Babá por Acidente

By brunakubik

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Dizem que nada está tão ruim que não possa piorar, certo? Certíssimo! A conquista do mestrado na área dos son... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Epílogo
Extra - Birthday Cake
Extra - Casados por Acidente

Capítulo 16

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By brunakubik

O mês de janeiro se estendeu de forma lenta e torturante, parecia um daqueles meses infinitos. Não importasse o quanto a pessoa se ocupasse durante os dias, o quanto corresse... O mês não passava. Os dias pareciam durar mais do que vinte e quatro horas e o tempo só castigava ainda mais. Era a temporada mais fria que haviam presenciado em Norfolk, e Los Angeles finalmente tivera uma chuva que castigara a cidade impiedosamente. Apesar disso, o que viera rápido demais foi o primeiro fim de semana do mês, no qual caíra o aniversário de Jeremy. Charlie acordou na manhã do domingo com lágrimas nos olhos ao se lembrar de uma manhã em que haviam planejado como iriam comemorar aquela data. Jeremy prometera um dia leva-la para a Noruega, onde eles dormiriam naqueles iglus com tetos de vidro para admirarem a aurora boreal. Naquele ano, entretanto, ele havia sugerido de irem a um local mais próximo e mais reservado, onde pudessem aproveitar mais tranquilamente. A desatenção da mulher naquele dia fora tão grande, que Ted quase cancelara seu voo de volta para Berlim, mas sua irmã se recusou a permitir. Charlie garantiu que estava bem e que estava na hora de seguir em frente total. Novo ano, nova Charlie. Não era aquilo que costumavam dizer? Ela não era muito de decidir metas de ano novo, mas considerou que não faria mal adotar pelo menos uma.

Aos poucos, Charlie adotou uma boa rotina, saindo para uma corrida pela manhã, voltava para tomar um banho e o café da manhã, e então saia para ajudar seu pai no consultório ou sua mãe na pequena boutique que a mulher possuía. Por ser janeiro, o movimento em ambos os locais era bem lento, então Charlie tinha mais liberdade para sair pela cidade e ver o que havia mudado durante o tempo que ficara ausente.

Durante as corridas, Charlie percebeu que se sentia muito mais relaxada e no controle de suas emoções. As caminhadas pela cidade também causavam o mesmo efeito. Era como se ela estivesse na reabilitação, vivendo um dia de cada vez e se livrando de algum vício. Porém, por mais que corresse, não conseguia ficar longe de seus problemas por muito tempo.

Em determinado dia, quase duas semanas após o aniversário de Jeremy, Charlie recebeu um e-mail que ameaçava estourar sua bolha. Era seu orientador do mestrado, finalmente respondendo a mensagem que ela havia enviado ainda em dezembro, informando que precisava de umas férias estendidas devido problemas pessoais. Agora, o professor entrava em contato perguntando sobre os planos da mulher para o restante do semestre. Charlie sentiu o coração apertar ao ler aquela mensagem. Lembrava-se do que havia prometido não só a si mesma, mas a seus pais, Ted e até mesmo Erin. Não desistiria de seu sonho. Mas será que era forte o suficiente? Ela podia estar bem, mas uma coisa era estar bem ali, em Norfolk, há mais de quatro mil quilômetros de distância de Los Angeles e a fonte de seu problema. Ela era forte, não duvidava disso, mas ainda era tudo tão recente. Ela não estava pronta para lidar com aquilo. Mas também não conseguia colocar em palavras para explicar a seu professor, então simplesmente fechou o e-mail e entrou no youtube para ver alguns vídeos e distrair sua mente.

Mas naquele dia parecia que o universo estava contra ela. Na página inicial do site que há muito tempo ela não visitava, estavam as recomendações baseadas nos vídeos que ela já havia assistido ali. E talvez tenha sido algo mais forte que ela, muito mais forte, ou apenas a sua mente masoquista que fez com que ela clicasse em uma entrevista que Jeremy dera a Ellen DeGeneres alguns anos atrás falando sobre Ava. Charlie amava aquela entrevista, se fosse conferir, talvez a tivesse colocado entre seus favoritos. Ela gostava da forma como Jeremy falava da filha, do carinho que transbordava em suas palavras. Da forma como ele afirmava que Ava havia mudado sua vida, e que agora ser pai era seu principal trabalho. Charlie sequer viu algo do vídeo, seus olhos embaçados com as lágrimas que surgiram antes mesmo que a entrevista começasse. Deus, como ela sentia falta daquela família. Daquela menina. Daquele homem que, por mais que ela tivesse tentado, ainda não conseguia abandonar seus sonhos à noite.

E ela ainda pensava em Ava, óbvio, não tirava a criança da cabeça. No começo havia sido dolorido, mas aos poucos ela começava a se lembrar da menina com alegria, imaginando como ela deveria estar, provavelmente a mesma menina arteira e serelepe de sempre. E era óbvio que Erin sequer ousava manchar essa imagem que Charlie havia construído. Afinal, enquanto em Norfolk as coisas começavam a avançar, em Los Angeles tudo parecia ruir cada vez mais.

Erin não sabia mais o que fazer para ajudar aquela família. Ela havia conversado com os irmãos do ator, com Valerie, com os colegas da Marvel, mas nada e ninguém conseguiam afastar a nuvem negra que havia se instalado na casa dos Renner. Jeremy parecia definhar, tentando focar em reuniões para definir sua agenda do ano, mas não conseguindo se concentrar em nada por mais de cinco segundos. Enquanto Ava... Partia o coração de Erin ver o quanto a menina estava abatida, apática. Quanto tempo fazia que vira um sorriso no rosto da criança? Toda vez que os visitava, era recebida com um abraço seco e silêncio. A casa uma bagunça, caixas de pizza e demais comidas espalhadas por todo o canto.

Com muito esforço, em determinado dia em que o sol resolvera dar o ar de sua graça, Erin conseguiu tirar pai e filha de casa. Ava alegava estar cansada, mas Erin se recusou a aceitar não como resposta. Eles iriam sair daquela casa nem que fosse para dar uma volta pela rua onde moravam. Jeremy sequer se mexeu para trocar de roupas, apenas seguindo Erin e Ava para fora de casa e seguindo a mulher uma vez que chegaram à calçada.

Era um belo dia, não havia como negar, mas também não tinha como ignorar que eram dias como aqueles em que ele, Charlie e Ava saíam para passeios como o que faziam agora. Era em dias como aqueles, que a ex-babá e sua filha o enganavam para burlar a dieta da menina e o faziam topar sair para tomar um sorvete. Era em dias como aqueles que, mesmo dentro de casa, as risadas das duas ecoavam por todos os cômodos, chegando até ele no escritório e o fazendo largar todos os seus afazeres para contemplar uma das melhores cenas que era Charlie e Ava brincando juntas. Era em dias como aqueles, que ele via com mais intensidade o brilho que Charlie possuía e que havia iluminado a vida dele.

No meio do passeio, o celular de Jeremy tocou e ele pediu licença para atender, mostrando o identificador para Erin que logo reconheceu o nome da empresária do ator. Ela se ocupou em prestar atenção em Ava, que passava pelas flores e borboletas sem mostrar qualquer interesse nelas. Dos dois, a menina era a que mais lhe preocupava. Jeremy era grandinho, eventualmente iria conseguir deixar aquilo no passado, mas talvez Ava acabasse se perdendo no processo. A menina já tinha que lidar com a mãe ausente e irresponsável, agora tinha que superar um coração partido por alguém que lhe mostrara como uma mãe realmente deveria e poderia ser.

