Capítulo 13

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Não desci para tomar o café da manhã. Não queria conversar com ninguém. Muito menos ter que falar do sonho que tive para um bando de curiosos. Seria uma questão de tempo até que Ethan contasse aos outros sobre esse sonho do qual não queria falar e Luzia viesse até mim, tentando arrancar a informação. Decidi que seria um ótimo dia para passar despercebida pelo castelo, vestindo roupas de camponeses e me cobrindo com o manto que ganhei como prêmio por derrotar um traidor.

Sair do castelo foi excepcionalmente fácil, enquanto todos estavam ocupados enchendo seus estômagos no salão de jantar. Admito que o banquete que preparavam era realmente delicioso, daqueles em que só de olhar você já fica com água na boca e com o estômago reclamando que está faminto. Isso porque não consegui comer nem metade de todas as iguarias preparadas no tempo em que ficamos aqui em Magic. As sobremesas também parecem ser de outro mundo, talvez tenha magia na comida. Algum encantamento para dar sabor e aroma. Ou talvez seja isso somado aos talentos de quem prepara os pratos.

Ignorei o banquete e meu estômago reclamou, pois o nariz já havia sentido o cheiro. Só que hoje iria tomar café na lanchonete onde Julie trabalhava e aproveitaria para conversar e perguntar se era verdade a história sobre o feitiço da memória. Talvez contasse sobre o poço também....

— Bom dia. — Cumprimentei, quando Julie se aproximou da mesa. Estava disfarçando minha voz e cobria o rosto com o capuz do manto.

— Sinto muito, mas nesse estabelecimento você precisa mostrar seu rosto. — Disse em tom profissional. Descobri o rosto rindo e ela pareceu surpresa.

— Alessia! O que faz aqui? E por que está vestida desse jeito? — Sentou-se comigo e me ofereceu o cardápio.

— Obrigada. Precisava sair de novo, o castelo está insuportável ultimamente e a única maneira de sair de lá sem interrogatório é não saberem que estou saindo de lá.

— Entendi..., mas você sabe que não poderá ficar fugindo para sempre, não é?

— Sim, mas preciso aproveitar enquanto posso. O que me indica? Não tomei café da manhã.

— Experimente o número dois com o acompanhamento do suco três. Acho que é o mais parecido com coisas humanas que temos nessa lanchonete. — Disse com um sorriso.

— Está bem. Pode ser isso. — E saiu para pegar.

Realmente, essa lanchonete não servia as comidas que estava acostumada a comer no castelo. A palavra que mais me assombrava no cardápio (e a que mais aparecia) era sangue. Pelo que havia entendido, sangue era um ingrediente indispensável em quase todos os pratos, sucos ou sobremesas do lugar, que ao contrário do que pensei, não era uma lanchonete, mas um restaurante.

— Aqui está! — Julie voltou extremamente rápido e fiquei imaginando se a cozinha era feita por magia, como quase tudo nesse novo mundo em que agora estava.

Ela trouxe o que pareciam ser bolachinhas em formato de pétalas de flor, tinham um gosto adocicado no começo, mas depois ficavam mais amargas. Parecia mel e depois parecia café. Foi a melhor comparação que pude fazer.

— O que é?

— As pétalas são feitas com magia de pó de fada e por isso têm esse gosto doce no início. É como pólen de flor, mas depois ficam amargas porque outro ingrediente que usamos é uma geleia especial que os duendes fazem com pó de cristal da terra.

Terra? — Quase engasguei.

— Calma. É tudo limpo antes de ser usado como ingrediente. — Estava rindo de mim agora.

— E esse suco? — Olhei para o copo, desconfiada.

— No suco nós utilizamos as flores copo de leite, que quando encantadas da maneira certa mostram porque têm esse nome também em nosso mundo. Se transmutam em um líquido branquinho e doce. Para dar o tom alaranjado, nós adicionamos o pó de âmbar, que é responsável pelo gosto azedinho no final. — Resolvi que poderia experimentar o suco sem medo. Era delicioso, mas da próxima vez não perguntaria os ingredientes após comer alguma iguaria mágica. Seria melhor para o estômago se o cérebro não soubesse o que estava sendo ingerido.

MagicWhere stories live. Discover now