Bitter beauty.
Harry.
Sai da piscina pegando minha toalha e me encostei à plataforma com Noa a minha frente, peguei um dos sacos de gelo colocando em meu ombro e suspirei.
- Ei, vamos sair hoje? Eu estou a fim de esfriar a cabeça. - Sorriu.
- Eu não vou pular a janela hoje, estou cansado, pode esquecer.
- Não seja chato Harry, você sempre diz não. - Reclamou.
- Por isso que eu vou continuar dizendo. - Sorri colocando o saco de volta no balde.
- O dia de avaliação foi puxado, você deveria sair um pouco comigo.
- Sairemos na nossa próxima dispensa. - Prometi.
- Eu vou marcar as suas palavras. - Afirmou seguindo para o vestiário e sorri pegando o celular da minha bolsa.
"Suya - você está ai?"
"Suya - pode me encontrar?"
- Harry? - Olhei para frente e Catalina sorriu se aproximando do banco.
- Oi. - Sorri.
- Você viu a Suya hoje?
- Não, por quê?
- Ela sumiu depois de uma discussão um pouco difícil com a nossa mãe hoje, eu estou um pouco preocupada.
- Discussão? Eu vou tentar falar com ela.
- Tudo bem, vou continuar procurando. - Avisou e assenti entrando no vestiário. Tomei um banho trocando de roupa e guarde a minha bolsa no meu armário levando o celular e a carteira comigo. Liguei para Suya algumas vezes enquanto tentava pensar em algum lugar que ela poderia estar.
"Teve alguma notícia?" - Perguntei para Catalina no celular.
"Não, ela não responde as minhas mensagens. Eu tenho que ir ensaiar daqui a pouco."
"O que aconteceu?"
"Suya deixou o seu rendimento cair um pouco e a minha madrasta veio até a escola conversar com ela. Mas as duas acabaram brigando."
"Tudo bem, pode ir ensaiar, eu mando mensagem assim que encontrar ela." - Avisei desligando o celular.
Sai do campus olhando em volta e optei por ir até a lanchonete que costumávamos ir sempre que saíamos para comer, Suya gostava de lá, sempre foi a sua preferida e ela sempre me pedia para ir lá quando estava chateada.
Peguei o ônibus já podendo ouvir a voz de repreensão de Noa na minha cabeça e suspirei, eu teria mais um treino à tarde, mas acabaria perdendo dessa vez.
Esperei cinco paradas antes de descer e corri para a rua que a lanchonete ficava, assim que avistei a sua fachada suspirei cansado empurrando a porta, o sininho soou atraindo a atenção do funcionário e cumprimentei com um aceno de cabeça seguindo para a mesa ao fundo onde avistei Suya.
- Parece que você não mudou muito. - Respirei fundo cansado.
- Eu não achei que viria.
- Você costumava me mandar mensagens daquele jeito quando queria me encontrar aqui. - Murmurei sentando-me a sua frente. - Estão todos preocupados com você.
- Eu posso ser tirada da próxima apresentação se não conseguir alcançar o meu nível novamente.
- Sinto muito.
- Eu achei que a minha mãe me ajudaria, mas quando a professora a chamou aqui ela foi ainda mais dura. Disse que investiu muito dinheiro em mim e na Catalina para que eu a envergonhe agora. - Murmurou e abaixei a cabeça. - Tenho dado tudo de mim, por que isso está acontecendo?
- Não sei isso é imprevisível Suya, mas você é uma ótima ginasta, vai conseguir se recuperar.
- É a minha única opção. - Suspirou olhando para o copo de água em sua mão. - Obrigada por vir em socorro da sua ex-namorada. - Sorriu fraco.
- Combinamos de ser amigos, não foi? - Sorri. - Você não quer voltar agora? Descansar um pouco.
- Vamos tomar sorvete. - Pediu e olhei para ela. - Por um dia Harry, vamos fazer o que fazíamos antes, eu quero apenas me sentir bem.
- Isso pode te fazer se sentir pior no fim do dia.
- Mas vai me ajudar agora. - Pediu e suspirei.
- Tudo bem, um sorvete e depois vamos voltar.
