An Act of Kindness (EVAK Shor...

By AustinGreenberg

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Isak e Even são colegas de turma em uma classe de teatro literário que acabam por se aproximar devido ao pape... More

Protasis
ACT.II: Rising
ACT.III: Tension
ACT.IV: Climax
ACT.V: Falling
Denouement

ACT.I: Conflict

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By AustinGreenberg

ISAK JÁ ESTAVA NO TEATRO QUANDO EVEN CHEGOU, mas não notou quando ele passou próximo de si e sentou atrás dele. Estava conversando com alguns colegas, pessoas que ele não tinha afinidade nenhuma, mas que conversava para passar o tempo. Pessoas que nem sequer lhe dariam tchau ao sair ou lhe cumprimentariam quando o vissem na cantina. Isak muito mais preferiria estar ouvindo música ou lendo alguma matéria, mas não queria se passar pelo chato, pelo deslocado, o emo da escola.

Even estava sozinho, sentia-se perdido no meio daquela gente e até pensou em ir embora antes de começar. Não entendia porque somente ele segurava o pão que a professora ofereceu quando ele entrou e até ficou receoso quanto ao sabor. Talvez uma peça estivesse sendo pregada nele, então, para não parecer rude, guardou o pão no bolso e disse a sim mesmo que os outros fizeram isso também. Ou já haviam comido. Tanto faz!

O teatro era organizado de forma circular, de modo que o som possa ecoar para todos os cantos e de modo que as fileiras de poltronas se assomando uma atrás da outra possam estar dispostas tendo o centro como foco. Todos os olhos voltados para o palco vermelho amarronzado em que a professora Vilde se punha de pé com um cartaz enrolado em suas mãos.

"Boa tarde, corpo!" ela saldou a todos, fazendo os grupos se calarem pouco a pouco e os alunos se ajeitarem em suas poltronas. Isak agradeceu mentalmente por isso. Finalmente iria começar. Even havia perdido sua chance de ir embora. "Já espalharam amor hoje?" perguntou em entonação. Vilde dá aula como se já estivesse atuando. Apesar da energia cativante, ninguém responde. "Tudo bem, não sejam tímidos. Apesar de alguns rostos novos estarem entre nós, glória a isso!"

Even sentiu seu rosto queimar e não pôde evitar abaixar a cabeça disfarçadamente e coçar sua nuca. Temia que a professora lhe pediria para se pôr de pé e se apresentar e se amaldiçoou por não ter ido embora quando pôde. No entanto, a professora, como se ouvisse seus pensamentos, advertiu:

"Não se preocupem, não vou fazer ninguém se apresentar. Por enquanto... Eu tenho uma introdução".

Descansou o cartaz sobre uma cadeira e caminhou pelo teatro enquanto explicava a turma sobre a proposta desse novo semestre. Técnicas de expressão. Estratégias para obter o tom desejado. Simulação de emoções. Treino vocal e facial. Gêneros dramáticos. Voz de narrador, voz de personagem. Enfim, tudo que uma pessoa deveria saber e executar quando deixasse de ser pessoa e se tornasse personagem.

"Mas dessa vez, eu quero ir além!" dizia Vilde. "Eu quero incentivar vocês a quebrar qualquer resquício vaidoso para que possam se tornar essencialmente aquilo que devem criar. Portanto, eu tenho aqui em mãos", ela puxa o cartaz novamente, "uma proposta de teatro revolucionária".

Os alunos que olhavam com interesse ficaram maravilhados e ansiosos. Os alunos que olhavam com desdém passaram a ficar curiosos. Isak prestava atenção em tudo de forma quieta enquanto Even ainda se perguntava o que estava fazendo ali.

"Essas são ideias que eu tirei de um teatro japonês e decidi aplicar nesse semestre. Agora mesmo, eu quero que vocês entendam que a coisa mais importante de um teatro para vocês, atores, são suas personagens. Vocês tem que dar alma a elas, senão... o teatro não é nada!"

Vilde se virou de costas e desenrolou o cartaz, pendurando-o aberto em um cavalete. Todos ficaram presos ao seu conteúdo, apesar de não entenderem nada. Haviam várias linhas verticais ou diagonais no centro e retângulos no fundo. Ao topo, um filme extenso de cor alaranjada cobria alguma informação.

