III - Liberdade Para Irrecupe...

By ThallesTerassan

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Da sequencia de Rebelião dos Irrecuperáveis, Pandora Moon, 28 anos, castigada pelo passado agora se vê fazend... More

Comunicado da diretoria
Prólogo
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Especial 10k
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ATO 5

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By ThallesTerassan

O calor de um abraço satisfaz a alma e não o corpo.

     Meu corpo paralisou naquela sala lustrosa.  

     Quando o rapaz de cabelos extremamente curtos se virou para mim, não pude me confundir. Era Brok, de fato. O magricela, cego e também o primeiro amigo que tive ao entrar no Insanity Asylum. Minhas memorias do passado estavam tão frescas ultimamente que ver Brok naquele momento era como vê-lo pouco tempo atrás. Ele obviamente já não era mais um garoto pálido, maltrapido e sim um homem alto, com um corpo definido. Usava óculos escuros e uma blusa de moletom azul claro. A unica semelhança do antes e depois é seu semblante triste.

     — Obrigado pelo elogio, Feen — agradeceu com um largo sorriso, repousando seu violino ao lado do banquinho — e você, Pan? Venha aqui me dar um abraço, já estava me aborrecendo ouvir falar de você sem poder senti-la.

     — Isso é uma loucura, meu Deus — dizia enquanto andava em sua direção de passos largos — acho que se eu tiver muitas surpresas como esta não vou durar nem mais um mês.

     Quando nossos corpos se encontraram, o embrulhei em meus braços, encostando meu queixo em seu ombro, de olhos fechados. Pude sentir até mesmo o cheiro do amaciante em sua blusa e o jeito carinhoso em que me abraçara. Por mais que o momento estivesse maduro para se derramar lagrimas, contive o máximo que pude, caso o contrario, seria uma tarde apenas de choradeira. Por sorte o prazer em revê-lo era maior que qualquer outro sentimento.

     — Como é bom te-lo de volta — disse a ele, ainda colado em seu corpo, com os braços entrelaçados um no outro.

     — Eu digo o mesmo — respondeu.

     — Agora que todos estamos aqui e não naquele escritório mórbido, poderemos conversar com mais liberdade — interrompeu Feen, fechando a porta da sala.

     — Voces são irmãos? Irmãos de sangue, mesmo? — perguntei ao me afastar de Brok, colocando as mãos em seu ombro.

     — Em partes sim. Somos de mães diferentes, ou seja, meio irmãos.

     — Olha, esta difícil digerir tudo isso. Eu preciso de um copo de água.

     — Claro, vou pegar — respondeu Feen.

     Me sentei no sofá e fiquei olhando para Brok, que segurava minha mão, sentado em seu banco. Ve-los ali, juntos comigo, deixava-me com uma sensação esquisita. A mesma que tive ao saber que Feen era Petúnia. Ambos reapareceram em minha vida, de repente. Senti uma mescla de alivio, por estarem vivos e se dado bem, junto de receio, por imaginar quantas coisas sobre aquele orfanato eles deviam ter descoberto, até que por fim, Brok puxara assunto.

     — Não foi fácil para nós encontra-la, você sabe disso. Eu e ele sobrevivemos juntos, desde aquele incidente. Feen salvou minha vida e passamos a morar em um abrigo até os dezoito. Depois disso, arrumamos um emprego numa lanchonete e alugamos um quarto nos fundos de uma casa no subúrbio da cidade. 

     — Ainda bem que se ajudaram — disse a ele de sorriso tímido. Não importava qual expressão eu escolhesse usar, Brok não as enxergaria de qualquer modo.

     — Ainda bem mesmo — afirmou — Deixamos todas as nossas diferenças de lado nesta jornada de sobrevivência. A partir daqui, crescemos cada vez mais. E você, Pan? Como anda sua vida? 

     — Boa — menti — minha vida está bem ajustada, as vezes passo alguns perrengues, mas nada que eu não possa resolver — Brok observava-me como se pudesse me ver por de trás de seus óculos escuros. Acredito que se tivesse uma visão naquela hora, nossos olhares se chocariam, comunicando-se além de palavras.

     — Aqui está a água — surgiu Feen, segurando uma bandeja redonda, prateada com um copo cumprido, uma garrafa de algum tipo de vinho e duas latas de cerveja — do que estavam falando? 

     — Obrigada. Estávamos falando sobre a vida e como aprendemos a lidar com ela — esquivei.

     — A vida, na verdade é importante demais para ser levada a serio. Só viva — respondeu sentando-se ao meu lado e repousando a bandeja na mesinha de centro — Trouxe seu vinho, senhor frescurento.

     — Muito obrigado, leu meus pensamentos — agradeceu Brok, pegando uma taça na bandeja e servindo-se.

     — Se quiser cerveja ao invés de água... — sugeriu Feen, olhando para mim enquanto eu olhava para a bandeja de bebidas.

     — Cerveja. Por favor — respondi, cedendo aos charmes.

     Começamos a virar um gole de cada vez. Fizemos isso até a tarde virar noite, enquanto falávamos de nossas decepções amorosas, de nossos primeiros empregos e de outras eventualidades. Chegou um momento em que atropelávamos algumas palavras devido ao excesso de álcool, mas isso não fazia diferença alguma, já que os três estavam na mesma situação. Qualquer clima estranho que se formara ao reencontrar meus dois amigos de infância, havia desaparecido. Ali estavam as versões mais sinceras de nós, sem filtro algum.

     — No abrigo em que ficamos, fui assediado por uma menina dois anos mais velha que eu. Ela disse ter taras por gente cega. Queria me pegar de jeito na lavanderia porque achava semelhante aquelas cenas de filmes de adolescentes rebeldes. Pensa na minha cara, com dezessete anos. Não sabia nem como era um órgão genital feminino! A unica coisa que eu domava bem era meu violino! 

