Popstar

By wolfistar

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Aquela em que James Potter é integrante de uma boyband, todo mundo na internet jura que wolfstar é real, Pete... More

Disclaimer
Prólogo
I - Ressaca, popstars e destino cruel.
III - Déjà-vu.
IV - But I'm so caught up in drama!
V - Real Friends.
VI - Nothing good starts in a getaway car.
VII - I'll go wherever you are.
VIII - I will let you down, let me go.
IX - Baby, can we dance through an avalanche?

II - The Lily's Horror Show.

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By wolfistar

[DEDOSDEMEL | QUARTA-FEIRA – 04 DE OUTUBRO, 2017]

— E então eles decidiram que eu deveria ser transferida para Durmnstrang! — Mary disse com o tom de voz neutro e baixo, não querendo atrair ainda mais a atenção dos outros clientes do pequeno café em que estavam, embora Remus pudesse ver o desgosto estampado em seus olhos. — Quero dizer, eu não posso mais escolher o que eu quero ou não fazer? Eu sou o quê? Uma criança de cinco anos? Ou pior: uma marionete?

— Sinto muito, Mary. Deus, eu sinto tanto! — Remus estendeu a mão pela mesa até a da garota, apertando-a levemente para confortá-la. A verdade é que, por mais que ele soubesse que não havia nada que pudesse fazer quanto àquilo, Remus ainda se sentia extremamente culpado. — Eles provavelmente fizeram isso porque acabamos de voltar do tour e vamos ficar direto em Londres para gravar o novo álbum, mas eu posso tentar falar com Lucius para-

— Não, Remie, tudo bem, ok? — Ela o interrompeu. — Não é culpa sua- bem, não exatamente e, honestamente, não há muito que você possa fazer para que eles mudem de ideia. — Os ombros de Mary caíram e ela suspirou. — Contudo, não é tão ruim, certo? Quero dizer, Durmnstrang era minha segunda opção caso não entrasse em Oxford. — Um sorriso forçado apareceu em seus lábios, fraco demais para parecer convincente.

Remus se odiou um pouco mais por conta daquilo e então eles caíram em um silêncio tenso, ambos imersos em pensamentos, tentando envolver suas cabeças em toda a bagunça que suas vidas haviam se tornado.

Deus, era só... demais.

Toda aquela pressão e estresse era simplesmente demais para que qualquer um deles pudesse aguentar sem acabar estourando. E, bem, percebendo a aparência frustrada de Mary, não parecia que demoraria muito para que ela caísse pela borda.

Não que ele estivesse muito diferente, é claro.

Depois do que pareceu ser uma eternidade, Remus soltou um longo suspiro, franzindo o cenho quando algo acendeu em sua mente, fazendo com que rompesse o silêncio:

— Mas... o semestre começou há um mês! Como diabos eles conseguiram te transferir agora?

Mary simplesmente rolou os olhos para ele, como se fosse uma pergunta estúpida; o que, ele percebeu, era.

— Honestamente, Remus, como você acha? Eles são da Riddle Management, eles têm dinheiro escorrendo pelos poros, eles podem fazer o que quiserem e saírem ilesos. Provavelmente compraram a reitoria ou qualquer coisa assim, mas eu não tenho como saber, tenho? — Dando de ombros, ela puxou seu copo cheio de Caramel Macchiato e tomou um longo gole, como se as palavras fossem amargas em sua boca (o que provavelmente era verdadeiro). — De qualquer forma — ela prosseguiu após mais alguns segundos silenciosos — eu não tenho uma palavra a dizer sobre isso, tampouco você, mesmo que a minha grade curricular esteja totalmente fodida depois dessa mudança. Tenho algumas disciplinas com o pessoal do terceiro e do quarto semestre de Direito e provavelmente vou ter de me dividir em duas para conseguir acompanhar e me formar a tempo, mas quem se importa com a minha vida acadêmica contanto que os tabloides sejam alimentados, não é?

— Merda. — Foi tudo o que ele conseguiu proferir, puxando o próprio copo de café preto e sem açúcar até sua boca, terminando com o líquido, deixando-o escaldar sua traqueia, querendo que ele queimasse bem mais do que isso.

Mary assentiu em concordância e então se empertigou.

— Olha, você é muito importante para mim, você sabe disso, não sabe? — Ela começou, encarando-o enquanto esperava sua resposta. Remus assentiu, concordando. — Eu amo você. — Mary esticou a mão sobre a mesa, exatamente como ele havia feito, apertando seu braço com carinho antes de suspirar e continuar: — Então, Remie, por favor, não foda com isso, ok? Eu- olha, eu sei que estamos juntos há três anos e que às vezes tudo parece difícil, mas- não foda isso, por favor. Estou cansada de toda essa especulação e merda. Parece que não consigo descansar sem que uma nova notícia seja publicada falando sobre nosso relacionamento e-

— Eu sei. Desculpe. — Remus disse e então colocou a cabeça entre as mãos, respirando com dificuldade enquanto sentia seu interior estremecer. — Eu odeio isso, Mary. Odeio tanto quanto você, você sabe disso. É só que... não há outra opção, não é? Nós assinamos aquele contrato, lembra? Você e eu e agora-

— Agora nós temos de engolir toda a merda que eles quiserem porque fomos dois burros, eu sei. — Seu tom de voz era triste e Remus se odiava por ouvi-la daquele jeito. — Certo, vamos lá, levante esse rosto e sorria. Os paparazzi vão ter manchetes divertidas amanhã se você continuar todo infeliz enquanto está em um encontro comigo e nós definitivamente não precisamos disso.

Com um gemido, Remus ergueu a cabeça, encarando-a por alguns instantes antes de sorrir brilhantemente.

Mary sorriu de volta.

— Bem, depois de toda essa merda, suponho que possamos tentar uma carreira em Hollywood, hm? — Ela disse, sarcasmo escorrendo de suas palavras.

Pela primeira vez durante a última hora, Remus riu.

X—X

[APARTAMENTO UNIVERSITÁRIO 512 | QUINTA-FEIRA – 05 DE OUTUBRO, 2017]

— Frank, pare de rir! — Lily gemeu no telefone, rogando pragas mentais para o bastardo do outro lado da linha que parecia achar muita graça em toda a situação. Só que não havia graça nenhuma, pelo amor de Deus! — Você não ligou desde Domingo! Sequer mandou mensagens! Você não tem nenhum direito de rir da minha desgraça! Você perdeu qualquer benefício de tirar uma da minha cara ao agir como um amigo de merda, Frank Longbottom!