- Você tem certeza? – Erin ouviu Jeremy perguntar no telefone, a voz mais alterada que o normal. – Não, eu sei...

Erin queria prestar atenção no ator, sempre a definição de curiosidade, mas um barulho de algo caindo chamou sua atenção e ela se alarmou ao ver Ava desmaiada, um filete de sangue escorrendo de sua testa pela batida no concreto quando a mulher a virou para ver como a menina estava. A pele já branca estava ainda mais pálida, os lábios pareciam se misturar com a pele do rosto, e Erin se arrepiou ao sentir o corpo gelado da menina.

- Jeremy! – gritou ela, olhando para o ator, que a olhou e rapidamente arregalou os olhos, ficando tão pálido quando a própria filha.

- Eu te ligo depois.

Erin pegou o celular do ator rapidamente enquanto ele tentava reanimar a filha, ligando para a ambulância e pedindo urgência. Suas mãos tremiam e lágrimas escorriam de seus olhos sem que ela percebesse. Já havia visto Ava passando mal, mas nunca daquela forma. A respiração estava fraca e as veias eram visíveis pela pele pálida da menina. Quando a ambulância chegou, ela ainda não havia acordado.

As horas se arrastaram enquanto Jeremy e Erin esperavam no hospital. A sala de espera estava movimentada, mas ninguém ficara ali mais tempo que os dois. Erin estava sentada, os braços cruzados e os lábios e dentes entretidos mordiscando a unha de um dos dedos, enquanto Jeremy andava de um lado para o outro, vez ou outra parando quando via a porta de acesso dos médicos se abrindo. Mas nunca chegavam. Ele já não sabia mais o que fazer. A última vez que vira sua filha parecia dias atrás e não apenas algumas horas, e não era a melhor memória que o ator tinha. E, como já estava acostumado a fazer aquilo nas últimas semanas, Jeremy começou a se culpar. Ele sabia qual era o problema, estava visível há muito tempo, mas ele ignorara por focar em sua própria dor. Ele não precisava de um médico para informar o que estava errado, ele já tinha aquela resposta.

Como num filme, as últimas semanas passaram em sua mente. A forma como Ava ficara após a partida de Charlie – ele deveria ter ido atrás da mulher para que ela se despedisse da menina. Os hábitos alimentares deles, Jeremy simplesmente não conseguia mais se organizar para preparar as comidas como antes. O descuido com Ava e a rotina dela, a falta de atenção dele com ela. Jeremy fora egoísta, pura e simplesmente. Estava tão focado em sua própria dor, tão imerso naquela piscina de culpa, que não percebera o que acontecia ao seu redor. Em como sua própria filha se culpava pela partida repentina da babá. Em como Ava havia parado de se importar em manter sua saúde em dia. Se nem seu pai estava ligando, por que ela o faria? Ele era tão burro. Erin já havia falado, sua mãe, seus irmãos, seu pai... Todos haviam deixado bem claro como ele era burro, mas Jeremy preferiu ignorar, mesmo com a resposta tão óbvia, ele preferiu ignorar e se afundar cada vez mais. Nem percebendo que não estava sozinho.

- Senhor Renner? – Uma voz o tirou de seus devaneios e ele focou no médico que vinha em seu encontro. As mãos nos bolsos do jaleco e a expressão séria. Erin se levantou e se aproximou deles, querendo ouvir o diagnóstico.

- Como está minha filha?

- Ela ainda está inconsciente, e não demonstrou ainda nenhuma reação aos remédios – disse o médico. Erin segurou o braço de Jeremy, sabendo que aquilo não era bom. – Começamos a administrar soro também, para hidrata-la, e algumas vitaminas para repor algumas deficiências. A condição da sua filha é delicada, senhor Renner, e com a falta de medicamentos, a lúpus voltou a atacar, os rins de Ava estavam prestes a entrar em falência.

- Falta de remédios? – perguntou Jeremy, claramente confuso. – Ela tem tomado todos os remédios.

- Perdão, senhor, mas nós realizamos os exames necessários e o quadro de Ava indica que ela não vinha tomando a medicação. Em fato, mais alguns dias e a situação dela seria ainda mais grave, e teríamos que considerar coloca-la na fila de transplantes.

- Mas não precisaremos, certo? – perguntou Erin, já que Jeremy parecia ocupado demais ainda digerindo a notícia que Ava não vinha tomando os remédios.

- É muito cedo ainda para dizer – disse o médico. – Ela precisa reagir ao tratamento, e então poderemos eliminar todas as medidas extremas.

A mente de Jeremy parecia um furacão. Só agora ele sentia o quanto havia negligenciado Ava, nem mesmo os remédios ele vinha conseguindo controlar. Eles o dava a ela, claro, mas havia perdido o costume de garantir que ela havia engolido tudo. O que ele havia feito? Se tornara um inútil no único trabalho que prometera nunca falhar: proteger sua filha.

Perdido em pensamentos, nem viu quando o médico se afastou após garantir que os dois poderiam ir visitar a criança em breve. Erin o levou para sentar em uma cadeira, temendo que ele desmaiasse ali e causasse outra comoção.

- Jeremy – chamou ela, dando um tapa leve no rosto do ator. Ele piscou e a encarou.

- A culpa é minha – disse ele. – Eu... eu falhei, Erin.

A estilista se viu perdida diante aquilo, pois mal tivera tempo de reagir às palavras do ator, vieram as lágrimas e Jeremy caiu em seu colo, as lágrimas molhando suas pernas e os soluços fazendo tremer até mesmo seu corpo. Ela sentiu que chorava também, mas tentou se manter silenciosa, abraçando o ator como podia e deixando que ele colocasse para fora tudo o que, com certeza, vinha segurando por muito tempo. Aquela cena era de partir o coração, ela nunca vira Jeremy chorando daquela forma, e ainda tendo que se preocupar com Ava. Com certa dificuldade, ela conseguiu pegar o celular e mandar uma mensagem para o Evans, informando do que havia ocorrido com a garota e pedindo para ele espalhar a notícia. Ela preferiu não avisar Charlie, sabendo que aquilo deveria ser uma decisão de Jeremy.

Eles ficaram ali por um longo tempo, e Erin agradeceu por naquele momento aquela sala de espera ter ficado vazia. Em determinado momento, Jeremy nem chorava mais, apenas permanecia ali nos braços da estilista, torcendo para que alguém surgisse para dizer que era tudo mentira, apenas uma pegadinha de muito mal gosto e que aqueles últimos meses não haviam ocorrido. Que ele estava vivendo numa realidade alternativa... Qualquer coisa, menos que tudo ao seu redor estava ruindo e ele não tinha como consertar.

- Jeremy, você precisa ir vê-la. – Erin não queria tira-lo dali, fazê-lo encarar a realidade que o esperava, mas Ava precisava do pai dela.

- Eu não posso – sussurrou o ator. – É minha culpa. Ela não vai querer me ver. Eu não a mereço. – Erin ficou em dúvida sobre quem ele estava falando, mas preferiu guardar para si. De qualquer forma, não era aquela postura que Ava precisava naquele momento e Erin sabia que, mais uma vez, teria que ser a vilã da história.

