Amor Falso - Série Endzone...

By MariaFernandaRibeir2

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"Fake" é uma jogada do futebol americano onde um jogador finge fazer um lance, mas faz outro. Heaven acha que... More

Aviso de gatilho + avisos
Prólogo
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Epílogo
Extra

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By MariaFernandaRibeir2

Bem, todo mundo se machuca,
Às vezes todo mundo chora.
(Everybody Hurts - REM)
Will

Como um foguete voando em direção ao espaço, as férias de verão chegaram logo a última semana. Saber que em quatro dias estarei na universidade é uma responsabilidade inesperada depois das férias tranquilas que tive do lado da Heaven.

Para não acabar tendo problemas ao voltar pro futebol, decido trocar as caminhadas até a casa da Heaven por uma visita à academia durante essa semana. Ela, claro, acha ruim.

— Você pode fazer levantamento de livros, por que carregar essas barrinhas desconfortáveis? — reclama, sentada no aparelho ao lado.

É claro que ela veio me visitar quando soube que eu não ia até ela.

— Porque essas "barrinhas" me fornecem músculos necessários para o futebol. — respondo, sem perder o foco do levantamento.

Irritada, ela bufa e reclama de estar com tédio. Não obriguei-a a estar aqui, mas ela também não está por livre e espontânea vontade. O julgamento do Peter é em alguns dias, o Marcus pediu que eu não deixasse ela saber disso o quanto possível, até sabermos qual será a sentença dele. Estou responsável por ela hoje. Então eu saí do convencional e vim pra um lugar cheio de distrações, já que eu sabia que ela me seguiria, e aqui estamos.

— Posso ligar a televisão? — pede.

— Não. — respondo imediatamente — Por que você não, hm, lê no seu Kindle?

— Porque eu cansei de fingir que não sei que você está escondendo algo de mim. De novo — ressalta. — E visto que não estou podendo ter acesso a nenhuma mídia, o problema é nisso. Meu pai cortou a internet de casa sob a desculpa de estarmos nos mudando logo, a televisão foi junto, e agora você não me deixa ligar a TV nenhum dia aqui.

Adoro a sagacidade dela, mas não nesses momentos. Parei pra beber água e encaro a chuva roxa que o olhar irritado dela é.

— Baby, é melhor você não saber.

Eu decido o que é melhor pra mim, Will. E eu quero saber. — diz, decidida.

Bochecho a água e engulo. Tentar ignorar ela agora só piorará tudo, então conto:

— O julgamento do Peter já está marcado. Ele será acusado por mais de cinco crimes, podendo ficar atá oitenta anos na prisão.

Uma capa de lágrimas são as gotas da chuva púrpura que os olhos dela se tornam.

— E vocês planejavam esconder isso de mim por quanto tempo? — questiona furiosa.

Deixo a garrafa de lado e caminho até ela, sentando no supino. De pé e irritada, ela parece prestes a me matar.

— Até a sentença sair. Eu e o seu pai estávamos tentando te proteger, sua cirurgia tem só dois meses, passar por algo tão grande e tão cedo pode te fazer mal.

— Sabe o que me faz mal? Ser a última pessoa a saber de tudo! É o meu irmão, mesmo que o pai dele seja outro cara, mesmo que ele seja um idiota. — briga.

— Mesmo que ele tenha pedido para não te contar nada sobre isso? — denuncio.

Ele foi quem ligou pro Marcus pedindo, e os dois concordaram em manter a menininha da família no escuro, pelo bem dela.

Ela resmunga alguma coisa e os ombros tremem. Levanto e seguro os cacos dela quando ela quebra. Seguro apertado o corpo e beijo a testa dela.

— Por que vocês, homens, gostam de esconder coisas de mim? Não tem graça. — diz com a voz embargada.

— Temos medo que a realidade vá te tirar de nós. — respondo, triste por ela estar triste.

Ela balança a cabeça, a frustração evidente.

— Eu sei que vivo mais no mundo dos livros do que no real, mas eu ainda estou aqui. Ainda estou viva, então seria bom se vocês me dessem créditos por isso. Pior do que saber e viver o momento, é não saber e só descobrir quando já passou.

— Você quer ver o julgamento? Faltam duas semanas ainda, podemos organizar tudo e ir, depois da mudança pra faculdade. — sugiro.

Ela diz que não, porque é uma dor enorme só saber que estará acontecendo, assistir é pior. Que vai visitá-lo depois. Levo-a pra casa e digo ao Marcus que ela já sabe. Ele coça a cabeça.

— Puxa, logo hoje ela tinha que descobrir? Tenho que resolver a papelada da demissão hoje. Você pode ficar com ela? Posso chamar o Timothy também, ele ajudou ela em uma matéria, mas não sei se está na cidade.

— Treinador... Marcus, — corrijo — poder eu posso, mas preciso tomar um banho.

— Obrigado, garoto. Não acredito que vou dizer isso, mas você está sendo essencial para a recuperação e adaptação da Heaven. Espero que você não faça nada com ela que me force a usar meus aprendizados do exército em você. Porque se fizer, eu vou.