— Ei! — O garoto finalmente parou de rir e seu tom, embora ainda trêmulo, parecia mais sério. — Não seja tão dramática, Lil’! Você sabe que eu estive ocupado-

— Você também não tem direito de estar ocupado demais para falar comigo, querido. Depois de todos esses anos você já deveria estar ciente disso! — Ela bufou e era quase como se ela pudesse ver o garoto rolando os olhos através de todos os milhares de quilômetros oceânicos que os separavam. — E não role os olhos para mim!

— Ok, desculpe, majestade! Prometo entrar em contato com maior frequência, tudo bem?

— Espero que sim, Longbottom, ou você nem precisa mais ligar! — Lily resmungou, mandona, apenas porque podia.

— Pelo amor de Deus, Lily! — Frank gemeu, o som de movimento do outro lado da linha fazendo-o soar levemente abafado. — Olha, falta meia hora para eu entrar no palco, então por que você não para de drama e me fala sobre o término da Alice, hm?

Foi a vez de Lily rolar os olhos.

— Frank, eu estou no meio de uma situação aqui e você quer que eu fale sobre o término do casal mais sem graça de todos os tempos? Pelo amor de Deus, Longbottom, preste atenção!

— Mas, Lily-

— Não, não! Ninguém mandou não ligar antes, Frank! A culpa é toda sua se você decidiu deixar a fama subir à cabeça e esqueceu dos amigos que têm informações cruciais para compartilhar, portanto-

— Não seja ridícula, e-

— -portanto se você não está sabendo sobre o que aconteceu com a Alice o problema é todo seu, mas-

— Você podia ter mandado uma mensagem ou-

— -MAS agora eu estou nessa merda de situação e eu preciso da sua ajuda, então é melhor você começar a agir como o melhor amigo que você diz ser, senão nunca saberá o que diabos aconteceu com a Alice e o Caradoc! Eu juro por Deus, Frank, eu vou-

Frank soltou mais um gemido sofrido e uma saraivada de xingamentos – interrompendo os resmungos de Lily – antes de suspirar.

— Ótimo. — Seu tom indicava a desistência, o que fez com que ela sorrisse, vitoriosa.

— Ótimo! — Ela concordou e então foi sua vez de gemer. — Na verdade, não há nada ótimo em toda essa merda. Frank! O que eu vou fazer?

— Primeiro você precisa se acalmar e- ei! A Marlene por acaso sabe sobre isso? Porque eu imaginei que eu já teria sido convidado para o funeral dela caso você tivesse contado...

— É claro que não, Frank. — Lily sentiu as bochechas esquentarem e o peito apertar com culpa ao pensar na melhor amiga e no fato de que não havia sido capaz de contar para ela sobre quem iria entrevistar na próxima sexta-feira.

O problema era que, depois da reação nada amigável de Marley quando viu a foto de Lily, ela imaginou que jogar outra bomba tão cedo sobre a garota não seria saudável. Para Lily, é claro.

Frank riu um pouco antes de prosseguir.

— Eu imaginei. Mas, de qualquer forma, você está, como sempre, exagerando, Lil’! É só uma entrevista, você não vai morrer!

— E se ele me reconhecer, Frank? E se ele lembrar? Ele simplesmente não pode lembrar de mim! Isso vai ser a minha morte, Frank! No meu túmulo estará estampado o título daquela maldita matéria escrita pela Skeeter e tudo porque eu tive um momento de fraqueza bêbada! — Lily passou as mãos pelos cabelos, nervosa.

A verdade era que ela estava aterrorizada; ficava trêmula só de pensar na entrevista que faria na próxima semana e no fato de que ela poderia ser reconhecida pelo cara de quem, supostamente, ela era o novo “interesse romântico”.

Certo, tudo bem que James Potter poderia não querer qualquer contato com ela – o que era bastante quase-cem-por-cento-de-certeza provável –, mas... e se outras pessoas descobrissem? E se a informação vazasse para todas aquelas revistas e ela fosse jogada no oceano de tubarões que eram os tabloides sem poder fazer nada a não ser se afogar?

Era só que... ela não estava preparada, tudo bem? A vida dela estava boa o suficiente sem nenhum popstar – além de Frank e... bem — sabendo sobre sua existência. Lily definitivamente não precisava de um novo drama romântico em sua vida.

Não depois do último.

Céus! Ela ainda estava se juntando, organizando as peças de si mesma, tentando se descobrir e descobrir o que fazer a seguir sem que mais alguma bomba fosse jogada sobre ela.

Ela definitivamente não precisava ser reconhecida na mídia por conta de um caso bêbado de uma noite – e haviam sido apenas beijos, pelo amor de Deus! Se não houvessem fotos em várias revistas, Lily sequer saberia o que havia feito!

Então, sim, Lily estava – total e completamente – surtando e nada que Frank havia dito fizera qualquer mossa em sua agitação.

— Lil’... — O tom de voz de Frank mudou drasticamente de frustrado para eu-sou-o-seu-melhor-amigo-e-quero-muito-te-abraçar-até-tudo-melhorar, porque ele era, obviamente, o melhor amigo do mundo e conhecia Lily bem o suficiente para saber que ela estava enlouquecendo. Deus, Lily realmente sentia falta dele nessas horas. — Olha, você precisa se acalmar, ok, amor? Vai ficar tudo bem, você não precisa surtar! Lembra o que você sempre falou sobre o The Aurores Show?

— É muito fácil me dizer para não surtar, Frank, mas-

— Lily, o que você sempre me falou sobre o TAS? — Frank insistiu, ignorando sua retórica.

Lily suspirou, mas respondeu:

— Que eu sempre quis apresentar um programa como aquele, porque achava genial.

— Exatamente! Lily, sério, é a sua chance! Você vai lá e vai apresentar esse programa e você vai arrasar nisso, assim como você sempre fazE daí que você vai ter que entrevistar o The Marauders? Quero dizer, ok, tudo bem, eu entendo que é complicado pelo fato de você ter beijado um deles, e eu ainda não te perdoei por descobrir isso através do Profeta Diário e-

— FRANK! Você prometeu nunca mais falar sobre você-sabe-qual revista! — Lily bufou, fazendo-o rir.

