O Homem e a Caixa

By Avaladares

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Passaram-se dois anos desde que Daniel Larsson nasceu, não por que ainda seja um bebê, mas pelo fato de não l... More

O Homem e a Caixa
O Eneagrama
Prólogo
O Trem
A Cabana
A Caixa
Perfectione
A Segunda chance
"Somos o que lembramos de nós mesmos"
Utile
O Jantar
O Grupo
Pervenire
O Telefone
Individualisticus
A Personalidade
Observatore
As Dores de cabeça
O Inferno
Princeps
A Conexão
Certatim
O Homem
Pacificae
A Penitência dos Nove

Somnium

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By Avaladares

— O primeiro ato é acordar numa imensa escuridão, sabe como é a sensação de abrir os olhos e parecer que eles continuam fechados? De volta ao ventre da mãe talvez seja a melhor aproximação. Você sente-se leve e como se não existisse gravidade, a noção de espaço é distorcida, a grande culpa é do manto negro que te rodeia, é impossível dizer se é infinito ou trata-se apenas de um cômodo cúbico preto de três metros. Depois disto vem um dos maiores questionamentos da humanidade, se eu morrer, o que acontece a seguir? Para mim está muito claro o que acontece, aos poucos o manto negro foi se dissolvendo aos meus pés e criando formas, não havia luz e nem túneis, eu estava no inferno, mas este era diferente de todos aqueles retratados em livros e histórias, não tinha pessoas ardendo em fogo e nem criaturas vermelhas com chifres pontiagudos e tridentes. Era um quarto, que com o tempo aprendi ser uma prisão, era inclusive decorado e mobiliado, a sensação que fica é de que o inferno não é tão ruim assim. Não havia pessoas para me recepcionar ou torturar se for o caso, então é assim? Essa é minha casa pós morte?

— Acordar num lugar que você nunca esteve e não saber o que aconteceu é uma das sensações mais desconfortáveis que um ser humano pode passar, passei por isso alguma vezes em minha vida, confesso que mais do que gostaria, mas uma delas foi a pior de todas, despertar num lugar que não é na terra, visitar um plano onde você não pode mais voltar ou sair. Tornar-se só, o ser humano tem a incrível habilidade de se degradar mentalmente quando gasta longos períodos de tempo consigo mesmo, o contato social é mais importante do que ele acredita ser.

— Ao atravessar para o outro lado, encontrei-me em uma sala mobiliada com um gosto exótico, era comum o uso de estátuas de deuses animais, das mais diversas religiões para decoração. Quando se entra em um ambiente assim, a tendência das pessoas é olhar pela janela, esta pequena fresta pode lhe dizer onde você está e te mostrar que o mundo exterior ainda está lá caso precise. Aqui elas ficam a uma altura impossível de se alcançar, as paredes são altas, e as janelas em barras de metal grossa onde não se pode chegar. Após algumas horas, ou talvez sejam dias não sei, você consegue saber o local de todas as coisas, e depois de mais algum tempo passar a quebrar as que forem possíveis.

— Você tem que chegar muito próximo e não morrer, a volta foi reconfortante, porém, jamais volta-se do mesmo jeito que partiu. Ouvi uma voz, na verdade, conheci um cara que me ajudou neste processo, disse-me que eu poderia voltar se quisesse. Acho que a voz é um elemento crucial e comum em todas as experiências que li, ouvi ou presenciei. O nome, eles te chamam sempre pelo seu nome, isso significa que sabem quem você é, e o que faz ali. Mas o que mais me intriga é o que é aquele lugar? Será que todos irão para o seu cômodo no fim das contas? Meu sonho e objetivo em vida é descobrir isso, entretanto, o preço para tal pode custar muito caro, tentar reproduzir uma experiência desta pode fazer com que não volte mais para contar o que descobriu. Mas eu preciso tentar de alguma forma, você me entende não é Thalita?

A porção grande de batatas fritas acabara de chegar, recheadas com muito queijo, era ideal para matar a fome que eu estava. Eu conheci Thalita numa das sessões do grupo para pessoas que passaram pelas chamadas Experiências de Quase Morte ou EQM's, ela era a única que acreditava na minha versão de céu e inferno, todas as pessoas que conheci lá tiveram a mesma visão equivocada do pós vida.

