Só Queria Que Você Soubesse (...

By Binha-Cibelle

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Para Mina, sempre foi assim: nada de apego. Amor? Só precisou de um em toda sua vida - e não foi o romântico... More

PRÓLOGO
PARTE I
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 4 - SÓ QUERIA QUE VOCÊ SOUBESSE
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6 - SOMETHING BLUE
CAPÍTULO 7 - AMIGA, SERÁ QUE ELE É GAY?

CAPÍTULO 3

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By Binha-Cibelle

A casa da família Jung desponta imponente à minha frente com seu jardim quase interminável que nunca falha em me maravilhar.

É tanta opulência que nem consigo imaginar como teria sido crescer em um lugar como esse, ao invés do pequeno quarto compartilhado sem privacidade no qual vivi parte da vida.

Fazem alguns dias desde o incidente vergonhoso no café e duas coisas não aconteceram novamente: nunca mais vi o sorriso de olho mais amor da vida e também não voltei mais lá.

É provável que a segunda coisa se deva à primeira, mas se eu sei de algo sobre mim e a minha vinda para o outro lado do mundo, é que não estou aqui para caçar carinhas. A Mina na Coréia não tem as mesmas prioridades da que adicionava nomes e rostos a uma lista cheia de nomes masculinos que crescia constantemente.

Quando um dos meus professores da época da faculdade, um coreano que, por ironia, tinha me dado aula no curso de Letras, ligou perguntando se eu teria disponibilidade para vir morar em Seul e ensinar idiomas para os filhos de um casal amigo seu, entendi que estava na hora de usar o suado dinheirinho da poupança para dar um upgrade na minha carreira.

Eu deveria priorizar países de língua inglesa e francesa, os componentes da minha graduação. Mas para quem mal havia saído do próprio estado no Brasil, uma oportunidade de emprego do outro lado do mundo era uma oportunidade a ser agarrada.

O salário oferecido foi além das minhas expectativas, as férias para o cargo eram maiores do que a média dos coreanos nativos geralmente usufrui, eu estudaria na faculdade e até poderia conseguir outros alunos para complementar a renda, mesmo que não precisasse.

Quase nem acreditei, era bom demais para ser verdade. Ainda mais sendo eu a destinatária de tudo aquilo. Mas era isso, meu momento havia chegado.

Dong Young e Maria Eduarda, os filhos do casal amigo do meu professor, são motivo da minha euforia e sofrimento.

Ele, mesmo estando naquele período chato da adolescência, é um menino dócil que distribui sorrisos e fica atento às aulas, quase como se estivesse vidrado em mim, o que me incomoda um pouco às vezes. É a parte da euforia.

Já Maria Eduarda é a própria incorporação do meu desespero, há todo um sigilo ao redor dela, de forma que já são mais de dois meses sem que eu a tenha visto.

Imaginei que ter como aluna uma brasileira seria anos luz mais fácil do que um coreano, mas como lidar com alguém que nem mesmo ainda vi?

E o maior problema nem é esse na realidade.

Não gritar que sou pobre aos quatro ventos não quer dizer que eu não me preocupe com dinheiro. Afinal estou sozinha do outro lado do planeta e meu estômago chega a doer em pensar no que fazer se resolverem cortar a parte do meu salário correspondente a ela.

— Senhorita Silva, pode entrar.

A governanta me recebe com um sorriso, me levando para a biblioteca, onde já encontro meu aluninho ansiedado.

— Hey, Dong. — O cumprimento com um hi-five. — Tudo certo, 'bro'?

— Hey, teacher. Muuuuito certo.

— Então vamos começar nossa aula de hoje, pequeno padawan.

— É para abrir em qual página, sábia mestra jedi?

Meus olhos se arregalam e um sorriso invade meus lábios.

— Wa, você já assistiu, Dong Young? Curte Star Wars?

Ele revira os olhos como se estivesse decepcionado e responde em tom sarcástico.

— Por acaso eu respiro, querida professora?

Pequeno crush coreano adicionado com sucesso.

— Então hoje nós vamos bater um papo sobre Star Wars em inglês.

(...)

Eu podia sentir a baba escorrendo pelo meu queixo ao entrar no quarto dele.

Com metade da minha idade, Dong Young tem bonecos, réplicas perfeitas, pôsteres, livros, funkos pops e tudo mais dentro da temática de Star Wars. Ele tem até sabres que parecem exatamente como os dos filmes.

Eu também posso dizer que ele é um Marvel Boy. Zeus perdoe e que a justiça não fique sabendo dessa minha paixão pelo menor.

— Meu pai adora essas coisas, mas a mamãe pega no nosso pé. — Ele me acompanha para fora do quarto.

— Que bom para o seu pai que eu não seja sua mãe. — Bagunço seu cabelo. — Por hoje acabamos nossa aula.

— Mas é só isso, professora?

— Sim. Foi legal, não é? Aposto que você nem sentiu o tempo passar, mas eu te ensinei um monte de coisas novas enquanto me mostrava sua coleção.