- Sim senhor. - Sorriu levantando-se e fiz o mesmo deixando uma nota na mesa. Saímos da lanchonete em direção ao carrinho de sorvete e pedimos dois de creme decidindo voltar para o campus andando.
- Você nunca pensou em fazer outra coisa? - Perguntei curioso.
- Você sabe, minha mãe me colocou na ginastica logo cedo, isso foi tudo que eu fiz desde pequena. - Respondeu e assenti levemente.
- Se é isso que você vai fazer até o fim terá que parar de se preocupar com outras coisas em épocas de competição.
- Está falando de você?
- Eu já fui acusado de atrapalhar o seu desempenho antes, eu não quero ser o motivo disso novamente.
- Harry, é importante ter você na minha vida. - Afirmou e olhei para frente.
- Deveria priorizar outras coisas.
- Você prioriza a natação?
- Sim, por isso é melhor andarmos mais rápido para que eu não perca o treino da tarde. - Afirmei e Suya sorriu apressando o passo junto comigo.
Catalina.
"Eu sabia que te amava, mas você nunca soube porque eu fingi estar tranquilo quando eu estava com medo de deixar pra lá. Eu sabia que eu precisava de você, mas eu nunca mostrei. Mas eu quero ficar com você."
Sentei confortavelmente no sofá da sala principal que por conta do horário não estava movimentada. Suya havia voltado um pouco antes do meio-dia e seguiu direto para o treinamento, eu sabia que ela estava chateada com tudo que havia ouvido, mas assim como eu ela odiava conversar sobre isso.
- Ei patinho. - Harry chamou colocando o filme e olhei para ele. - Você não vai dormir antes do filme acabar, certo? - Sorriu sentando-se ao meu lado e entreguei o seu salgadinho.
- Não, eu não estou com sono agora. - Garanti.
- Você falou com a Suya depois que ela voltou?
- Ela não gosta de conversar muito comigo sobre essas coisas.
- Vocês não conversam muito?
- Até que sim, mas esse assunto é delicado para ela. Desde que nos tornamos uma família que estamos meio que competindo uma com a outra, quem recebe mais elogios, quem recebe mais atenção, é assim.
- Deve ser normal, mas vocês parecem pior agora.
- A nossa última conversa foi meio que uma discussão, eu decidi pela primeira vez não respeitar as suas vontades.
- Eu gosto disso, você não deve deixar que todo mundo mande em você patinho.
- Quando isso virou o aconselhamento? - Sorri.
- Eu me preocupo com você, sabe disso. Você... É especial patinho. - Afirmou apertando levemente minha bochecha e olhei para ele.
Eu tinha certeza que algo estava diferente, perigosamente diferente, nos primeiros dias que conversamos eu não me sentia assim, eu não sentia isso, mas com o passar do tempo isso começou a aparecer.
Seria uma loucura admitir qualquer paixão platônica pelo Harry agora, ele era meu amigo, estávamos tão próximos que o medo que algumas palavras estragassem isso me assustava muito. É um bom sentimento, eu gosto sentir isso, mas eu não sei como é para ele.
- Você ouviu o que eu falei? - Harry estalou os dedos a minha frente e recuei um pouco.
- O quê? - Perguntei confusa e o mesmo sorriu apertando o play.
- Você não deveria me deixar falando sozinho quando está bem a minha frente patinho, estava pensando em alguém? - Perguntou olhando para a TV.
- Eu? Não... É que eu estava pensando o que deve ter acontecido com o Daniel, ele não apareceu mais.
- Era isso? - Balançou a cabeça. - Ele aparece todos os dias nos treinos, eu não sabia que você pensava nele assim.
- Não penso... Quer dizer, só às vezes.
- Seria bom não pensar. - Resmungou e sorri.
- Você acabou de me incentivar a fazer o que eu quero. - Brinquei.
- Pensei em mim. - Afirmou.
- Por quê? - Perguntei virando-me para ele e Harry suspirou colocando o lanche na mesinha. Observei ele se virar e encarei seus olhos verdes esperando alguma palavra.
- Porque eu sou melhor. - Afirmou um pouco mais próximo e inconscientemente prendi a respiração. - Você não acha?
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