Capítulo 3

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Voltar para casa para as festas de fim de ano havia lhe dado mais medo do que Charlie imaginara. Ela e Ted haviam entrado num acordo de manterem entre eles o novo emprego da mulher, deixando os pais acreditarem que ela ainda estava bem na cafeteria e não havia tido nenhum momento de pânico. Charlie ainda se lembrava de como havia notado a ponta de desapontamento quando contara aos pais que havia conseguido um emprego no Tower's, apesar de eles tentarem disfarçar, e imaginava que se viesse a revelar que havia perdido o emprego antigo e agora era uma babá, seu pai interferiria dizendo que ela deveria escolher outra faculdade, algo que lhe desse um emprego condizente. Ou talvez eles não fizessem nada disso, Charlie só não queria arriscar.

Felizmente, faltando alguns dias para o Natal, Ted conseguira se juntar a eles e roubar para si toda a atenção que Charlie estava recebendo, sendo alvo de perguntas sobre a faculdade, o curso e as disciplinas e, claro, se já havia surgido alguma oportunidade de emprego melhor. Charlie fugira da última dizendo que agora começaria a trabalhar com crianças, acompanhando seu desenvolvimento e afins, ela colocara alguns termos difíceis referente a linguística no meio da conversa para soar mais convincente. Com a chegada de Ted, Charlie conseguiu respirar mais aliviada, além de sentir a tensão abandonando seu corpo. No meio da madrugada, ainda afetado pelo jet-lag, Ted invadira seu quarto para que pudessem conversar.

- Então? – Sussurrou o mais novo, deitando-se ao lado da irmã, encarando o teto assim como ela fazia. – Como foi o primeiro dia?

- Ainda não tive um primeiro dia, Ted. – Disse Charlie.

- O dia da entrevista não contou?

- Mas sobre isso eu já te contei tudo. – Charlie entrelaçou seu braço ao do irmão, encostando a cabeça no ombro dele.

- Charls, uma conversa de quinze minutos não conta como uma conversa completa sobre esse dia. – Explicou Ted. Charlie suspirou, fechando os olhos e lembrando-se daquele dia, da confusão por não saber o que fazia ali, e depois do choque ao entender todo o cenário.

- Essa menina vai me dar muito trabalho. – Resumiu Charlie, fazendo Ted rir. Depois a mulher começou a narrar todos os detalhes daquele dia, desde sua chegada, passando por suas impressões sobre Jeremy, dando tempo para Ted voltar a surtar pelo ator ser o novo patrão da irmã, e chegando ao momento em que percebera o que faria ali. – Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei isso, Ted. – Concluiu Charlie, escondendo o rosto no ombro do irmão, sufocando as lágrimas que haviam surgido repentinamente.

- Bem, você estava no desespero de perder tudo, Charls, acho que é compreensível. – Disse o irmão, acariciando o cabelo da mais velha. – E, se quer minha opinião, você vai ser incrível nesse trabalho. Você, a pessoa mais desastrada que eu conheço, conseguiu aprender a servir mesas e carregar bandejas cheias de coisas de um lado para o outro, acha mesmo que não vai conseguir cuidar de uma menininha mimada?

- Ela não é mimada, Ted. – Corrigiu Charlie. – Mas não sei definir qual é o problema dela.

- Mimada vai servir, então. – Disse o irmão, fazendo ela rir. – Você será a melhor babá que esse homem vai ter na vida. Ele não vai querer te demitir nem quando a filha já estiver pré-adolescente.

- Menos, Ted, bem menos. – Disse Charlie, mas não conteve a risada. – Já adianto que você receberá muitas ligações.

- Posso receber alguns convites para ir às premières dos filmes da Marvel na Europa? – Perguntou o homem, recebendo um soco da irmã como resposta. – Não, então?

Toda noite que passaram ali na casa dos pais, o mais novo ia ao quarto da mais velha e eles passavam a noite conversando. Charlie reclamava, mas por dentro agradecia a preocupação do irmão, cada dia que passava e o novo ano se aproximava, ela sentia-se mais nervosa porque teria que encarar o novo emprego logo. Ela fizera pesquisas na internet para tentar encontrar algo que pudesse lhe ajudar a lidar melhor com crianças, mas cada artigo que lia era ainda mais assustador que o anterior. Até que ela desistiu, sabendo que aquelas teorias não ajudariam em nada quando a realidade viesse. Charlie concluiu que agiria de acordo com a situação, improvisaria no último minuto e torceria para o melhor.

Babá por AcidenteWhere stories live. Discover now