— Certo, tudo bem! De qualquer forma, embora seja uma situação “difícil”, ainda é uma grande coisa, Lily! Quero dizer, eles são a maior boyband do mundo, estão em todas as rádios e programas! Muitas pessoas, do mundo inteiro, vão estar ouvindo essa entrevista! É a sua chance de mostrar do que é capaz!

— Obrigada, Frank, agora estou me sentindo muito menos nervosa ao saber que estarei passando vergonha internacionalmente. — Lily retrucou, sarcástica, enquanto roía suas unhas em um hábito muito ruim que ela desenvolvera após passar a maior parte de sua vida tendo surtos de ansiedade.

— Lil’, por favor, você é ótima no seu trabalho e sabe disso. Apenas vá lá e faça o que você faz de melhor: seja incrível.

Se Lily já não amasse Frank com todo o seu ser, ela teria começado naquele instante.

— Argh, eu te odeio! — Ela bufou, sentindo os olhos marejarem levemente enquanto a saudade e o amor apertavam seu peito com força. — Mas você é incrível também.

Frank murmurou um “awn”, contudo, antes que pudesse desenvolver uma resposta (que provavelmente deixaria Lily aos prantos), alguém o interrompeu – o som abafado indicando que o telefone fora arrancado de sua mão.

— Olá, ruiva, tudo bem? — Uma voz grossa e não-Frank a cumprimentou. — Eu realmente amo essa amizade e codependência de vocês, embora eu tenha dito inúmeras vezes que não é saudável, mas o Frank precisa estar no palco agora, então eu vou desligar, ok?

— Hey, Kingsley! É muito bom falar com você também! — Lily resmungou, sorrindo levemente ao ouvir o bufo do assistente pessoal de Frank. — Diga ao Frank que desejo sorte no show!

— Direi, embora ele claramente não precise. — Kingsley retrucou, murmurando algo como “quem precisa de sorte sou eu” que a fez rolar os olhos. — Bem, bem, foi bom falar com você. Fique bem, sim?

— Você também. — E então a ligação foi cortada porque Kingsley claramente não sabia ser educado ou conversacional... embora, se Lily pensasse bem, houvera uma grande melhora em tudo aquilo se fosse comparar com o início de seu relacionamento com Kingsley, quando Frank era um novato em toda aquela coisa de popstar e Lily passava a maior parte do tempo com ele entre os shows e entrevistas, acalmando-o e fazendo-o rir, tentando distraí-lo da pressão da fama, muito para o desgosto de Kingsley que tentava mantê-lo focado no trabalho e ignorava Lily pela maior parte do tempo, referindo-se a ela como “aquela ali” ou “aquela lá”.

Agora ela era a “ruiva” – ela duvidava que ele lembrasse do nome dela ou, se ele fazia, claramente não se importava em utilizar, mas... pequenas vitórias e tudo o mais.

Com um suspiro, Lily finalmente soltou o celular em cima da cama, atirando-se logo ao seu lado com um “oof”, mergulhando sob os travesseiros enquanto tentava ficar confortável.

Certo, Frank dissera que ela precisava se acalmar, que ela estava exagerando e, bem... Lily era conhecida por ser a rainha do drama e tudo o mais, portanto ele claramente tinha um ponto. Um ponto realmente, realmente pontual. Mas, mas-

— Mas como? — Ela gemeu a pergunta para o quarto vazio, encarando as paredes com força enquanto tentava encontrar uma solução nos revestimentos e papéis de parede.

Obviamente, ela não achou.

Soltando um grito estrangulado, Lily enterrou a cabeça nos travesseiros e fechou os olhos, rogando aos deuses por piedade ao fazer a passagem para o outro lado.

Afinal de contas, Lily claramente estava a apenas uma semana de distância do seu julgamento final.

A apenas uma semana antes do seu triste fim.

Porque, obviamente, assim que seus olhos pousassem em James Potter e o brilho de reconhecimento aparecesse no rosto do garoto, ela morreria.

X—X

 [HOGWARTS RADIO STUDIO | SEGUNDA-FEIRA – 09 DE OUTUBRO, 2017]

— Boa noite, ouvintes! Estamos iniciando mais um The Aurores Show e, aqui comigo, temos a nada ilustre... Lily Evans! — Moody bradou no microfone, piscando para Lily, indicando que ela deveria se apresentar.

— Heeeey! — Lily disse, sentindo o estômago estremecer de nervosismo e entusiasmo (ela não conseguia decidir qual era o mais forte). — Tudo bem?

— Tudo ótimo, Lily. Grande, grande noite, não acha? — Moody assentiu, sua voz raspada soando calorosa enquanto sorria para ela. — De qualquer forma, para vocês que não estão entendendo o que diabos está acontecendo aqui, Evans estará ocupando meu cargo por algum tempo-

— Apenas essa semana. — Ela o interrompeu, franzindo o cenho para ele. Lily realmente não gostava quando Moody falava como se estivesse prestes a ir embora, o que era bastante recorrente, principalmente quando ele estava de mau humor, o que também era bastante recorrente.

— Por algum tempo. — Moody bradou, ignorando-a completamente. — Como sabem, vou ver a Dra. Pomfrey na sexta e, sabendo como aquela mulher adora me mandar de “repouso” e me chamar de inútil, — ele franziu o cenho em desgosto — serei obrigado a deixar meu estimado programa com essa inexperiente estagiária sem graça. Peço desculpas antecipadamente, realmente, nem todos foram agraciados com o meu talento em entretenimento-

— E nem com a sua rabugice. — Lily bufou sobre a respiração, alto o suficiente para que fosse pego por seu microfone. Do outro lado do vidro, Dorcas e Amos riam, divertidos enquanto McGonagall rolava os olhos. Moody grunhiu. — Embora eu precise te corrigir: eu não sou estagiária, estou há quase dois anos na HRS. E tampouco sou “sem graça”.

— Modesta, heim, Evans? — O homem arqueou uma sobrancelha para ela, fazendo-a rir.

