Só Queria Que Você Soubesse (...

By Binha-Cibelle

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Para Mina, sempre foi assim: nada de apego. Amor? Só precisou de um em toda sua vida - e não foi o romântico... More

PRÓLOGO
PARTE I
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4 - SÓ QUERIA QUE VOCÊ SOUBESSE
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6 - SOMETHING BLUE
CAPÍTULO 7 - AMIGA, SERÁ QUE ELE É GAY?

CAPÍTULO 2

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By Binha-Cibelle

Um café muito, muito, muito bonito esse que eu não estou tomando.

Se saboreio algo, é a visão desses ombros largos a minha frente, eles fazem com que a cadeira em que ele está sentado pareça pequenininha em comparação.

Encará-los faz flashes proibidos para menores de dezoito anos — ou dezenove aqui na Coréia — correrem loucamente pela minha memória. Com isso a minha necessidade de uma explicação decente sobre o que tem acontecido comigo na Coréia emerge.

Nunca tive problemas em pedir números alheios no Brasil, sempre fui franca demais para o meu próprio bem, o que era um saco quando eu acabava tendo que organizar os esquemas das minhas amigas que não podiam simplesmente verbalizar para o crush um: "Ei, tudo bem? Gostei de você. Pode me passar seu número?"

Qual é a grande dificuldade da coisa?

Talvez minha facilidade se deva ao fato de sempre ter tido amigos homens, e adorá-los. Aprecio bastante aquela tênue e nunca certa linha do relacionamento amigo-amiga em que, da parte deles, sempre há a chance de uma amizade com benefícios, enquanto da nossa nem sempre.

Ainda assim, nem mesmo meus amigos homens me indicavam para quem me quisesse para algo mais sério. Nana, por exemplo, costumava dizer que eu deixava meus ex chupando dedo, ou só os deixava para lá mesmo.

Fazer o quê? Nunca prometi amor eterno a ninguém.

Mas acontece que aqui na Coréia do Sul a seca é real.

Coreanos são mais fechados à aproximação e tendem a ser bem mais tímidos do que nós. Isso sem mencionar a barreira linguística.

As coisas melhoraram consideravelmente quando meus colegas de sala descobriram que eu falava sua língua. Na maioria dos outros lugares os pescoços ainda se viram na minha direção quando me comunico em coreano, mas aos poucos me acostumo, como venho fazendo um dia de cada vez com tudo o que me cerca.

Voltemos ao assunto principal, a seca.

Esses dias vi um gatinho na faculdade e mal, mal consegui me mover. Acho que talvez isso seja efeito de assistir doramas demais, e colocar os oppas em um pedestal, sendo que lá no fundo, eles são só homens, tão merdas — ou tão legais — quanto os do mesmo sexo residentes do Brasil.

Acontece que agora eu estou aqui, focada num pedaço de pele branca que termina em escuros cabelos ondulados, e eu juro juradinho, que me custa muito esforço para não me levantar, ir lá, enfiar os dedos neles e fazer o melhor cafuné que esse carinha já sentiu.

Meus dedos chegam a formigar.

Sei que minha observação está um pouco demais quando escuto aquela risada de novo, a mesma de quando meu celular caiu. Decido espiar um pouquinho.

— Wa. — Falo baixinho ao dar de cara com o amigo dele que me sorri divertido.

Ele não parece ofendido de eu o estar secando com cara de idiota. O moreno só age como se achasse graça.

Sua cor não deveria ser motivo de surpresa, não se eu estivesse no Brasil, onde um dos maiores símbolos da cultura é a miscigenação, mas em Seul é a primeira vez que encontro um negro que é claramente coreano.

Começo a me perguntar como não tinha reparado nele antes, mas dado o estado que o homem em sua frente me colocou, ele poderia estar totalmente caracterizado de Patati Patatá que eu não daria a mínima.

Balanço a cabeça desviando os olhos e decido usar o tempo que me resta de forma útil lendo um livro em coreano. Melhor praticar o idioma do que praticar vergonha, minha carga horária nessa matéria é extensa.

Poucos segundo depois e eu estou conversando com meus personagens, rindo de seus infortúnios como se eles estivessem aqui na mesa comigo.

Mas então minha visão periférica capta um pequeno movimento na mesa da frente. Tiro os olhos do livro para encontrar o moço do eye smile me olhando com um pequeno sorriso no canto dos lábios. Me escondo atrás das páginas.

Mas que bosta, Mina, se recomponha. Você não tem medo de homens, você os consome com um olhar.

"Afoga ele, filha, no mar contido nos seus olhos. Ele vai submergir feliz agarrado ao peso irreverente das suas belas sardas, minha menina. Ele não vai te resistir.", quase posso ouvir a voz dela cantarolada em meus ouvidos, e sorrio.

Como eu a queria aqui.

Mas ela não está e eu não reconheço essa pessoa surtando por olhares furtivos nesse corpo que deveria ser meu.

É hora de dar tchau.

Deu o que tinha de dar, afinal, ao menos em teoria, eu vim aqui colocar uma blusa que cobrisse a minha indecência para padrões coreanos, e não para cantar nenhum boy maravilhoso, de mãos fortes, que me segurou quando eu ia cair e... Segura o forninho, amiga.

Pegando o que preciso na bolsa, começo a andar em direção ao banheiro. Levo o copo de café à boca, sentindo o calor que vem dele aquecer meus lábios enquanto meus pés, hum, por que eles estão tão frios?

O que, em nome de Zeus, você faz com um copo de café na mão indo para um lugar infestado de germes, sua idiota?