- Ok, chega – disse ela, forçando o ator a se levantar e encará-la. – Chega de auto piedade, de se martirizar. Sua filha está internada, em estado grave, e talvez seja sua culpa, talvez não, ninguém sabe e ninguém se importa. O que importa é que a Ava precisa de você. Então você vai engolir toda essa culpa que tá sentindo, e vai ficar do lado dela até que ela diga: pode ir, papai, eu estou bem. Você mesmo disse que falhou, então você mesmo vai consertar seu erro. – O tom de voz ela sério e Jeremy sabia que não podia questionar ou tentar discutir, a estilista era boa demais na maioria do tempo, mas quando assumia seu papel de carrasca, não havia como lutar contra. – Agora, eu já avisei o Evans e pedi para ele passar o recado para frente, mas você precisa avisar sua mãe e a Sonni. Por mais que eu ache que ela vai fazer mais mal do que bem, ela ainda é mãe da Ava e precisa saber. – Erin estava destruída por dentro, claro, mas teria tempo para sentir sua própria dor pela situação depois. – Então se recomponha, ligue para elas e depois entre naquele quarto e fique ao lado da sua filha.

Jeremy nem mesmo tentou discutir, seguindo à risca todas as ordens da estilista, pedindo para que sua mãe passasse adiante o que havia ocorrido, e garantindo a Sonni que ligaria caso alguma coisa mudasse já que, surpreendentemente, a mulher estava ocupada e não tinha como viajar para ver a filha. Depois, ele fez uma viagem ao banheiro para lavar o rosto, e então seguiu para o quarto de Ava, sorrindo agradecido para o médico que havia lhe dado todas as notícias e saía do local.

- Ela acordou agora pouco, mas ainda está um pouco confusa – informou ele, Erin vinha um pouco atrás do ator. – Desculpe, mas no momento só família.

- Ah, ok, eu...

- Ela é família – disse Jeremy, olhando a mulher. Se fosse bem honesto, não era exatamente aquela companhia que ele queria, mas sabia que não estava em posição de exigir nada, então aceitaria o que tinha a sua disposição. Erin era uma companhia tão boa quanto qualquer outra. Ele havia dito aquilo no impulso, mas não deixava de ser verdade: Erin era família.

- Muito bem – o médico disse, não disposto a discutir com um pai em dor.

Não importasse quantos anos Ava tinha, Jeremy nunca estaria preparado para ver sua filha em uma maca, com tubos se ligando a agulhas espetadas em seus braços finos e pequenos. Os cabelos loiros e sem brilho espalhados pelo travesseiro que parecia tão branco quanto sua pele. Seus olhos estavam fechados, as pálpebras arroxeadas, um tubo passava por suas bochechas, enviando oxigênio a seus pulmões para melhorar a respiração da garota. Havia uma espécie de pregador em seu dedo indicador, controlando os batimentos cardíacos da menina. A cama era grande demais para seu corpo que parecia ainda menor do que Jeremy estava acostumado. Seus olhos arderam e a respiração faltou, ele agradeceu o toque firme de Erin em seu braço, o empurrando para se aproximar da filha.

Havia uma poltrona ao lado da maca, e Jeremy logo a ocupou. Os dedos trêmulos tocaram a pele de Ava, e ele afastou ao senti-la tão fria. Não fosse o monitor que indicava os batimentos cardíacos, e o peito da menina que subia e descia fracamente, Jeremy podia jurar que sua filha estava morta. Mas, para seu alívio, as pálpebras tremeram quando ela tentou abri-las após sentir o toque quente do pai. Jeremy reuniu coragem e fechou sua mão ao redor da pequena da filha, sorrindo com os olhos lacrimejados quando levantou o olhar e viu que ela o encarava. Os olhos claros da menina estavam opacos, um pouco sem foco, mas Jeremy sabia que era para ele que ela olhava. Ele deu um sorriso trêmulo, e prendeu a respiração sem perceber ao ver que ela começava a falar.

- Papai – a voz saiu baixa e rouca, quase sem força. Um mero suspiro. Jeremy se viu chorando, encostando a testa no braço da filha e chorando copiosamente, como havia feito no colo de Erin.

A estilista, por sua vez, se retirou do quarto ao ver o ator ocupando a poltrona. A cena que vira era forte demais para ela. Lhe causava dor física ver Ava naquele estado, ela não conseguia. Tinha que ser forte por Jeremy, mas não o conseguiria dentro daquele quarto. Queria poder trocar de lugar com a menina, para que ela não tivesse que sofrer qualquer dor que fosse, nem mesmo de uma unha encravada. A estilista respirou fundo, fechando os olhos e tentando apagar o que havia visto, mas sabia que era inútil. Ela agradeceu ao sentir seu celular vibrando em sua mão.

Valerie, acompanhada dos filhos, logo chegaram ao hospital, agradecendo Erin pelo resumo que ela lhes passara antes da matriarca da família se adiantar para entrar no quarto de Ava. A menina havia voltado a dormir, agora por efeito dos remédios, e Jeremy não conseguia tirar os olhos da filha, sempre checando se ela ainda estava respirando e se os batimentos ainda estavam sendo controlados. Ele só desviou quando sentiu uma mão familiar em seu ombro, virando a cabeça para encarar sua mãe. As lágrimas voltaram com força, e o ator não sabia explicar com que força ele conseguira se levantar para se jogar nos braços da mulher e deixar que ela lhe consolasse como só uma mãe conseguiria fazer.

Não havia o que dizer, não havia qualquer outra coisa para sentir. Pelos próximos dias, a tensão ao redor daquele quarto era palpável e muitos queriam poder pegar uma faca para poder cortá-la. E todos, sem exceção, queriam poder tomar o lugar de Ava, que passava mais tempo dormindo do que acordada. Os médicos diziam que estavam notando melhoras, mas ninguém acreditava. Se ela estivesse apresentando melhoras, não teria que receber uma medicação tão pesada, certo? Ela não se sentiria nauseada durante o tempo que ficava acordada. Ela não estaria com uma aparência cada vez mais pálida.

Sonni finalmente se juntara ao receber uma ligação nada feliz de Jeremy, explicando a gravidade da situação e a necessidade que a presença da mulher tinha ali. Apesar do tratamento sempre distante, nem mesmo ela conseguiu fugir da dor ao ver sua filha naquela maca. Os olhos claros sempre brilhantes e alegres, não importasse a situação, agora opacos e desfocados. Não conseguindo manter sua atenção em algo por muito tempo. Ela tinha uma coleção de bichos de pelúcia ao seu redor, mas o único na cama era um panda que Sonni nunca havia visto. Ela e Jeremy começaram a revezar o tempo que passavam naquela poltrona, mas nem mesmo a presença da mãe mostrou qualquer melhora no quadro da menina.

O ator estava no corredor pegando um pouco de água quando sua irmã, Nicky, se aproximou. A expressão dela espelhava a dos demais: abatida. A preocupação sempre presente, tanto pela criança internada quanto pelo irmão, que parecia prestes a sucumbir a qualquer segundo e exigir uma maca próxima a filha. Os dois irmãos se abraçaram com força – como todos os abraços que Jeremy recebia ultimamente – e então Nicky encarou o irmão. Todos os que passaram por ali vinham pensando e conversando sobre uma única coisa, era um acordo mútuo que aquilo precisava ser discutido com Jeremy, mas ninguém tinha a coragem de abordar o assunto. Mas alguém precisava.

