Magic

Door AmandaNovachi

1.8K 254 102

Livro 2 - Sequência de Fantasy (Trilogia Os Três Reinos Mágicos) PLÁGIO É CRIME - Este livro já está registra... Meer

Soundtrack de Magic
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Novidades!

Capítulo 5

96 12 3
Door AmandaNovachi


— Estes são os rapazes que escolho como meus companheiros e protetores. — Falei de forma decidida e imponente, elevando minha voz para ser ouvida.

"Mas quem é o rapaz de capuz"?

"Quem é seu companheiro"?

"Qual o nome dele"?

"Mostre seu rosto"!

Os gritos eram diversos e alguns pareciam raivosos. Entendo que queiram ver o rosto de quem poderia ser seu futuro príncipe, mas como poderia deixar que isso acontecesse? Ele corria um enorme perigo nesse momento e apenas agora havia notado isso. Fui negligente ao deixar que esse plano fosse adiante, sendo que as coisas saíram um pouco do controle. Devia ter pensado nisso antes. 

Expliquei a todos sobre as falsas cicatrizes como se fossem reais e algumas das pessoas se calaram. Ainda havia revoltosos e não lhes tiro a razão, mas precisava arrumar uma maneira de fazê-los aceitar as circunstâncias como eram, ou seja, aceitar que um deles poderia ser o futuro príncipe, sem conhecer sua verdadeira identidade. 

Tentei ainda mais fervorosamente convencê-los, por meio de palavras e sentimentos, o porquê de não querer mostrar seu rosto. Cheguei ao extremo de fazer uma declaração e assumir publicamente que o amava de qualquer maneira e queria apenas protegê-lo de insultos e injúrias que poderiam ocorrer caso mostrasse seu rosto. 

Mais pessoas se calaram, algumas chegaram a aplaudir e outras até a chorar, mas ainda havia um pequeno grupo insatisfeito com o que estava se passando. Ária e Ivan chamaram a Guarda Real, que ficou incumbida de dispersar aquelas criaturas, as quais faziam bagunça e desordem no momento. Ária também convocou a mim e aos meus protetores para uma sala de reuniões no fim do corredor, à direita do salão.

Tinha uma mesa grande e cadeiras circundando toda a sua volta, também havia estantes com livros diversos e, sobre a mesa, muitos papeis e canetas tinteiro. Assim que nos sentamos, Ária me encarou com uma expressão séria e pediu para que Zein retirasse o capuz e a máscara. Ao ver que hesitava, voltou a me olhar séria e perguntou pausadamente:

— Quem é ele?

Cada palavra foi como uma facada em meu peito, devia minha vida a ela e mesmo assim estava lhe escondendo um enorme segredo.

— Vamos conversar em particular. — Pedi, lançando um olhar significativo a Ethan e ao Mestre das Sombras. Ária assentiu e os dois rapazes se retiraram da sala. Seguiu-se um silêncio horrível, que fazia o ar parecer mais pesado e rarefeito. Suspirei.

— E então?

— Ária... — senti as lágrimas, mas me forcei a reprimi-las. Seria forte e decidida, agiria como uma princesa de verdade. Ou pelo menos tentaria. — É o Mestre das Sombras.

Ao contrário do que pensei, Ária não ficou tão surpresa, não perdeu a cabeça e saiu gritando para que o prendessem. Não. Notei que ficou um pouco mais pálida, talvez pelo choque, mas reagiu bem à notícia. Como não fazia ou falava nada, vi a necessidade de continuar me explicando.

— Ária, sei o que deve estar pensando, mas ele merece outra chance como quaisquer das criaturas que fugiram conosco. Sei que seus poderes e seu descontrole são perigosos, mas já os controla melhor e pretendo ajudá-lo a ter controle total. Não era justo abandoná-lo! Foi quem me ajudou a salvar o Ethan quando nos deixaram para trás! Arriscou a própria vida para salvar a minha e a de uma pessoa que nem sequer gostava. Fora que sem ele jamais estaríamos aqui! Vocês precisavam de um vampiro poderoso e cedeu seu poder para completar o feitiço e nos trazer para cá, mesmo sabendo que aquelas criaturas o matariam se descobrissem sua verdadeira identidade. Ajudou também no feitiço de proteção! Ajudou a reconstruir a vila! O castelo...! — Fui obrigada a parar de falar, porque as lágrimas já não me permitiam continuar. Não era essa a atitude que imaginei ter. — Ele ainda quer mudar.... Ele não é mau....

— Alessia... — falava devagar, pois sabia que era um assunto delicado. Ária se levantou e me abraçou. — Não estou brava. Não se sinta mal por isso.

— O que...? Mas eu....

— Você foi ótima em tentar protegê-lo. Muito engenhoso e eficiente de sua parte. Seu zelo por esse rapaz é algo notável, poucas pessoas dariam tantas chances a alguém que já falhou tantas vezes....

— Mas ele....

— Sei que não fez por espontânea vontade.

— Por favor, não o machuque... — minha voz estava voz embargada pelo choro.

— Alessia... se não fizer nada de errado, não tenho motivos para machucá-lo. Em Magic as leis são iguais para todos. Todos têm o direito de recomeçar. O passado será esquecido em prol do presente e do futuro.

— Obrigada. — Abracei-a mais forte.

— Não me agradeça ainda, se ele fizer algo de errado a punição será a mesma.

— Certo. — Senti o coração se apertar. — E qual será a punição?

— Será decidido por julgamento, mas não haverá mais penas de morte. Agora, é a sua vez de responder.

— Responder o que?

— Está fazendo de tudo para proteger esse rapaz. Chegou a declarar que o ama. Em minha mente já sei a resposta, mas em seu coração, acredita nas palavras que disse? Você o ama de verdade? — E separou o abraço para fitar meus olhos. Estava confusa, minha mente girava e meu coração batia num ritmo acelerado. — Você não precisa responder para mim. Responda para si mesma quando tiver uma resposta. E pense que suas escolhas afetarão sempre o seu futuro. Você e esse rapaz terão que se casar, caso o escolha para ser o futuro príncipe. Assim como eu e Ivan.

— Vocês vão se casar? — Mascarei minha angústia com a surpresa, tentando ignorar a primeira parte do que dissera.

— Sim, querida. Mas nós nos amamos. Você ama algum de seus protetores?

— Não sei. Preciso pensar. Preciso avisá-los sobre esses detalhes, não pensamos nisso.

— Diga ao Mestre das Sombras para se esconder por mais um tempo, apenas enquanto passo a notícia aos outros fundadores.

— Eu direi.

— E não esqueça de avisá-los do casamento.

— Não esquecerei. — Já seguia em direção à porta. — Ária... o casamento será em breve?

— O meu sim. O seu depende de suas escolhas, vocês podem se casar antes ou depois de eu e Ivan deixarmos o trono.

Saí da sala com uma mistura de emoções. Felicidade, por Ária ter lhe dado outra chance. Preocupação, pela reação dos demais fundadores quando descobrissem. Medo, do que aconteceria no futuro, que era tão incerto. Insegurança, por não saber o que se passava na mente dos envolvidos nesse problema. Vergonha, por ter que obrigar o Mestre das Sombras ou o Ethan a casar comigo. Tristeza, por algum motivo que desconhecia.

— E então? — Ethan perguntou, quando os encontrei no fim do corredor, perto da porta do salão.

— Ela já sabe. — E os encarei.

— Ela vai.... — Zein não terminou a sentença, entendemos o que queria dizer.

— Não. Disse que você será tratado como qualquer outro habitante de Magic. Você terá seu passado apagado perante as leis.

— Mas há algo errado. — Ethan agora me encarava de volta.

— Bem... sim. Vou ter que me casar com quem escolher como príncipe. — Olhei para o Mestre das Sombras com certo grau de constrangimento.

— O quê? — A voz de Ethan soou alguns decibéis acima do normal.

— Vamos nos casar? — Zein tinha um tom de voz calmo, porém surpreso.

— Ária disse que vou me casar com quem escolher.

— Você não pode casar com ele! Por acaso se amam? — Ethan parecia indignado, deixando no ar um silêncio e constrangimento pairando sobre nós.

— Não é só questão de amor.

— E o que é, então? — Disse ainda irritado.

— Proteção. — Comecei a me irritar também.

— Há limites para a proteção, Alessia. — Retrucou com uma expressão séria. — Você simplesmente não consegue se imaginar vivendo sem ele.

— Também não consigo me imaginar sem você. — Tentei consertar a situação e fazê-lo entender que sentia o mesmo por todos os meus amigos.

— Por que também quer me proteger?

— Sim.

— Por que está perguntando tudo isso? — Zein interrompeu nossa discussão. — Por que se importa tanto?

— Imagine você mesmo vivendo pela eternidade com alguém que você não ama! Pensem quando tiverem que vê-la partir, ou quando tiver que vê-lo partir. Sentirão remorso? — Ethan atacou com palavras.

— É claro que sim! — Falamos juntos.

— Isso se chama amor. — Concluiu, irritado.

— Há tipos diferentes de amor. — Zein ainda se mantinha calmo.

— Por que insiste tanto em negar? Você a ama! Por que nunca disse nada?

— Parem! Vamos voltar ao baile ou subir para nossos quartos! Começamos a perder a razão e o controle sobre nossas palavras! Chega de discussão!

— Tudo bem, Alessia, mas não pode fugir do que acabou de ouvir. — Ethan disse e desapareceu pelo salão.

— Acha mesmo que Ária vai me tratar normalmente? — Zein parecia estar apreensivo.

— Não tenho certeza, mas ela é uma boa pessoa. Só não podemos prever as reações dos outros. Além do mais, pediu para que continue a não mostrar seu rosto. Pelo menos enquanto tenta contar isso aos outros fundadores da melhor forma possível.

— Acha que ainda vão confiar em mim?

— Também não posso te dar a certeza sobre todos, mas alguns irão. — Minha expressão frustrada se amenizou e tentei forçar um sorriso.

Voltamos ao salão e lá ficamos até o momento de finalmente colocarem aquelas coroas nas nossas cabeças. Tivemos que fazer uma dança cerimonial, uma valsa, que ficou muito bonita pelo que pude ver. Todos dançavam e ninguém mais questionava sobre a identidade do talvez futuro príncipe. 

Tive que perguntar se teríamos que usar aquela coroa o tempo todo, pois era muito desconfortável. Ária riu e respondeu que não, apenas em cerimonias e rituais. Minha coroa era maior e mais vistosa do que as dos rapazes, era ornada com pedras preciosas em alguns pontos da tiara de prata e as deles eram de prata também, mas não ornadas com pedras preciosas, apenas séries de arabescos que iam e vinham, se enroscando.

Nossa sorte foi que a cerimonia terminou tão tarde que mandaram todos para os quartos do palácio, inclusive quem morava na vila. Daqui para frente não seria nada fácil, embora também não tenha sido até agora. Amanhã mesmo Ária e Ivan nos convocariam para uma espécie de assembleia, que decidiria algumas das leis primordiais de Magic (as que difeririam das de Fantasy). Com certeza seria um dia longo.

Já estávamos naquele salão há três horas e só havíamos feito cinco leis. No momento, Ária discursava sobre a importância da primeira lei: O passado de todos, sem exceção, será apagado. Todos terão o direito de recomeçar do zero. Até imaginava o porquê de estar dando tanta ênfase nessa questão de recomeço. Precisava convencer todos de que o Mestre das Sombras também merecia uma segunda (ou terceira?) chance. 

Havia outra regra também: Devemos sempre ajudar e respeitar uns aos outros. O companheirismo e a bondade são virtudes que foram esquecidas em Fantasy por causa do medo e da opressão. Quanto a essa regra, não houve qualquer objeção, todos concordaram. Outra das leis que me prendeu a atenção foi a que dizia que os governantes jamais poderiam dar penas de morte, como antes ocorria em Fantasy

Alguns dos membros do conselho não gostaram da ideia e a discutiram por uma hora e meia, mas o veredicto acabou sendo aceito. Dentre os que votaram contra estavam: Leon, o Guerreiro Alfa dos Elfos, Alexia, a Líder das Ninfas, Lisarin, a Princesa das Fadas, Arak, o Rei dos Duendes e Linus, o Mestre dos Alquimistas. O debate ficou em cinco contra seis, mas cinco era um número grande demais para ser ignorado, então, os dois lados puderam apresentar seus argumentos e por fim, Luzia, a Sacerdotisa Anciã, optou por dar aprovação à lei.

Fiquei um pouco mais tranquila ao saber que não poderiam matar ninguém por lei, mas será que cumpririam o que foi escrito? Afinal, Leon e Arak cuidavam do poder executivo e ambos votaram contra. Percebi a ansiedade de Zein durante o debate, provavelmente por saber que aquilo poderia ou não ser a sua sentença de morte. 

Alguns dos representantes, principalmente Leon, questionaram o porquê de ainda não mostrava o rosto, pois as pessoas presentes com certeza não se surpreenderiam com as supostas cicatrizes, já que haviam passado por coisas bem piores em outros tempos. Ária e Luzia nos ajudaram a controlar a situação e desviaram do assunto. 

Luzia, Ivan, Dahlie e Cristian já sabiam a verdadeira identidade de Zein, mas sabíamos que seria bem mais difícil para Leon e Arak aceitarem sua presença ali conosco. Ária me contou que Leslie o obrigou a matar para ela, não se importando com as classes de quem estava sendo morto, mas em sua maioria eram as classes da Luz. 

Quando trabalhava para Leslie como Mestre das Sombras, não chegou a matar os parentes de Arak e Leon, mas Leslie sim. Ela matou a esposa de Leon e a irmã de Arak. Por isso para eles era tão difícil perdoar alguém que já esteve ao lado de Leslie. Ainda tinham sede de vingança.

Foi dada uma pequena pausa para que pudéssemos almoçar e a reunião só terminou por volta das três da tarde. Pensei em ir dar uma volta pela vila e conversar com Daniel, mas me disseram que estava na praia, então segui para lá.

Caminhava pela floresta em direção à praia e pensava em todas as coisas que haviam acontecido nesses últimos meses. Qualquer pessoa comum custaria a acreditar que a vida pode mudar tão radicalmente do dia para a noite, mas a verdade é que tudo muda a todo o momento. Cada escolha vale mais que qualquer previsão de futuro. 

Suas escolhas definem o seu futuro. 

Quando decidi ir à excursão com o colégio.... Quando decidi seguir uma trilha diferente.... Quando decidi aceitar a ajuda de Ária.... Quando cada um de nós aceitou receber a poção de sangue e se transformar parcialmente em criaturas que até então não tínhamos ideia se existiam mesmo.... Quando decidi lutar.... Quando decidi contrariar a Rainha dos Vampiros e Leslie.... Quando decidi ajudar o Mestre das Sombras.... Quando decidi confiar em Ethan também....

Mas... e todas as pessoas que perderam suas vidas por escolhas de outros? Não.... Não exatamente por escolhas dos outros. Essas pessoas perderam suas vidas por suas próprias escolhas e tiveram uma pequena parcela de culpa também. É realmente triste e difícil pensar assim, mas temos que encarar os fatos como realmente são. 

Ninguém é completamente inocente. 

Claro que isso também me coloca em uma situação complicada. Até sonhava em ser princesa, mas ser realmente é muito diferente. Saber que você é responsável por um povo e que confiam em você, muitos até cegamente, pode ser assustador. Nunca ponderei muito sobre minhas ações e isso também teve suas consequências. 

