Era sempre a mesma coisa quando Camila Cabello resolvia dar uma festa.
Minhas amigas e eu éramos convidadas, mas eu sempre conseguia arranjar uma bela desculpa para não ir.
Ainda lembro-me da primeira vez em que isso aconteceu. Eu havia ligado para a polícia por conta do som alto, e por aqueles 5 minutos ao telefone, eu me esqueci de que Alejandro Cabello era o tenente da Florida. Privilégios Cabello.
Então, toda vez que isso acontecia eu saía de casa e ia até o Mundo Proibido. Um fliperama legal à alguns quarteirões da minha casa, e passava a noite jogando até dar a hora de fechar.
O inferno eram as madrugadas, eu não conseguia pegar no sono, e vez ou outra algum coleguinha bêbado invadia o meu quintal.
Minha mãe não se incomodava muito com isso porque ela passava a maioria das noites fora de casa, trabalhando em sua empresa de advocacia. Depois que meus pais se divorciaram, o papai vendeu sua parte da empresa para que não tivessem de se encarar todos os dias.
Aquilo sim era uma relação de puro ódio.
— Lauren! — Dinah estalou os dedos em frente ao meu rosto.
— An? — Virei-me para ela, que me encarava usando um short jeans e uma blusa branca cheia de tules.
Alexa estava logo atrás dela, fazendo uma pose ridícula enquanto vestia jeans preto e camiseta branca, e por cima uma jaqueta jeans clara.
— Como estamos? — Alexa disse sorrindo.
Estávamos presas no meu quarto por cerca de duas horas e meia enquanto elas decidiam o que vestir. Era um tanto quanto difícil opinar enquanto elas trocavam de roupa bem na minha frente. Não pelo fato de ser homossexual, mas sim pelo fato de ter um pênis!
E bem, Alexa era a garota dos meus sonhos.
— Ótimas. — Respondo por fim, voltando a encarar a janela.
— Ah qual é! — Dinah me lança uma almofada.
— Você é uma péssima formadora de opinião, L.
Dou de ombros e encaro a calçada. O carro de Harry está estacionado no gramado da família Cabello, e eu me pergunto o quanto o senhor Alejandro surtaria se visse aquilo.
Sinto mãos quentes em meu rosto e minha cabeça gira. Alexa me encara com seus olhos castanhos escuros.
— Você podia vir com a gente. — Ela diz calmamente.
Sinto minha face enrubescer enquanto ela está perigosamente perto demais.
— An...
Eu só quero que ela se afaste o mais depressa possível para que eu possa voltar a respirar.
— Tu... Tudo bem.
Alexa arregala os olhos e lança seu corpo contra o meu.
— Isso!!! - Ela praticamente grita.
A porta do quarto escancara e Dinah aparece arqueando as sobrancelhas.
— Vocês duas finalmente estão se pegando? — Ela umedece os lábios com um sorriso maldoso.
— O QUÊ? — Minha voz soa esganiçada e eu me levanto rapidamente.
Alexa vem atrás de mim e me abraça pelos ombros.
— Para de graça, Dinah. A Laur é minha irmãzinha.
Outch!
Dinah prende o riso ao analisar minha expressão e espalma as mãos no ar.
— Convenci a incrível Jauregui a ir à festa conosco. — Alexa diz e corre até o meu guarda-roupa.
Dinah arregala os olhos para mim e sussurra:
— Você é mesmo uma grande trouxa por ela. — E ri baixinho.
Acabei vestida em uma calça jeans larga e camiseta do Star Wars, e tênis de lona vermelho, caminhando miseravelmente pelo gramado, enquanto minhas amigas sussurravam coisas atrás de mim. Era de se admirar a alegria delas.
Bom, eu sabia como aquilo acabaria. Dinah se pegando com alguém, Alexa cantando alguma garota, e eu sentada no sofá conversando com alguém que não daria a mínima para a minha situação.
Eu havia ido poucas vezes à casa dos Cabello quando era criança, e me lembrava de ser um lugar grande e aconchegante, mas agora parecia pequena para a quantidade de gente.
— Eu vou procurar a Camila. — Dinah berrou enquanto saía pela casa.
Ótimo, eu já estava começando a ficar sozinha. Alexa e eu caminhamos para o outro lado, por uma porta de correr até o quintal, onde algumas pessoas jogavam cartas, bebiam e usavam a piscina.