— Estou apenas repetindo o que os ouvintes do Show do Chá da Manhã costumam dizer, Moody. — Ela retrucou, sorrindo ainda mais ao vê-lo revirando os olhos.

— Eh, e agora você está usando o meu programa para promover aquela porcaria que você toca todas as manhãs? Honestamente, Evans, que vergonha.

— Se não estou enganada, Moody, você é o meu ouvinte mais assíduo. — Lily retrucou sem pestanejar.

— Mentiras! — Mas ele estava sorrindo, portanto Lily não se deixou abater. — Aliás, “Show do Chá da Manhã”? Sério, Evans? — Ele bufou. — Que diabos você estava pensando ao sugerir esse nome ridículo?

— Eu realmente odeio café, você sabe. — Lily deu de ombros sem se impressionar.

Moody fingiu um ofego ofendido.

— Essa é a maior ofensa que já sofri! Saia, Evans. Suma da minha frente. Trazer você aqui claramente foi um erro. — E, virando-se em direção ao vidro, gritou: — MCGONAGALL, ME SALVE! — Dorcas e Amos pareciam prestes a ter um ataque, tanto que estavam gargalhando. McGonagall, por outro lado, apenas fez um sinal impaciente para Moody que basicamente significava “pare de bobagem, idiota”. Moody suspirou. — Bem, bem... pelo visto ninguém se importa comigo o suficiente para fazer algo sobre você. Acho que você fica, Evans. — Outro suspiro dolorido. — Mas, como eu estava dizendo antes de ser terrivelmente interrompido por essa anomalia que não gosta de café (honestamente, onde diabos eles te acharam, Evans?), pelo fato de ter esta consulta inadiável com aquele monstro em forma de doutora-

— Você sabe que Pomfrey vai te fazer sofrer por isso, não sabe? — Lily riu, divertida, lembrando-se da mulher rígida e estranhamente adorável que era Dra. Pomfrey. Ela era, claramente, uma das poucas pessoas que tinha pulso firme o suficiente para controlar aquele homem rabugento.

Moody estremeceu.

— Monstro Pomfrey, é o que ela é. — E suspirou dramaticamente. — Mas, voltando... e pare de me interromper, Evans! Eu decidi trazer esta criatura para se familiarizar durante a semana e, assim, quando ela ficar sozinha, não será tão duro para meus ouvintes de acompanharem o show, embora, é claro, ela jamais poderá se comparar a mim.

— Ei!

Eles continuaram com a troca de farpas entre as ligações e músicas, divertindo-se e divertindo os ouvintes e, depois de um tempo, Lily esqueceu completamente o porquê de ter se sentido tão ansiosa em estar ali.

Ela até mandou mensagens à Frank reconhecendo que ele tinha razão (milagres realmente acontecem, você vê).

A verdade é que era apenas... fácil.

Estar com Moody – apesar dos xingamentos e coisas (talvez principalmente por isso) – e apresentar aquele programa era quase tão fácil como respirar. As piadas iam e vinham com naturalidade, assim como o atendimento às ligações dos ouvintes e a escolha das músicas. Era familiar e bom e Lily nunca mais queria deixar aquele show.

Ela já havia participado algumas outras vezes, é claro. Moody, inclusive, era bastante assíduo nas aparições no Show do Chá da Manhã— o que sempre gerava trendings no Twitter e muitas risadas. Mas era diferente apresentar um show daquele porte. Era uma grande responsabilidade, sim, mas também havia muito mais liberdade para falar e interagir.

Como, no SCM, Lily precisava ficar se controlando para não acabar falando palavrões enquanto estava ao vivo. Na verdade, ela se tornara bastante criativa ao inventar xingamentos para cada coisa em que ela tropeçava ou deixava cair (alguns dos quais vários fãs haviam utilizado para criar memes na internet).

Em contrapartida, no TAS, bem, claro, ela não podia sair gritando um alfabeto inteiro de injúrias, mas não haveria repreensão caso alguma escapasse, assim como ela podia fazer piadas mais adultas e sair ilesa com aquilo. Havia maior profundidade nas conversas com os ouvintes – que era bem diferente dos sonolentos que ligavam todas as manhãs apenas para reclamar sobre acordar cedo ou do fato de que o Professor que odiava daria a primeira aula do dia – e, também, era mais... era mais como ela.

Lily se sentia em casa ali, aquecida e à vontade. E, também, quase totalmente esquecida do evento que ocorreria no final daquela semana.

The Marauders? The Marauders quem?

X—X

[HOGSMEADE PLACE, 713 | TERÇA-FEIRA – 10 DE OUTUBRO, 2017]

Peter estava chorando.

Realmente, realmente chorando. Como, lágrimas literais estavam descendo por seu rosto – que estava mais vermelho que um tomate.

James estava preocupado.

Entretanto, por mais que quisesse ajudar, ele não sabia o que fazer ou o que diabos estava acontecendo porque, aparentemente, Peter não conseguia parar de chorar por tempo o suficiente para juntar oxigênio e formular palavras. Dado a este triste fato, James estava contemplando seriamente a ideia de bater na cabeça do amigo com algo duro a fim de desmaiá-lo ou qualquer coisa que o fizesse parar com... o que quer que estivesse acontecendo.

— Pete? — James tentou novamente, esticando uma mão para tocar no ombro do amigo, tentando confortá-lo.

Eles estavam sozinhos, essa era a coisa.

James era realmente uma merda gigante em confortar as pessoas ou fazer qualquer outra coisa além de abraçar e murmurar frases incoerentes que provavelmente não serviriam para merda alguma a não ser deixar a pessoa necessitada ainda mais confusa.

Sirius é quem era bom naquele tipo de situação: James já tivera sua parcela justa de momentos de crise e pânico nos quais tivera de ser segurado e confortado durante horas por Sirius. O garoto realmente tinha ótimos abraços, apesar de sua constante negação.

Talvez fosse por conta disso que Remus vivia abraçando-o.

Eh.

Não.

De qualquer forma, James estava começando a ficar nervoso e ainda mais preocupado.

— PETE! — Ele voltou a chamar, o desespero manchando sua voz enquanto sacudia (não tão amigavelmente) o garoto desconsolado.

Parecendo finalmente acordar de seu estupor choroso, Peter ergueu os olhos para James, encarando-o enquanto seus ombros continuavam a estremecer e... que diabos? Aquilo era um sorriso?

