A FILHA DO FOGO : DESPERTAR (...

By Luis_Storyteller

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"O que preciso que você entenda Anne, é que o destino não é imutável. Basta uma decisão, um erro, um encontro... More

Capa
Elenco
Ao leitor
Prólogo - Uma reunião curiosa
Capítulo 1 - Garras, dentes e favores
Capítulo 2 - Nova na cidade
Capítulo 3 - De volta ao lar
Capítulo 4 - Quando as coisas parecem dar certo
Capítulo 5 - Desavenças na matilha
Capítulo 6 - Um cliente chato
Capítulo 8 - Uma recuperação estranha
Capítulo 9 - Conversa de lobos
Capítulo 10 - A sombra do inimigo
Capítulo 11 - Revelações sob lanternas de papel
Capítulo 12 - Um fim de encontro marcante
Capítulo 13 - O mundo secreto
Capítulo 14 - Wulfenkind e o deus do fogo
Capítulo 15 - Uma mensagem
Capítulo 16 - Futuro & Destino
Capítulo 17 - Um sonho real
Capítulo 18 - Uma guerreira
Capítulo 19 - Treinamento e sentimentos
Capítulo 20 - Luta sangrenta
Capítulo 21 - Ataque surpresa
Capítulo 22 - A caçada começa agora
Capítulo 23 - Segredos do mundo secreto
Capítulo 24 - O demônio de Jersey
Capítulo 25 - A filha do fogo
Capítulo 26 - Futuro incerto

Capítulo 7 - Exposto

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By Luis_Storyteller


Assim que segurou a garota nos braços, Kol sentiu o cheiro de sangue vindo de uma ferida na cabeça dela. Aquilo não podia ser bom. Os olhos verdes dela tinham um brilho forte, como os de Loki, mas ele teve a impressão de que esse brilho estava se apagando aos poucos, agora.

Ele quase não tinha chegado a tempo e foi muita sorte aquele animal não ter escutado sua aproximação. Por causa disso tinha conseguido acertar um belo e profundo golpe com suas garras nas costas indefesas dele. Aquilo teria sido o suficiente para derrubar quase qualquer Wulfenkind, e se não fosse o fato de que precisava tirar a semideusa daquele beco e levá-la a um hospital o mais rápido possível, teria ficado e terminado o trabalho.

Tinha certeza de que o Desaurido ainda estava vivo, mas ia precisar de um belo tempo para se recuperar. Kol colocou a garota no banco do passageiro, prendendo bem o cinto a seu redor e acelerou pela cidade em direção ao Hospital Geral da cidade.

Na porta de entrada abandonou seu GTO, ignorando os gritos de aviso dos seguranças e atravessou o salão principal carregando a jovem de olhos verdes em seus braços.

O sangramento na cabeça dela, de forma impressionante, já parecia ter parado, mas ela ainda estava com uma cara péssima. Nenhum humano teria aguentado o castigo que ela recebeu. Espero que seja lá o que ela puxou de seu pai, seja o suficiente para mantê-la viva.

Preciso de um médico, AGORA! — gritou, chamando a atenção de todos ali.

— Escuta aqui, — Um grupo de enfermeiras disse, indo em sua direção — o senhor precisa passar pela triagem como todo...

A forma como Kol as encarou fez com que todas congelassem onde estavam. Seus olhos azuis travaram o olhar da que parecia ser a mais experiente dentre elas.

— Ela está com um corte profundo na cabeça e vai sangrar até morrer se nada for feito. — Disse e teve que se controlar para não rosnar enquanto explicava a situação.

As enfermeiras se aproximaram com cautela e uma delas examinou a cabeça da garota. Logo fez sinal para que alguém trouxesse uma maca onde Kol a deitou e acompanhou as enfermeiras pelo corredor do hospital.

— Alguém ligue para o Dr. Bernard e avise que estamos levando um caso urgente para a UTI. — A que obviamente parecia ser a encarregada do time disse. — Há quanto tempo ela está assim?