Concordo amedrontado e corro pra casa, encontrando uma Talita irritada no meu quarto.

— Você vai levar seus carrinhos também? — reclama.

— Sim, eles são muito infantis para uma adulta como você brincar com eles. — brinco.

— Você é um adulto e tem eles.

— Pede por favor e eu te dou um. — instruo.

Ela parece chocada por eu dizer isso.

— Por que eu tenho que pedir por favor? Você é meu irmão. — balbucia.

— É uma coisa minha, se você quer tem que ser educada. Na vida vai precisar disso. Não custa nada, Talita, e a Mulher Maravilha gosta disso. — usei o maior ídolo dela para convencê-la.

— Gosta? — pergunta tímida.

— Gosta, porque a educação faz o mundo melhor. Vamos lá, peça novamente. — digo.

— Will, você pode me dar um carrinho da sua coleção, por favor?

— Claro, qual você quer?

Ela pega a mini Lamborghini preta com a qual adorava brincar e agradece. Lavo o suor do corpo no chuveiro, e, renovado, vou me vestir. Desço pronto para sair, me despeço da minha mãe e roubo dois bolinhos que ela fez para a confeitaria que é sócia, comendo um no caminho e deixando o outro pra Heaven. Ela abre a porta com uma cara...

— Posso entrar?

Um passo para trás, minha passagem está livre. Quando viro para entregar o bolinho, ela está sem os óculos. Me perco naquela infinidade roxa, como um astrônomo se perde no céu ao abrir a janela durante a noite. E então perco o ar:

— Eu sei que prometi chutar sua bunda se eu lembrasse, mas eu preciso de uma carona para visitar o Peter e você é o único que pode me levar. Sem os óculos eu fico melhor pra você, certo? Ou nada permitiria que eu ficasse mais bonita mesmo? — cita minhas palavras, e o bolinho revira no meu estômago. — Sabe a parte que mais dói dessa lembrança, Will? É que eu ainda gosto de você. Eu não acho que você seja mau, mas eu lembrei só um pouquinho, né?

Ela se lembrou do que eu dizia. Estou ferrado.

— Não. Quero dizer, sim, você lembrou só um pouquinho, mas eu não sou o cara que disse aquilo mais. Eu realmente gosto de você. — por que eu disse pra ela chutar minha bunda, caramba? — Você tem todo direito de não acreditar em mim, mas Heaven, eu me arrependo de ter dito aquelas coisas. Você é muito bonita, e não deveria ouvir um idiota qualquer. Eu nunca deveria ter dito aquilo, nunca, e eu sei disso. E quanto aos óculos, eu não sabia que você precisava deles para enxergar de fato, achava que era uma maneira de deixar as pupilas maiores, e eu achava esquisito.

Pânico. Pânico é o que sinto, inundado por cada palavra que pode fazer essa garota virar e nunca mais olhar pra mim novamente. Pânico porque sei que tenho culpa, e sei que a sorte não está do meu lado nessa situação. Pânico por querer retirar tudo que disse e morder minha língua antes de verbalizar os pensamentos de uma mente sem rumo.

— Lembrar disso me fez ter medo de confiar em você, Will. — ela cruza os braços — Me diz, eu devo ter medo? Se você tem um pouco de compaixão e sabe que eu devo ter medo, me diz. Por favor, me diz. Já estou muito machucada para ter meu coração quebrado.

Seguro o rosto dela, e as lágrimas que são as gotas da chuva púrpura que me mata trazem lágrimas aos meus olhos também.

— Não, você não tem que ter medo. Eu disse coisas ruins, mas estava errado. Eu não te conhecia, como poderia dizer o certo sobre você? Agora que te conheço direito... Heaven, faz um mês e me pergunto como vivi tanto tempo sem conversar com você, sem discutir com você por coisas bobas. O Will que te disse aquelas coisas não conhecia a Heaven que o faz sorrir ao ler Pompeia, e o problema é dele, porque ele não sabia o que estava perdendo. Olha, eu juro que se eu fizer algo de ruim para você atualmente, você pode pegar os livros que comprei sobre uma menina com o sangue vermelho em um mundo onde todos bombeiam prateado. Juro mesmo.

Ela balança a cabeça.

— Já tenho A Rainha Vermelha. Preciso de uma garantia melhor, é meu coração em jogo. O figurativo, claro. — diz séria — As coisas não são assim, um pedido de desculpas e tá tudo certo. Você vai ter que fazer mais do que ser um cara legal comigo, porque o fato de não fazer comigo não te impede de fazer com outra pessoa, e um namorado ruim para os outros já é suficiente na minha conta. E para mim também.

— Você está sugerindo o quê? — pergunto.

— O que todo mundo que vai pelo caminho que você foi precisa. Ajuda psicológica. Eu não sou ninguém para te encaminhar até um, mas isso não pode ser tratado com um beijinho no rosto e um pouco de sono. Eu preciso saber que você está cuidando de si, assim como eu cuido de mim, para podermos continuar sendo amigos ou algo mais. Porque eu não vou seguir com isso tendo a chance de você voltar a achar que pode dizer o que quer de mim.