Recolho os pedaços restantes do meu amor-próprio e faço a caminhada da vergonha de volta para a minha mesa com passos mais rápidos, cabisbaixa, fingindo não ter visto os rapazes me olhando com sorriso divertidos, até que.

— Ai, desgrama. — Os xingamentos em português vêm em corrente quando uma dor lancinante atinge meu dedo mindinho. — Merda. — Me apoio na mesa mais próxima segurando o pé com uma mão, e não!

Isso não pode estar acontecendo comigo, penso em desespero sentindo o líquido grudento escorrer meu pescoço abaixo, já me preparando para o ardor da queimadura. Que não vem porque graças aos meus minutos de contemplação, durante os quais deixei o café intocado, ele está frio.

Você é maior que suas cagadas, Mina. Inspiro e expiro o mantra.

Dizem que ser estrangeiro hoje aqui é melhor do que anos atrás, as pessoas já nem te encaram tanto. Não é o caso agora, definitivamente.

Desejo me encolher, ficar do tamanho de qualquer coisa que possa caber atrás de um copo médio de café. Um silêncio totalmente desconfortável se instala. Parece que até os transeuntes por trás das janelas de vidro pararam para observar minha miséria.

Todos, sem exceção, estão me olhando. Os homens nem piscam e eu sei o exato motivo.

Porque a vida, meus amigos, a vida é uma vagabunda que te manda vestir malha branca quando sabe que você vai derramar café por ela toda.

Entretanto percebo com alívio que a camisa na minha mão não está suja.

Termino o trajeto para a minha mesa, calço os scarpins de onça — o quê deu em mim de ir trabalhar calçando isso? —, pego minha bolsa e refaço o caminho para o banheiro.

Me limpo como posso, grata por sempre manter um kit de primeiros socorros higiênicos na bolsa. Meu consolo maior é o fato de que nada vai me impedir de tomar um banho escondido na casa da família Jung.

A família Jung. Socorro, Deus.

Corro porta afora, literalmente, pegando as minhas coisas, e me direciono para a saída. Porém, sou parada por uma ideia que se insinua antes de alcançar a porta.

Se a vida está de brincadeira com a minha cara, bem, eu não vou ficar me sentindo mal enquanto ela ri de mim. Eu vou gargalhar dela.

Giro nos calcanhares jogando meus cabelos no ar em um movimento que deixaria Giselle desempregada.

Os olhos dele estão fixos em mim por todo o meu caminho de volta, e, me conhecendo bem, eu acharia estranho se não estivessem quando acabei de lhe dirigir todo o peso do meu charme. Eles sempre caem.

Fuço o multiverso que é o interior da minha bolsa até encontrar caneta e papel. Escrevo o que vem à mente, dobro o papel e, sem olhar para o lado, passo pelos dois deixando o bilhete cair em sua mesa antes de quase correr para a saída.

A Mina de antes olharia para dentro só para fazê-lo ter certeza de que ele entendeu a mensagem. Ela adicionaria uma mordida no lábio inferior que o deixaria embasbacado.

Essa Mina morreu ou está desaparecida.

Mas quando minha curiosidade tem o melhor de mim, eu olho pela vidraça e o encontro me olhando de volta, com uma cara fofa, enquanto abre o papel que lhe deixei.

Lhe sorrio desejando que, mesmo que por breves e passageiros instantes, ele se sinta felizmente afogado.

"Ei, você tem o eyesmile mais lindo que eu já vi.

Talvez eu volte aqui outro dia, talvez não.

Talvez te veja de novo, talvez não.

Então, só queria que você soubesse. ; )"

---

Doramas: séries coreanas. Em que pesem ser chamadas de dramas ou doramas, podem ser de qualquer gênero.


Oppa: forma como as mulheres coreanas se referem aos homens mais velhos com quem tem determinado grau de intimidade.


Wa e Omo: são expressões de surpresa coreanas. 



Nota da Autora:

Vem aqui e me abraça se você é a Mina na vida, a pagadora de micos. Hehe

Pobre coitada, gente. Eu choro de rir toda vez que imagino essa cena, porque pobre Mina. Seria terrível se fosse no Brasil, gente. Agora pensa, do outro lado do mundo nós já chamamos atenção pelo simples fato de sermos estrangeiros, imagina depois da cena.

Descobriram o porquê de "Só Queria Que Você Soubesse"? Foi a VanessaRasfaski que me disse para escolher esse nome e eu amei. Achei super a cara da história.

Palpites? Já quero. Adoro. Bora conversar.

Não consegui não postar hoje. Semana que vem provavelmente serão capítulos em dias mais distantes um do outro. Vocês não tem noção do incentivo que são. Obrigada por tudo.

Não querendo ser chata, mas já sendo. Dá a estrelinha e comenta aí até os dedos darem calo, por favor hahaha

Beijinhos e até a próxima =*

Referências e Explicações:

Doramas: séries coreanas. Em que pesem ser chamadas de dramas ou doramas, podem ser de qualquer gênero. A nomenclatura só se deve ao fato de que os sul coreanos se referiam às séries como drama e na hora de pronunciar saía como "dorama".

Oppa: forma como as mulheres coreanas se referem aos homens mais velhos. Em geral é um jeito mais carinhoso, não se chama um desconhecido de oppa. Mas namorados, amigos, irmãos e etc... E quem assiste doramas, nós dorameiras, chamamos os atores que mais gostamos assim.

Wa e Omo: são expressões de surpresa coreanas. É tão fofinho o jeito que soa.


E ah... 🤤

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