- Jer, – Nicky suspirou, olhando o irmão com atenção – todos nós sabemos quem realmente deveria estar aqui.

- Nicky, eu não estou no humor para isso.

- Você não está no humor para nada, nós sabemos e entendemos – a mulher disse. – Mas ignorar isso não vai fazer com que a Ava melhore. Você quis acreditar que a Sonni poderia ajudar, e agora viu que não é disso que ela precisa.

- Sonni acabou de chegar.

- Faz uma semana, Jeremy – corrigiu Nicky. Ela mordeu o lábio inferior por um tempo, ponderando sobre o que teria que dizer a seguir, mas não havia uma forma de dizer. Era necessário, por mais que doesse. – Não me odeie por isso... Mas engula sua própria dor e considere a da Ava.

- Você acha que não estou considerando? Minha filha está sofrendo, Nicky, eu daria tudo para estar no lugar dela.

- Não essa dor, Jer – esclareceu Nicky, não demorando a perceber quando Jeremy finalmente entendeu.

- Ligue para ela, querido. – A voz veio de trás de Jeremy, e ele não se surpreendeu ao encontrar Valerie ali, tendo reconhecido seu timbre tão único. – Pela Ava.

- Vocês não entendem – Jeremy suspirou, passando a mão pelo cabelo. – Eu já tentei, inúmeras vezes... Ela não me atende.

- Ela vai atender alguém – disse Valerie, com Nicky a apoiando.

As duas mulheres não esperaram Jeremy responder, saindo para deixa-lo pensando. Mas o que havia para pensar? Desde o segundo dia que Ava estava naquele hospital que Jeremy vinha tentando ligar para Charlie, mas ela deveria ter bloqueado seu número, pois sempre caía direto na caixa postal. Ele não sabia mais o que fazer. Tinha consciência desde o começo que a mulher era sua maior aposta para a melhora da filha, mas diante a resistência dela, ele resolvera apostar um pouco em Sonni. Não diziam que a mãe era muitas vezes o melhor remédio? Que a simples presença da mãe ao lado da filha já melhorava muitos sintomas? Estava tão errado que até chegava a ser cômico.

Jeremy se apoiou na parede e escorregou até o chão, seu celular desbloqueado na mão e os dedos já deslizando a tela até chegar ao nome de Charlie. Mesmo sabendo que o resultado seria igual, ele selecionou o nome e logo depois confirmou a chamada. Nem mesmo chamou, em segundos ele ouviu a voz da secretária eletrônica. Jeremy sentiu como se o buraco em seu peito aumentasse. O que ele iria fazer? O ator encarava o celular, esperando que a resposta aparecesse como um passe de mágica... E foi quase como isso.

- Claro! – exclamou ele, ao reconhecer o nome abaixo de Charlie. Como poderia ter demorado tanto para pensar naquilo? Sem parar para considerar se seria atendido ou não, o ator confirmou a ligação e prendeu a respiração enquanto os toques da chamada soavam. Ele nem mesmo parou para considerar a hora, desistiria se pensasse demais. Felizmente, cinco toques depois, ele foi atendido. – Eu preciso da sua ajuda... É a Ava.

~ * ~

- Nós temos esse horário disponível na próxima semana, serve? – Charlie sorriu ao ouvir a pessoa conversando do outro lado, o lápis tamborilando na mesa. – Sim, na primeira semana de fevereiro. Pode ser? Ótimo, está marcado, sra. Gomez. Eu que agradeço.

O telefone foi colocado na base e Charlie se apressou em escrever o nome da paciente no local indicado. Já havia se habituado àquela rotina, substituindo uma funcionária da clínica que engravidara e entrara em trabalho de parto bem antes do previsto. Felizmente, era o começo do ano e o movimento não era tanto. Ela começava a conferir os pacientes do dia seguinte para ligar e confirmar as consultas quando seu celular começou a tocar. A mulher revirou os olhos ao ler o nome do irmão, haviam acabado de trocar mensagens.

- Ted, acabamos de conversar – disse ela, tentando controlar a risada, mas falhando.

- Charls – o tom de voz do irmão a alarmou e ela sentiu o coração perder uma batida.

- Ted, aconteceu alguma coisa? Você está bem?

- Eu? Não, não é comigo – disse o rapaz, como poderia dizer aquilo? – Mas aconteceu algo.

- Você está me assuntando, diga que não é uma pegadinha.

- Não é, Charls... É sério, é sobre a Ava.

Tudo ao seu redor sumiu e ela ouviu ao longe seu irmão explicando o que havia acontecido e por que havia tanta urgência. Sua respiração estava suspensa e parecia que o sangue havia parado de correr por seu corpo, porque ela estava pálida e extremamente gelada. Mal tendo percebido quando disse qualquer coisa a Ted e encerrou a ligação. Era sobre Ava e ela sabia que não era uma brincadeira, Ted não brincaria com aquilo. De repente, agora ela entendia a quantidade de notificações de ligações desviadas do Jeremy. Ela havia bloqueado seu número, mas ainda era notificada caso ele tentasse lhe ligar. E já faziam umas duas semanas que o ator tentava se comunicar com ela. Charlie havia até mesmo considerado retornar alguma ligação, mas se fosse algo muito urgente, Erin poderia ter lhe ligado, não é? Aliás, agora que pensava naquilo, por que Erin não havia ligado para lhe informar?

Parecia uma resposta óbvia, mas Charlie não conseguiu encontra-la e não era aquilo que precisava de urgência no momento. Rapidamente, ela abriu o navegador do computador e pesquisou por passagens para Los Angeles, iria no primeiro encontro que tivesse disponível, daria um jeito de explicar rapidamente o que havia acontecido aos pais e faria qualquer promessa que eles pedissem.

- Charlie, querida, poderia... Los Angeles? – Seu pai surgindo do nada fez com que ela pulasse. O homem encarou a filha e percebeu que havia algo errado, a palidez dela era preocupante e a forma como seus dedos tremiam enquanto tentavam digitar seus dados para a compra da passagem era bem evidente. – Charlie, o que aconteceu?

- Eu pre.... Eu tenho que... Eu... Meu deus – ela parou e fechou os olhos, respirando fundo, se afastando do computador. Jeff se apoiou na mesa, olhando a filha com preocupação. Por fim, ela conseguiu se concentrar o suficiente para passar a informação básica e necessária. – Ava está no hospital e é grave.

- Meu deus – Jeff exclamou. Ele olhou a tela do computador e depois para a filha. – Vá para casa, arrume suas malas, eu finalizo a compra e depois te levo ao aeroporto.

- Pai, seus pacientes...

- Vai, Charlie.

