Amor Falso - Série Endzone...

By MariaFernandaRibeir2

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"Fake" é uma jogada do futebol americano onde um jogador finge fazer um lance, mas faz outro. Heaven acha que... More

Aviso de gatilho + avisos
Prólogo
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Epílogo
Extra

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By MariaFernandaRibeir2

E enquanto tento tento trilhar meu caminho,
Para esse mundo medíocre,
Eu aprenderei a sobreviver.
(Ordinary World - Duran Duran)
Will

Novembro chegou com uma nova derrota do meu time, depois de um início de temporada péssimo. Céus, como sinto falta do Zack. Completamente frustrado pela falta de harmonia entre defesa, ataque e time especial, descontei tudo estudando bastante para ter pelo menos um ponto positivo nessa temporada. Sociologia era a matéria que eu estudava, quando a Heaven arrebentou a porta do quarto.

Literalmente. A garota jogou a porta no chão. E nem sequer notou o desastre. Caminhou para dentro, abriu o guarda-roupas e puxou algumas blusas dos cabides.

— Certo, quem você feriu gravemente? — o Greg, torci mentalmente.

Ela pulou assustada.

— Você está aí. — comentou, e continuou puxando roupas.

Desci da cama e caminhei até ela.

— O que aconteceu, linda? Por que você está arrumando suas coisas como uma fugitiva?

— O Peter sofreu um acidente. A Gwen estava com ele, eles estão no hospital. Ele... ele disse que encontrou o xerife com a Vivian, a mãe da Gwen, ambos estavam... altos. Ao invés de chamar a polícia, ele tirou a filha de lá e o xerife acionou os outros policiais por sequestro. Ele só estava tentando salvar a filha, por que ninguém acredita nele além de mim? — resmunga fungando.

— O xerife é o monsto mau, então? — chocado com essa revelação, começo a entender porque ele não fez muito para investigar o incêndio da minha casa. Ele deveria conhecer o Greg, ou até fornecer algo pra ele.

— Caramba, eu não pensei nisso. O Peter vai matar ele se souber. Isso é, se ele conseguir a liberdade algum dia. Enfim, preciso ir até lá pra ver se coloco um pouco de juízo naquela cabeça.

— Você vai ficar quanto tempo fora?

— Só o fim de semana. — fechou o zíper da mochila — Ele já não me quer lá, se eu ficar até receber alta vou ter um irmão muito irritado comigo.

— Nesse caso, eu vou com você.

Joguei algumas coisas necessárias na minha mochila e descemos.

— Você não tem que ir. Ele não vai querer ver ninguém, dois "alguém" será irritação o suficiente para ele ter um AVC. E isto é o que falta pra ele ter um. — deixou um espacinho entre os dedos.

— Quais você acha que são as chances de você lidar com o Peter irritado sozinha?

— Um peixinho dourado tem mais chances de me machucar. — reclama.

— Linda, eu não quero dizer que o seu irmão pode te machucar, mas pode. Ele deve estar em um nível de irritação fora do normal, afinal a filha dele foi ferida também.

— Se ele não me deixar ficar lá, porque eu sei que ele não me machucará fisicamente nunca, a Gwen também não o fará. Eles são a minha família, Will. Eu não posso deixá-los sozinhos.

Deixo meus ombros caírem, mas a derrota não chega nas minhas ações. Caminho pra fora.

— Você deveria ter mais medo. — digo, preocupado que toda essa petulância dela se transformasse em perigo.

— Medo eu tenho de algo que tem no Brasil, chamado Plantão da Globo. Disso eu tenho medo, até me borro. Agora, do meu irmão? O mesmo que contrabandeava doces pra mim no hospital, porque a única sobremesa era gelatina e eu odeio gelatina? Dá pra ter medo de alguém que leva balas de ursinhos em um top que ninguém imaginaria que estava lá, só pra agradar a irmã?

Engulo a risada.

— Isso é uma coisa errada de se fazer.

— Eu o ameacei com uma faca de manteiga. Ele ficou com medo de uma faca de manteiga, pelo amor de Deus! Como posso ter medo de alguém que fez xixi nas calças por causa de uma faca de manteiga? Não diz pra ele que eu contei isso. — pede, e eu não seguro.

Choro de tanto rir. Meu cunhado é, definitivamente, o maior bunda mole do país.