     — Convenhamos, Brok, você ainda doma apenas seu violino.

     — Vai se ferrar, Feen, pelo menos não é eu que ligo para prostitutas toda semana.

     E rimos. Rimos tão alto que os vizinhos de cima e de baixo deviam estar se contorcendo em suas camas. 

     — Não posso zombar muito, porque também já passei por poucas e boas, inclusive na minha primeira vez! — comecei a historia ao notar que Feen ficara totalmente constrangido — foi na casa da minha tia. O rapaz entrou escondido e tropeçou na quina da mesa da sala. O pior é que tia Betty estava dormindo na cadeira a poucos centímetros de nós. 

     — Nossa, e fizeram ali mesmo? — questionou Feen com a lata de cerveja em ambas as mãos, mal sabia qual estava cheia e qual vazia.

     — No chão da sala! Os roncos dela abafavam os nossos gemidos. Ele também era virgem.

     — Que absurdo! Se atracaram na frente de uma senhora! — exclamou Brok ao dar mais um gole de seu vinho tinto — E se ela tivesse fingido estar dormindo? Porque não foram para o quarto?

     — Porque o garoto veria os retratos com o meu ex! — e mais gargalhadas ecoaram pelo apartamento. Desta vez, as lagrimas saíam de tantas risadas despreocupadas. Os assuntos decaíam de minuto a minuto como geralmente acontecia ao ser um adulto bêbado. No entanto, eramos adultos bêbados responsáveis, e diminuímos o ritmo da bebedeira.

     Brok nos trouxe alguns salgadinhos em um pote de plastico para cortar um pouco o efeito da felicidade instantânea. Logo percebemos que estávamos extrapolando demais, tanto nos assuntos quanto no horário. Já era tarde da noite, quando a chuva parara de cair e a ultima lata de cerveja, esvaziar.

     — Gente, eu preciso ir. Amanhã cedo irei visitar tia Betty no hospital — disse após o silencio repentino. 

      — Sem problemas. Eu vou leva-la até a sua casa — sugeriu Feen.

     — Estamos todos alcoolizados, acredito que não vai ser uma boa ideia dirigir a esta hora. Chamarei um táxi, não se preocupe.

     — Ela tem razão — concordou Brok se levantando — não quero ver ninguém preso ou pagando multa.

     — Certo, então te acompanharei até o hall — concluiu Feen, cambaleando um pouco para a porta da sala. Dei um ultimo abraço em Brok e segui o rapaz.

     Ao entrarmos no elevador, olhamos um para o outro e nos abraçamos também, satisfeitos pela noite divertida e pelo reencontro surpresa. O edifício inteiro entrara em um profundo remanso, moradores que acredito estarem aliviados pelo fim da reunião espalhafatosa do apartamento vinte e sete. Chegando no térreo, arrumei meus cabelos em um pequeno espelho do hall, enquanto Feen ajeitava seu moletom. 

     — Você fez a lição de casa que lhe pedi? —perguntou ao meu lado, encarando-me pelo espelho.

     — Fiz — respondi de imediato — fui a um campo, distante da cidade.

     — E o que sentiu quando foi para lá?

     — Fiquei bem por segundos, mas logo passou, acho que tive medo.

     — Medo do que? — questionou, apertando a vista.

     — Medo de envelhecer e não ter conhecido os prazeres simples que a vida proporciona. Não nota-los, sabe? — me virei para ele — Hoje, vendo você e Brok, aqui, juntos comigo, ainda pude sentir um pouco deste prazer, sinal de que ainda não é tarde para mim.

     — Nunca é tarde demais para nada, Pan — disse Feen colocando sua mão direita em minhas costas enquanto caminhávamos para a saída do hall — o medo é completamente comum, até mesmo em lugares bonitos como o que visitou, ele sempre irá nos acompanhar.

     — E isso é uma coisa boa? — peguntei.

     — Vai depender do modo em que você lida com ele. Seu único medo, Pandora, é você mesma. Foge do passado sempre que pode porque teme ser consumida por seus traumas. Veja bem, não estou no meu horário de trabalho, mas se importa se eu te der uma ultima lição de casa?

     — Tudo bem — concordei sem pensar no peso que suas próximas palavras me causariam.

     — Por acaso, sabe que destino teve a casa onde crescera antes de ir para o Insanity Asylum?

     — Pelo que li em um artigo, ela está abandonada. Acredito que ninguém alugaria uma residencia onde ocorreram tragedias — respondi receosa — mas, qual o motivo da pergunta?

     — O motivo é simples. Você vai eliminar seu maior medo, de uma vez por todas. Enfrentara você mesma, assim como já enfrentou antes.

     — Continuo sem entender — indaguei. 

     — Amanhã quero que retorne a esta casa, local onde eventualmente você matou seus pais. Reviva aquele momento, lembrando de todas as coisas ruins que poderiam ter acontecido.

     — O que?! Pensei que acreditava na minha inocência — ri de nervoso.

     — E eu acredito! E é por este exato motivo que enfrentaremos este desafio juntos. 

     — Juntos? E o que garante que isso me ajudará?

     — Não há garantias. Quando vencer esta etapa, poderemos conversar sobre o futuro que eu e Brok planejamos para nós, isto inclui você também.

     — Invadiremos o local?

     — Esse é o menor dos problemas — disse o rapaz olhando para a saída do prédio — te vejo amanhã, ao entardecer.

     Olhei uma ultima vez para ele em um tom evidente de desaprovação, mas meu silencio foi a resposta definitiva para um "sim, eu vou encarar isso". Pedi um táxi em meu celular, me despedi do rapaz e fui embora, pensativa e intrigada.

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