A FILHA DO FOGO : DESPERTAR (...

By Luis_Storyteller

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"O que preciso que você entenda Anne, é que o destino não é imutável. Basta uma decisão, um erro, um encontro... More

Capa
Elenco
Ao leitor
Prólogo - Uma reunião curiosa
Capítulo 1 - Garras, dentes e favores
Capítulo 2 - Nova na cidade
Capítulo 3 - De volta ao lar
Capítulo 5 - Desavenças na matilha
Capítulo 6 - Um cliente chato
Capítulo 7 - Exposto
Capítulo 8 - Uma recuperação estranha
Capítulo 9 - Conversa de lobos
Capítulo 10 - A sombra do inimigo
Capítulo 11 - Revelações sob lanternas de papel
Capítulo 12 - Um fim de encontro marcante
Capítulo 13 - O mundo secreto
Capítulo 14 - Wulfenkind e o deus do fogo
Capítulo 15 - Uma mensagem
Capítulo 16 - Futuro & Destino
Capítulo 17 - Um sonho real
Capítulo 18 - Uma guerreira
Capítulo 19 - Treinamento e sentimentos
Capítulo 20 - Luta sangrenta
Capítulo 21 - Ataque surpresa
Capítulo 22 - A caçada começa agora
Capítulo 23 - Segredos do mundo secreto
Capítulo 24 - O demônio de Jersey
Capítulo 25 - A filha do fogo
Capítulo 26 - Futuro incerto

Capítulo 4 - Quando as coisas parecem dar certo

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By Luis_Storyteller

O almoço naquela tarde transcorreu de forma mais natural e fácil do que Anne poderia ter esperado. Jack e Julia lhe deram as boas vindas à fazenda como se ela já fosse família, e nenhum deles a perturbou com perguntas sobre seu passado ou como era sua vida antes de Portfield.

Em vez disso Jack, que era um rapaz moreno com belos olhos cinzas, alto e meio magrelo contou sobre todas as festas legais que tinham na cidade, que não eram muitas, ele admitiu com tristeza, mas sempre que o tédio batia ele e os amigos do time de basquete iam até Buffalo para ter o que fazer.

— Vocês são os Corvos? — Anne perguntou.

— Uhum. — Jack confirmou após colocar um pedaço enorme de bife na boca. Pareceu surpreso por ela perguntar, mas fez seu melhor para disfarçar e agir como se fosse algo natural. — Ouviu falar de nós?

— Sim, eu... — Anne começou a explicar.

— Há! Viu só Julia? — Jack disse aos risos apontando o garfo para Julia. — Eu disse que estávamos chamando a atenção no estado. Até na Grande Maçã já falam sobre nós!

— É sério? — a garota perguntou, meio incrédula.

— Na verdade, — Anne disse, sem jeito. — eu ia dizer que li o nome do time na placa de entrada na cidade.

Foi a vez de Julia rir, e ela quase engasgou no processo. Até mesmo John não conseguiu ficar sério diante da cara de desapontamento do jovem super star Jack.

— Desculpe... — Anne disse, encolhendo os ombros e fazendo cara de arrependida.

Jack apenas riu e voltou a sentar. Se serviu de um pouco mais de carne.

— Tudo bem, ainda vamos chegar lá. Aposto que este ano levamos o campeonato estadual.

— Você só vai ter que estar vivo para ver esse dia chegar. — John avisou. Não deixando de reparar que aquele era o terceiro pedaço de bife do garoto. — E isso não vai acontecer se David descobrir que você o deixou sem carne para a janta.

Depois de comer, Jack foi ajudar John com alguma tarefa da fazenda e Julia se encarregou de ajudar Anne a acabar de desempacotar suas coisas e se instalar. Ela tinha uma personalidade calma e agradável, que fez Anne se sentir à vontade.

Julia tinha um sorriso simpático e belos olhos amêndoa que combinavam com seus cabelos loiros cacheados e rosto levemente arredondado. Ela parecia e se vestia como uma modelo teen de capa de revista e Anne tinha a impressão de que nunca a veria mal vestida. Nada disso a transformava no tipo patricinha fútil e chata, muito pelo contrário, ela parecia o tipo de pessoa que não só é uma boa ouvinte mas que também genuinamente se importava com os demais a sua volta. Por mais que ela tire sarro de Jack, tá na cara que ela o vê como um irmão.