Primeiro você sente uma liberdade e paz interior absoluta, vê seu corpo quando se projeta flutuando para fora dele, e no instante seguinte está num túnel, nossa, sempre tem que ter o túnel, ele é escuro nas suas laterais e no fim há uma forte luz, e quando você o cruza pode ver algum ente querido e uma voz o chama de volta para a vida. Não tenho nada contra as pessoas que tiveram esta experiência, apenas acredito numa outra forma de morrer.

— Deliciosa essa batata, não é? — Comentei devorando umas cinco ou seis de uma vez.

— Muito boa, o que você pretende fazer para voltar lá? — Perguntou Thalita pegando apenas uma batata e comendo em dando duas mordidas para termina-la.

— Ainda não sei, estou pensando no que fazer. Pensei em usar água.

— Água? — Ela ficou confusa, não era para menos, falava eu sobre tentativa de suicídio tranquilo comendo as batatas com queijo e falando de forma leviana.

— Sim, afogamento faz você perder rápido os sentidos, mas se tratado na hora certa, pode te trazer de volta sem maiores problemas.

— Não acha muito arriscado? — Questionou Thalita preocupada.

— E tem alguma outra maneira de simular uma morte que não seja arriscado? — Dei uma risada e quase me engasguei.

— Você precisa mesmo fazer isso? Quer dizer, no dia que morrer, saberá de qualquer jeito.

— Já está a algum tempo no grupo de EQM's, sabe que ninguém mais volta igual do outro lado.

— Sim, mas a maioria volta com mais vontade de viver e não de tentar se matar de novo. E se o que pensa não for a verdade, ficará desapontado? — Ela continuava preocupada, parara de comer neste momento.

— Eu tenho a certeza de como funciona do outro lado, eu pesquisei e encontrei evidências de que deva ser assim, e além disto eu vi com meus próprios olhos como é.

— Aonde pesquisou?

— Na Bíblia, Alcorão, Torá, Vedas e onde mais pudesse ser explicado.

— O que te faz ter certeza? Além da experiência.

— Veja um episódio curioso da Bíblia, no momento da crucificação de Jesus Cristo, há uma discussão entre os dois ladrões que estão sendo crucificados ao mesmo tempo. "Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Lucas 23:39-43). Sendo assim, toda pessoa é levada consciente para o seu destino até onde aguardará o julgamento final, ninguém permanece dormindo.

— E o que mais diverge da sua versão e dos demais que passaram pela experiência?

— Vamos falar do inferno, pessoas dão testemunhos dizendo que viram um imenso lago de fogo, homens e mulheres sendo queimadas e torturadas, peles sendo esfoladas, membros sendo arrancados e regenerados para serem puxados de novo, e tudo que for possível e impossível imaginar por um ser humano. Entretanto, para mim é apenas um cômodo vazio e frio, é um limbo onde você permanece até algo maior acontecer, onde a angústia, solidão e melancolia são seus mais íntimos amigos. Também acredito que o sofrimento lá seja maior, sabe como a mente humana pode consumir uma pessoa que não tem nada para fazer? Remoer durante anos os seus erros, a sua morte, a raiva e todos os sentimentos destrutíveis.

— Não queria que fizesse isto, mas também não posso impedi-lo. A propósito acho que nunca perguntei, o que ocasionou sua EQM — Enquanto ela perguntava, chega outra porção de batatinhas recheadas com muito queijo, ainda quente as pego e coloco na boca.

— Acidente de carro. Foi rápido, durando poucos minutos. Você pode me ajudar com o processo? Como será amador, precisará de uma segunda pessoa para me trazer de volta — Percebi o espanto dela ao receber esta proposta, já que deu sem perceber um breve salto para trás no banco da lanchonete.

— Acho perigoso isso, é uma responsabilidade muito grande. O que eu vou fazer se morrer em minhas mãos e eu não conseguir voltá-lo? — Perguntou Thalita aflita.

