A Garota Deles

By meiraniklaus

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Kayla é uma modelo em ascensão que guarda um perigoso segredo. Ao ser convidada para representar a linha femi... More

Honestidade
Desafio
Segredo
Tensão
Pandora
Piedade
Mentira
Carência
Limite
Ciúme
Proximidade
Raiva
Curiosidade
Conforto
Conflito
Acordo
Resolução

Interação

200 17 76
By meiraniklaus

Capítulo 5

.

"O que põe o mundo em movimento é a interação das diferenças, suas atrações e repulsões."

(Octavio Paz)

.

O olhar de Kayla parecia brilhar de divertimento, sua expressão embelezada por um sorriso sincero.

Ela nunca imaginou que os integrantes do Sumire fossem tão espirituosos e engraçados! A interação era repleta de uma intimidade amigável, tornando impossível não a apreciar.

— O Jaoki ficou tão irritado que ignorou o Satoshi a semana inteira! — A ruiva riu quando Daisuke concluiu o relato, sentindo-se um pouco preocupada ao notar que Trevor parecia incomodado por acompanhá-la.

Desde que seu amigo e colega de apartamento chegou ao restaurante, as conversas fluíram com certa tensão. O problema é que Kayla sentia-se ingenuamente tola por não ser capaz de compreender com exatidão a razão de seu comportamento retraído.

— Ele mereceu cada segundo sendo ignorado — respondeu o guitarrista. Seu riso encantador destacava a argola de seu piercing no lábio inferior.

O restaurante onde estavam era reservado e discreto, permitindo um encontro informal e entusiasmado. Mesmo assim, era possível notar que Kayla ainda precisava se soltar mais na presença daqueles cinco japoneses tão famosos. Era difícil fazê-lo, no entanto, quando não compartilhava de sua íntima amizade.

— Você continua ferindo os meus sentimentos! — exclamou Satoshi bem-humorado, posicionando a mão grande sobre o peito.

A modelo não pôde evitar sorrir ainda mais com o gesto teatral. O clima entre aqueles músicos era tão descontraído que se sentiu um pouco desconfortável, como se fosse uma intrusa na conversa casual.

— Em que está pensando, Kayla-san? — questionou Daisuke.

A jovem encontrou os olhos castanho-claros do baixista, então observou detidamente o rosto sério que combinava com os fios arrepiados e cheios de reflexos de cor ferrugem. Ele tinha uma franja sobre as marcantes sobrancelhas que, quando franzidas, tornavam-no bastante intimidador.

— Em como é confiável e sólida — respondeu enigmática, brincando com as expressões confusas.

— A que se refere? — Quis saber Jaoki, visivelmente interessado.

— À amizade entre vocês. — As palavras soaram calmas e melodiosas, deixando os integrantes do Sumire um pouco constrangidos com a observação.

— Entre vocês é diferente? — indagou Satoshi, inclinando-se sobre a mesa recém limpa pelos garçons.

O grupo já havia almoçado e a conversa, inicialmente formal, envolveu detalhes sobre a formação do Sumire que não constavam nas entrevistas estudadas pela modelo. Neste momento, aguardavam as sobremesas.

Mantendo o sorriso, Kayla suspirou e encarou Trevor, com quem a convivência fora peculiar desde o início.

— Conhecemos um ao outro há menos tempo, cerca de um ano. — Voltou a mirar as íris escuras de Satoshi. — Logo na minha primeira impressão, Trevor conquistou meu carinho.

A expressão de Kayla era serena, seu olhar pousou outra vez sobre Trevor com notável admiração. Aquilo, de certa forma, só aumentou a curiosidade dos músicos. Para quem se mostrara um mistério, a ruiva agora parecia muito à vontade em deixar claro como se sentia em relação ao rapaz ao seu lado. Seriam mais do que apenas amigos?

— Trevor me acolheu num momento em que não existia nada para mim — continuou Kayla, detendo total atenção do grupo. — Desde então, moramos juntos.

— Vocês moram juntos? — perguntou Oreki, descrente, encarando-a tão seriamente que a ruiva se sentiu repreendida.

— Sim — respondeu Trevor, posicionando uma das mãos sobre o encosto da cadeira de Kayla em uma explícita exibição de proximidade. — Como podem ver, não somos conservadores.

A ruiva cutucou-o com o cotovelo para que não criticasse o tradicionalismo nipônico, ou certamente causariam maior tensão ao silêncio à mesa. Tentou corrigir na esperança de superar interpretações equivocadas:

— Para reduzir custos, é natural que estrangeiros compartilhem a mesma moradia.