— Ok, ele é inofensivo, entendi. Mas ainda assim, o que você espera conseguir fazer? Ele escolheu ser julgado pelos crimes da irmã...

— Meia-irmã! — corrige — Meia. Eu sou a irmã dele, mesmo que não tenhamos o mesmo pai, porque eu gosto e cuido dele com todo o meu amor fraterno.

— De toda forma, ele escolheu o caminho que está seguindo. É uma escolha dele, não sua.

— Isso machuca, Will. Mais do que lembrar de você me chamando de esfregão.

Agradeço por não estar dirigindo ainda, ou eu teria batido o carro. Engulo um xingamento e olho pra ela.

— Me desculpa pela parte do esfregão, não vai se repetir, juro. Mas sobre o Peter, é a verdade, Heaven. Se ele escolheu o próprio caminho, por que você conseguiria colocar um desvio no meio?

Ela bufa.

— Desvios levam para o mesmo final. Só é muito injusto.

Isso é, mas quando o mundo não foi injusto? Dirijo até o aeroporto. Ela fica tensa.

— Não sei se quero ir mais. Ver o Peter machucado, e sendo julgado por todo mundo que deveria acolhe-lo... é muito. São muitas pessoas que gosto no lado errado. É como ver alguém  usando uma pistolinha contra o monstro do filme Predador. Parece uma boa ideia? Parece, em alguma situação diferente. Mas, não funciona para o que deveria.

— Meu Deus, até suas comparações são nerd, eu te amo muito. Se você não quiser ir, a gente pode fazer outra coisa. Zerar uma série do Netflix em tempo recorde, passar o fim de semana todo assistindo os filmes do Caça-Fantasmas. Até o último, onde o Thor trabalha no laboratório.

— Caramba, o nome do Chris não é Thor, sabia?

— Linda, ele é Thor Odinson. Qualquer outro filme que ele fizer, é o Thor disfarçado para coletar informações para a SHIELD, somente. — brinco. — Tem certeza que não quer ir?

— Se eu não posso fazê-lo mudar de ideia... sim. Fico dividida porque sei que ele precisa de apoio, e ao mesmo tempo que quer me manter longe disso, já que não foi possível proteger a Anne. E eu não quero mesmo odiar meus amigos mais do que já estou fazendo. Quanto a Gwen, a Vivian é quem ficará com ela de qualquer maneira. Nada de novo sob o Sol, meu pai estará perto caso algo aconteça.

— Entendo. Vamos comprar algumas coisas para podermos não sair do quarto se o mundo não acabar, então.

— Se o Chefe nos deixar em paz, o que, dado o fato dele parecer meu pai oferencendo comida toda hora, não vai acontecer. Eu vou precisar sair para respirar ou para fazê-lo calar a boca alguma hora.

Rio disso. Ele e a Heaven travaram uma guerra porque ela gosta de silêncio para quase tudo, ler, estudar, assistir qualquer coisa... ele, no entanto, gosta de barulho. Quando, anteontem, ele ligou a televisão num volume absurdo, ela arrancou a tomada fora. Não o plug, a tomada. Não demorou nada para ele descobrir que o que mais irrita ela é gente oferecendo coisas desnecessárias.

— Por que você não começa a aceitar as coisas? O melhor modo de desarmar o inimigo é entrando na dança dele.

Um sorriso malicioso cresce no rosto dela. Acabei de alimentar um monstro.

Heaven

Decido ficar quieta vendo televisão com o Will naquela tarde, não estou com ânimo para bolar um plano melhor contra o Chefe e preciso de um descanso. Ele faz cafuné no meu cabelo e agradeço pela mão leve dele.

— Você faz o melhor cafuné. — digo relaxada.

— O que é isso? — pergunta curioso.

— Ah, esse ato de acariciar a cabeça de alguém. Chama cafuné no Brasil.

— Vocês tem uma palavra só pra isso? — ouço o sorriso na voz dele.

— Sim, e é uma das melhores palavras do dicionário.

Depois, ele desce a mão, massageando minhas costas. É a melhor coisa do mundo. Quando a mão desce um pouco mais e me viro para repreendê-lo sobre não precisar de massagem nos glúteos, Duran Duran anuncia uma chamada no meu celular. Ele bufa frustrado.

— Não sei se fico triste por ser interrompido ou feliz por ser lembrado que essa banda existe.