— Wa. É verdade. — Dong Young leva uma mão à boca que escancarou em surpresa e diz algumas palavras em voz baixa, quase como se para testar o que lhe falei.

Seus olhinhos vão se arregalando na medida que ele recorda, então ele se volta para mim com eles quase saindo das órbitas.

— Você é a melhor professora de todas.

— Não é à toa que seu pai me paga tão bem.

Limpo um cisco inexistente em meu ombro lhe estendendo um olhar presunçoso que o faz rir até que algo a minha visão periférica me chame a atenção e eu pare subitamente.

Há uma pessoa sentada de frente para a janela em um dos quartos, que, ao contrário do clima geral, é escuro e deprimente. Nem mesmo o ar se mover lá dentro. Cabelos longos e ondulados caem pelo espaldar de sua cadeira. Eles parecem sem vida.

Professora. — meu aluno se dirige a mim usando seu coreano mais formal antes de me dar um cutucão no braço. — A senhorita não pode entrar aí.

Só então percebo que estava a um passo disso. "Shhh", ele faz e eu assinto saindo quieta, impactada pelo pesar em seus olhos.

A personalidade esfuziante dele parece ter sido sugada. Seus olhinhos negros me pedem respostas em silêncio, há dor ali. Respostas que eu não tenho, e das quais nem mesmo sei a pergunta.

O fato de ele ter mudado tanto em tão pouco tempo, somado ao clima daquele quarto, me perturbam.

Saio do devaneio ao escutar os passos de alguém.

— Minha omma quer falar com você. Ela te espera na sala. — Ele faz o melhor para me dar um sorriso.

— Obrigada, Dong Young. Até a próxima aula.

Lhe dou um abraço rápido sem me importar com a falta de ética que o ato possa carregar.

— Senhora. — Me aproximo com uma reverência.

— Senhorita. — Ela retribui.

Ba Da é uma ajhumma muito bonita. Tão elegante quando uma esposa e dona de casa rica de Seul pode ser, a senhora Jung sempre acaba me intimidando demais.

— Tenho ouvido excelentes comentários sobre você. Mesmo com o pouco tempo, o pai dele já notou melhoras no desenvolvimento dos idiomas.

Solto o ar que prendi.

— Fico extremamente grata por isso. Continuarei dando o meu melhor, senhora.

— Nós apreciamos isso. — Ela sorri sem mostrar os dentes. — Mas o que eu realmente queria dizer é que Maria Eduarda está pronta para começar as aulas.

Ela pronuncia o nome com um certo sotaque e eu poderia ficar aliviada não fosse aquela imagem girando na minha mente ou as mãos que a senhora junta na frente do corpo em uma tentativa de disfarçar o leve tremor.

— Sem problema. — Mas tem problema sim. — Ela já tem conhecimento prévio em alguma das línguas?

— Sim.

— E eu poderia conversar com ela antes?

— Não. — Sou interrompida bruscamente. — A senhorita Maria Eduarda não está se sentindo bem hoje. — a mulher suaviza o tom, fica quase real.

— Ah certo. Então eu farei um diagnóstico em nosso primeiro encontro. — Murmuro e Ba Da suspira aliviada. — Até amanhã. — Me curvo novamente.

Antes de sair, procuro por Dong Young. Encontro as juntas de suas mãos na fresta da porta e seus olhinhos pretos turbulentos, nos observando escondidos.

PS: Leiam SENTIMENTOS NÃO SÃO PERMITIDOS da Michelle-Pereira - puro tiro ❤️

E aí, cambada de gente linda. Tudo bem?

Como prometido, tá aí o primeiro capítulo da semana. Só não sei se satisfez algo da curiosidade de vocês ou só fez aumentar. Hehe

Perceberam alguma informação sutil-não-tão-sutil-assim-e-nem-tão-aleatória-assim que eu joguei nesse capítulo?  Se sim, teorias? Fala tudo que eu sou curiosa, e também que elas já ficam aqui pra la na frente vocês poderem dizer: eu sabiaaaaaaaaaaaa, eu disseeeeeeeeeeeeee; ou, não foi dessa vez rs

Só Queria Que Vocês Soubesses que o Só Queria Que Você Soubesse chegou a 150 páginas no word Oo E eu estou simplesmente apaixonada. Não vejo a hora de vocês chegarem  aonde eu estou escrevendo. Nessa hora eu já estarei escrevendo o final e louca para vocês chegarem la rs

Beijinhos, môs beinz

Referências e explicações:    

- Bro: abreviação de brother, que significa irmão. Um jeito jovem de se cumprimentar.

- Padawan: aprenizes jedi.

- Ajhumma: são mulheres mais velhas e casadas ou "em idade de casar". Também é utilizado para o nosso "tia" que não é de sangue.

- Challenge accepted: por um tempo foi um meme, mas no literal significa somente "desafio aceito".

- Omma: mãe em coreano. 

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