Só Queria Que Você Soubesse (...

By Binha-Cibelle

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Para Mina, sempre foi assim: nada de apego. Amor? Só precisou de um em toda sua vida - e não foi o romântico... More

PRÓLOGO
PARTE I
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6 - SOMETHING BLUE
CAPÍTULO 7 - AMIGA, SERÁ QUE ELE É GAY?

CAPÍTULO 4 - SÓ QUERIA QUE VOCÊ SOUBESSE

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By Binha-Cibelle

Acordei com uma resolução: vou voltar ao café.

A curiosidade venceu a vergonha que toma conta de mim sempre que relembro os acontecimentos daquele dia.

Seul é imensa, a cafeteria onde tudo aconteceu é só mais uma das milhares da cidade. Mas mesmo sabendo que as possibilidades são quase nulas, eu realmente gostaria de vê-lo novamente.

E isso, sendo eu quem sou, é bem estranho, uma vez que, se me recordo bem, a intensa vontade de rever um cara depois de tê-lo encontrado uma única vez envolveu uma troca violenta de fluidos corporais com o bônus de uma pegada inesquecível.

Esse calorzinho na barriga trazido pela lembrança daqueles olhos sorridentes também é incomum, mas totalmente bem-vindo por tirar minha cabeça do real problema: Maria Eduarda.

Ela me assusta. E não falo só daquele clima fúnebre de filme de terror do quarto ou da maneira como seu irmão reagiu a tudo.

A tristeza foi o que me assustou. O sentimento contínuo que fluía incontido de lá, eu conheço bem.

Desperta pelo leve solavanco do ônibus, desço taciturna, o que só dura até que eu veja aquela fachada e um sorriso comece a se insinuar por meus lábios. Se eu não mais visse o moço dos olhos sorridentes, estaria reconfortada pela certeza de que ele nunca me esqueceria.

Apesar de tentar bancar a desapercebida, meus olhos me traem, escaneando o café logo que entro. Me pego pateticamente erguendo o pescoço só para notar, com desgosto, a falta de quem eu realmente queria ver ali.

— Um macciato, por favor. — A moça no balcão assente sustentando meu olhar por tempo demais.

Pego o café, pago e vou me sentar.

Na tentativa vã de me concentrar em outra coisa que não seja olhar o lugar a cada dois segundos, eu entro em todas as redes sociais possíveis. Encontro a moça do caixa me encarando por duas vezes quando a curiosidade leva a melhor.

Procuro relevar. Ela deve estar lembrando do meu mico inesquecível.

Tento focar nas fotos da Irene, uma das poucas amigas que deixei no Brasil. Seria eu ao lado dela se eu não estivesse aqui, mas tudo parece desinteressante demais em comparação à maldita expectativa.

Expectativas... Estou começando a não reconhecer essa Mina.

Como nada acontece, o passar do tempo leva pensamentos de volta para a Maria Eduarda, de novo e de novo.

Nada disso deveria ocupar minha cabeça que faria melhor estando centrada na especialização em coreano e na bolsa de estudos na Europa que eu, com ajuda de alguns professores, estamos tentando há meses.

Perdida nos pensamentos que insistem em embolar minha mente, saco o celular enviando uma mensagem para Nana, minha melhor amiga, mas ela também não me responde. Eu sei, eu sei que ela está estudando para a prova da magistratura federal, e é muito difícil, e que ela estuda oito horas por dia, que é o tanto que eu deveria estudar também e blá, blá, blá.

Só que não. Não é isso que quero.

Já dizia a sábia filósofa contemporânea, Selena Gomez, que o coração quer o que ele quer, e no momento, mais do que querer, eu preciso de uma amiga para amparar meu nervosismo com frases clichês que eu geralmente odeio.

Eu, que achava que não tinha um coração, me lasquei.

Como último recurso, ligo para tia Chris, só para ouvir o aviso de telefone desligado.

Bosta de dia.

Resignada, decido ir ao banheiro antes de ir embora. No espelho, vejo meus cabelos negros que caem em ondas acentuadas pelo baby liss até o meio da minha cintura. Passo os dedos nos cílios tentando ressaltá-los e fico satisfeita com o resultado.

A saia rodada de botões vinho faz par com o cropped listrado de branco e preto de manga, que encontra certinho com o cós da saia e me deixam com cara de mais nova. Arrematei o look com uma bota de cano curto, cardigã e chapéu pretos.