Elas passaram a tarde ouvindo música e refazendo o layout do quarto que iriam dividir. Julia admitiu aos risos que era muito espaçosa e que tinha se acostumado a ter o quarto só para si, mas sua animação e disposição em ajudar deixaram claro que ela estava achando incrível a ideia de ter uma colega.

Anne sempre tinha morado com muitas pessoas e praticamente zero espaço pessoal, achava difícil entender como ela podia estar tão em paz com a ideia de perder "território", mas por outro lado também já tinha morado em lares onde era a única garota e sabia como isso podia ser irritante às vezes.

— Você definitivamente precisa de roupas novas. — Julia disse, analisando as três calças jeans e cinco camisetas que estavam espalhadas na cama.

— Boa parte do que eu tinha foi embora no fogo. — Anne se explicou.

À essa altura ela já tinha contado sobre o incêndio que destruíra o orfanato em que morava em Nova York. Uma história que Jack tinha achado "irada", o que lhe rendera um tapa na cabeça por parte de Julia.

— Nesse caso, compras vão ser necessárias. O shopping daqui não tem grandes coisas, mas eu sei de uma loja que acho que você vai gostar. — Ela disse, analisando as roupas de Anne.

As blusas eram todas de cores escuras e com estampas de bandas de rock, e as calças também seguiam o estilo roqueiro típico.

— Eu não sei, — Anne disse, pensando nos preciosos dólares que tinha em sua conta, fruto de diversos trabalhos de meio período que já tivera. — eu estava pensando em arrumar um trabalho por aqui antes de começar a gastar meu, quase inexistente, saldo bancário.

— Quanto a isso, relaxa, eu posso te ajudar.

— Como assim?

— Eu trabalho em uma lanchonete no centro da cidade e os donos me adoram. — Julia explicou. — O lugar vive movimentado e recentemente uma das meninas que trabalha comigo saiu, ela se mudou para Los Angeles no meio do ano. Aposto que consigo uma vaga para você.

— Você está falando sério? — Anne não conseguia acreditar que iria riscar aquele problema de forma tão fácil.

— Claro, mas tem duas condições.

— Manda.

— Número um, você vai me pagar uma porção generosa do sorvete que servimos lá.

— Considere feito. E a segunda?

— John precisa estar de acordo, ele sempre se preocupa em como trabalhar pode afetar nosso desempenho escolar.

Anne deu de ombros e sentou em sua cama.

— Bom, nisso ele não precisa se preocupar. — Disse. — Eu me formei no ano passado mesmo.

Julia ficou encarando Anne sem acreditar naquilo.

— Sério mesmo? Mas, espera, você não tem dezessete, como eu?

— Sim, indo para dezoito em dezembro.

— Espera, então você se formou ano passado? Não sabia que isso era possível em Nova York.

— Na minha última escola me deram a opção de fazer mais grades do que o normal para o ano letivo. — Anne se justificou. — E aí pensei, por que não? Queria ter meu diploma o mais rápido possível.

— Nossa, que inveja. Mas seu último ano deve ter sido um inferno.

Anne apenas concordou com a cabeça, não achou que ia ser legal dizer que ela sempre tivera facilidade nos estudos. Era muito difícil alguma matéria dar qualquer trabalho. De alguma forma tudo o que assistia, lia ou escutava simplesmente ficava na sua cabeça. Memória eidética ou fotográfica, como a maior parte das pessoas conheciam, era parte de suas raras vantagens na vida. Seria legal saber de quem eu puxei isso.

— Então acho que só precisamos passar lá mais tarde e falar com o meu chefe, o velho Willis. — Julia disse. — Ele é meio rabugento, mas a esposa dele, Sarah, é um amor.

Alguém bateu na porta do quarto e Julia olhou para Anne.

— O quarto é seu também, não deixe eles perderem o costume de bater antes de entrar. Levei anos para domesticar esses animais selvagens.

— Pode entrar. — ela disse, rindo.

Um garoto que parecia ser pouco mais velho do que as duas entrou. Ele era moreno como Jack, mas um pouco menor e com um corpo mais sarado. Tinha cabelos pretos crespos e vestia calças meio surradas em um jaleco azul escuro com a estampa de um logo que dizia "Donni Motors" no lado esquerdo do peito.