"Se o que mais importa são as personagens, logo, não importa quem vocês são; o que importa é o que farão com o papel de vocês. É por isso que, para esse semestre, nós não teremos audições".

"O quê?" gritou alguém indignado.

"Graças a Deus", outra pessoa demonstrava alívio.

"Como assim não vai ter audição?" as pessoas começavam a fazer barulho no teatro.

"Ei!" gritou Vilde, fazendo todos se calarem. "Existe a hora de falar e a hora de escutar. A hora de vocês falarem não é agora", ela mexeu o dedo indicador de um lado para o outro. "Aguardem que vocês terão essa oportunidade. Agora, deixem-me explicar".

A professora caminhou até o cartaz e apontou para seus diferentes elementos enquanto explicava a turma como seria feita a escolha de personagens para a peça:

"Notem que há um espaço em branco aqui em baixo e um espaço coberto aqui em cima. É lógico que o nome das personagens já está aqui. O que vamos fazer é: cada um de vocês vai aleatoriamente escrever seu nome nesse espaço e, depois, vamos checar qual é a personagem que corresponde ao seu nome. Simples assim".

"É isso, professora?" perguntou um aluno com o cenho bem apertado.

"É isso", Vilde deu de ombros e torceu os lábios.

"Como vamos saber se a pessoa serve para o papel?" perguntou uma menina próxima a Isak.

"Essa é a sacada: tudo em prol da personagem. Notem que aqui pode acontecer qualquer coisa: o papel não vai distinguir vocês por raça, nem por aparência, nem por voz, nem por gênero. Costumávamos colocar a personagem a mercê do ator ou atriz. Agora, vocês estão a mercê da personagem!" Vilde sorriu empolgada com isso. Um sorriso meio perverso, Even notou. Não sabia decidir se ela era fresca ou descolada. Talvez fosse apenas louca.

"Não gostei. E se eu ficar com um personagem que é mulher?" perguntou um garoto.

"Tem peruca aí atrás", a professora apontou para os bastidores, "não te preocupa". Algumas pessoas riram. Vilde sentiu vontade de rir também, mas disfarçou com um sorriso desdenhoso.

"Professora", levantou a mão uma menina ao lado de Even, quase espantando-o, "qual é mesmo a peça?"

"Ah, sim!" Vilde foi até a cadeira e pegou um livro encadernado. Segurou-o como em uma exposição e apresentou: "A Bela Adormecida. Mas essa é a minha versão, o que quer dizer que vai ser mais madura e um pouco mais..." torceu a cabeça de um lado para o outro e pensou em uma palavra que lhe apetecesse: "sombrio... digamos assim".

"Só quero ver", murmurou um menino diante de Isak.

"Ei, Jonas. Já pensou você fica com uma fada?" brincou um dos meninos sobre o garoto que disse que não queria papel de mulher. Os demais riram e a professora teve que intervir:

"Sim, qual o problema dele representar uma fada? É melhor do que representar um babaca!" ela disse solenemente, fazendo as pessoas ecoarem "oh" e se calarem em pouco tempo. O aluno que levou a resposta ficou pianinho. "Enfim, vamos lá ver quem é quem. De um por um, venham escrever o nome de vocês!"

Vários se levantaram ao mesmo tempo e fizeram uma fila diante da escada para o palco. Não foi o caso de Even e Isak, que se mantiveram sentados como se nada estivesse acontecendo. Even pensou se essa não seria a melhor oportunidade para finalmente escapar. Isak não fazia questão de se meter no meio do pessoal, então decidiu que ficaria com o último espaço livre.

"Sim, vocês dois", Vilde apontou para Isak e Even. "Estão esperando o quê? Um convite? Venham escrever o nome de vocês. Ou querem que eu chame um táxi?"

"Uma limusine, melhor, professora", disse Even se levantando dois segundos depois. Isak decidiu manter seu plano.

"Vou ficar com o que sobrar", disse ele a Vilde.

"Tem certeza?" perguntou-lhe com o canto da boca puxado, ar de desdenhosa. Em resposta, Isak apenas assentiu. "Você que sabe!" ela deu de ombros.

Even nem fez questão de escolher. O papo de "um por um" já tinha ido por água abaixo, então apenas escreveu seu nome no primeiro espaço em branco que encontrou e retornou ao seu lugar. Pouco a pouco as pessoas foram se sentando e começaram a conversar sobre os papéis para tentar conter a ansiedade.