Faço um bico para o espelho. Me arrumei tanto para nada, ainda assim adorando como posso me vestir aqui do jeito que gosto.

A meio caminho de volta para minha mesa percebo que a moça do caixa está lá e, ainda sem me ver, olha nervosamente ao redor, como se me esperasse. Me preparo para o discurso "senhorita, após os seus primeiros atos vergonhosos dentro desse estabelecimento, pedimos que não mais aqui compareça".

Annyeonhaseyo. — Cumprimento com uma reverência, ela retribui.

— Foi a senhorita que esteve aqui uns dias atrás e...

— Sim. — Eu a corto sentindo minhas bochechas corarem. — O incidente com o café, certo? — Aponto para a blusa já certa de que estou prestes a ouvir as palavras.

Ela assente.

— É que. — A moça pausa, me deixando mais encucada ainda. — E - eu. — Inclino a cabeça em sua direção quando gagueja.

Não sei se ela está assim pelo simples fato de ser tímida, ou por minha cara de ansiedade. Mas a coisa é que estou ficando meio sem paciência e acabo franzindo o cenho quando ela levanta o punho, abrindo a mão espalmada na minha frente.

Um pedaço de papel se insinua lá dentro. Ergo as mãos no ar para tentar expressar minha confusão.

— Pediram para te entregar isso.

— Pediram?

— Sim. Um rapaz de cabelo escuro meio encaracolado. — Meus olhos se precipitam para fora das órbitas, e engulo em seco.

— Ah sim. Obrigada. — Ela faz outra reverência antes de se afastar.

Minhas mãos começam a tremer, o calor na barriga volta com maior intensidade e a simples tarefa de desdobrar o pedaço de folha se torna um meio termo entre difícil demais e impossível.

"Ei, você foi a coisa mais engraçada de um dia normal.

Talvez eu..."

Paro ao sentir um levíssimo toque em meu ombro. É a moça novamente, só que dessa vez com um sorriso satisfeito no rosto outrora carrancudo.

— Sim?

— Ele não pediu para dizer isso, mas veio aqui outras vezes naquele mesmo horário. — Se afasta com um sorriso sugestivo.

Pulinho e gritinhos são coisa de meninas idiotas. Era isso o que eu pensava antes de ter de me controlar para não fazer o mesmo.

Me recomponho lembrando do restante do bilhete em minhas mãos.

"Talvez eu te veja outro dia aqui.

Talvez não.

Só queria que você soubesse ; )"

E aí, tudo bão?

Pois então, o que acharam dessa rodada de eventos, hein...? Falem comigo.

Sabe a Nana... Então, vocês ainda vão ouvir falar dela, e não digo só nesse livro.

Vou deixar um gostinho para vocês, e não é de Só Queria Que Você Soubesse:

"- Engraçadinho. - Imagino Nana franzindo o nariz e fazendo língua pra mim. - Falo sério. Preciso dormir perto do meu irmão de novo. Sinto tanta falta. E não, não me importaria de dormir onde quer que fosse, desde que estivesse contigo. Vinte anos dormindo juntos não são 20 dias.

Às vezes penso que Alana não entende o peso desse tipo de frase. Bem provável que não mesmo, ela era ainda muito nova. Dói fisicamente lembrar o porque.

Saudade."

Tô pensando em mais para frente publicar o livro desse trechinho aí. O que me dizem?

Quero agradecer umas lindezas que estão ajudando na nossa história: @user10667678 (Nessa Kerolene),a illaaNara, Apolaro_Kleyse, aprilkroes, Janahlvs, Michelle-Pereira, gabyferry e CamilaAmorim342. Tem mais gente linda que nos próximos capítulos eu vou agradecendo.

Muito obrigada por tudo. Cada palavra de apoio, comentário, voto faz meu dia e me estimula a continuar.

Não sei se posto capítulo extra amanhã. O que acham?

Me ajudem, indicando para os amigos e panfletando, pufavozinho?!

Beijinhos, meus amores =*

Referências e explicações:

- Magistratura: refere-se ao cargo de juiz. No caso da Nana é juíza federal.

- Nice view: ao pé da letra significa "que bela vista", mas é uma expressão largamente utilizada de forma sarcástica.

- Annyeong hasimnikka : Oi/olá (formal).

- Reverência: na Coréia ao se agradecer por algo, conhecer alguém, e outras situações, faz-se uma reverência, dobrando o corpo.

"Look do dia da Mina" hehe

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