— Não diga isso perto do Peter, ele provavelmente te bateria por insinuar que bandas antigas caíram no esquecimento geral, é a única coisa que faz ele feliz além de comida alemã. É a Brittainy, pode ser importante.

Ela diz que ligou para o número errado, mas de qualquer jeito me avisa do maior "alívio" para a população de Lincoln. O Peter foi sentenciado a 50 anos de prisão.

Cinquenta anos. Nenhum crime. Caio sentada na cama, sem dizer nada.

— Heaven?

É uma notícia boa, ela disse ao contar. Boa pra quem? Se as culpadas continuam livres? Se agora minha sobrinha está sozinha com uma mãe horrível e eu não posso fazer nada por ela, simplesmente por não ter o sangue dela? Se o meu irmão, um cara que só lutou pelo bem da população, está sofrendo por não conseguir dizer a verdade?

— Ele chorou? — meu lado masoquista pergunta.

— Quem? O Peter? Chorou, por que...

— Ele é meu irmão, Brittainy. Sinto muito se o Zack não te contou isso antes de você me ligar. Um erro muito feio foi cometido essa tarde, e não sei se será possível reparar. Ah, parabéns pelo jogo de ontem. Você e o Zack arrasaram, como sempre.

Desligo. Jogo o celular na cama e me jogo em cima dele, numa forma de protesto contra qualquer outra ligação que tentarem fazer.

— E aí? O que era? — o Will me lembra que não estou sozinha.

Não estou sozinha. Outras pessoas sabem da inocência do Pete. Se eu conseguir juntar todo mundo... conto minha ideia pro Will, de juntar depoimentos a favor do Peter. Não ligo para o que ele vai achar mais, meu Deus, cinquenta anos são muita coisa! Ele nem é tão novo assim para se dispor a passar tanto tempo longe de tudo. Quero dizer, não posso deixá-lo lá para não ouvir o próximo lançamento da Katy Perry! Certo, eu escuto, ele pede que eu abaixe o volume antes que fique surda, mas já peguei ele cantando as músicas depois uma porção de vezes. Espero para ouvir a opinião do Will, mas ele fica em silêncio por mais tempo do que alguém legal deveria fazer.

— Heaven, você vai precisar de mais do que depoimentos de quem não estava lá. Já estive na polícia por causa de um crime, e, apesar de você dizer o que você sabe ser útil, não é uma palavra de testemunha. Achar alguém que viu o que aconteceu, o que quer que tenha sido, é importante.

— Eu vou achar pessoas, Will. Meu irmão não vai ficar lá.

Ele balança a cabeça.

— Garota, me lembre de nunca ficar no seu caminho.

— Você pode. — faço bico — Só entra na minha frente para me beijar. Eu gosto de beijos.

— Não desvie do assunto para tramar algo ruim, eu te conheço. Sempre faz isso quando pensa em um jeito de irritar o Chefe. Qualquer dia desses seremos despejados.

— Ele colocou uma cobra de borracha na privada quatro dia atrás! Quem faz isso? — reclamo.

Juro que senti um choque do desfibrilador naquele dia. Precisei colar os sapatos dele no chão para ele não poder sair do lugar para fazer mais nada comigo.

— Certo, este não é o ponto e eu tenho treino agora. Quer ir comigo?

Aceito, porque o barulho de um campo é o barulho de casa. Levo um livro e leio enquanto ouço os sons dos jogadores, mas minha sobrinha me liga e preciso fechar o livro. Já ouvi dizer do timing ótimo da Gwen, e digo agora que é verdade; ela ligou na hora que a guerra esquentou nas páginas.

— Ei Gwen. — cumprimento.

— Tia Heaven, por que o papai não atende o celular? — ela funga daquele jeito de um choro infantil.

— Hm, ele está ocupado. — cumprindo um tempo na prisão que é até você, pequena gafanhota, ser uma idosa — O que aconteceu?

— Eu preciso do papai, tia. Só ele pode me ajudar.

— Bem, agora ele não pode, mas que tal se eu chamar o vovô Marcus? Mas, olha, você tem que chamá-lo de vovô muitas vezes.

Meu pai odeia quando alguma criança o chama de vovô. Ele saberá que fui eu quem mandei ela chamá-lo assim, no entanto, e matará a falta que sente de mim.

Ela aceita, e pede para que eu o chame rápido. Me pergunto do que o Peter protegia essa menina.

Honestamente, não quero nem saber.

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