Assinto, porque concordo com ela. Sem meu psicólogo e meu terapeuta, não sei onde estaria após todo aquele trauma. O apoio em casa foi essencial também, a compreensão dos professores e colegas de time me deu coragem pra não parar de lutar.

— Eu já faço o acompanhamento, vejo o terapeuta com frequência. — digo — Só tive coragem de contar pra ele há algumas semanas, eu me envergonhava disso. Mas agora estou sendo guiado para o lado da luz, e não vou voltar a fazer isso mais.

— Bom. Se você não se importar, eu gostaria de te acompanhar na sua próxima consulta, para ver se você está dizendo a verdade ou me enrolando. Desculpa, mas eu não posso confiar em ninguém que eu já não conheça, por enquanto.

Apesar de ficar magoado com a desconfiança dela, aceito isso. Qualquer coisa para não ser o cara mau novamente.

Heaven

Bem mais cedo do que eu gostaria, no dia seguinte, o Will passa aqui para me levar junto até a consulta. Meu pai ainda está de pijamas, pelo amor de Deus! Desço reclamando baixinho que as férias são para descansar, não acordar às oito da manhã.

— Você avisou o Will sobre o doce de pessoa que você é cedo pela manhã? — meu velho pergunta da cozinha.

Resmungo qualquer coisa indo até o garoto no sofá. Ele me oferece um envelope.

— Ouvi dizer que leitores adoram isso.

Um monte de marcadores adesivos. Dou um sorriso como retorno, meu humor melhorando imediatamente. Ele também me dá um café, e está prontamente perdoado por ter me feito acordar. No consultório do médico, encontramos a Noelle sentada de uma maneira esquisita na cadeira.

— Aquela é a Noelle? — ele me pergunta chocado.

Pudera, a garota não poderia estar mais diferente da líder de torcida que era. Sem maquiagem, com o cabelo preso de qualquer jeito e dor nas feições, ela quase era irreconhecível. Sento ao lado dela, que se recompõe ao ver que tem companhia.

— Hm, oi Heaven. Sinto muito pelo Peter, ouvi dizer que o julgamento pode demorar.

— O que aconteceu com você? — pergunto na minha sutileza nada sutil.

— Nada, estou bem.

Impedindo-me de conversar mais com ela, o terapeuta a chama pra dentro. Encaro o Will, que também está surpreso.

— Ela não está bem. — afirmo.

— É, eu vi que não.

Essa é toda interação que temos na sala de espera. Ele é chamado assim que a ruiva deixa o local, e o terapeuta sorri ao ver que o Will tem companhia.

— Você finalmente saiu de casa pra encontrar alguém, uau. — brinca.

— É, esta é a Heaven. — ele diz, corando.

Reconhecimento brilha no olhar do homem.

— Falamos muito sobre você aqui. O que será hoje? Terapia de casal?

— Não, eu gostaria de fazer o atendimento normal, se você não importar. — o Will responde.

— Você é quem manda.

Não há um divã ou nada do tipo. Sentado na cadeira na frente do homem, ele derrama a intimidade dele e ouve conselhos sobre os pontos sensíveis de tudo. Basicamente, a dor dele é sobre a irmã mais nova e as inseguranças sobre estar saindo de casa agora. Ele confessa ter medo de sair de casa e outro incêndio acontecer, outra pessoa publicar algo sobre a irmã dele e ele não aguentar a dor, e seguro a mão dele nessa hora. Ele olha pra minha mão, e explico:

— Você não tem que sofrer sozinho.

Antes que ele rebata, o homem à nossa frente diz:

— Ela tem razão. Você precisa sair da fase da negociação, se você estiver em casa será pior para a sua vida. Sua família vive em um local seguro agora, e o autor do crime está na prisão. Will, você não pode voltar no tempo, e você tem que viver olhando para frente. Dirigir olhando para o retrovisor causa acidentes, e essa é a razão pela qual você se machuca tanto. Passe a lembrar mais dos dias bons com a Pamela do que do incêndio, aos poucos você vai notar como a dor terá saído e tudo que você terá é o sorriso dela na sua mente.

Ele também diz que eu estar do lado dele será uma chance dele explorar um relacionamento humano e entender que todo mundo tem dias ruins, e assim aprender a enfrentar esse lado negro com menos dor. Na saída, o Will fala:

— Você entendeu por que eu tenho tantos problemas agora?

Nego com a cabeça, fazendo uma linha confusa aparecer entre os olhos dele. Ele abre a boca para se explicar, mas eu não deixo.

— Não preciso entender porque você tem tantos problemas, Will. É uma coisa sua. Agora, entendi quão instáveis alguns territórios são, e sei que você é um humano. É normal humanos se sentirem tristes, mas não para sempre, e agora, mais do que nunca, desde que respeite a mim e aos outros, quero te ajudar a ser feliz. Você deixa?

Ele falha miseravelmente ao não tentar sorrir.

— Você ainda pergunta?

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