— Encontrei ela a pouco mais do que uns quinze minutos e vim direto para cá.

— Você é da família?

— Não, — Kol disse. — eu apenas...

— É amigo de alguém da família?

— Também não...

— Nesse caso, não posso permitir que fique aqui, vamos procurar pelos familiares dela e notificá-los sobre o que aconteceu. No entanto, preciso pedir que espere no salão da recepção enquanto nós fazemos nosso trabalho.

— Eu não vou sair do lado dela. — Ele disse, cerrando os dentes.

— Escuta, você fez o que pôde e agora precisa nos deixar salvá-la, ok? Por favor, seja paciente e tenha um pouco de fé.

Kol viu nos olhos da mulher que ela não iria deixar nada de ruim acontecer a garota, e então concordou com a cabeça e voltou à recepção do hospital.

Sentou em um dos bancos de plástico e levou as mãos à cabeça. Tinha estado muito perto de falhar com Loki. Os Desauridos sabiam sobre a garota e ele precisava fazer alguma coisa à respeito disso. E rápido.

Se aquela matilha na floresta era apenas parte do que estava circulando a região de Clarence, precisava supor que as coisas iam ficar muito piores dali em diante.

Seu celular vibrou e Kol viu que tinha pelo menos cinco ligações perdidas ali. Quatro de Erik e uma de Dereck. Ótimo, e eu ainda preciso explicar a eles porque os abandonei... de novo.

Malcolm estava ferido e a matilha toda deveria estar reunida ao lado dele, ajudando de alguma forma. Mas quando sentiu o perigo que espreitava a garota no beco... ele simplesmente não teve escolha. Foi como se uma força invisível o tivesse obrigado a correr em seu auxílio.

Loki o tinha avisado, ele estava se metendo no destino de deuses e de suas crias, deveria ter imaginado que alguma coisa como aquela iria acontecer. Jurei proteger a garota e agora o meu destino deve estar completamente entrelaçado com o dela e o de Loki.

Não demorou muito para um policial aparecer para fazer perguntas, Kol deu uma versão bem rápida sobre como estava dirigindo por perto da lanchonete quando escutou o som de briga vindo da rua. Disse que apenas tinha visto o agressor de longe e que assim que entrou na rua, o homem correu para o outro lado, deixando sua vítima no chão.

Os policiais lhe contaram que o nome da garota era Anne Coleman e que ela era uma funcionária nova da lanchonete. Depois de ouví-lo e solicitar sua presença na delegacia para um depoimento formal o deixaram em paz.

A espera era a pior parte, ninguém ali dava notícias a ele, por não ser familiar. Pelo menos já tenho um nome. Kol continuou por perto da recepção, às vezes indo até a máquina de bebidas para comprar um café e depois continuava a andar de um lado para o outro, tentando não perder a paciência.

Só o que podia dizer era que a garota ainda estava ali, o cheiro dela tinha um tom muito característico, ela cheirava a uma mistura curiosa de eucalipto com orquídea, além é claro do toque forte e doce que o sangue divino tinha.

Quando ele se concentrava, era capaz de escutar a respiração dela. E isso o ajudava a se acalmar. Tinha se passado quase uma hora e meia quando escutou um médico se aproximar da porta que levava a recepção. Ele falava com duas outras pessoas, um homem e uma garota. O nome de Anne e o dele foram citados e isso chamou sua atenção.

Pelo visto os policiais tinham dado os detalhes aos familiares de Anne, que com certeza iriam querer falar com ele. Pela conversa, ela estava estável e fora de perigo então Kol vestiu sua jaqueta e saiu dali antes de ter que passar algum tempo recontando todas as mentiras que tinha contado mais cedo.



Do lado de fora, descobriu que seu GTO tinha sido manobrado até o estacionamento do hospital, onde teve que pagar um preço absurdo para tirá-lo de lá.