— Que merda é essa? — James bradou, todo o carinho cuidadoso jogado para o inferno, empurrando Peter e fazendo-o cair da cadeira em que estivera sentado sem conseguir se importar, porque, aparentemente, ele havia sido enganado.

— James! — Peter resmungou, ofegante, enquanto erguia-se do tapete onde havia caído, esfregando a bunda no local em que havia batido com força no assoalho. — Para o quê foi isso, cara? — Ele estava indignado.

Mas, ei! James é quem havia sido enganado em toda aquela situação, pelo amor de Deus! Peter não tinha qualquer motivo para encará-lo daquele jeito.

— Eu pensei que você estava sofrendo! — James apontou, enfurecido. — Você estava chorando lágrimas literais e-

— Você realmente precisa parar de usar “literais” para todas as frases, James. — Peter murmurou e então ergueu uma mão para afastar as lágrimas literais que ainda escorriam de seus olhos.

— E eu pensei que você estava tendo algum tipo de crise!

— Mas eu estava! — Peter cruzou os braços sobre o peito, o cenho franzido enquanto o rosto lentamente voltava ao tom natural.

— Não, você não! — James apontou um dedo para ele. — Você estava sorrindo, seu bastardo!

— Sim, James, eu estava sorrindo porque eu estava tendo uma crise de risos! — Peter lançou os braços para o ar, agindo como se aquela fosse a coisa mais óbvia que ele tinha de explicar para uma criança de cinco anos de idade.

James sentiu o cenho franzir, observando enquanto Peter puxava os fones dos ouvidos – os quais ele não havia percebido até então – e soltava um suspiro.

— Que diabos?

— Eu estava ouvindo o rádio, o The Aurores Show, você sabe? O programa do Alastor, lembra dele? Nós temos uma entrevista com eles na sexta-feira. — James assentiu, lembrando-se do apresentador de rádio rabugento, mas muito engraçado, que sempre fazia com que eles se sentissem à vontade quando davam entrevistas. Ele realmente gostava muito de participar dos programas da Hogwarts Radio Studio, mas, apesar de serem ótimos, ainda não explicava o que diabos estava acontecendo com Peter. — Bem, eu estava ouvindo, não é? E aí, cara, eles- — Mas então, antes de concluir sua frase, o garoto estava rindo novamente, como se a mera lembrança de qualquer merda que tivesse ouvido fosse simplesmente demais para que ele conseguisse falar sem cair às gargalhadas. James apenas rolou os olhos, não impressionado.

— E aí? — Ele insistiu, impaciente com o comportamento do garoto.

Peter resfolegou, mas tentou se compor ao responder:

— Tem uma nova apresentadora e, meu Deus, James, se você pensa que o Alastor é hilário, você precisa ouvir esses dois juntos! — E então, mais uma vez, ele estava dobrando-se de rir.

Bem, era isso. James oficialmente desistia dele.

Peter sempre havia sido um caso perdido, afinal.

— Certo, cara. Estou saindo. — Ele disse, recebendo apenas um aceno ofegante de Peter (que estava voltando a colocar os fones no ouvido) e então afastou-se em direção à porta de seu quarto, fechando-a com força ao passar. — Eu preciso de amigos normais. — Ele gemeu para o quarto vazio, encaminhando-se até sua cama e atirando-se sobre ela.

Através de sua porta fechada, James ainda conseguia ouvir as gargalhadas de Peter, o que apenas o irritou ainda mais e o fez amaldiçoar com bastante intensidade a Hogwarts Radio Studio e essa nova apresentadora que, aparentemente, havia sido capaz de transformar um de seus melhores amigos em uma hiena.

— Ugh!

X—X

[UNIVERSIDADE DE DURMNSTRANG | QUINTA-FEIRA – 12 DE OUTUBRO, 2017]

Amaldiçoando os desenvolvedores do IPhone com todo o coração por não serem capazes de produzir a merda de um celular que despertasse na hora certa (tudo bem que poderia ter sido culpa dela, ao ficar pressionando o “soneca” várias e várias vezes, mas ninguém precisava saber, certo?), Lily subiu as escadas da Universidade como se fosse o mais novo Flash (ela provavelmente estava indo muito mais rápida que o da série de qualquer forma), o rosto amassado, roupas ainda mais amassadas que havia utilizado no dia anterior e aquele maldito casaco. O das fotos do beijo. Aquele que ela jurara nunca mais usar em toda sua vida, mas que, infelizmente, era o único à vista enquanto ela muito apressadamente tentava se vestir, terminar sua tarefa e trancar a porta de seu apartamento ao mesmo tempo.

Lily estava cansada.

Extremamente cansada, se ela estava sendo sincera: passara a semana inteira acordando às quatro e meia da madrugada para conseguir chegar a tempo à HRS para o Show do Chá da Manhã (que iniciava às seis) e então, assim que terminava o programa, correr até o seu apartamento e atirar-se na cama para uma soneca de uma hora e então acordar, tomar banho, se vestir e correr até o café próximo da universidade, engolir um sanduíche nada nutritivo como almoço enquanto terminava suas tarefas e lia suas atribuições, correr novamente, desta vez em direção às suas aulas que aconteciam durante a parte da tarde e então correr mais uma vez, voltando para a HRS a fim de apresentar o The Aurores Show com o Moody.

Por sorte, Dorcas morava a apenas uma quadra de distância do apartamento de Lily, portanto, todas as noites, quando o TAS finalmente acabava às onze e meia, a garota, como a alma caridosa que ela era, oferecia carona para Lily. E, bem, quem era ela para negar, não é mesmo? Principalmente quando a perspectiva de pegar o ônibus ou metrô era simplesmente... não.

Entrementes, naquela tarde maravilhosa de quinta-feira, Lily não tivera as duas primeiras aulas e, por conta disso, decidira estender sua soneca, coisa que se provara um grande erro: agora, além de ela estar atrasada para a pior de todas as classes – Lily realmente odiava Direito Penal com todas as forças de seu pequeno ser – ela também tinha um estômago muito vazio e muito irritado, grunhindo em sua barriga como o monstro das cavernas que ele certamente era.

Deus, Lily queria morrer.

Mas, é claro, ela não tinha tanta sorte.