Kyohei soltou um pigarro discreto, exigindo com o olhar que os amigos não mais questionassem a intimidade da modelo. Caso contrário, era óbvio que algum deles logo indagaria o que todos ansiavam saber: Kayla e Trevor seriam namorados?

Muito embora a curiosidade parecesse apenas aumentar, Sumire resolveu que não devia pressioná-la mais.

— Kayla-san, não gostaria que nosso almoço chegasse ao fim antes de dizer que seu talento musical nos surpreendeu — afirmou Jaoki, assentindo junto aos amigos.

A modelo analisou a expressão sincera de cada integrante do Sumire, sentindo o coração descompassado pela aprovação. Até o presente momento, o grupo não havia manifestado nada em relação àquela manhã, mas ela notara uma atmosfera diferente após a exibição do vídeo.

— Foi a primeira vez que um vocal feminino conseguiu adaptar-se à nossa música de um jeito que nos agradasse — esclareceu Daisuke, sorvendo um gole do vinho branco. — Você não tentou manter o padrão do Oreki, mas cantou como se Airen fosse sua.

— Pessoalmente, estou bastante ansioso pelo dueto que podemos desenvolver — admitiu Oreki com um caloroso sorriso.

A face delicada da jovem estava corada pela emoção e, sem que pudesse conter, seus olhos verdes marejaram. Kayla se sentira tão estressada nos últimos dias, como se estivesse pronta para explodir a qualquer momento, que agora parecia uma tola sensível.

— Obrigada — acolheu comovida. — Desculpem, acho que ainda estou um pouco sobrecarregada. — Kayla levantou-se rapidamente antes que as lágrimas lhe escapassem. — Vou ao toalete, com licença.

E quando sua figura sumiu de vista, seguindo com passos apressados em direção ao banheiro feminino, Kyohei soltou o ar com força.

— Ela parece abalada. — O baterista não se referia somente ao teste daquela manhã, mas à provável conversa que Kayla tivera com o senhor Fukushima.

Trevor encarou-o intensamente, franzindo o cenho.

— Os últimos três dias foram muito exigentes para ela — retrucou, quase acusatório.

— Vamos nos esforçar para que a dedicação dela não seja em vão — falou entredentes Oreki. Com uma intensidade sobre a qual decidiu não pensar, queria assegurar a Trevor de que neste momento não era o único a se importar com Kayla.

— Faremos a nossa parte para que esta parceria seja a melhor possível. — As palavras de Satoshi amenizaram um pouco a rivalidade, mas logo o desconforto retornou quando resolveu perguntar: — Como vocês se conheceram?

Trevor encarou-o com tamanho mau humor que o guitarrista sorriu perversamente por irritá-lo.

— Posso perguntar diretamente a ela em outra ocasião. — Satoshi deu de ombros, sem sequer ocultar a diversão.

— Perguntar o quê? — A própria interveio ao se aproximar da mesa, curiosa com a expressão carrancuda de Trevor e o jeito completamente relaxado de Satoshi.

— Nada demais, Kayla-san. — Kyohei ajeitou-se na cadeira e inclinou-se um pouco sobre a mesa para fitar o guitarrista em um alerta mudo. — Por favor, sente-se e aprecie a sobremesa.

O garçom já servia os deliciosos doces conforme os pedidos, e Kayla resolveu ignorar a sensação de que perdera algo entre os rapazes enquanto esteve ausente. Concentrou-se em sentir o sabor e a textura da torta alemã que pediu, tentando decifrar o que havia de diferente. Era absolutamente deliciosa! Atento à sua expressão investigativa, Jaoki tentou adivinhar:

— Pela sua expressão, você parece saber cozinhar...

Ela riu constrangida pelo flagra, corando de um jeito tão adorável que Trevor sentiu o ímpeto de escondê-la da observação admirada do grupo à mesa. Era frustrante que aquela mulher não percebesse quão deslumbrante poderia ser!

— Seria presunção dizer que sei cozinhar... — respondeu Kayla, brincando com o garfo sobre a torta.

— Seria hipocrisia não admitir quão bem você cozinha — corrigiu Trevor, encarando-a profundamente.

Envergonhada pelo elogio do amigo, ela limitou-se a engolir outro pedaço da sobremesa.

— Começo a pensar que você é frequentemente surpreendente, Kayla-san — comentou Oreki em uma voz aveludada.