Ele estava para entrar no carro quando sentiu dois cheiros bem conhecidos se aproximando dele a partir de um ponto isolado do pátio onde os carros estavam parados.

— Como é que o Malcolm está? — Perguntou, antes mesmo de Dereck e Erik terem dito qualquer coisa.

— Ele vai viver, não que eu ache que você se importe. — Dereck respondeu de mau humor.

Kol se virou para encarar os dois Wulfenkind. Até mesmo Erik parecia desapontado.

— Claro que eu me importo... — Começou a dizer.

— Ah, é mesmo? Que jeito curioso de demonstrar! — Dereck escarneceu.

— O que deu em você? — Erik perguntou. — Para onde diabos você foi?

— Eu...

Kol não sabia o que dizer.

Como poderia explicar a eles o que estava fazendo? Os dois eram como irmãos para ele e ver a raiva e tristeza nos olhos dos dois era muito mais do que conseguia aguentar.

Os Desauridos na floresta eram apenas uma distração. — Disse por fim. — Eu peguei o rastro de outro deles enquanto seguia vocês.

— Como é que é? — Dereck disse. — E por que diabos não disse nada?

— Vocês precisavam cuidar de Malcolm, além disso, eu tinha certeza de que era só um. Eu podia ter dado conta.

— E conseguiu pegá-lo? — Erik quis saber.

Dereck se calou e observou atentamente cada palavra sua.

— Eu... tive que deixá-lo escapar, ele atacou uma garota na cidade. — Antes dos dois poderem perguntar mais alguma coisa, ele completou. — Tive que deixá-lo ir para socorrer a humana, mas o feri bastante então não tem como ele estar muito longe.

— Ainda está cedo e ele não teria arriscado se esconder na floresta, não com a gente procurando por sinais de Desauridos por ai. — Dereck disse, pensando no assunto. — Deve estar escondido em algum lugar perto. Acha que consegue pegar o rastro dele?

— Tenho certeza que sim. — Kol confirmou.

— E então o que estamos esperando? — Erik se animou. — Vamos logo pegar esse animal.

Kol olhou para o jovem lobo e colocou uma mão em seu ombro.

— Calma lá poderoso caçador. Eu e Dereck podemos dar conta disso, preciso de um favor seu.

— Como assim?

— Jill está sozinha na fazenda cuidando de Malcolm. Você precisa voltar e ficar por perto caso seja necessário.

— Acha que o bando da floresta vai voltar e nos atacar em plena luz do dia? — Dereck disse, incrédulo.

— Eu não sei. — Kol falou. — Não dá para ficar especulando o que esses caras vão ou não fazer, já ficou claro que eles não se comportam como Desauridos comuns.

Mesmo a contra gosto, Erik concordou em voltar à fazenda enquanto Kol e Dereck voltavam ao lugar onde ele tinha salvado Anne naquela tarde.



O caminho de volta foi rápido e nenhum dos dois disse nada.

Kol podia sentir que Dereck estava com muitas perguntas, mas ele era o tipo de homem que se focava em um problema por vez e agora o objetivo era encontrar e lidar com o Desaurido.

Não demorou para pegar o rastro da presa e logo estavam de volta ao carro, rodando pelas ruas de Clarence seguindo a trilha do lobo.

O caminho os levou a zona leste da cidade, um lugar que já tinha sido o lar de um próspero parque industrial que entrou em decadência quando as minas de ferro e carvão da região secaram. Hoje eram poucas metalúrgicas que ainda geravam trabalhos por ali.

O cheiro do sangue levou Kol e Dereck até uma velha fábrica com placas de "Fechado" e "Não passe, propriedade privada". Ninguém se importava com esses avisos e moradores de rua ou jovens procurando por privacidade, onde pudessem "curtir uma onda", usavam lugares como aquele o tempo todo. Cada um deles tentando fugir de sua realidade de uma forma diferente.