— Eu estou assumindo o risco de tudo isso, eu preciso disto, se morrer, morrerei feliz por estar tentando o que sempre busquei. Continuar sem buscar seria a verdadeira morte para mim.

— Você disse que na sua experiência foi para um lugar que jugou ser o inferno... — Ela deu uma pausa na fala.

— Também sei o risco deste caminho, é sem volta. Mas infelizmente para alguns, este é o destino final.

— Ainda tem tempo de reverter a situação, fique e ajude outras pessoas, escute mais casos, leia mais, há maneiras de fazer isso sem precisar voltar.

— Não há outras maneiras além desta, já estou decidido e preciso saber se pode me ajudar.

Ela deu um longo suspiro, Thalita sempre foi uma moça doce e meiga, mesmo antes de passar a conversarmos, tratava todas as pessoas com sutileza e carinho, nunca se importou em receber nada em troca, nem em ceder demais, tinha os cabelos ruivos e longos, olhos verdes estonteantes, e sardas espalhadas por todo o rosto, estatura baixa, o que a fazia sempre andar com calçados altos. Depois do acidente passou a mancar de uma das pernas, é difícil para ela eu sei, ainda mais por ser muito vaidosa. Foi atropelada em cima da calçada por um motorista bêbado.

Sua experiência de quase morte foi parecida com a minha, só que para o lado oposto. Ao invés de uma casa sufocante, ela foi para um lindo campo florido, existia uma grande árvore lá, cuja copa era volumosa e larga, não existia noite, nem dor ou tristeza. A harmonia era perfeita e a sensação de plenitude do espirito é absoluta, como eu queria que ela tivesse ficado por lá, voltar para este mundo podre e entristecedor não é o destino dela. Mesmo isso parecendo não a incomodar.

— Vou ajudá-lo com uma condição — Disse ela.

— Qual seria?

— Depois que conseguir, será a última vez.

— Está bem.

Naquele dia fui embora pensando, que o que prende alguém a este mundo são seus laços com outras pessoas, a dor de ir e jamais poder olhar no rosto de um ente querido deve ser a pior sensação que alguém pode experimentar, quem fica também sofre, não saber se um dia poderá reencontrar quem partiu, por isso chama de o fim, não há mais nada para fazer além disto.

No dia seguinte antes que Thalita chegasse preparei o que achei necessário, no fundo nem eu sabia direito o que estava fazendo, era loucura e tinha grande probabilidade de dar errado, mesmo assim queria tentar.

Enchi um barril com água, tinha o tamanho suficiente para caber uma pessoa encolhida lá dentro, a minha ideia era apenas colocar a cabeça e me segurar para manter-se submerso até perder os sentidos, neste instante ela me tiraria d'água, e se tudo desse certo, eu estaria passando por uma experiência de quase morte enquanto Thalita tentasse me reanimar, não existia uma maneira mais simples de fazer isso. Eu estava com medo, não poderia deixar que ela percebesse, mas mesmo para alguém que já aceitou seu destino e já viu o que o espera do outro lado, é difícil morrer.

Ela chegou por volta das sete horas da noite, trazia consigo uma maleta com kits de primeiros socorros, e alguns livros.

— Ainda quer mesmo fazer isso? — Perguntou ela apreensiva.

— Tão certo quanto a lua que ilumina toda noite nosso céu — Afirmei sorrindo, não queria deixar um clima pesado para ela.

— Esse barril com água é o que irá usar? — Ela continuava não concordando com aquilo.

— Sim, e deixei bem atrás de mim uma maca onde pode me deitar depois que perder os sentidos, não precisará fazer muita força, apenas me puxar e deixar que eu caia em cima dela.

— Li algumas coisas sofre salvamento de pessoas que se afogaram, mas quando saberei o momento certo de puxá-lo? — Ela se sentia insegura e estava roendo as unhas sem que percebesse que estivesse fazendo aquilo.

— Acredito que eu pararei de me mexer e apagarei, neste instante você entra.

— Você sabe que se mesmo que por pouco tempo, o oxigênio parar de ir para o seu cérebro, poderá ter problemas graves?

— Nós dois conhecemos os riscos Thalita, e não quero que se sinta pressionada, sei que vai fazer o melhor, se não der certo, a culpa jamais será sua. Podemos começar?