"E faltou só um. Como é teu nome?" Vilde perguntou a Isak, que teve que lhe responder duas vezes, pois falou muito baixo a primeira vez. "Isak. Eu que escrevo pelo Isak porque ele tem sangue azul", brincou Vilde asperosamente. "Prontos? Vou tirar o band-aid", anunciou e, então, puxou o filme da esquerda a direita, revelando as personagens e seus correspondentes atores.

"Ih, mano. Se fodeu!" gritou Jonas entusiasmado ao notar que seu colega que havia ficado com o papel de uma das fadas.

"É nisso que dá", Vilde comentou com um sorriso sarcástico. "O papel principal, que é o da Aurora, ficou com..." ela seguiu a linha até chegar em um nome que estava escrito com sua própria letra: "nosso amigo do sangue azul".

"Uou!" pessoal gritou.

"Quê?" Isak arregalou os olhos como nunca antes. "Não pode ser", falou para si mesmo, mas todos ouviram.

"Eu te perguntei: 'tem certeza?'" diz Vilde. "Quando a gente não assume nossas escolhas, as nossas escolhas nos consomem", recitou. "Agora bora ver quem vai ser teu príncipe", correu pelo labirinto de linhas novamente até chegar ao seguinte nome: "Even. Quem é Even?" voltou-se para os alunos.

Lentamente, e com cara de espanto, Even ergueu a mão até a altura de sua testa. "Ah, o menino da limusine", comentou Vilde. "Tu é chique mesmo".

"Huuuum", as pessoas começaram a comentar e fazer piadas.

"Ei, licença!" gritou Vilde mais uma vez. "Quem escreveu essa peça fui eu e eu não lembro de ter colocado papel de babaca, então, por favor, sejam mais maduros. Papel de babaca só fora do meu teatro", falou seriamente e todos se calaram. "Bora continuar. Malévola ficou com..."

De soslaio, Isak tentou olhar para Even, que também estava olhando para Isak, mas procurava disfarçar. Ambos ficaram envergonhados automaticamente e a proximidade deles, separados por uma fileira, os deixava mais constrangidos ainda. Even mais uma vez se xingou por não ter partido quando pôde. No entanto, decidiu que falaria com a professora no final da aula. Isak teve a mesma ideia.

Ao fim da "audição", Vilde falou brevemente sobre as regras do teatro, horários, tolerâncias, entre outras coisas mais formais e contratuais, por assim dizer. Elegeram um líder de turma, Noora, que ficaria responsável por tirar cópia do livro de Vilde e entregar a cada aluno da turma. No mais, foi isso. Classe dispensada.

Isak se manteve estável em seu lugar, como uma pedra, enquanto todos saíam. Observou a professora se sentar na cadeira e anotar em um papel a personagem correspondente a cada aluno. Levantou-se assim que percebeu que ela estava só e nem notou quando outra pessoa se aproximara da professora também: Even.

"Eu sabia que não ia demorar a vocês virem reclamar", disse Vilde sem sequer levantar a cabeça e sem precisar ouvir nada. "Vocês podiam pelo menos tentar", continuou anotando.

"Professora, eu não posso fazer papel de uma princesa", Isak foi direto ao ponto.

"Por que não?" aí sim, ela levantou a cabeça. "Tem peruca, tem vestido, tem maquiagem, tem até coroa. Não pode ser princesa por que?"

"Porque..." olhou para Even e sentiu seu rosto corar. "Eu sou homem, professora".

"E fazer papel de princesa te torna menos macho? Uau! Bom saber que você tem muita firmeza com sua masculinidade", Vilde estava quase abaixando a cabeça novamente quando lembrou que Even faria papel de uma figura masculina mesmo, então não entendia o que ele estava fazendo ali. "E tu? Quer uma limusine pra ir pra casa?"

"Não, eu..." gaguejou e olhou de relance para Isak. Envergonhadamente, ele se inclinou e sussurrou para a professora: "eu não vou ter que beijar ele, né?"

"Você?" ela apontou para o peito de Even e cerrou o cenho. "Gente, se ponham na minha frente", ordenou e, assim, Isak e Even, como duas crianças, colocaram-se lado a lado diante da professora, mesmo sem conseguir esconder seu constrangimento um pelo outro. "Vocês dois não vão se beijar", disse ela, fazendo eles soltarem o ar aliviados; não havia terminado de falar, porém, "vocês não vão se tocar, não vão conversar, não vão nem olhar um pro outro... quem vai fazer tudo isso é a personagem de vocês!"

