Daniel levantou na segunda-feira sozinho, com as pernas doendo como o inferno e uma dificuldade absurda para sentar. Ele jogou os lençóis para o lado e ficou de pé no momento que a avó entrou no quarto.
— Bom-dia, mama.
— Bom-dia, meu raio de sol. — Ela beijou-o no rosto. Nicholas também o chamava daquela forma pela manhã. — Você está brilhando.
— É a luz entrando. — O menino corou, seguindo para o banheiro.
— Não, Daniel — Luci disse duramente. Ele parou e virou a cabeça para ela. — Você está me lembrando de quando eu conheci seu avô. Eu ficava com esse mesmo sorriso idiota.
Isso significa que irei tê-lo por cinquenta anos e vê-lo morrer?
— Por quem você está apaixonado, meu bem?
— Por ninguém, vó. Só estou bem-humorado.
Ele chegou à escola com a vergonha e o desconforto comendo suas entranhas e agradeceu a tudo quanto era profeta por não encontrar o namorado logo de cara. Daniel prometera a si mesmo por quinze anos que só faria sexo depois de casar, quando tivesse uma garantia, mas havia passado o fim de semana agindo como prostituta, entregando-se tantas vezes ao ruivo que não podia mais contar. E, apesar da vergonha, não estava arrependido. Tinha sido gostoso para porra.
Lola estava na cadeira com resquícios de maquiagem nos olhos escuros, segurando um copo de café. Ela parecia tão morta quanto o garoto.
— Você tá acabada.
— Culpe minha tia e seu casamento num domingo — Santiago resmungou, balançando a cabeça. — Como foi seu fim de semana?
Ele corou e olhou para baixo.
— Eu posso te fazer uma pergunta?
— Já fez, benzinho. — A garota bateu no espaço ao seu lado na cadeira, afastando-se um pouco. Ele sentou-se lá. — O que foi?
— Quando você transou com o Tyler pela primeira vez... Conseguiu parar?
— Parar?
Daniel não conseguia encará-la.
— É, Lola. Parar. Você fez uma ou várias vezes?
— Várias, é óbvio. Perder a virgindade com alguém bom tem dessas coisas. — Ela sorriu. — Doeu muito?
— Não tanto quanto eu pensava. Ele foi cuidadoso.
— É porque você estava tremendo — a voz de Nicholas cantou ao seu lado. Ele tinha o rosto inchado de sono. — Você o ajudou, não foi, Santiago?
— Óbvio.
— Eu deveria estar impressionado. — O ruivo deu de ombros. — Mas, certo. Bom-dia para vocês.
— Bom-dia, Ni.
Ele sorriu e sentou-se na própria cadeira. Daniel saltou para ficar na frente dele.
— Como foi ontem?
— Um tédio. Eu era a única pessoa ali com menos de vinte e cinco anos e mais de dois — o ruivo grunhiu. — Sinceramente? Eu mal posso esperar para essa maratona acabar.
— Ainda falta um mês. E então você vai ter que enfrentar um casamento enfeitado de gente engomada.
— Mas pelo menos você vai comigo e vai ser divertido. Enquanto isso eu enfrento jantares com a família da Lia e bebês agarrando minhas pernas, fingindo que não quero sair correndo e me esconder no banheiro.
— Eu gosto de bebês, embora não os queira. — Riu. — Olha, pelo menos Matt está te colocando mais na vida nele e nesse momento... Huh, eu deveria dizer especial? É. Especial. Ele está te colocando no casamento dele como um pai tem de fazer.
— Sua positividade me irrita às vezes.
— Nah, você me ama.
Nicholas esticou-se e beijou-o no canto dos lábios brevemente, aproveitando a sala vazia. Embora fosse a face do ser humano colérico, ele conseguia ser carinhoso a maior parte do tempo.
— Muito, aliás.
Eles enfrentaram o dia em silêncio e aturaram as risadas de Tyler sobre a vergonha do ruivo contando de sexta. Daniel conseguiu listar as vezes que fizeram sexo e escondeu-se atrás do namorado depois, ainda encabulado. Era bom, era a melhor coisa do mundo, mas... ele ainda sentia-se um garoto bobo que jamais perderia a vergonha.
— Dani, você se arrependeu?
— Por que eu o faria? — o menino perguntou debilmente enquanto voltavam para a sala. — Você se arrependeu?
— Sabe que não. É só que mal olhou para mim hoje e suas frases são curtas. E você adora falar, detalhe.
Ele sentiu um solavanco no estômago.