Ela veio até mim, me deu um abraço e em seguida um breve beijo.

— Boa sorte. Essas foram as últimas palavras dela.

Fui até o barril, coloquei minhas mãos nas bordas e não pensei em mais nada, submergir minha cabeça e aguardei, os primeiros segundos foram tranquilos, o som da pressão d'água nos ouvidos anestesiava o medo, após algum tempo com a necessidade de oxigênio aumentando, a situação tornou-se mais sufocante, bolhas de ar começavam a se formar dentro e eu me contorcia para manter-se firme, é uma ação voluntária do corpo tentar tirar-se do perigo, mas agora não era só por mim, eu tinha que provar isto para Thalita também, estava sendo egoísta pensando que ela não sofrera com tamanha pressão.

Fui perdendo as forças e sentindo que minha mente começara a apagar, a sensação é quase como se desligasse bruscamente uma máquina atuando a pleno vapor em uma usina.

Acordei cuspindo água para fora do pulmão, mais algumas tossidas e vejo o rosto de Thalita que está ajoelhada ao meu lado olhando assustada para mim.

— Graças a Deus que você está bem, por um minuto pensei que você fosse... — Ela não conseguia mais falar.

Ela começou a chorar, soluçava enquanto dava tapas no meu tórax, era visível a sua aflição, mas no fim não consegui nada com aquilo.

— Não consegui — Disse envergonhado.

— Não vamos mais fazer isto, não importa o que você queira ou precise para sua vida, temos que parar com esta ideia idiota — Ela falou enquanto tentava parar de chorar.

— Mas você concordou em tentarmos até dar certo e depois pararmos.

— Eu sei, mas não vou mais fazer isso, é loucura.

— Você não entende Thalita, não posso desistir agora.

— Você não tem que provar nada para ninguém!

— Tenho que provar para mim mesmo.

— Por que?

— Por que não tenho certeza se é verdade que vi tudo isso.

— Como assim? O que está falando? — Suas lágrimas pararam de escorrer.

— Não sei se tive uma experiência de quase morte igual a você e as demais pessoas do grupo. Tenho graves problemas de memória, as vezes as imagens de fatos se embaralham na minha cabeça e perco a ideia do que é real e do que eu criei em minha mente. Sabe o que é duvidar de si mesmo por toda a vida? Não ter certeza do que é ou o que fez ao acordar de manhã e olhar no espelho? Estou mais do que tentando um capricho para provar algo a alguém, é para saber que posso confiar nas minhas lembranças. Penso que se um dia conseguir ter uma EQM, ela será parecida com a que criei no meu subconsciente. Com isso, saberei que tudo que penso é de verdade minha vida.

— Eu não sabia disto...

— Ninguém sabia, você é a primeira que conto. Me sinto mal por não ter certeza, ganhei dinheiro dando entrevistas sobre a EQM, queria que as pessoas acreditassem na minha visão de inferno, mas nem eu próprio sei a verdade.

— Mas eu tive, e posso comprovar a sua teoria.

— Não é a mesma coisa, não quero que sofra por fazer isto. Se não quiser continuar eu irei entender.

— Você não irá parar até conseguir imagino.

— Não.

— Vamos, quer tentar de novo agora?

Olhei para ela, estava determinada de novo, mesmo que cansada e assustada. Colocou a mão sobre o meu ombro e abaixou a cabeça, eu estava sentado na maca. Ela não iria dizer mais nada, não precisava, eu entendi o que quis dizer Thalita, vou conseguir desta vez.

Depois desta segunda tentativa, existiram sucessivas outras. Fracassos atrás de fracassos, ela me ressuscitava todas as vezes, como um anjo da guarda me protegendo e impedindo que vá de uma vez para o inferno. Passaram-se dias e não obtive se quer uma fagulha do que buscava. Comecei a perder as esperanças, pensei em mudar o método, a palavra desistir passou pela minha cabeça diversas vezes. Já não tinha mais forças mentais e físicas para continuar.

— Não iremos tentar mais hoje Thalita — Falei para ela depois de nem sei quantas falhas.

— Por que?

