Clube dos 7 Erros [HIATUS]

Oleh LaylaaOliveira

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ro.tu.lar fig. Qualificar de forma simplista e/ou feita com impropriedade. Amanda sempre teve o sonho... Lebih Banyak

AVISO
Nota da autora
Playlist
Parte I.
Prólogo
Fevereiro, 2016. I.
Fevereiro, 2017. I.
Fevereiro, 2016. II.
Fevereiro, 2016. III.
Fevereiro, 2017. II.
Fevereiro, 2017. III.
Fevereiro, 2016. IV.
Fevereiro, 2017. IV.
Fevereiro, 2017. VI. - Parte I
Fevereiro, 2017. VI. - Parte II
Fevereiro, 2017. VII
Fevereiro, 2017. VIII.
Março, 2017. I.
Março, 2016. I.
Março, 2017. II.
Março, 2017. III.
Março, 2016. II.
Março, 2016. III.
Março, 2017. IV.
Abril, 2017. I.
Abril, 2016. I.
Abril, 2016. II.
Abril, 2017. II.

Fevereiro, 2017. V.

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Oleh LaylaaOliveira

    Amanda era o tipo de professora que todo aluno gostaria de ter. Suas aulas iam muito além de um livro e um caderno em cima da mesa. Amanda gostava de ter um contato maior com os alunos, sempre respeitando sua privacidade. Ela precisava ter a atenção de cada um deles completamente voltada a ela, era tudo ou nada. Era uma mulher que beirava os trinta anos, mas, definitivamente, não aparentava.

    A professora gostava sempre de inserir um debate em suas aulas de História. Explicava a matéria e, em seguida, promovia o debate. Esse era um dos motivos para os alunos sempre posicionarem suas carteiras em uma roda antes mesmo que a professora entrasse: os debates eram sempre feitos em roda, para que todos os alunos pudessem olhar um para outro, sem precisarem fazer grande esforço. Além disso, Amanda abominava as fileiras, pois, normalmente, quem estava na primeira carteira era sempre uma pessoa com dificuldade em alguma matéria.

    Amanda já havia passado por aquela situação. Nunca tivera uma relação muito amigável com Matemática e Física e, quando as coisas começaram a complicar para ela, um dos professores logo tratou de colocá-la na primeira carteira, de frente para sua mesa. Claro que Amanda sabia que suas intenções eram as melhores possíveis. Ele não estava fazendo aquilo para humilhá-la, só queria ajudar. E ela sabia disso. Mas, ainda assim, considerava injusto que o aluno fosse colocado naquela posição apenas porque ele pertencia à outra área.

    Por essa razão, Amanda sempre sorria quando entrava na sala e via a arrumação que os alunos já faziam sem ela precisar pedir. Entrava no meio da roda e começava sua explicação, vez ou outra escrevia algumas coisas importantes no quadro. No final, promovia um debate que, se dependesse dos alunos, não acabaria nunca.

    Naquele dia, a professora entrou na sala, prendeu os cabelos ruivos em um coque e anunciou:

    — Hoje eu tenho coisas muito mais importantes do que uma matéria para tratar. Vamos começar e terminar essa aula com um debate. Dessa vez, quero ouvir todos. Sem exceção. — Encarou todos os alunos bem no fundo dos olhos, um por um. Alguns, desconfortados, chegaram até a ajeitar a postura ou mexer no cabelo, apenas para desviar o olhar por um segundo. — Vamos lá! — A voz ficou mais leve e animada. Amanda bateu palmas antes de começar. — Eu li todas as redações. Foi algo que me prendeu muito, eu passei a noite inteira fazendo isso, simplesmente porque não conseguia parar. Eu senti vocês ali como nunca havia sentido antes e eu estou orgulhosa por isso. De verdade. Mas algumas redações me chamaram muita atenção, e eu decidi trazer esse debate para cá. — Os cochichos começaram a ser ouvidos, e Amanda precisou agir rápido, antes que a conversa ficasse alta e não conseguisse mais dar aula. — Guardem suas falas para mais tarde! — Esperou o silêncio e a atenção a ela voltarem, o que não demorou muito. — Ok, obrigada! Gente, hoje eu gostaria de discutir com vocês um tema que não gera polêmica, se pararmos para pensar bem, mas que as pessoas continuam fazendo, mesmo sabendo que é errado. Bullying. Vamos falar a verdade, ninguém aqui acha que bullying é correto, mas a maioria aqui já fez com alguém. E muitas vezes fazemos sem perceber, eu sei, é difícil entender os limites das pessoas, mas eu gostaria que, antes de começarmos o debate, vocês tirassem um tempo para pensarem em todos os comentários que poderiam ter sido evitados, mas que vocês não evitaram; gostaria que pensassem em todas as pessoas que não gostariam de ter magoado, mas magoaram. Não estou tentando torturar ninguém, por favor, não me entendam mal, eu só não quero que sejam hipócritas. Reconheçam o próprio erro antes.