— Desculpe interromper. — ele disse assim que entrou e viu Anne. — Só passei para me apresentar e te dar as boas vindas. Sou o David.

— Prazer, eu sou a Anne. John e os outros me falaram sobre você.

— Não acredite em nada do que eles dizem. Eu sou muito pior.

Julia jogou uma almofada na cara dele.

— Para de bancar o bad boy para cima dela, você não leva jeito para isso.

— Acha mesmo? — David disse, fazendo sua melhor cara de garoto mau.

O resultado foi cômico e Anne não conseguiu evitar cair na risada quando Julia explodiu de rir e rolou na cama.

— Acho que isso responde minha pergunta. — David sorriu. — Bom, seja bem vinda. Espero que goste daqui, John é um cara bacana e tem nos ajudado muito. Tenho certeza de que vai fazer o mesmo por você, se der uma chance a ele.

— Ele parece mesmo um cara legal. — Anne concordou.

David viu Jack passar por trás dele no corredor e seguir para o andar de baixo.

— Acho melhor eu ir ajudar o John a esquentar as coisas da janta antes que ALGUÉM — disse, enfatizando a última palavra quando Jack estava quase na escada. — Me deixe sem comida.

Depois do jantar Julia pediu as chaves da camionete de John emprestadas para que pudessem ir até o shopping no centro da cidade. Ele deu uma olhada no relógio da sala, eram pouco mais de oito da noite.

— Nada de abusar da hora, ok?

— Tudo bem, não vamos demorar. Só quero dar a chance dela conhecer um pouquinho da cidade antes de achar que Jack e David são exemplo do melhor que vai encontrar por aqui.

— Eu ouvi isso! — David gritou da sala, onde assistia TV.

Jack tentou ir com elas, mas John lembrou que era a vez dele limpar a cozinha e o garoto teve que se contentar com uma noite de trabalho.

O shopping, como quase qualquer coisa, ficava a menos de vinte minutos da fazenda. Anne e Julia deram um pulo primeiro na lanchonete. O lugar chamava Stacys, e ela descobriu que era o motivo da cidade sustentar o título de melhor panqueca da região. Sarah e seu marido já se preparavam para fechar quando Julia disse que Anne tinha interesse em trabalhar ali.

O velho Willis resmungou alguma coisa sobre eles terem que analisar e pensar, mas sua esposa Sarah logo o cortou.

— Pare de ser complicado, homem. — ela disse, batendo no marido com um pano de prato. — A coitada da Julia quase não dá conta das mesas sozinha à tarde.

— Bom, isso é verdade. Se quiser, pode começar amanhã lá pelas duas da tarde? É o turno que sua amiga faz até as seis.

— Combinado, vou estar aqui. — Anne disse, animada.

As duas seguiram para o shopping, onde Julia mostrou uma pequena loja de discos, instrumentos e moda rock. O dono costumava ter uma banda, e quando o grupo se separou ele resolveu mudar para o interior, onde abriu seu próprio negócio. A loja dele era incrível e Anne levou quase uma hora escolhendo algumas camisas, regatas e calças que iam dar um reforço em seu armário.

Julia achou botas em promoção em outra loja e quando elas terminaram suas compras foram até a praça de alimentação para dividir uma porção de fritas e milk shakes.

Julia perguntou sobre como era viver em Nova York e contou sobre a vida em Clarence. Ela gostava dali, mas pretendia se mudar assim que possível porque sempre sonhara em morar em algum lugar grande e agitado. Então Anne falou dos três anos que passou no orfanato de Nova York, dos lugares que frequentava e contou sobre todas as armadilhas para turistas que a cidade escondia.

Quando saíram do shopping já eram quase onze horas e o estacionamento estava bem vazio e meio escuro. As duas seguiram apressadas até a camionete.

No momento em que entraram, enquanto Julia se preparava para ligar o carro, um som grotesco soou em algum lugar não muito longe delas. Parecia o rosnar de algum tipo de animal selvagem.

As duas prenderam a respiração, assustadas. Olharam em volta do carro, procurando pela origem daquele som que parecia se aproximar cada vez mais. Por instinto, Julia travou as portas. Em um determinado momento o rosnado parou, dando lugar a uma respiração pesada e claramente não humana.

Sem aviso, um lobo saiu da escuridão em volta da camionete e caiu no capô do veículo. Suas presas à mostra, e seus olhos escuros encarando as garotas. Julia gritou e Anne procurou por qualquer coisa que pudesse usar como arma, mas não viu nada de útil por perto.