— Isso é porque vocês não a conhecem — grunhiu Trevor impaciente, amassando o guardanapo de pano entre os dedos longos de sua mão.

Kayla voltou-se para o amigo, assustada pela hostilidade que sua expressão carregava. Algo definitivamente estava indo mal naquele almoço comemorativo.

— Isso não será problema — retorquiu Satoshi com igual severidade. — Teremos tempo suficiente para conhecê-la.

O tom desafiante do guitarrista causou um calafrio na ruiva. Ela notou Trevor cerrar os dentes em uma clara demonstração de seu frágil autocontrole e decidiu ser o momento de interromper a desastrosa situação.

— Acho que devemos ir, não é, Trevor? — Tocou-o suavemente no braço, quase suspirando de alívio ao percebê-lo relaxar um pouco a postura agressiva.

— Você ainda não terminou de degustar sua torta, Kayla-san — interferiu Daisuke, mas Kayla notou com certo desespero que não a encarava. Seus olhos castanho-claros estavam fixos sobre Trevor, e sua expressão era tão feroz que a jovem sentiu vontade de engolir a torta inteira como pretexto para sair em disparada.

— É indelicado concluir o almoço desse jeito apressado — concordou Oreki, recostando-se na cadeira com uma graciosa despreocupação.

Ela não sabia como reagir àquelas investidas, ainda sem compreender o motivo para tamanha rivalidade. Não era segredo que Trevor agia com uma superproteção que por vezes a deixava constrangida, mas durante o almoço os rapazes do Sumire atuaram tão respeitosamente que os comportamentos do amigo pareciam injustificados. Teria perdido algo importante?

— Eles estão certos, Kayla. — Trevor finalmente cedeu, e ela, procurando não causar novos transtornos, pôs-se a terminar de comer para concluir de vez aquele desastroso almoço.

Era uma pena que uma torta tão saborosa se tornasse meramente sem graça sob olhares perscrutadores. O desconforto fazia o doce pesar como pedra a cada pedaço.

— Deve-se apenas molhar os biscoitos — falou Kyohei de repente, atraindo seu olhar confuso. — Na torta alemã, é preciso não encharcar o biscoito no soro do creme de leite, mas apenas molhá-lo suavemente.

Kayla continuou a observar o baterista, admirada por sua atitude. Não apenas por partilhar o segredo da textura levemente crocante daquela preciosa torta, porque pelo seu aspecto era provável que estivesse correto, mas especialmente por sua sensibilidade em retomar o assunto de maneira agradável. Ele com certeza esteve atento ao seu desalento e, para reanimá-la, procurou oferecer uma informação que julgou ser interessante para ela. Foi um gesto gentil, pensou ao sorrir com cumplicidade.

— Faz sentido. — Levou outro pedaço à boca, novamente disposta a saboreá-lo. — Então, você também cozinha?

A conversa prosseguiu mais tranquila até todos estarem satisfeitos. Kayla descobriu que Kyohei realmente cozinhava — e era o único, entre os amigos, apto a encarar receitas diversas. Trevor manteve-se calado ao seu lado, lembrando-a pelo silêncio tenso quão estressado ainda estava. Ela tentou não o perturbar, mas ainda se sentia vagamente culpada por convidá-lo. Talvez o ideal fosse não permitir novos contatos entre Trevor e o Sumire.

Ao saírem do restaurante, Kyohei aproximou-se de Kayla, o suficiente para que a jovem sentisse o perfume amadeirado invadir suas narinas. Ela notou, pela primeira vez, a altura do moreno e sentiu-se pequena apesar de seus 1,75 m.

— Eu apenas queria me desculpar melhor. — A expressão do baterista era sincera, e Kayla gostou de vê-lo disposto a eliminar qualquer mal-estar que pudesse afetar uma boa convivência. — Não queria ter sido agressivo ou insensível durante a reunião. Se algum dia se sentir confortável em dizer qualquer coisa, serei confiável.

A jovem sorriu com a declaração, mal acreditando que a situação estava se resolvendo pacificamente como gostaria.

— Obrigada por compreender, Kyohei-san. — Seu semblante era tão aliviado que o baterista sentiu-se satisfeito por sua própria iniciativa em abordá-la.

— Pode me chamar sem o sufixo — pediu ele, uma nota de claro constrangimento sob as palavras.

Kayla sorriu ainda mais, sentindo-se grata por finalmente ser acolhida por ele. Reconhecia que Kyohei fora rude durante a reunião, mas não faria diferente se estivesse em seu lugar, como líder de uma banda.