— Eu me expus por completo para você, Nick. Tipo, tudo. E você conheceu uma parte do meu corpo de uma forma tão... Ahn... Ah, porra, você me conheceu daquele jeito e eu ainda não sei lidar muito bem.
— Lidar com essa coisa de não ser mais virgem?
— Basicamente. Estamos ligados agora e é difícil entender isso.
Nicholas coçou a nuca e ficou quieto por um período.
— Você vai para a igreja hoje?
— Nop. Vou ajudar a Lola com gramática.
Mais silêncio por horas. E, no fim do dia, quando atravessavam os portões da escola, Daniel esticou-se para abraçar e beijar o namorado.
— Eu amo você, tá? — sussurrou contra seus lábios. — E tive o melhor final de semana da minha vida.
— Mas você parece tão...
— Eu sou inseguro com tudo, Nick, e não é de agora. Ligo assim que chegar em casa.
O ruivo balançou a cabeça e beijou-o na testa antes de deixa-lo ir com a menina Santiago e seguir com Tyler para o outro lado. Os pais de Lola haviam se mudado desde que Greer partira para a faculdade e a casa ficava a meia hora da
escola para o litoral.
No meio da tarde, eles finalmente se juntaram na mesa para empilhar os livros. Daniel mal conseguia prestar atenção no assunto.
— Não sei como vocês conseguem aprender essa merda. Quantas flexões tem esse verbo?
— Quinze — o garoto respondeu, afastando o caderno. — Nem eu consigo aguentar esse troço. Arranje-me algo mais divertido.
— Não estávamos aqui para estudar?
— Eu te dou cola na prova.
Lola sorriu, batendo as mãos.
— É disso que eu estava falando! — ela gritou, puxando-o para fora da sala de estar até a cozinha. — Vamos comer salgadinhos e você vai me dar detalhes de sexta!
— Por que você quer saber tanto do destino da minha virgindade?
— Ah, vai. Eu te ajudei por um mês inteiro e até disse pro Tyler qual lubrificante comprar. Mereço saber sim.
Cinco minutos depois, estavam no banco da janela da menina com dois pacotes de salgadinhos e uma garrafa de refrigerante. Daniel não ia mentir: ele realmente precisava compartilhar seu fim de semana com a melhor amiga.
E ele contou, coisa por coisa até o domingo à tarde, quando voltara para casa poucas horas antes de o jantar de Matthew começar. Lola encarava-o com um sorriso excitado e a boca vermelha de mordidas, com seus comentários inoportunos.
— Hey, agora você finalmente é um gay não-virgem! — Ela bateu em seu ombro. — Só falta perder a da frente.
— O Nicholas não vai dar para mim. — O menino corou.
— Ué. E por que não?
— Você já viu o tamanho daquele cara? Ele é... Bem, bissexual e tem toda aquela coisa de ser másculo e tal... Acho difícil que ele abra as pernas para mim. — Mesmo que eu queira. Daniel jamais poderia negar que tinha vontade, sim, de trocar os papéis com o namorado, porque apesar de tudo ele também era um garoto e garotos gostavam de usar a frente.
— Ué, e qual é o problema? Ele pode acabar gostando tanto quanto você, mesmo que o Nicholas esteja nesse rótulo de gay heteronormativo.
Dani ergueu uma sobrancelha.
— Não o coloque num rótulo, Lola.
— E por que não? — ela repetiu a pergunta. — É importante se rotular, sabia? No seu caso ainda mais.
— Por quê?
— Porque todo mundo presume que você é hétero, e
você não é, então chegar e falar "oi, galera, eu sou viadão" é uma maneira de dar a cara à tapa e mostrar para as pessoas que você existe, sabe? E além do mais... Rótulo é só mais uma característica.
— Mais uma característica?
— É sim. Olha. — A menina arrumou-se no banco. — Eu sou a Lola, meus pais são africanos, nasci em março, tenho dezesseis anos, sou orgulhosamente negra, vou ser engenheira, peso sessenta quilos e por acaso tenho uma deficiência no joelho esquerdo. Tudo é uma característica a mais, sabe? Isso tudo vem comigo, é um pacote, assim como ser gay vem no seu. Não muda o resto.
— Então...
— Achar seu rótulo não te define por completo, Dan. Faz parte de você, igual esses olhos enormes e seu amor bobo por borboletas.
Achar seu rótulo.
— Pensando por esse lado... É, faz sentido.
— É claro que faz sentido! Tudo que eu digo é genial!
Daniel apenas riu para ela e olhou pela janela.