— É impossível, não é deste jeito que funciona. Acho que devo aceitar o destino que a vida me deu e esperar a morte para saber a verdade.

— Não podemos parar agora depois de tantas tentativas, seria em vão todo o seu esforço. Acho que pegamos o jeito.

— Não conseguiremos mesmo que tentássemos mais uma centena de vezes.

— Tenho uma ideia, e se eu tentasse? — Disse ela numa última tentativa de me dar esperanças, nesta altura ela também já estava toda molhada.

— O que? Está louca? Jamais deixaria que fizesse isso — Falei bravo.

— Depois de todas estas vezes, vi que feito da forma certa, pode ser seguro. E confio e acredito em você.

— Ver você sofrer por causa disto me destruiria por dentro. E não conseguiríamos provar o que eu queria para mim mesmo.

— Deixe-me tentar? Façamos apenas uma vez, se eu não conseguir ambos paramos e procuramos outras formas de ajuda para sua memória, pode ser?

Ela queria mostrar para mim que o problema não era eu, queria me deixar mais confortável com todos os fracassos que tive até agora. Ela era incrível, seu perfil altruísta era verdadeiro e sincero, eu não era merecedor de tamanha pessoa.

— Apenas uma vez, ok? A última para nós dois — Aceitei sua proposta.

Thalita sorriu e ergueu os braços, como se estivesse alongando antes de iniciar um exercício. A blusinha subiu e mostrou sua barriga até a altura do umbigo, ela num reflexo a puxou para baixo de novo.

— Você me segura? Tenho medo de na hora que faltar ar, queira retirar a cabeça.

Balancei a cabeça em sinal de positivo, me aproximei dela e retribui o gesto que fizera pela primeira vez, com um abraço e um breve beijo. Desta vez ela me puxou de novo para perto dela e prolongou o beijo.

— Estou pronta! — Disse ela destemida.

— Boa sorte, a vejo daqui a pouco — Falei retribuindo suas palavras.

Ela afundou a cabeça dentro do barril com água, eu coloquei uma das palmas das mãos em sua nuca e a outra nas costas segurando para mantê-la firme. Não demorou muito até que começasse a se bater, por puro reflexo ameacei tirá-la de dentro, quando com a mão direita ela segurou meu braço firme, como se dissesse, não vamos desistir. Após alguns espasmos ela adormeceu, não sabia se aquele era o momento exato, acho que demorei demais até perceber que aquela era a hora para remove-la.

A tirei e deitei na maca, verifiquei se havia respiração e pulso, comecei as contrações pulmonares, contando sequencial até cem, mantendo o ritmo do movimento das mãos. Ela não reagia, comecei a ficar desesperado, tentei soprar ar dentro da boca dela, ainda não dava sinal de vida.

O medo se distribuiu por todo o meu corpo, já não sabia mais o que estava fazendo, hora tentava a ressurreição com as contrações, hora soprava ar, e noutras tentava qualquer coisa que fizesse sentido para salvá-la. Depois de alguns minutos sem pulsação e sem respirar, percebi que o pior tinha acontecido. Eu matara Thalita com minhas próprias mãos. Fora incapaz de salvar a única pessoa que se importou o suficiente para dar sua vida acreditando em mim.

Não pude me conter, lágrimas começaram a correr dos meus olhos, o que eu fiz? Aquilo era demais para minha humilde existência, jamais poderei vê-la de novo, mesmo que morra, iremos para lugares diferentes, a morte dela perpetuará em minha alma.

Me levantei e andei em direção ao barril d'água, mergulhei inteiro dentro dele, me encolhi na posição de um feto e fiquei por completo submerso.

A água gelada cobria todo meu corpo, fechando os olhos ainda era possível sentir o perfume de Thalita lá dentro. Aquela fora a minha despedida dela, agora ela estava num lugar muito melhor, aonde será feliz para sempre e não terá mais que sofrer.

— Espera, eu conheço este lugar, essa casa, essa janela alta de ferro, os deuses animais e essa voz... — Fui interrompido por alguém dizendo algo.

— Você ainda terá a chance de uma vez mais ver sua amada, espero que desta vez escolha certo.

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