— Vamos nos relacionar muito nos próximos três meses, Kyohei-san. — A face masculina revelou certa decepção diante da insistente formalidade, mas a ruiva manteve o semblante sereno ao continuar: — Espero reconstruir sua confiança em mim, o suficiente para me sentir à vontade em chamá-lo assim.

Kyohei fitou-a, sério. A jovem à sua frente estava dizendo claramente saber que ainda não confiavam um no outro a ponto de evitarem os sufixos. Ele próprio não soube dizer o que o levou a fazer aquele estúpido pedido tão precocemente, mas percebia existir nele um desejo por mais proximidade. Realmente queria conhecê-la. Sentia-se, agora, um tolo rejeitado.

Por que Kayla era tão imprevisível?

— Entendo, Kayla-san — respondeu gentil, disposto a ser mais paciente.

— Vejo que estão se dando melhor. — Jaoki se aproximou, contente.

A jovem notou que sua conversa com Kyohei tornou-se, em algum momento, o centro das atenções e sentiu-se muito envergonhada. O olhar perspicaz de Oreki parecia desnudá-la e, sem conseguir retribuir tamanha intensidade, sua atenção se fixou sobre a calçada.

— Kyohei-san estava apenas sendo cortês — explicou atrapalhada. Tentou, então, mudar o assunto: — Obrigada pelo convite para o almoço, Satoshi-san.

O guitarrista pousou uma das mãos sobre os fios negros, ligeiramente satisfeito pela lembrança de que fora ele quem a convidara. De uma forma inesperada, Satoshi se aproximou com uma expressão maliciosa ao respondê-la:

— Estarei sempre à disposição para almoçar com você, Kayla-san. — E envolvendo uma das mãos da ruiva entre as suas, beijou os dedos femininos com delicadeza.

O gesto foi ágil e furtivo, sem chances para que pudesse reagir. Ao se afastar, Satoshi ainda lhe presenteou com uma piscadela. Era difícil ignorar a beleza de sua face ao fazê-lo, ele definitivamente sabia como flertar com uma mulher.

Com os lábios entreabertos pela surpresa, a modelo fez uma reverência suave em despedida e caminhou a passos largos ao lado de Trevor em direção ao metrô mais próximo. O coração descompassado e a face quente pela timidez a fizeram pensar que sua vida, a partir daquele dia, seria muito diferente do que previra.

.

— No que estava pensando, Satoshi?! — perguntou Daisuke, chocado. Ele nunca vira o amigo agir daquela maneira tão impulsiva em um contexto profissional.

Depois de saírem do restaurante em um silêncio irritadiço, o Sumire reuniu-se no apartamento de Oreki.

— Kayla-san é uma mulher atraente, inteligente, decidida e... provavelmente solteira! — respondeu o moreno com um sorriso divertido, alheio aos olhares acusadores. — Qual o problema?

— O maldito problema é que acabamos de fechar um contrato, Satoshi! — Jaoki quase gritou, frustrado com o argumento.

— Não acho que Kayla-san seja uma mulher que não saberia dividir sua vida pessoal dos negócios. — Novamente a resposta soou com simplicidade, e ninguém ousou negar que a ruiva aparentava ser uma pessoa capaz disso. — Não se preocupem. Nunca arrisquei nada sério como a banda, vocês sabem.

Oreki levantou-se do sofá, resmungando que pegaria saquê. Sua carranca e seu silêncio comprovavam existir uma tormenta interior a ser contida naquele momento. Kyohei, por sua vez, não teve chance de dizer quão furioso se sentia. Satoshi fora inconsequente, e Kayla devia estar fora dos limites para qualquer um deles. Precisou se afastar para atender ao celular que tocava:

— Kyo, você poderia vir sozinho ao meu escritório?

E ao ouvir as palavras do senhor Fukushima, o empresário da banda, o baterista compreendeu que o assunto seria importante.

[Continua]

Olá, pessoal!

Trevor e Sumire não poderiam, MESMO, se dar bem (rs). Muita tensão, muita rivalidade... E Kayla vai precisar, além de lidar com as investidas desses boys delícia, se desgastar em "colocá-los no seu devido lugar" (rs). A partir do próximo capítulo, finalmente, teremos uma proximidade maior dela com esses rapazes. O que esperar então, hm? 

Obrigada por lerem! As opiniões de vocês são muito importantes para mim~

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