Capítulo 16

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O mês de janeiro se estendeu de forma lenta e torturante, parecia um daqueles meses infinitos. Não importasse o quanto a pessoa se ocupasse durante os dias, o quanto corresse... O mês não passava. Os dias pareciam durar mais do que vinte e quatro horas e o tempo só castigava ainda mais. Era a temporada mais fria que haviam presenciado em Norfolk, e Los Angeles finalmente tivera uma chuva que castigara a cidade impiedosamente. Apesar disso, o que viera rápido demais foi o primeiro fim de semana do mês, no qual caíra o aniversário de Jeremy. Charlie acordou na manhã do domingo com lágrimas nos olhos ao se lembrar de uma manhã em que haviam planejado como iriam comemorar aquela data. Jeremy prometera um dia leva-la para a Noruega, onde eles dormiriam naqueles iglus com tetos de vidro para admirarem a aurora boreal. Naquele ano, entretanto, ele havia sugerido de irem a um local mais próximo e mais reservado, onde pudessem aproveitar mais tranquilamente. A desatenção da mulher naquele dia fora tão grande, que Ted quase cancelara seu voo de volta para Berlim, mas sua irmã se recusou a permitir. Charlie garantiu que estava bem e que estava na hora de seguir em frente total. Novo ano, nova Charlie. Não era aquilo que costumavam dizer? Ela não era muito de decidir metas de ano novo, mas considerou que não faria mal adotar pelo menos uma.

Aos poucos, Charlie adotou uma boa rotina, saindo para uma corrida pela manhã, voltava para tomar um banho e o café da manhã, e então saia para ajudar seu pai no consultório ou sua mãe na pequena boutique que a mulher possuía. Por ser janeiro, o movimento em ambos os locais era bem lento, então Charlie tinha mais liberdade para sair pela cidade e ver o que havia mudado durante o tempo que ficara ausente.

Durante as corridas, Charlie percebeu que se sentia muito mais relaxada e no controle de suas emoções. As caminhadas pela cidade também causavam o mesmo efeito. Era como se ela estivesse na reabilitação, vivendo um dia de cada vez e se livrando de algum vício. Porém, por mais que corresse, não conseguia ficar longe de seus problemas por muito tempo.

Em determinado dia, quase duas semanas após o aniversário de Jeremy, Charlie recebeu um e-mail que ameaçava estourar sua bolha. Era seu orientador do mestrado, finalmente respondendo a mensagem que ela havia enviado ainda em dezembro, informando que precisava de umas férias estendidas devido problemas pessoais. Agora, o professor entrava em contato perguntando sobre os planos da mulher para o restante do semestre. Charlie sentiu o coração apertar ao ler aquela mensagem. Lembrava-se do que havia prometido não só a si mesma, mas a seus pais, Ted e até mesmo Erin. Não desistiria de seu sonho. Mas será que era forte o suficiente? Ela podia estar bem, mas uma coisa era estar bem ali, em Norfolk, há mais de quatro mil quilômetros de distância de Los Angeles e a fonte de seu problema. Ela era forte, não duvidava disso, mas ainda era tudo tão recente. Ela não estava pronta para lidar com aquilo. Mas também não conseguia colocar em palavras para explicar a seu professor, então simplesmente fechou o e-mail e entrou no youtube para ver alguns vídeos e distrair sua mente.

Mas naquele dia parecia que o universo estava contra ela. Na página inicial do site que há muito tempo ela não visitava, estavam as recomendações baseadas nos vídeos que ela já havia assistido ali. E talvez tenha sido algo mais forte que ela, muito mais forte, ou apenas a sua mente masoquista que fez com que ela clicasse em uma entrevista que Jeremy dera a Ellen DeGeneres alguns anos atrás falando sobre Ava. Charlie amava aquela entrevista, se fosse conferir, talvez a tivesse colocado entre seus favoritos. Ela gostava da forma como Jeremy falava da filha, do carinho que transbordava em suas palavras. Da forma como ele afirmava que Ava havia mudado sua vida, e que agora ser pai era seu principal trabalho. Charlie sequer viu algo do vídeo, seus olhos embaçados com as lágrimas que surgiram antes mesmo que a entrevista começasse. Deus, como ela sentia falta daquela família. Daquela menina. Daquele homem que, por mais que ela tivesse tentado, ainda não conseguia abandonar seus sonhos à noite.

Babá por AcidenteHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin