Capítulo 9

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Era difícil dizer qual parte do meu corpo doía mais. O que havia acontecido comigo? Fui atropelada por uma manada de elefantes? Sentia meu corpo quente, mas parecia que minha alma estava enregelada. Minhas costelas doíam... pelo menos acho que eram as costelas. Minha cabeça latejava e podia ver, através das pálpebras fechadas, uma luz forte apontada bem na minha cara. Minhas pernas também doíam, mas acho que menos do que o resto do corpo. Meus braços pareciam ter carregado um peso extremo por horas e agora estavam trêmulos e inúteis. Meu pescoço latejava como a minha cabeça. Meu coração batia num ritmo regular, porém lento. Minha respiração estava suave e podia sentir meu peito subir e descer conforme inspirava e expirava o ar.

Minha mente estava bagunçada e trechos de conversas iam e vinham o tempo todo, cenas dançavam e se modificavam em minha mente e tudo parecia confuso. Só queria voltar a dormir novamente.... Estava deitada em algum lugar macio, então o que me impedia de dormir? Alguma coisa me incomodava, talvez a confusão. Ouvi alguém se aproximar, senti uma espécie de onda me atingir e perdi os sentidos novamente.

...

Quando despertei outra vez, algumas dores já haviam sido curadas, meus braços e pernas estavam normais, meu pescoço já não latejava como antes, minha cabeça não doía tanto, minha mente já não estava completamente confusa e era capaz de me mexer, mesmo com dificuldade, e de abrir os olhos.

Estava em um quarto que me parecia familiar. As paredes eram brancas, tinha uma janela grande à minha direita e a porta estava um pouco distante, à esquerda. Estava deitada em uma cama confortável, forrada com lençóis tão brancos que pareciam feitos com pétalas de copo de leite.

Ao lado da minha cama, sobre uma mesinha, havia uma série de potinhos cheios de líquidos das mais diversas cores. Havia também uma jarra transparente que parecia conter água, com um copo ao lado. Atrás da jarra estava um vaso prateado com flores coloridas. Flores de todos os tipos aninhadas em uma espécie de buquê.

Não sei porquê, mas sorri ao ver as flores e senti vontade de me sentar, porém quando tentei fazer força para sentar, a região das minhas costelas doeu e começou a latejar. Arfei com a dor inesperada e derrubei alguma coisa que estava do outro lado da cama. Uma luminária como as de hospitais.

A porta se abriu de repente e uma mulher que reconheci, mas não sabia dizer o nome, entrou no quarto com suas vestes brancas bruxuleando enquanto caminhava. Atrás dela entrou outra mulher, com vestes que pareciam ter sido feitas de margaridas e outras flores de coloração branca. Conforme a mulher se mexia, atrás dela apareciam focos de luz como pequenas estrelinhas piscando à luz do luar.

— Você acordou... — a primeira mulher tinha uma voz suave e calma, parecia distante como em um sonho, mas era real. Seus cabelos loiros estavam presos no alto da cabeça, em um emaranhado precário. Seus olhos azuis pareciam atentos, bondosos e espertos.

— Sim, Dahlie. Ela acordou. — A outra disse com impaciência. Essa possuía a voz como o barulhinho de sinos e estava com o cabelo cor de palha preso em coque atrás da cabeça. Seus olhos fechavam-se em fendas ao observar a outra. Não maldosos, mas preocupados. — Tome cuidado com as palavras.

— Sempre tomo cuidado com elas, Lisarin. — Dahlie disse calmamente. Esses nomes... me lembrava de ter ouvido esses nomes antes.

— Ei, querida, lembra-se de como se chama? — Dahlie me fitava com um olhar bondoso. Tive que buscar bem além em minhas memórias para responder essa pergunta simples, mas me lembrei.

— Sim. Eu me chamo Alessia.

— Ótimo. — Sorriu de maneira gentil. — E sabe onde está?

Com essa, tive que trabalhar por alguns minutos, mas Dahlie não me interrompeu ou apressou, apenas aguardou pacientemente, enquanto minha mente trabalhava para buscar as informações. Os meus pensamentos ainda não tinham voltado ao normal e algumas vezes, enquanto revirava as memórias escondidas, se tornavam apenas um vazio, como se estivessem se escondendo de mim. Mesmo assim, consegui lembrar onde estava a tempo de respondê-la, antes que pensasse que havia adormecido novamente e esquecera de fechar os olhos.

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