Foi a primeira vez que Charlie agradeceu por seu pai trabalhar tão perto de casa desde que havia voltado. Ela correu para casa, surpreendendo sua mãe, que naquele dia não havia ido trabalhar e já havia recebido o telefonema de Jeff. Cora acompanhou a filha até o quarto da mulher, ajudando-a a arrumar a mala e lhe dando um forte abraço quando Charlie não conseguiu soltar uma blusa do cabide. Ela nem sabia o que devia colocar na mala, mal sabia por que tinha que levar uma mala, mas parecia a coisa certa a fazer. Ligaria para Erin no caminho até o aeroporto e a informaria de sua viagem e o horário que chegaria. A estilista havia oferecido sua casa, certo? E Charlie sabia que a mulher não sairia de Los Angeles tão cedo. Não enquanto Ava estivesse internada.

Seu voo sairia apenas no final da tarde, e ela nunca odiou tanto o tempo por passar tão devagar. Já havia até mesmo adiantado sua conversa com Erin – que havia se desculpado por não ter informado a ex-babá do estado da criança, dizendo que era algo que sentia que Jeremy deveria ter feito desde o começo – e combinado que a estilista a buscaria no aeroporto e a levaria direto para o hospital.

Seria o dia mais longo de sua vida, Charlie não tinha dúvidas daquilo.

~ * ~

As horas se arrastavam, o tempo parecia estagnado, Jeremy não aguentava mais encarar aquelas paredes. Ele queria estar no quarto, ao lado de Ava, não preso naquele refeitório bebendo um café horrível e fingindo comer um lance ainda pior. Já era quase meia-noite, ele já estava ali há um bom tempo, mas sua mãe se recusava a deixa-lo sair dali para voltar a se confinar no quarto da menina. Ele olhou para a matriarca sentada a sua frente, suspirou e disse que sairia para tomar um ar. Valerie não discutiu, secretamente aliviada por ver o filho finalmente ceder e sair daquele ambiente, ainda que somente por cinco minutos.

O ar frio o recebeu e Jeremy suspirou, sentindo seu corpo se arrepiar, mas não voltaria para pegar um casaco. Sabia que se o fizesse, não sairia mais. Ele colocou as mãos nos bolsos da calça e se afastou um pouco da entrada do hospital, caminhando em direção à escadinha que havia em frente. Quanto estava quase chegando, entretanto, ele parou sua caminhada, reconhecendo sem dificuldades a figura prestes a subir os degraus. Mas ela também o havia reconhecido, e por um breve momento também prendeu sua respiração. Ela se recuperou mais rápido que ele e finalmente subiu os degraus, parando em frente ao ator.

Charlie não sorriu para Jeremy ou correu para seus braços. Ainda que o ator quisesse fazer aquilo com ela. Os dois se olharam por um breve momento, Charlie percebendo as pesadas olheiras sob os olhos dele, que parecia ter envelhecido décadas desde a última vez que se viram. Ela engoliu em seco, sentindo uma vontade quase incontrolável de abraça-lo e consolá-lo, mas ela não conseguia. Só ali, parada em frente a ele, Charlie percebeu como ainda doía e como parecia recente a separação deles e suas circunstâncias.

- Ted ligou – disse ela, quebrando o silêncio entre eles, e percebendo quando Jeremy soltou o ar. – Vim o mais rápido que pude.

- Obrigado – disse o ator, não sentindo a necessidade de se desculpar por incomodar o irmão da mulher, já havia feito aquilo com o próprio.

- Como ela está? – perguntou Charlie, sentindo o coração acelerar só de pensar na situação da menina.

- Dormindo – respondeu ele. – Vai e volta por causa dos remédios.

Charlie ficou em silêncio, assim como Jeremy. Os dois notando como os recentes acontecimentos não haviam feito bem a ninguém. Uma pequena parte dela acreditava que parte do cansaço dele se devia ao que havia acontecido entre eles, mas Charlie se recusava a alimentar essa parte. As palavras acusatórias dele ainda bem claras em sua mente. Jeremy via a dor nos olhos dela, como parecia ser extremamente doloroso para ela estar ali, enquanto ele se sentia aliviado pela sua presença. Se o ator não tivesse conseguido falar com Ted, Jeremy abriria mão de algumas horas ao lado da filha para ir busca-la em Norfolk e imploraria de joelhos se fosse necessário para que ela o acompanhasse. Ele sabia que aquele desespero não era somente devido ao estado de Ava, e vez ou outra aos pedidos fracos que a menina fazia, era algo mais egoísta que o deixava envergonhado quando ele parava para pensar sobre.

- O que aconteceu? – Charlie voltou a quebrar o silêncio, querendo a única informação que Ted não havia conseguido lhe dar, e Erin havia se recusado, alegando que era algo que o Jeremy deveria passar.

- Você foi embora – respondeu o ator, imediatamente se arrependendo. Seu tom de voz havia saído errado e ele rapidamente viu o relampejo de mágoa nos olhos da mulher a sua frente.

- Até nisso você vai colocar a culpa em mim? Foi para isso que você se deu ao trabalho de ligar para meu irmão? Para eu vir aqui e você me culpar de novo?

Toda a indiferença que ela havia mostrado até então havia sumido, Jeremy se sentiu pior do que já estava. Se não tomasse cuidado, iria embora a última esperança de melhoras de Ava, e dele próprio.

- Não, não foi isso que eu... Desculpa, tem sido difícil e eu ainda não consegui entender quando tudo começou a desandar. – Charlie suspeitou que ele não se referia somente a Ava, mas que voltava um pouco mais no tempo. Ela mordeu a língua, segurando a resposta que surgiu imediatamente. Não era aquele seu objetivo ali. Resolveu esperar pacientemente até o ator voltar a falar. – Ava parou de tomar os remédios como deveria, e eu me descuidei com a rotina dela, a lúpus se agravou. Ela desmaiou no meio da rua durante um passeio... Mais um pouco e seria tarde demais para reverter.

Charlie teve que abaixar a cabeça para disfarçar as lágrimas. Talvez fosse um pouco de culpa dela, afinal. Mas, naquele momento, ela não sabia se sentia mal por Ava ou pela dor que transbordava por Jeremy. Ele estava destruído por dentro e por fora. Parecia que os danos eram irreparáveis.

- Sinto muito.

- Ela sente sua falta – disse ele, seu tom indicando que Ava não era a única. – Chama por você quando está acordada, às vezes durante o sono.

- Por isso você me ligou – concluiu a mulher.

- Sim.

- Se ela não chamasse, você me falaria? – perguntou ela, apesar de temer a resposta. Jeremy suspirou, Charlie assentiu. – Você ainda acha que eu sou a culpada por antes.

- Charlie... – Jeremy passou a mão no rosto, o desespero visível. Ele queria sentar e conversar com ela, falar tudo, mas sentia que não era o momento apropriado. Ainda que perdesse a oportunidade de tentar reconquistar a mulher, não era aquele o objetivo no momento.

- Posso vê-la? – Charlie dispensou qualquer coisa que ele fosse dizer com um gesto da mão, decidida a não seguir por aquele momento. Sabia que não faria bem a ninguém, principalmente Ava.

- Claro, eu te levo – disse Jeremy, indicando a entrada do hospital.

Todo o caminho eles fizeram em silêncio, o único momento em que Charlie falara algo foi na recepção, para fazer um rápido cadastro. Dali, seguiram para o elevador e foi a viagem mais longa de todas, mesmo sendo apenas dois andares. Quando chegaram ao corredor do quarto de Ava, Charlie parou, chamando a atenção de Jeremy, que logo entendeu ao seguir seu olhar e ver para quem Charlie olhava.