O lobo rosnou e pareceu que iria investir contra o vidro que o separava delas. Mas antes disso, o som de uivos cortaram a noite e o lobo olhou para o lado, como se pudesse sentir que alguma coisa se aproximava. Sem perder tempo, o animal correu para longe da picape e sumiu na escuridão do estacionamento. Anne ainda estava escutando seu coração bater em seu peito quando viu sombras de alguma coisa passar em frente do carro, seguindo no encalço do lobo.

As sombras eram grandes e ela escutou rosnados e o som de garras arranhando o chão. O que diabos é aquilo?

Se passaram longos minutos, que pareciam sem fim, até Anne conseguir se mover. Ela olhou para a amiga, que parecia ainda estar em choque.

— Você está bem? — perguntou.

— Eu... aquilo eram... lobos? — A voz de Julia saiu tremida.

— Nunca tinha visto um tão de perto, mas definitivamente parecia um. — Anne confirmou, escaneando o lado de fora do carro, tentando ver se alguma outra coisa se movia do lado de fora. Não viu mais nada.

— Achei que a gente fosse morrer. — Julia disse, ainda bem abalada com o susto.

— É melhor eu dirigir. — Anne disse e Julia não discutiu, apenas entregou a chave na mão dela.

Anne ligou a picape e as levou para casa. Ao chegar, nenhuma delas teve vontade de explicar o que tinha acontecido a John e apenas pediram desculpas por terem chegado tarde. Ele não discutiu, tinha percebido que algo estava errado, mas não fez perguntas.

Naquela noite Anne foi dormir ainda pensando no lobo do estacionamento e nos que surgiram depois. Ele fugiu quando os escutou se aproximar. Eles salvaram nossa vida.  



Anne estava andando no interior de uma floresta de pinheiros enormes.

Era noite e a copa das árvores obstruía a luz da lua e das estrelas, tornando difícil enxergar onde pisava ou encontrar algum caminho para fora dali. Ela andou durante o que pareceram horas sem nunca conseguir achar qualquer sinal de que estava perto de sair do meio da mata e começou a sentir o medo tomar controle de si. "Onde diabos estou?"

O barulho de alguma coisa pisando e quebrando um galho a fez olhar para o meio de um grupo de pinheiros e ali ela enxergou o vulto de coisas enormes se aproximando dela. As figuras tinham uma silhueta humana, mas eram muito altas para serem pessoas e alguma coisa na forma como se moviam lhe dizia que não estava olhando para alguma coisa natural. Anne se virou para correr na direção oposta quando viu mais daquelas coisas se aproximando por trás dela. E pelos lados... ela estava cercada.

De algum lugar na escuridão que a cercava, Anne ouviu um rosnado forte e uma sombra enorme saltou de seu esconderijo, ficando bem ao lado dela. Era um lobo de pelos negros, tão escuros que quase o deixavam invisível naquele lugar. O animal tinha quase um metro e meio de altura e seus olhos eram azuis e profundos. Um azul frio e chamativo.

Quando os vultos das coisas na floresta se aproximaram dela, o lobo pulou no mais próximo deles e atacou com tanta força e brutalidade que os dois foram ao chão. Logo o lobo negro estava atacando outra criatura e outra, impedindo que elas se aproximassem dela.

A luta durou alguns minutos e em certo momento as criaturas cercaram o lobo, atacando todas de uma vez só enquanto soltavam gritos horríveis de vitória. Anne quis correr na direção do animal que a estava protegendo, mas não conseguiu se mover, sentiu como se estivesse presa ao chão e nada pôde fazer se não escutar os lamentos de dor dele.

"Você não pode salvá-lo." Uma voz disse em sua cabeça.

"Não pode salvar nada. Nem o lobo, nem a você e muito menos os nove mundos". A voz então passou a rir. Uma risada que se transformou em uma gargalhada que ecoou sem fim na mente de Anne.

Ela acordou sobressaltada, seu coração estava pulando em seu peito e sentiu alguma coisa molhada em seu rosto. Quando levou os dedos à face, descobriu que estava chorando.


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Espero que estejam gostando. Não esqueçam de votar e deixar um comentário, isso ajuda bastante a melhorar o trabalho! Obrigado pela leitura!


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