— Obrigada por nos agraciar com sua ilustríssima presença, Evans. — Professora Umbridge a cumprimentou, sorrindo da forma mais sarcástica e falsa que a humanidade poderia esperar. A mulher estava usando rosa da cabeça aos pés (o que não era nenhuma novidade) e tinha um laço rosa-bebê-perolado coroando seus cabelos. Lily precisou lembrar a si mesma que não ajudaria em nada sua situação se ela simplesmente vomitasse suas tripas no sapato muito cor-de-rosa de sua professora. Mesmo que ela merecesse. Tipo muito.

— Fico feliz em agradar, Professora. — Lily formulou uma resposta sarcástica, que ela sabia que não devia (honestamente, aquela mulher estava a um passo de expulsá-la para sempre de sua classe), mas ela era petulante demais para conseguir controlar.

Os lábios de Umbridge afinaram, mas, por milagre, ela não respondeu.

Lily suspirou – dividida entre estar aliviada por não levar uma advertência ou triste por não ter sido expulsa para sempre daquela aula terrível – e então finalmente se voltou para a classe, percebendo que o seu lugar habitual ao lado de Caradoc estava ocupado.

Ótimo. Realmente, realmente incrível.

Com um aceno cheio de tristeza para Caradoc, que também não parecia muito feliz em estar dividindo a mesa com Sibila Trelawney (uma hipster estranha que se autoproclamava clarividente e “a definição do zen”), Lily retomou a procura por uma cadeira, ignorando com fervor os braços agitados de Snape que acenava para ela indicando o lugar vago logo ao seu lado (francamente, o garoto ainda não havia entendido o significado das palavras “ex-amigos”, pelo amor de Deus!). Varrendo a sala com o olhar, por fim encontrou uma cadeira vazia logo ao lado de uma garota negra e de cabelos lindos e cacheados que ela nunca tinha visto até então.

Bem, pelo menos ela era bonita e parecia ser menos irritante que Snape (na verdade, basicamente 99% da população era menos irritante que Snape – com exceção de Umbridge. E Marlene quando estava de TPM. Não que Lily ousasse falar isso em voz alta, é claro, afinal ela ainda tinha um pouco de apreço pela própria vida).

Com propósito renovado, Lily caminhou até ela, jogando sua mochila no chão e sentando-se ao seu lado.

— Olá. — Murmurou sob a respiração, não querendo chamar ainda mais atenção para si.

— Oi. — A garota retribuiu, sua voz baixa e levemente rouca. Era agradável, Lily percebeu e então ergueu os olhos para ela, sorrindo em cumprimento. A garota retribuiu com um sorriso bonito e verdadeiro.

Lily imediatamente gostou dela.

— Meu nome é Lily. Lily Evans. — Esticou a mão para a garota, no que ela prontamente aceitou.

— Mary. Mary Macdonald. — A garota- Mary respondeu da mesma forma, sorrindo um pouco mais para Lily.

— Prazer. — Lily assentiu, finalmente puxando seus livros e notebook da bolsa, preparando-se para o que certamente seriam duas horas muito malgastas de sua vida. — Você é nova aqui? Tenho certeza de que nunca te vi antes. — Murmurou a pergunta enquanto esperava o notebook iniciar.

Ao seu lado, Mary meneou a cabeça, parecendo inquieta.

— Fiz transferência. De Oxford. — Sua resposta veio no mesmo tom baixo de Lily, mas parecia muito mais contrito e desconfortável.

— Ah. Legal. Bem, seja bem-vinda à Durmnstrang. — Ela tentou manter o tom leve, não querendo fazer a garota se sentir mal, mesmo que ela não soubesse exatamente o que poderia ter causado seu comportamento esquisito. — Como sua colega, devo avisar que, se você conseguir sobreviver a essas duas horas malignas com a Umbridge, então você será capaz de sobreviver ao resto do semestre e provavelmente aos Hunger Games também. — Lily assentiu com solenidade, recebendo uma risada tilintante e divertida em resposta.

X—X

— Eu estou falando sério! — Lily disse, sentindo as bochechas doerem de tanto rir enquanto caminhava em direção à saída da universidade ao lado de Mary (que se demonstrara muito divertida e falante quando sua transferência não estava sendo mencionada).

Eram quase oito da noite e as ruas estavam quase vazias porque a grande maioria dos alunos ainda estavam em aulas e, depois das duas malditas horas de Direito Penal— que era realmente uma pena de se assistir – Lily e Mary compartilharam mais uma classe, desta vez Direito Constitucional III com o Flitwick que, graças à Deus, era milhões de vezes melhor do que Umbridge e havia liberado a turma meia hora antes.

Agora (finalmente) era o tempo de ir para casa.

Ou, no caso de Lily, voltar para a HRS.

Pelo menos ela não estava mais com fome – Mary havia compartilhado um cupcake divino com ela – e seu sono estava razoavelmente controlado – depois de ingerir quase três litros de café nas últimas horas (ela odiava o líquido, mas precisava admitir que fazia o seu trabalho).

Em suma: as coisas estavam bem melhores do que quando acordara atrasada, mais de três horas antes.

— Meu Deus, ela é... ela é horrível! — Mary bradou, arrancando-a de seus devaneios. Alguns cachos escuros caíam pela testa da garota enquanto ela agitava as mãos para se expressar.

Lily gemeu em concordância.

— Ela jura que é a Annalise Keating de How To Get Away With A Murderer. Mas, cá entre nós, ela está muito mais para a Diretora Agatha Trunchbull de Matilda.

Mary gargalhou, praticamente dobrando-se enquanto esticava a mão para segurar-se no muro do lado de fora da universidade a fim de não cair. Lily sentiu-se orgulhosa por ter arrancado aquela reação.

— Deus, sim! Essa foi a melhor comparação que já ouvi! Eu pensei que estivesse tendo um pesadelo, mas, quando pisquei, percebi que era apenas Umbridge falando sobre função protetiva. — E estremeceu teatralmente, limpando as lágrimas de riso que transbordavam de seus olhos.

Lily gostava de Mary. Realmente, realmente.

De todas as coisas daquela aula de merda, Mary certamente fora um ótimo presente. Na verdade, Lily podia imaginá-la perfeitamente, interagindo com Marlene e Alice nos dias de karaokê que aconteciam naquele bar caindo aos pedaços localizado na esquina de seu apartamento.