- O que ela está fazendo aqui? – Sonni perguntou, esquecendo por um momento que estava em um hospital. – Veio procurar sua próxima história? Quanto te ofereceram para juntar informações e passar para eles?

- Sonni! – Exclamou Jeremy, surpreendendo todos que estavam no corredor, principalmente Charlie. – Eu a chamei. E se tem alguém, além da Ava, com quem eu devo me preocupar é você, não a Charlie.

Aquilo deixou a ex-babá curiosa, ainda mais após a reação que Sonni tivera, simplesmente fechando a boca e voltando a se recostar na cadeira que ocupava. Charlie decidiu que guardaria sua curiosidade para mais tarde, pois sua mente resolveu traí-la quando sentiu Jeremy tocando seu braço para que ela o acompanhasse até o quarto. Foi como se algo tivesse lhe dado um choque, Charlie sentiu toda a região formigar e, pelo olhar que Jeremy lhe direcionou, ele também havia sentido.

A mãe do ator estava no quarto e levantou a cabeça ao ouvir a entrada dos dois. Charlie sentiu-se envergonhada, sem saber qual opinião Valerie tinha dela após tudo o que havia acontecido. A mais velha sorriu para o casal, dizendo que era muito bom ver Charlie, e confirmou que nada havia mudando, saindo do quarto logo em seguida. Charlie ficou parada em seu lugar enquanto Jeremy se aproximava da maca grande demais para o tamanho da pessoa que a ocupava. Charlie engoliu em seco, notando o bolo que havia formado em sua garganta, e antes que pudesse perceber, as lágrimas já escorriam livremente por seu rosto. Jeremy a olhou quando ouviu o primeiro soluço e estendeu a mão, convidando a mulher a se juntar a ele. Relutante, ela o fez, conseguindo controlar as lágrimas enquanto se aproximava.

Ava estava mais magra e pálida do que ela se lembrava. Havia uma cânula em seu nariz e uma agulha conectada a um tubo em sua mão, lhe fornecendo soro e a medicação. Seus cabelos estavam espalhados pelo travesseiro e o rosto transmitia uma paz ilusória, que logo acabaria quando ela acordasse, suspeitou Charlie. O braço com agulha agarrava firmemente um bicho de pelúcia extremamente familiar para a mulher, que sentiu o coração se apertando ainda mais. Jeremy segurou a mão da mulher quando ela chegou perto o suficiente, entrelaçando seus dedos. Ela não recusou o gesto, sua atenção focada em Ava, que parecia ter sentido que tinha companhia e se remexia na cama. Com cuidado, Charlie se sentou na beirada da maca e, com a mão livre, acariciou o rosto da menor, notando a temperatura levemente elevada, lembrando-se vagamente de Erin descrevendo como a menina estava muito fria quando desmaiara na calçada. O curativo do corte que Erin havia descrito ainda estava na testa de Ava, o machucado ainda cicatrizando.

Ava se remexeu e abriu os olhos, a testa franzindo enquanto tentava reconhecer a nova visita, os olhos claros desviando rapidamente para confirmar a presença do pai e depois voltando para Charlie. Seus lábios ressecados se partiram em um sorriso quando sua visão melhorou e ela confirmou quem era.

- Charlie. – Sua voz saiu baixa, seu sorriso se alargou. – Você veio.

- Oi, meu amor – disse Charlie, respirando fundo para não voltar a chorar, apertando a mão de Jeremy. – Claro que vim. Você achou que eu iria te deixar?

- Você foi embora – respondeu a menina, o sorriso diminuindo e os olhos brilharam com as lágrimas.

- E por isso você parou de se cuidar? – perguntou Charlie, tentando soar brava, mas falhando.

- Eu queria te ver – defendeu-se Ava. – Desculpa.

- Poderia ter ligado, meu anjo – disse Charlie, o dedo indicador enxugando uma lágrima que havia escorrido pelo rosto da menina. – Promete nunca mais fazer isso? – perguntou ela, vendo a menina sentir, o queixo tremendo enquanto Ava tentava conter o resto das lágrimas. – Promessa de dedinho? – Charlie entendeu o dedinho, vendo Ava fazer o mesmo, as duas entrelaçaram os dedos por um tempo antes de soltar. Charlie aproximou-se e depositou um beijo em sua testa, logo sentindo os braços finos da menina abraçarem seu pescoço, mantendo-a ali. Charlie fechou os olhos, perdendo a batalha contra as lágrimas.

- Te amo, Charlie – disse a menina, sua voz um pouco sonolenta, dando um beijo no rosto da mulher antes de soltá-la. Charlie se afastou um pouco e sorriu para Ava.

- Eu também te amo, princesa. – Outra lágrima escorreu pelo rosto de Ava enquanto ela sorria. Não demorou muito e seus olhos fecharam, a menina voltando a dormir.

Charlie se levantou e se afastou, Jeremy a acompanhou, puxando-a para seus braços quando chegaram ao canto do quarto. Ela não lutou contra, mas não retribuiu, mantendo as mãos apoiadas no peitoral do ator enquanto suas lágrimas encharcavam a camiseta dele. Charlie sentiu que Jeremy também chorava. O ator a abraçava com força, como se esperasse conseguir algo mais daquele abraço além do apoio emocional. Na verdade, Jeremy só queria, e esperava, que Charlie não fosse mais embora.

Eles foram recebidos com silêncio no corredor quando, enfim, saíram. Sonni não estava à vista, e ninguém pareceu se importar em dar uma explicação quanto ao sumiço da mulher. Valerie se aproximou para cumprimentar Charlie apropriadamente, agradecendo novamente a presença da mulher ali. Alguém, que não foi Jeremy ou a matriarca da família, lhe passou um breve relatório sobre a situação de Ava desde que ela havia dado entrada no hospital e Charlie agradeceu, apesar de se sentir ainda pior ao ouvir o quanto o estado da menina era pior que o que havia pensado. O médico apareceu logo depois para fazer a checagem de rotina e conferir o estado da paciente, mas ainda era cedo demais para dizer se a presença de Charlie ali causaria alguma diferença.

Tudo o que restava a eles era esperar.

Charlie espreguiçou-se e passou a mão no rosto, tentando afastar o cansaço. Parecia que estava ali há dias, quando na verdade eram somente horas. Mas essas somada à tensão do dia anterior, desde a ligação de Ted, seguido do voo de sete horas até Los Angeles, o voo mais longo de sua vida, e a viagem do aeroporto até a porta do hospital, mesmo com Erin dirigindo como uma maníaca... Charlie estava esgotada. Suas costas protestavam e ela engoliu um comprimido para dor com a ajuda do pior café que havia tomado na vida.

A movimentação pelo refeitório não era muito grande, as pessoas que estavam ali geralmente só ficavam sentadas encarando o que haviam comprado, sem sequer tocar em nada. Exemplo disso era Jeremy, que ocupava uma mesa no canto mais afastado. A mulher não conseguia controlar o aperto em seu coração toda vez que olhava seu rosto e seu semblante. Mesmo se o quadro de Ava tivesse uma melhora milagrosa e muito rápida, Charlie sabia que ele só voltaria a si quando ela recebesse alta e ainda passasse uns meses sem nenhum outro incidente.