A ideia de me casar com um vampiro me aterroriza. Nunca havia parado para pensar que minhas escolhas resultariam nisso, mas queria tanto protegê-los, que não pensei duas vezes em escolhê-los como possíveis futuros príncipes. Ambos eram as criaturas que mais corriam perigo por aqui. 

Zein por já ter trabalhado para Leslie, ter pessoas que o odeiem e que não conseguem perdoá-lo rondando à sua volta, e Ethan, por ter nos ajudado a esconder Zein, mesmo quando ainda era o Mestre das Sombras. 

É claro que Cameron e Daniel também corriam um imenso perigo. E Julie, Camilla, Noah, Lewis, Jim, Tony... todos que nos ajudaram. Por que não pensei nisso? Todos que se ofereceram para proteger Zein também corriam perigo. Pelo menos os outros tinham a proteção e a completa confiança de Ária e Ivan.

Apesar de Ária e Ivan não terem condenado Zein ao descobrir que viera junto, não senti muita confiança no olhar que lançou para mim ou nos olhares que vejo lançar a ele vez ou outra. Ária também não gostava muito de Ethan.... Lembro quando fui com ele até a estalagem. Acho que Ária não gosta muito de vampiros.

— Alessia? É esse o seu nome? — Uma voz falou e quase me matou de susto. Virei-me, tentando distinguir de onde vinha o som.

— Quem é você? — Meu coração estava aos saltos.

— Ivy. A irmã mais nova de Ária. — Explicou a voz, fazendo-me relaxar um pouco. Ivy saiu do meio das árvores que ficavam próximas as areias da praia.

— O que está fazendo aqui, escondida?

— Eu vim com vocês, mas disfarçada. Fugi para a floresta antes que qualquer um me perguntasse alguma coisa.

— Por que ainda não foi falar com Ária?

— Não acho que esteja pronta ainda.

— Tenho certeza que vai ficar muito feliz em revê-la depois de tanto tempo.

— Não tenho tanta certeza... — reparei que suas roupas estavam rasgadas e sujas, o manto que a cobria era como o que Zein usava para se esconder dos olhares alheios, mas estava cortado e imundo. Os cabelos dela, antes bonitos e sedosos, estavam com um aspecto de palha, secos e despenteados. — Mas o que te traz aqui? A floresta é perigosa.

— Posso te fazer a mesma pergunta. Vim atrás do meu amigo, Daniel.

— E eu estou me escondendo e protegendo a vila. — Sua expressão se alterou como se tivesse dito algo que não devia.

— Protegendo a vila? De quê?

— Esqueça. Finja que não me encontrou e não conte para ninguém.

— Prometo, mas você não pode fugir e se esconder para sempre.

— Não será para sempre. Logo irei aparecer, mas você desejaria que isso não acontecesse. — Falou de forma sombria e correu de volta para a floresta. 

Senti meu sangue gelar quando disse isso, mas, por algum motivo, não corri atrás dela para saber mais. Voltei a procurar Daniel pela praia e descobri que não estava sozinho. Cameron e Camilla caminhavam com ele pela beira-mar, recolhendo as redes de pesca que deixaram pela manhã.

— Olá! Como estão indo?

— Alessia! — Daniel correu até mim e me abraçou forte. Retribuí o abraço com um sorriso no rosto.

— Alessia, você veio sozinha? — Cameron parecia assustado.

— Sim, por quê?

— É perigoso andar pela floresta sozinho! Estamos sempre caminhando em trios. Você não está sabendo? — Camilla se aproximou de nós.

— Sabendo de que? — Estava cada vez mais confusa.

— Alguns moradores foram atacados por uns bichos estranhos. Ninguém sabe o que são ou como são. Só veem os olhos e a pelagem escura. E depois sentem a dor dos ferimentos. — Explicou Cameron. Pela quarta vez nesse mesmo dia, senti meu sangue gelar. Será que eram os mesmos bichos que nos atacaram perto do poço, no outro dia?