— Vamos dançar, L. — Alexa me pegou pela mão.
— Não, não, não. — Neguei rapidamente sentindo meu coração acelerar, eu não podia fazer aquilo.
— Qual é? As garotas adoram garotas que sabem dançar. — Ela arqueou a sobrancelha com um sorriso malicioso.
Abaixei a cabeça sentindo minhas bochechas esquentarem pela segunda vez em um tempo de meia hora. Dinah estava completamente certa, eu era uma trouxa.
— Eu não sei dançar, Lex. — Disse calmamente.
Ela continuou sorrindo e me levou para o meio das pessoas segurando a minha mão enquanto Charlie XCX tocava. Quando eu me imaginaria naquela situação?
Alexa começou a movimentar-se ao meu redor fazendo caretas, enquanto eu sorria me sentindo desconfortável. Algumas pessoas me olhavam atravessando, notando o quanto eu não fazia parte daquele cenário.
— Oi Alexa.
Duas garotas loiras e altas apareceram atrás da minha amiga, elas davam duas de mim, facilmente. Uma com cabelo curto, atrás da orelha e olhos verdes, e outra com o cabelo nos olhos castanhos, elas sorriam.
Alexa sorriu para mim arqueando a sobrancelha e virou-se. Revirei os olhos imaginando o que viria a seguir.
— Olá meninas.
E o resto você já pode imaginar.
[...]
Estava sentada no sofá dos Cabello, era branco e largo, muito confortável. Conversava aos gritos com um garoto que provavelmente estava muito chapado para dizer mais de três palavras de uma vez.
Alexa estava na poltrona azul à minha frente, a garota loira de cabelo curto estava pendurada em seu pescoço enquanto se beijavam possessivamente. Ela estava ocupada demais para de lembrar que eu estava ali.
Vez ou outra eu via Dinah dançando com alguma garota de sua panelinha.
— Ei, você quer ir lá fora? — O menino perguntou, chamava-se Travis e tinha cabelo cacheado no ombro.
Semicerrei os olhos por trás dos óculos.
— Claro. - Disse lentamente e me levantei seguindo-o bem de perto.
Paramos no jardim atrás da piscina, onde mais algumas pessoas estavam sentadas em uma roda onde uma garota com dreadlocks tocava um violão e cantava.
— Senta aí garota. — Travis disse rindo.
Sentei-me e comecei a imaginar qual era o real motivo por eu ter aceitado aquilo. Eu sequer gostava de festas, e com certeza não fazia a linha hippie. E certamente não queria conhecer a maconha no ensino médio.
— Acho que eu vou ao banheiro, cara. - Disse e dei um soquinho no braço de Travis. Ele sorriu e balançou a cabeça.
Sacudi o jeans e zarpei logo daquele lugar. Entrei na casa novamente e caminhei até o banheiro no andar de cima, tinha que estar vazio.
Pisei no corredor e fiquei completamente surpresa ao ver o quanto estava vazio, tinha duas garotas sentadas no chão, e as reconheci como sendo duas amigas de Dinah. Empurrei a porta e entrei no banheiro.
Que merda eu estava fazendo naquele lugar? Eu nem gostava de festas.
Respirei fundo e abaixei as calças.
— Cacete!
Gelei. Arregalei os olhos e olhei para o lado, onde a porta estava aberta. Quem em sã consciência tem um banheiro de duas entradas em casa?
Subi a calça rapidamente, já sentindo a face enrubescer.
— Ca... Ca... - Tentei dizer. - Cacete. Que porra você tá fazendo aqui?
Certo, não era isso o que eu queria dizer.
— Merda, eu devo estar muito louca!
Camila Cabello me encarava com a boca aberta, mais chocada do que eu provavelmente.
— Eu... Eu tenho que ir... - Disse e saí correndo.
Atravessei a porta o mais rápido que pude e em três segundos, ou menos, já estava em meu quarto imaginando algumas desculpas para dar à minha incrível vizinha no dia seguinte. Não que eu devesse alguma explicação.
Talvez eu pudesse mudar de cidade... Ou me jogar da janela.
— Que droga! - Rosnei para mim mesma.
Fechei as janelas do quarto rapidamente e tirei as roupas. Joguei-me na cama e dormi por algumas horas.