O ator já havia cancelado todos os seus compromissos, ela havia descoberto por Valerie, e recusava qualquer ligação feita pela sua empresária, que havia sido proibida de aparecer no hospital a menos que fosse para realmente saber como Ava estava. Charlie lembrou-se da entrevista que vira do ator no programa da Ellen, como ele falava com tanta certeza e sem deixar espaço para que alguém duvidasse que seu emprego real era ser pai, e fazer filmes era algo a parte. Só naquele momento ela realmente conseguiu entender o quanto aquilo significava.

Charlie pegou o prato que a mulher na cantina a oferecia e suspirou, havia pedido a comida com a cara mais convidativa, um último apelo para convencer Jeremy a comer algo.

- Você precisa comer – disse ela quando o ator fez uma careta e afastou o prato, ocupando a cadeira a sua frente. – Pelo menos algumas mordidas para eu conseguir ser mais convincente quando sua mãe perguntar algo.

- Ela te contratou para ser minha babá? – Jeremy tentou fazer piada, mas percebeu tarde demais que o tiro saíra pela culatra.

- Não preciso ser paga para me preocupar – respondeu Charlie, cruzando os braços, recostando-se na cadeira e virando o rosto.

Jeremy se xingou mentalmente ao ver o quanto a mulher havia ficado machucada. Quando ele achava que havia avançado um passo, voltava três. Sua culpa só piorou quando ele olhou o rosto de Charlie e viu as lágrimas escorrendo, ela nem mesmo tentou esconder. Talvez estivesse cansada demais para se importar com o que ele sentiria se a visse naquele estado. Jeremy apoiou os cotovelos na mesa e passou as mãos no cabelo, suspirando frustrado com a própria burrice. Não acreditando que após meses finalmente tinha a chance de tentar melhorar suas chances com Charlie e falhava a cada oportunidade. Sua vida estava uma bagunça e cada vez que ele tentava consertar algo, só parecia piorar cada vez mais.

- Eu te perdi, não é? – perguntou ele, desviando o olhar do prato a sua frente para a mulher, que abaixou a cabeça. – Se eu tentasse... Se eu...

- Se tivesse me perdido, eu não estaria aqui – disse Charlie, olhando para ele. Jeremy se perguntou se ela o havia feito apenas para tortura-lo ainda mais.

- Você está aqui pela Ava – observou o ator.

- Estou? – perguntou Charlie, se odiando por se render tão facilmente.

- Não consigo pensar em outro motivo, não depois do que eu fiz – disse Jeremy. – Se for por mim... Eu não mereço isso.

- Não mesmo – concordou Charlie, passando a mão no rosto para enxugar as lágrimas. – E mesmo assim, aqui estou eu.

Jeremy deveria se sentir aliviado, ela acabara de assumir que estava ali mais por ele do que por Ava. Era um bom sinal, não? Mas por ele sentia que apesar de estar ali, Charlie estava inalcançável para ele? Se ela estava ali por ele, o certo seria que ele pudesse estender a mão e conseguir segurá-la, senti-la consigo, seus corações batendo no mesmo ritmo. Mas não era aquilo que ele sentia. Concluiu que ele poderia não a ter perdido, mas estava perdendo aos poucos. Ele sabia que a havia machucado da forma mais cruel de todas. Ela havia confessado amá-lo e ele jogou fora aquele amor. Duvidou dela quando Charlie lhe dera zero motivos para fazê-lo. E mesmo quando a verdade começou a se fazer clara para ele, ainda que não tivesse conseguido confirmar, ao invés de correr até ela e pedir desculpas, ele resolvera permanecer em seu mundo, prolongando a dor de todos. Ava era a paciente, mas ele sentia que tanto Charlie quando ele próprio eram os que estavam em piores condições.

- Se eu quisesse, eu teria alguma chance se tentasse te reconquistar? – perguntou ele num impulso. Charlie o olhou, não acreditando no que havia acabado de acontecer.

- Sua filha está internada e é nisso que você está pensando? – perguntou ela, incrédula.

- Eu preciso saber, Charlie! Preciso de alguma coisa que me ajude a enfrentar isso. – Tentou explicar, só depois que havia falado aquilo percebeu como soava insensível. – Eu estou uma bagunça e não conseguiria me redimir agora mesmo se eu quisesse. Então eu preciso saber o quanto eu te perdi para saber se devo insistir ou se simplesmente devo te deixar em paz.

Charlie o entendia, talvez se a situação fosse inversa, ela teria agido da mesma forma. Ela ponderou a situação por um momento, mas não conseguia encontrar uma resposta que fosse satisfazê-lo.

- Não posso te responder isso, Jeremy. – Ela foi honesta. – Eu não... Eu não posso pensar nisso, não agora. Você deveria fazer o mesmo.

- Charlie, por favor – pediu ele, num ator desesperado agarrando a mão da mulher. – Eu só preciso saber, ainda tenho alguma chance? Ou quando a Ava melhorar e você for embora, será o adeus definitivo?

- Eu não sei, Jeremy – disse ela, após refletir um pouco. Cortando o ator assim que viu que ele abriria a boca para insistir. – Eu não sei, por favor, não insista. Eu disse antes, é verdade, eu não posso pensar nisso, não se você precisar que eu esteja aqui pela Ava. – Explicou ela, parecendo tão machucada quanto ele. – Nós descobriremos o que acontecerá quando chegar a hora.

- Charlie... – Ele a ignorou completamente. Era como se o que ela dissesse entrasse por um ouvido e saísse pelo outro.

- Eu vou voltar para o quarto – Charlie soltou sua mão da dele. – Por favor, coma.

Charlie se afastou, mas não seguiu para o quarto de Ava. Até Jeremy sabia que ela não o faria, a mulher se recusava a ficar sozinha no mesmo ambiente que Sonni. Ao contrário, Charlie resolveu seguir as placas que denunciavam a existência de um terraço e foi para lá que ela subiu, agradecendo o vento frio que secou as lágrimas que insistiam em escorrer.

Quem Jeremy achava que era para trazer à tona a história deles e tentar descobrir se a havia perdido ou não? Ele era tão cego a ponto de não conseguir enxergar que a conseguiria de volta se apenas dissesse as palavras mágicas? Aquelas que ele deveria ter falado quando toda a bomba explodiu? O que ele precisava fazer agora era tão simples quanto no passado, mas Jeremy preferia complicar, criar uma situação ainda maior que a atual. Charlie não podia lidar com aquilo. Havia passado sete horas no avião construindo o muro ao redor de todas aquelas lembranças, consciente de que ele não duraria muito, mas seria o suficiente para o período que ela parasse ali.

Com os dedos trêmulos, ela pegou seu celular e procurou pelo número de Erin. Sentia que sufocaria se ficasse ali mais tempo, precisava de um tempo, um banho, umas três horas de sono e algo que tivesse gosto de comida decente. Então poderia voltar a ficar ao lado de Ava por ela e para o que ela precisasse.

- Vem me buscar, por favor – disse ela assim que Erin atendeu do outro lado.

~ * ~

Os dias passavam sem ninguém se dar ao trabalho de saber se era segunda ou quarta ou domingo. Todos os dias eram iguais ali naquele hospital. O que mudava e melhorava os ânimos de todos era o estado de Ava, que finalmente começava a mostrar melhoras. Ninguém dizia, mas todos sabiam que a chegada de Charlie havia mudado muita coisa e todos eram extremamente gratos à mulher. Já começavam a perder as esperanças de qualquer melhora quando a ex-babá chegou e fez com que eles voltassem a acreditar.