Era uma perspectiva muito boa para uma quinta-feira à noite.

— Você é legal. — Lily comentou, expondo seus pensamentos, fazendo com que a garota piscasse, surpresa com a mudança de assunto. — Vou te manter por perto.

Com isso, Mary sorriu.

— Boa. Você é ótima também, Lily. — Ela disse, genuína. — Por pior que fosse, fico feliz que tivéssemos essa aula com a Umbridge juntas.

— Suponho que sofrimento compartilhado une as pessoas. — Lily respondeu, sábia.

Mary riu mais um pouco.

— Definitivamente. — Ela concordou e então empertigou-se, o sorriso desaparecendo enquanto ela mordia os lábios, parecendo estranhamente nervosa, como se estivesse com medo de falar alguma coisa. — Hm, então- eu sou nova na cidade e, bem, não conheço muitas pessoas por aqui, então eu estava pensando que- — Mas, antes que ela pudesse concluir sua frase hesitante, outra voz a interrompeu:

— Ei, Mcdonald! — Era firme e grossa e muito masculina e parecia bastante impaciente. — Finalmente! Estava começando a pensar que você tinha sido engolida pelas paredes ou qualquer coisa assim.

Como se fossem uma, ambas as garotas se voltaram em direção à voz.

Encostado contra um Range Rover preto e de aparência muito cara, um garoto alto e levemente musculoso estava parado, vestindo uma calça jeans preta muito justa e uma camisa azul marinho com os primeiros botões abertos deixando à mostra muito mais de seu peito do que seria saudável. Seus cabelos escuros estavam presos em um coque levemente solto e ele usava óculos escuros que coroavam sua aparência misteriosa.

De imediato, Lily quis rolar os olhos. Francamente, quem usava óculos escuros àquela hora da noite?

Hipsters arrogantes, aparentemente.

— Si- Pads! Que diabos você está fazendo aqui? — Mary indagou, parecendo nervosa ao encarar o garoto. Seus olhos escuros, que estavam arregalados, corriam de Lily para o menino como se esperasse que algo explodisse entre eles a qualquer instante.

— Eu vim te buscar. Moony acabou ficando ocupado no es- com coisas, você sabe. — O garoto respondeu parecendo tão desconcertado quanto Mary com toda aquela situação.

Um silêncio tenso recaiu sobre eles e Lily não sabia exatamente que diabos estava acontecendo ali, portanto remexeu-se, inquieta, não querendo chamar a atenção para si, mas não vendo nenhuma outra alternativa para se despedir.

Soltando um suspiro, Lily limpou a garganta:

— Hm- — Ela começou a falar, estremecendo levemente ao perceber o garoto voltar-se em sua direção muito rapidamente. — Eu acho que vou indo? Quero dizer, eu tenho que ir para o trabalho agora, então-

— Oh, certo, certo! — Mary assentiu, encarando-a fixamente como se procurasse alguma coisa em seu rosto. Lily não pôde reconhecer o quê, mas, depois de alguns instantes, a garota finalmente assentiu, parecendo estranhamente aliviada ao caminhar até ela e esticar seu telefone. — Me dê seu número!

Piscando algumas vezes, surpresa com a mudança súbita no comportamento de Mary, Lily hesitou alguns instantes antes de pegar o aparelho e digitar seu contato, nomeando-se como “Lily :)”.

— Aqui. — Lily devolveu o IPhone e recebeu um sorriso como resposta.

— Eu vou mandar mensagens! — A garota disse e então, como se não estivesse sendo toda esquisita apenas alguns segundos atrás, atirou os braços em volta de Lily, abraçando-a. — Obrigada por hoje, Lily. Você foi a melhor pessoa que conheci em Londres até agora. — E então se afastou, acenando antes de caminhar até o garoto, abrindo a porta do carro e pulando para dentro.

Lily ficou mais alguns segundos parada, totalmente sem reação diante das mudanças drásticas dos acontecimentos. Piscando algumas vezes, sacudiu-se mentalmente a fim de reorganizar os pensamentos.

Certo. Hogwarts Radio Studio. Certo. Ela precisava trabalhar. É.

— Bela jaqueta, ruiva. — O murmúrio súbito e inesperado fez com que Lily pulasse no local, assustada. A verdade é que havia esquecido completamente que o garoto esquisito ainda estava parado do lado de fora do carro, aparentemente encarando-a sob os óculos escuros.

Por algum motivo que Lily não soube explicar, ela sentiu as bochechas esquentarem ao encará-lo, abrindo e fechando a boca sem saber como reagir diante de suas palavras.

— Obrigada. — Ela resmungou, por fim, observando-o com atenção enquanto ele se desencostava do carro e dava alguns passos em sua direção. — Hm... o que exatamente você está fazendo? — Lily perguntou, ao perceber que ele estava girando em torno dela, observando-a de cima a baixo com uma expressão que ela não conseguia ler por conta daqueles malditos óculos.

— Nada. — O garoto respondeu, mas seu tom parecia divertido.

Antes, porém, que Lily pudesse falar qualquer coisa, ele voltou a se afastar, rápido ao fazer a volta no carro e sentar no banco do motorista, fechando a porta com um baque que soava como o ponto final de... o que quer que fosse toda aquela situação estranha.

— Tchau para você também. — Lily bufou para o nada, estremecendo levemente quando o vento frio da noite penetrou por baixo de sua jaqueta e o Range Rover dava a partida e começava a se afastar.

Abraçando-se, Lily começou a caminhar para a rádio – que graças a Deus ficava à poucas quadras de Durmnstrang – um sentimento esquisito fervendo em seu estômago enquanto pensava no garoto que, agora que parava para analisar, parecia estranhamente familiar, embora não soubesse dizer por quê.

— Foda-se. — Ela resmungou, cansada demais para se preocupar com garotos estranhos e seus comportamentos ainda mais estranhos.

X—X

[HOGWARTS RADIO STUDIO | QUINTA-FEIRA – 12 DE OUTUBRO, 2017]

— Lily! — O grito de Dorcas foi a primeira coisa que ela ouviu ao adentrar o estúdio onde o The Aurores Show era gravado.