O ar que havia escapado retornou com força total e ficou preso nos pulmões de ambos os meninos.

"Entendam uma coisa desde já: agora vocês são atores. Vocês não estão aqui pra ficar julgando as personagens, a peça ou a vocês mesmo; vocês estão aqui para dar voz e alma a um espetáculo. Sendo assim, eu vou pedir um pouco mais de maturidade e de profissionalismo de vocês".

"Mas como você espera que eu beije ele? Eu não sou viado!" exaltou-se Even.

"Ei", Vilde apontou o dedo erguido para ele, "tu não preciso ser viado pra representar um papel. 'Viado', não, que isso é meio ofensivo, né? Gay, vamos colocar assim. Eu preciso que vocês tenham claro uma coisa na cabeça de vocês: saber distinguir o nosso ego da nossa persona. Essa é a lição mais valiosa que eu vou dar nesse semestre e eu escolhi essa tática", ela aponta pro cartaz, "porque eu sabia que eu ia cutucar vocês."

"Hum", Isak engoliu em seco. Even cruzou os braços.

"Agora, eu não posso obrigar vocês a nada. Isso é um convite e um pedido. Um desafio. Eu queria ao menos que vocês tentassem. Gostaria de fazer um apelo: conversem. Eu sei que é assustador, vocês nem se conhecem, se fossem amigos talvez fosse mais simples".

"Talvez", sussurrou Even.

"Então façam isso", Vilde pediu humildemente, o que causou estranheza em Isak. "Interajam, se conheçam, virem amigos e tentem fazer isso dar certo. Se lá na frente, depois de passarem por tudo isso junto, realmente se disponibilizarem e tudo... se vocês virarem para mim e dizerem: 'não, Vilde... não dá mesmo. A gente faz de tudo, mas... não vai rolar', eu vou entender. Vou lamentar muito, mas eu vou entender! Posso fazer esse apelo a vocês?"

Relutantemente, Isak balançou a cabeça em concordância. Even viu o outro pelo canto do olho e não teve escolha a não ser dar o braço a torcer.

"Posso contar com vocês?"

"Sim", disse Isak baixinho.

"E você?" ela se voltou para Even.

"É. Pode", ele disse em um tom que não a agradou muito, mas ela procurou não o repreender. Ao invés disso, ela teve uma ideia melhor.

"Então quero aproveitar pra passar uma lição pra vocês. 'Para casa' dos protagonistas. Durante esse tempo entre essa aula e a próxima, eu gostaria que vocês começassem a se aproximar. Não tô dizendo pra vocês começarem a sair, fazerem festa, tudo mais", ela teatralizou as opções, "não! Não é nada disso, amadinhos. Mas ao menos... observem um ao outro. Tentem encontrar algo em comum. A gente não constrói amizades do nada, então... façam isso. Pode ser?"

Isak e Even, pela primeira vez, voltaram o rosto um na direção do outro e seus olhares finalmente se encontraram. Não sabiam afirmar nada nesse momento, nem conseguiam formar uma "primeira impressão" que se desvencilhasse de todo esse ocorrido, mas decidiram que tentar não poderia ser tão ruim assim.

"Sim", responderam ao mesmo tempo e, então, voltaram-se para Vilde.

"Obrigado, tá, amadinhos?" ela sorriu novamente, a expressão desdenhosa voltando a si. Isak rapidamente se perguntou se toda essa comoção dela havia sido apenas interpretação e ficou assustado com a ideia. "Se eu fosse tu, pegava logo uma carona com o limusine", brincou ela uma última vez antes de abaixar a cabeça e retornar ao que estava fazendo.

Sem falar nada e sem se olhar, Even e Isak saíram do teatro. Caminharam pelo corredor em um silêncio constrangedor e se despediram de forma envergonhada quando alcançaram o ponto em que, geralmente, seus caminhos se cruzam. Agora se separaram. Isak foi atrás de seu irmão na creche e Even foi para casa bolar como diria ao pai que havia entrado para o clube de teatro.

Sim, seus caminhos se separaram. Mas, de alguma forma, também se entrelaçaram. 

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