Obviamente que nem todos estavam satisfeitos com a presença da mulher ali.

- Sonni, chega! – disse Jeremy, cansado da insistência da mulher. – Eu a chamei aqui, e ela vai ficar aqui o quanto for necessário. Ava chamou por ela e quer que ela fique aqui, eu não vou manda-la embora.

- Ava é uma criança, Jeremy – respondeu a mulher. – E você não é o único que decide com quem minha filha passa o tempo ou não.

- Ah, agora ela é sua filha? – O ator cruzou os braços, rindo da coragem que a mulher tinha. Ele estava entalado com aquilo desde o dia que Ava dera entrada naquele hospital, sempre esperando a melhora da filha para abordar aquele assunto. Mas Ava não melhorava e ele adiava cada vez mais o assunto. Não mais. – Era isso que ela era para você meses atrás, quando você resolveu quebrar a promessa que fizemos de manter a condição dela em segredo? E quando você passou adiante as fotos que eu te mandei? Ou você só leva isso em consideração quando está discutindo comigo e seus argumentos acabam? – A pose durona de Sonni caiu na hora quando ouviu a acusação do ator. – Sim, eu sei o que você fez. E sendo bem honesto, isso foi baixo até mesmo para você.

- Mas funcionou, não foi? – A mulher sorriu, Jeremy não acreditava no que estava ouvindo. Sonni, talvez, deveria ser a pessoa internada. E não num hospital geral, mas um psiquiátrico. Não podia ser normal aquilo.

- Qual é o seu problema? – perguntou o ator.

- Não acho que isso seja importante agora – respondeu Sonni, seu olhar captando uma movimentação atrás do ator e seu sorriso só se alargou.

Jeremy seguiu o olhar da mulher, encontrando Charlie encostada na parede, os braços cruzados e os olhos fixos no ator. Jeremy mal percebeu Sonni se afastando, dizendo que iria fazer companhia para Ava. Ele abriu a boca para dizer algo, mas Charlie fez um movimento com a mão, fazendo-o se calar. Em seguida, a mulher lhe deu as costas e, apesar de tudo indicar para que ele fizesse exatamente o contrário, Jeremy a seguiu. Ele não conhecia o caminho que Charlie fazia, e estava ali há muitos dias, mas quando viu estavam no terraço do hospital. O horizonte começava a ficar claro, a noite aos poucos dando lugar mais um dia, com sorte o dia em que eles receberiam os resultados dos últimos exames de Ava e seriam boas notícias, pelo menos era o que todos esperavam.

Charlie sabia que ele a havia seguido, viu isso no olhar dele, que Jeremy não a deixaria ir embora sem que conseguisse lhe dar uma explicação. Ela havia escutado seus passos enquanto subia as escadas para aquele que havia se tornado seu refúgio toda vez que sentira que a situação ficava um pouco pesada nos andares inferiores. Charlie achou que com o tempo ficaria mais tolerável acompanhar o estado de Ava, ainda mais quando só recebiam boas notícias desde que ela havia chegado, mas doía ver um ser tão indefeso em um lugar que não lhe pertencia. Ela não precisava ser mãe de Ava para desejar tomar seu lugar e sentir tudo o que ela estava sentindo. Ainda mais quando essa sensação parecia ser melhor se comparada com o que Charlie sentia naquele momento. Ela não havia planejado ouvir a conversa entre Jeremy e a ex-mulher, mas não conseguiu desviar o caminho assim que percebeu qual era o assunto, e ficou ainda mais difícil quando ela ouviu a confirmação de que ele sabia. O pior era que Charlie não conseguia nem sentir raiva do ator, de tão grande que era a dor que sentia.

- Você sabia – disse ela quando ele fechou a porta do terraço. Sua voz saiu baixa, mas ela sabia que Jeremy conseguiria ouvir. Charlie se virou para ele a tempo de ser sua boca se fechando, Jeremy não sabia o que responder. – Desde quando?

- Eu não tinha certeza – disse Jeremy, aproximando-se lentamente da mulher.

- Desde quando? – insistiu Charlie, cruzando os braços.

- Um pouco depois do meu aniversário – contou ele, desistindo de tentar acalmar a mulher, sabendo que ela ficaria irritada de qualquer jeito. – Foi quando eu finalmente consegui começar a colocar os pensamentos em ordem, afastar de mim todas as notícias que estavam saindo e focar em nós. Eu pedi para minha empr...

- Nós? – Charlie riu descrente. – Você acabou de destruir qualquer chance de voltar a existir um nós. – Charlie sabia que ele sentia como se estivesse levando uma facada no peito ao ouvir aquilo. As lágrimas vieram com força e ele nem mesmo tentou impedir.

- Charlie... – Jeremy tentou se aproximar, mas o passo que ela deu para trás o fez parar.

- Como alguém pode ser tão inteligente em algumas situações e tão burra em outras? Explica para mim, Renner – pediu ela. – Porque eu não consigo entender. Ou tudo o que você precisava era de uma desculpa para terminar tudo entre a gente?

- O que? Claro que não! – Jeremy disse, esquecendo o receio e se aproximando da mulher, segurando suas mãos e a forçando a olhar em seus olhos. – Charlie, eu nunca quis acabar as coisas entre nós. Nunca.

- Bem, você fez um péssimo trabalho evitando isso de acontecer – respondeu ela, soltando suas mãos do aperto dele. – Você me perguntou antes se nós ainda tínhamos alguma chance... Bem, aqui está sua resposta: quando a Ava melhorar, estiver prestes a voltar para casa, eu vou embora. E não me peça para voltar, ou ficar.

Charlie desviou quando ele tentou se aproximar, saindo do terraço com passos acelerados, apenas se controlando para não correr por estar em um hospital, tinha que encontrar outro lugar para se esconder agora. Jeremy caiu ajoelhado onde estava, as mãos cobrindo o rosto lavado pelas lágrimas. Depois ele agradeceria por ninguém ter aparecido ali e vê-lo soluçando sem qualquer controle, porque a verdade era que ele havia desistido de lutar contra o que sentia. Por meses ele havia guardado todos aqueles sentimentos, havia escolhido não pensar no que havia perdido pelo que havia acontecido, ele tinha que ser forte por Ava e ajudá-la a compreender que Charlie não faria mais parte da vida deles. E mesmo quando as peças do quebra-cabeça começaram a se juntar e ele percebeu a enorme burrice que havia feito, ele preferiu manter tudo guardado, já havia aguentado tanto, o que era mais um pouco? Passaria logo, ele se convenceu. E quando Ava foi parar no hospital pelo descuido dele, a prioridade se tornou outra. Mas agora tudo estava fugindo de seu controle e ele estava cansado de tentar manter tudo junto, não havia adiantado de nada. Pela primeira vez em tanto tempo Jeremy desejou parar o tempo apenas para que ele conseguisse surgir com alguma solução para todos seus problemas. De que adiantava ter saído da zona de perigo de perder sua filha quando agora perdia a outra parte de sua vida? Antes ainda havia alguma esperança, agora não havia mais nada.

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