    Depois de pouco mais de dois minutos, a professora sorriu e voltou a falar:

    — Alguém gostaria de começar?

    Para a surpresa de Amanda e de todos os alunos, Lucas foi o primeiro a levantar a mão. Não que ele não pudesse ou não devesse, mas não estavam acostumados a ver alunos novos sentindo-se tão confortáveis ao ponto de quererem começar o debate. Alguns demoravam meses para simplesmente exporem suas opiniões.

    — Lucas, não é? — O garoto concordou com a cabeça. — Certo. Pode falar, Lucas!

    — Eu sei que alguns vão achar estranho que eu desabafe na frente de todos, mesmo sem conhecê-los, mas, não sei, eu acho que eu posso acrescentar alguma coisa nesse debate. — Amanda maneou positivamente com a cabeça e espero que o negro continuasse. — Eu sofri bullying no meu antigo colégio, no ano passado. Pior do que bullying, acredito eu, sofri racismo. Minha mãe sempre trabalhou duro para conseguir nos sustentar, mas acabou perdendo o antigo emprego, de camareira naquele grande hotel da cidade, e precisou trabalhar como empregada na casa de um dos meus colegas de classe do antigo colégio. Eu nunca tinha visto o trabalho da minha mãe como algo que pudesse gerar piadas comigo e com ela, mas foi o que acabou acontecendo. Começou com atitudes pequenas, mas aos poucos tudo foi aumentando e tomando uma proporção que eu nunca imaginaria. — Parou por um segundo para respirar e pensar em como continuar seu pequeno desabafo. Se pudesse, tomaria a aula inteira falando sobre aquilo, mas seria injusto com os outros alunos. — Eu não quero que tenham dó de mim, eu vim para esse colégio para esquecer tudo de ruim que o antigo Lucas passou. Eu só espero que... Só espero que pensem duas vezes antes de fazer uma piada, antes de rir da cara de um colega. Há pessoas que levarão tudo na brincadeira, mas há pessoas que se sentirão mal com isso. Talvez essa pessoa tenha um passado e seja mais sensível à brincadeiras... — Correu os olhos pela roda, todos o olhavam atentamente. — Tentem compreender os limites das pessoas.

    Amanda sorriu, orgulhosa, e alguns alunos bateram palmas. Daquela vez, a professora não impediu. Normalmente diria que esse tipo de "manifestação de apoio" não era apropriado para debates, mas, naquele momento, era bom ver uma manifestação de apoio.

    — Obrigada por começar nosso debate já nos fazendo pensar em toda nossa vida, Lucas. Alguém gostaria de acrescentar alguma coisa, ou discordar?

    Melissa não falou nada, não queria compartilhar aquilo com tantas pessoas, mas as palavras de Lucas acabaram fazendo com que a garota voltasse à 2016, quando os comentários maldosos sobre sua voz e as comparações entre ela e Jasmin começaram a lhe fazer mal. Não havia conversado sobre aquilo nem mesmo com sua mãe, porque jogaria tudo em cima daquelas pessoas, que não tinham nada a ver com seus problemas?