— Não sabia... ninguém me disse nada.

— Provavelmente não queriam assustá-la. — Daniel cruzou os braços em frente ao corpo, com olhar pensativo.

— Deve ser isso... — senti-me incomodada, mas tentei disfarçar. Por que ninguém me disse nada? Há quanto tempo isso estava acontecendo? Por que isso estava acontecendo?

— Dessa vez pegamos muitos peixes. — Camilla tentou desviar do assunto.

— Que maravilha! — Daniel correu para ajudá-la com a rede. — Ei, Vossa Alteza! Será que a Senhorita poderia nos ajudar?

— Não sei... acho que você pode se virar sozinho. Não posso sujar minhas mãos reais.

— Ah é? — E começou a jogar água em mim, mas acabou acertando Cameron, que por sua vez revidou e acertou Camilla. O resultado foi uma guerra de água e todos saindo tão molhados quanto os peixes. Ajudei a colocar os peixes nos cestos e seguimos juntos, de volta à vila. No caminho, Daniel começou a me explicar como estavam funcionando as coisas.

Os vampiros estão fazendo a caça de carnes pela floresta, pouco antes do sol nascer, já que o calor os incomoda. A segurança é feita pelos elfos de dia e pelos trolls de noite. Os duendes e as fadas estão cuidando das tarefas domésticas, fazem comida e mantêm as coisas em ordem com a ajuda de todos. As ninfas cuidam de apresentar espetáculos de música para entreter as criaturas pelo menos uma vez por semana na praça da vila. As sereias cuidam de nos trazer água limpa. 

Os alquimistas, que não são muitos, fazem os utensílios domésticos que necessitamos e algumas armas. Os bruxos e feiticeiros cuidam dos ferimentos e doenças das outras criaturas com magia e enquanto não fazem isso, ajudam em outras tarefas. Os druidas que vieram conosco estão ajudando a tecer roupas e lençóis para os demais. Os fantasmas estão ajudando a investigar os ataques dos bichos, já que seus corpos transcendentais não podem ser feridos. Vagam a noite, tentando encontrar os bichos, mas parece que só atacam em noites fechadas, quando está tudo escuro.

— Então está tudo correndo bem. Tirando os ataques, claro.

— Sim.

— Os vampiros não correm o risco de serem atacados?

— Não. Até agora nenhum foi atacado. Só saem para caçar quando está para amanhecer, lembra?

— Ah. É verdade.

Depois dessa conversa, ficamos por um longo tempo em silêncio e logo que chegamos à vila, deixamos os peixes com algumas fadas . Daniel seguiu para a casa que estava ocupando. O sal da água estava começando a incomodar, já que estávamos quase secos. Cameron e Camilla seguiriam comigo de volta ao castelo. Era estranho que as pessoas me cumprimentassem com "Vossa Alteza". Cheguei até a pedir para que alguns deles usassem apenas meu nome, mas a maioria se recusou.

Depois de tomar um banho, me vesti com um dos vestidos que haviam me presenteado no dia da coroação. Era muito bonito. Seu tecido era leve e azul escuro, com alguns bordados em prata. Era longo, mas nada muito pomposo ou luxuoso, era simples. Tinha uma gola em U e mangas longas, onde nas pontas se abria o bordado prateado. Terminei de me arrumar e já ia saindo do quarto, quando alguém bateu a porta. Atendi rapidamente.

— Nossa! Atendeu rápido. Estava saindo? — Cameron sorria.

— Sim, mas tudo bem. Aconteceu alguma coisa? — Abri espaço para que entrasse.

— Por enquanto nada, mas precisamos desvendar logo a história desses bichos. — Foi bem direto e isso era estranho. Geralmente enrolava bastante para falar de coisas sérias.

— Eu sei. Tem algum palpite?

— Bem... ainda não. Achei que tivesse pensado em algo.

— Fiquei sabendo hoje, lembra?

— Não foi o que Ethan me contou... — e me encarou, chateado por me pegar mentindo.

