorado.

– Irmão, me ajuda aqui! – Eddie fala me puxando sem aviso pra dentro do apartamento.

Quando entrei, um dos rapazes tinha acordado e ele parecia fora de si. Ele veio furioso em minha direção e eu segurei seus braços antes que ele me batesse. O rapaz era forte e ele fez com que eu encostasse com força na porta. Consegui segurá-lo e fazer com que trocássemos de lugar, colocando ele contra a porta e olhando para Eddie em seguida.

– O que você deu pra ele, Eddie? – pergunto, ainda forçando os braços do rapaz contra a porta.

– Algumas balas, nada mais que isso. – Eddie fala e a minha vontade de bater nele só aumenta.

– Você sabe que ecstasy não é pra todo mundo. – eu rebato. Por sorte, consigo segurar o rapaz até ele começar a recobrar sua consciência e parar de me atacar. Minutos depois, pego o macaco mecânico sobre a mesa da casa de Eddie e saio o encarando, batendo a porta com força em seguida.

Entro no meu carro e saio, indo em direção à minha casa. Consigo ver pelo retrovisor que Eddie ainda vai até a metade da rua me olhar, mas não sinto a mínima vontade de vê-lo pelo resto do mês, se possível. Quando chego em casa, tiro minha blusa e fico só de bermuda, indo arrumar o carro da minha irmã em seguida. Passo horas ali. Arrumo o sistema de suspensão do carro, ignição e troco o óleo. Na verdade acabei fazendo uma boa revisão no carro da minha irmã que era um Hyundai Sonata 2006, o primeiro carro que ela comprou quando começou a trabalhar.

Posso não ter falado, mas minha irmã tem 29 anos e uma lista vasta de empregos. Por ela ter me falado agora que quer dar aula a crianças com transtornos, acredito que em breve ela mude mais uma vez de profissão, já que ela sempre faz o que sente desejo de fazer. Pouco tempo mais tarde fui tomar banho e me arrumar para meu café com Aaron, esperava que ele fosse compreensivo quando eu revelasse sobre meu autismo.

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