    Sentia que precisava conversar com alguém, que precisava de alguém que estivesse disposto a lhe dar os melhores conselhos que conseguisse, mas simplesmente não se sentia confortável. Podia imaginar os olhares acusadores sobre ela, como se baixa autoestima fosse uma bobagem, um drama.

    Acabou se perdendo na discussão, e só voltou do seu mundinho particular quando Amanda interrompeu o debate, agradecendo à opinião de todos.

    — Agora... Eu gostaria de mudar o assunto do debate, mas não totalmente. — Sentou-se em cima da mesa. — O que vocês, alunos e colegas de classe, fazem para combater o bullying.

    — Não praticamos bullying. — A resposta de uma menina morena foi imediata.

    — Ok, mas o que vocês fazem que possa mudar a realidade de uma pessoa que está sofrendo bullying? Não praticar é muito fácil, mas o que você faz para que essa pessoa se sinta melhor? O que nós podemos fazer para ajudar? — Os alunos permaneceram quietos, e Amanda, percebendo que não sabiam o que falar, levantou-se da mesa. — Eu vejo muitos grupinhos nesse colégio. Eu sempre os vejo com as mesmas pessoas, e não me entendam mal, isso não é um problema. É ótimo que vocês tenham pessoas de confiança e que vocês gostem de ter aos seus lados. É importante ter alguém com quem desabafar. Mas vocês já pararam para observar o quanto falta inclusão por aqui? Se o Lucas, por exemplo, nunca tivesse se pronunciado sobre o que aconteceu com ele no passado, vocês descobririam isso algum dia? Vocês já se interessaram pela vida pessoal de uma pessoa que talvez não tenham tanto contato? E não, gente, não estou falando fofoca, estou falando de interesse real, de querer ajudar de alguma forma. E os amo e vejo todos os dias o quanto vocês amadureceram suas ideias, suas formas de pensar, o quanto vocês abriram suas cabeças para a nossa realidade, mas ainda os vejo sendo as mesmas pessoas socialmente. Eu, infelizmente, não os vejo interessados em enturmar os alunos novos; não os vejo interessados em ter uma conversa com uma pessoa "excluída", o que simplesmente não seja do seu grupinho. Eu gostaria de vê-los, algum dia, fazendo algo que possa ajudar realmente. E eu não vou descansar enquanto não abrir os olhos de vocês para a alma das pessoas. Vocês sabem como eu sou.

    O sinal tocou, e com isso veio a agitação da turma, esperando Amanda os liberar.

    — Bom recreio — disse.

    Fez um sinal para alguns alunos, pedindo que esperassem por um minuto. E assim fizeram. Quando todos finalmente saíram da sala e só restaram aqueles sete adolescentes, Amanda os chamou até sua mesa, todos ao mesmo tempo, coisa que não costumava fazer.

    — Será que teriam um tempo para uma conversa duas vezes por semana após a aula? — Os garotos se entreolharam, sem entender a pergunta. — Melissa, Dianna, Lucas, Maia, Matheus, Sofia e Leonardo, a redação de vocês me surpreendeu muito. E eu gostaria muito de conversar mais com vocês, entender melhor tudo o que aconteceu em suas vidas. Eu sei que eu sou só a professora de História e que vocês podem considerar minha atitude invasão de privacidade, inclusive vou entendê-los, caso não queiram participar disso, mas eu gostaria de pedir uma chance. — Como não se pronunciaram, continuou. — O único horário que eu consegui com uma sala disponível só para nós foi o de terça e sexta após a aula. Perguntem aos seus pais se podem, estarei aguardando vocês na próxima terça. — Sorriu, e viu os alunos sorrirem também, ainda que um pouco sem graça. O único que permanecia sério e com uma expressão indecifrável era Matheus. — Obrigada! Estão liberados.

    Amanda gostava de deixar uma lição para os alunos, gostava de vê-los se tornando pessoas melhores. Mas de nada adiantava apenas falar, se não fizesse parte daquilo também.

    Sua única intenção era ajudar àqueles alunos, e sabia que podia começar a corrente.

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