— Certo. — Respirei fundo. — Não parei para pensar muito sobre isso, na verdade. Desde aquele dia tantas coisas aconteceram tão depressa!

— Entendo, Alessia, mas agora que você é uma das governantes desse lugar. Precisa prestar mais atenção no que acontece por aí. Precisa ajudar a zelar pela segurança do seu povo, que além de tudo, são seus amigos.

Senti um enorme peso ser depositado em meus ombros, mas não disse nada. Sabia que estava certo. Minhas escolhas me levaram a essa situação. Parece que agora minhas preocupações abrangeriam um campo bem maior. Teria que confiar mais em minhas capacidades e tentar solucionar os problemas da comunidade.

— Você tem razão. Não posso ficar aqui dentro brincando de ser princesa. Tenho que sair e descobrir o que são esses bichos! — E entrei no closet que tinha no quarto.

O quê? Ficou maluca? Não era disso que estava falando! — Seu tom era desesperado, enquanto substituía minhas roupas delicadas por uma calça mais maleável e uma blusa mais confortável. — Queria que você conversasse mais com as pessoas e não que se aventurasse no departamento de Leon e Arak!

— Explicasse melhor antes de eu decidir. — E calcei as botas de caça.

— Alessia! Proíbo você de sair desse palácio durante a noite!

— Sinto muito, mas não estou mais sob sua proteção. — Sabia que isso era uma resposta grosseira, mas também não sabia mais o que responder.

— Tudo bem. Você me obriga a apelar. — Fitei-o ao abrir a porta do closet.

— O que vai fazer? Chamar os guardas? — Meu tom era irônico. Sabia que estavam ocupados demais fazendo o toque de recolher.

— Não. Vou contar ao Ethan. — Obriguei-me a não rir e a encará-lo para ter certeza de que falava sério.

— Está brincando comigo, é isso?

— Não. — E saiu do quarto, batendo a porta e me trancando ali. 

Não adiantou correr e socar a porta para que qualquer um abrisse. Também não adiantou gritar e ameaçar. Acabei desistindo antes que machucasse meus punhos e segui até a janela para analisar se seria muito difícil escapar por ali. Tecnicamente seria. Muito difícil. Era noite e não conseguia ver o que havia lá embaixo, estava tudo um breu. Não tinha ideia também da altura da janela até o chão ou se haveria algum tipo de anteparo.

Deitei na cama, após socar um pouco o travesseiro macio. Não havia alternativas, estava presa como um pássaro em uma gaiola. Que sensação ridícula! Cameron vinha aqui e fazia todo um discurso sobre ter que agir e depois me prendia, me deixando incapacitada até de me comunicar com outras pessoas. Quando encontrar com ele novamente....

Ga verder met lezen

Dit interesseert je vast

58.9K 6.8K 51
Harry Potter ( Hadrian Black ) recebe sua carta para Escola de Magia e bruxaria de Hogwarts , mas as dores e abusos de seu passado o tornam diferente...
196K 34.5K 110
Atenção: Essa história é a tradução de uma novel chinesa. Título original:我怀了全球的希望 Título Inglês:I'm Pregnant with the Hope of the Entire Planet Auto...
93.6K 3.4K 43
𝑆𝑛 𝑛𝑜 𝑚𝑢𝑛𝑑𝑜 𝑑𝑒 𝑱𝑱𝑲, 𝐵𝑜𝑎 𝑙𝑒𝑖𝑡𝑢𝑟𝑎ఌ︎ 𝑷𝒆𝒅𝒊𝒅𝒐𝒔 𝒂𝒃𝒆𝒓𝒕𝒐𝒔 (✓) _ _ 𝑇𝑒𝑟𝑎́ 𝑣𝑒𝑧 𝑒 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑎 𝐻𝑜𝑡 𝑜𝑢 𝑚𝑖𝑛𝑖 ℎ...
1.3M 1.4K 5
Tem um novo garoto no bairro. Seria uma pena se ele fosse mais perigoso do que ela pensava.