Sentindo um sorriso simpático espalhar-se por seus lábios, Lily ergueu o olhar para encontrar a loira à sua frente, praticamente saltando em seus pés, a expressão animada indicando que ela tinha boas notícias.

— Hey, Doe! — Lily cumprimentou-a e então voltou-se para acenar para McGonagall e Amos que organizavam a sala. — Amos! Minnie! — Amos sorriu em resposta, enquanto McGonagall apenas franziu os lábios, severa. Ah, como era bom estar em casa! — O que está acontecendo? — Finalmente perguntou, voltando-se para Dorcas que continuava inquieta.

Afastando uma mexa cor-de-rosa de cabelo do rosto, ela pulou para frente, esticando o que parecia uma revista em direção à Lily.

Sentindo o peito despencar, a ruiva arregalou os olhos, imaginando se aquele era o momento de sua morte.

— Eu fiquei tão feliz quando vi, sério! Quero dizer, faz só uma semana, mas você já está recebendo toda essa atenção e-

Ok. Ok. Não. Não, não, não, não. Aquilo não podia estar acontecendo, certo?

— Do que você está falando, Dorcas? Uma semana? Atenção sobre o quê? — Lily tinha plena consciência de que sua voz soava estridente e histérica, mas ela não conseguiu achar dentro de si para se importar. Ela estava surtando, pelo amor de Deus!

Não podia... eles não podiam...?

Será que mais fotos haviam sido divulgadas? Mais alguma coisa que a memória bêbada dela era incapaz de lembrar? Mais alguma notícia sobre seu suposto romance com aquele bastardo do James Potter?

Lily não conseguia achar forças para esticar a mão e pegar o papel.

Ela estava com medo, pelo amor de Cristo!

Ela queria correr para as colinas. Queria ser como Eragon e montar o seu dragão e viajar para um lugar onde ninguém nunca mais a encontraria. Ela queria-

— Hm... — Dorcas parecia desconcertada com o comportamento da ruiva, encarando-a com o cenho franzido. — Bem, hm- hoje de manhã eu tive aula, então não vim, você sabe. Mas, quando estava saindo da faculdade, passei nessa banca para dar uma olhada nos HQ’s e então achei isso. — Ela ergueu a mão livre e coçou atrás do pescoço, ainda encarando Lily cheia de preocupação. — Vi sua foto e eles falando sobre o The Aurores Show e como todos estavam apaixonados por você, então... eu pensei que você iria gostar? — Seu tom soou mais como uma pergunta do que uma afirmação.

Lily pestanejou algumas vezes, deixando as palavras afundarem em seu cérebro, a compreensão finalmente recaindo sobre ela, deixando-a zonza. Pelo modo como Dorcas estava falando, não parecia ter algo a ver com James Potter... então não podia ser tão ruim, podia?

Bem, ela esperava que não.

— Oh! Eu vi isso! Esqueci de te dizer, Lil’! — Amos, que havia se aproximado sem que ela percebesse, sorriu simpaticamente para Lily, pegando a revista das mãos de Dorcas e erguendo-a em frente aos olhos de Lily, de modo que ela não pudesse fazer nada além de ler.

Era – é claro que sim— uma edição do Profeta Diário, mas, para o enorme alívio de Lily, ela não estava estampada na capa.

— Graças à Deus... — Ela murmurou para si mesma, recebendo olhares esquisitos dos dois enquanto finalmente esticava-se para pegar a edição para si mesma. Olhando para o ponto em que Amos apontara, ela imediatamente sorriu ao ver o porquê de seus amigos estarem tão animados.

No canto da revista, junto de outras notícias, uma pequena foto dela com o símbolo da HRS se encontrava e, logo abaixo, as palavras “LILY EVANS: A NOVA APRESENTADORA DO THE AURORES SHOW VAI ROUBAR SEU CORAÇÃO”.

Algo quente e elétrico pareceu se esticar por toda a extensão de seu corpo, fazendo-a sentir-se muito mais enérgica e acordada do que segundos atrás.

Sorrindo, Lily ergueu os olhos para seus colegas.

— Eu não tinha visto! Isso é- foi muito legal de você, Dorcas! — Lily assentiu, recebendo um sorriso enorme como resposta.

— Não foi nada! — Dorcas disse e deu de ombros. — Eu teria comprado a edição de qualquer forma. Ter você aí foi apenas um brinde. — E riu, assim como Amos, como se estivessem compartilhando uma piada interna.

Franzindo o cenho para seu comportamento, Lily encarou-os sem compreender.

Amos apenas rolou os olhos.

— A manchete, Lily! Dorcas não calou a boca sobre isso desde que chegou aqui.

E então ela voltou a encarar a revista, tendo uma sensação de déjà-vu ao sentir o estômago despencar e o horror tomar conta de seu corpo ao ler o título principal, exatamente como havia acontecido naquele fatídico Domingo.

Só que, daquela vez, não era Lily quem estava na capa, assim como não era sobre Lily que a revista se referia.

E talvez fosse por conta disso que ela se sentia tão doente e traída.

Em letras garrafais tingidas de um cor-de-rosa berrante (nauseantes como os sapatos de Umbridge), lia-se: “EMMELINE VANCE E GWENOG JONES ASSUMEM QUE ESTÃO NAMORANDO”.

E, como se não bastasse, para coroar ainda mais aquela maldita noite de quinta-feira, o celular de Lily vibrou em seu bolso e, ao puxá-lo – sentindo-se torpe e alheia – duas mensagens de Marlene fizeram com que todo o mal-estar de Lily se multiplicasse.

(20:45) Marley: LILY EVANS POR QUE EU TIVE DE DESCOBRIR QUE VOCÊ VAI ENTREVISTAR O THE MARAUDERS AMANHÃ ATRAVÉS DE UM FRANK MUITO BÊBADO NO SKYPE? QUE TIPO DE AMIGA VOCÊ É? NÓS TEREMOS UMA CONVERSA MUITO SÉRIA QUANDO VOCÊ CHEGAR EM CASA!

(20:46) Marley: E espero que você saiba que, até o final dessa conversa, você vai ser uma mulher morta xx


_____________________

NOTAS: Hiya, peps! Tudo bem com vocês?
Mais um capítulo por aqui e eu espero que tenham gostado, amores! Não esqueçam de comentar, sim?
Beijos e até breve!

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