— Ele deve ter arrombado a entrada principal, posso sentir o cheiro dele passando por ali. — Kol disse, apontando para um buraco na cerca ao redor do prédio industrial e depois para um portão de correr, grande, que era a entrada principal do lugar.

— Teria sido mais esperto usar as janelas. — Dereck disse, analisando a metalúrgica. — Não deve ser um pulo de mais do que dez metros até elas e teria chamado menos atenção.

— Ele ainda deve estar bem machucado mesmo. Faz o seguinte, deve ter uma saída pelos fundos. Você dá a volta enquanto eu entro.

Kol parou o carro na rua e os dois seguiram caminhos separados.

Dereck deu a volta na rua, indo para os fundos da metalúrgica enquanto Ele passava pelo buraco na grade. Assim que se aproximou notou que o cadeado que prendia o portão ao chão estava arrombado e sujo de sangue. Levantou o portão e entrou.

Deu de cara com um salão grande, empoeirado e cuja única iluminação vinha das janelas e do feixe de luz que entrava pelo portão que estava aberto agora.

Tinha muito lixo jogado por ali, junto de pedaços de papelão atirados pelo chão, alguns colchões velhos e cobertas amontoadas aqui e ali. Um cheiro de mijo, vômito e sangue chegou ao nariz de Kol.

Seu alvo estava tentando ficar escondido atrás de alguns dos colchões, mas logo percebeu o quanto aquilo era inútil.

— Criou coragem para vir me enfrentar de frente? — O Desaurido falou, se levantando com alguma dificuldade e cuspindo no chão.

— Disse o sujeito que estava tentando matar uma garotinha. — Kol riu.

— Você não faz ideia do que ela realmente é? O olfato de vocês tem que estar mesmo muito ruim para não sentir o cheiro do sangue de um semideus quando está bem na sua frente. — O outro respondeu, rindo e se aproximando com cautela enquanto deixava suas garras crescerem. — Não sabe com quem está se metendo, seu retardado.

Kol viu quando Dereck entrou no salão pela porta dos fundos e começou a se aproximar, andando com calma e com as mãos nos bolsos. Ele não pretendia lutar, aquilo seria um insulto, como chutar um cachorro morto.

No entanto, a cara que ele fez ao ouvir as palavras do Desaurido não deixaram dúvidas, ele tinha compreendido muito bem cada uma delas. Ótimo, agora vai ser uma maravilha explicar tudo isso a ele.

— Não vim aqui para bater papo. — Kol disse e se preparou para lutar. — Que tal me responder algumas perguntas, e ai eu coloco um fim rápido e limpo em você?

A resposta foi um rosnado de aviso e um pulo na direção dele. No meio do caminho a transformação tomou conta do corpo do Desaurido e deu forma a um lobo cinzento enorme.

Kol também pulou, mudou de forma e bateu de frente com seu inimigo. O lobo cinzento era grande e forte, mais do que ele, mas estava ferido e isso cobrou um preço. Kol acertou com as garras na cara de seu inimigo e depois cravou seus dentes em seu pescoço.

O Desaurido tentou se libertar, sacudindo seu corpo, mas isso só agravou sua posição frágil e Kol fechou ainda mais seus dentes na ferida, rasgando carne e chegando ao osso. O sangue pintava sua boca e dava o sabor da vitória.

Logo, estava acabado. O lobo cinza caiu sem forças e completamente esgotado, seus últimos suspiros arranhavam a garganta dilacerada e saiam com dificuldade.

Kol enterrou os dentes nele mais uma vez, acabando com o sofrimento do infeliz. Aos poucos a imagem do lobo deu lugar ao homem barbudo.

Assim que a luz da transformação o absorveu, Kol assumiu novamente sua forma humana. Levantou-se e encarou Dereck que observava a tudo.

— Nós temos que conversar.

Dereck nem se dignou a responder, apenas deu as costas e o deixou plantado ali, com o corpo do Desaurido a seus pés.

Que bela merda...

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