Pov Lauren
Entrei em meu quarto, ouvindo a voz da Camila ainda ecoar em meus pensamentos. Ela e suas palavras me fazendo ir na parte mais profunda de mim, e por um curto tempo quase gritei que a amo. Foi, eu quase o fiz. Necessidade de gritar bem alto que ela nunca entenderia como me senti quando ela foi. Contudo, essa conversa também serviu para enxergar nossas almas. Eu tenho a arrogância, grosseria e uma certa dose de frieza como as minhas armas, que uso algumas vezes para ofuscar a minha parte frágil, no entanto, essa conversa me fez enxergar como tínhamos muito e ao mesmo tempo, deixamos de fazer algumas coisas simples como uma conversa passional, o que nos empurrou para a beira do abismo.
Camila esteve no abismo, ainda me pediu ajuda e eu só olhei para os erros dela invés dos motivos, como se eu fosse isenta de quaisquer erros. Ela caiu e eu mesmo assim não quis ver o motivo dela cair. Pela primeira vez sinto que fomos sinceras desde a nossa última briga há quatro anos atrás e também, pela primeira vez eu estou reconhecendo muitos erros. Isso sufoca, essa culpa parece segurar a minha garganta enquanto a aperta contra a parede. Ela olha o meu interior e remexe as minhas entranhas, querendo que eu a sinta a sua tortura.
Entretanto, enquanto ouvia o desabafo de Camila também pude constar que não existe um muro de concreto entre nós ainda, talvez uma grande ponte velha, cheia de lembranças boas e ruins que as duas tem medo de atravessar na direção uma da outra, para evitar uma queda mortal e assim, morrer junto com a única que nos resta; velhas lembranças do passado.
As horas foram se arrastando até que chegou o momento de irmos para o local aonde ocorrerá o show. Ao sair do meu quarto, logo deparei-me com Camila agarrada a Ashleena porta, cantando uma música fofinha para a mesma. O ciúme realmente arde contudo, a maior das promessas a Camila andou cumprindo "Você será a última mulher da minha vida" ela disse. Até aonde fiquei sabendo isso é verdade, ela só ficou com o Shawn desde então e depois do que ela disse mais cedo no banheiro, sigo crente que a vida amorosa da Camila está como a minha; Estagnada.
Assim que Camila me viu sair do quarto, fechou seu alegre sorriso e tornou a olhar para Ashlee, nesse momento congelante – uma pausa frozen na verdade – fui salva pela Normani, que acabara de vir com a Dinah no quarto. Quando olho para essas duas vejo uma relação tão calma e passiva, mas para isso ter sido possível, ambas estavam na mesma sintonia e querer, ambas não precisaram lutar uma com a outras, apenas aceitar o que sentem, o que eu e Camila com certeza não fizemos.
– Vamos meninas. – Pedi o segurança. – Estou saindo com as meninas, atenção. – Disse no rádio.
Camila nos observou saindo e eu me segurei até ter certeza que ela não estava vindo com a gente. Parei, fazendo com que Dinah choque contra o meu corpo, virei-me para Camila deixando todo o meu orgulho de lado.
– Você não vem com a gente? – Pergunto, olhando para Camz.
– Acho que não Lauren. – Responde. – Esse momento é de vocês e vi alguns falando que eu estava tentando roubar isso de vocês.
Passei pelo segurança para conseguir chegar bem perto dela, vendo sua expressão nitidamente mudar com essa atitude. Peguei em seu braço para força-la a olhar para mim.
– Desde quando os fãs deve influenciar algo? – Questiono. – Chega Camila, esses 10% que colocam lenha na fogueira devem perder essa força. Existe 90% de pessoas querendo você nesse momento com você. Esses 90% sou eu, Normani, Ally e Dinah. Agora por favor, eu peço com o coração: Vamos com a gente curtir uma sexta-feira no Rio de Janeiro. Por favor, Camz.
Pov Camila
Não sei exatamente a melhor palavra para usar nesse exato momento, não com a Lauren me pedindo dessa forma, deixando-me estagnada e arrepiada. Dei um sorriso de canto e praticamente pulei em seus braços, dando um abraço que já queria há muito tempo. Apoiei meu queixo em seu ombro e vi as meninas tão boquiabertas quanto eu, concluindo a minha linha de pensamento; Lauren realmente usou força e autoritarismo nas palavras, mas ainda foi gentil e utilizou o por favor.
– Eu vou, nossa, com esse convite eu vou aonde você quiser. – Digo rindo, vendo as meninas comemorarem com esse momento, assim como o meu coração. – Só um minuto, vou me trocar.
Saí do abraço de Lauren e entrei no quarto indo até a minha mala, aonde revirei tudo aquilo até encontrar um salto e um vestido preto justo. Me troquei rapidamente, uma vez que eu lá terei tempo para me trocar. Me juntei logo a elas e juntas fomos para o carro, da onde ouvimos muitos gritos vindo dos fãs. Eles estão cantando Down para as meninas e isso é sempre um prato cheio para qualquer artista.
Já dentro do carro, meu telefone voltou a tocar, mais uma vez o Shawn. Encarei os olhos de Lauren que como um imã olhou para a foto dele e ficaram tristes. Rejeitei, mas ele insistiu mais uma vez, o que me fez atendê-lo.
Chamada on~
– Oi. – Digo.
– Oi? Nossa Camila, venho te ligando e você me evitando. – Diz, indignado.
– Pois é, isso é o Brasil.
– Como você está? – Pergunta.
– Estou ótima... e você? – Pergunto de volta.
– Estou com saudade de você. O twitter e Camren... estão com tudo.
– Camren nunca morre. – Digo sem jeito. – Tenho que desligar, quando chegar ai conversamos.
– Você está me magoando.
– Desculpa Shawn, tem coisas difíceis acontecendo todos os dias... – suspirando no silêncio dele. – Beijo e até mais tarde.
– Como se você fosse me ligar.
Chamada off.
Ele mesmo desligou na minha cara, contudo não dei muita importância para isso, não agora que estou tendo a sensação de estar revivendo os momentos mais fantásticos que já tive ao lado da Lauren e as meninas. Eu gosto do Shawn, faria qualquer coisa para não magoá-lo e no fundo, ele não precisa se sentir magoado: Ele tem as mulheres que quiser e sabe bem disso. Sem contar que, começamos a namorar na base de uma amizade, pelo menos ele sabia bem disso da minha parte.
Chegamos no lugar aonde as meninas vão se apresentar, acabamos por entrar num local aonde não tem quase ninguém que não seja do staff, segurança ou maquiagem. Elas acabaram por ser convidadas para o camarim, onde me convidaram para me juntar à elas. Um dos agentes delas acabara por me chamar e perguntou se eu queria apresentar Work From Home no Rio, música que sempre dava o desfecho do show antigamente. Fitei as meninas de cima a baixo, decidindo por aceitar afinal, não há nenhum mal nisso.
Meu pai ainda me chamou no canto e perguntou se eu não iria querer algo por essa apresentação, não que ele seja mercenário, pelo contrário. Assim que o disse que o faria com todo gosto e por meu amor que ficou nesse grupo, ele não cogitou a ideia de insistir, apenas disse "Por isso que te amo, você é uma linda mulher."
Acabou por ficar só eu e as meninas no camarim; como os velhos tempos. Esperei elas se arrumarem, quando Ashleenos perguntou se podia gravar um Snap. As pontas dos meus dedos dos meus pés até o último fio do cabelo gelou, pois querendo ou não Shawn sempre está me vigiando nas redes sociais. Dinah então levantou e me puxou do sofá, chamou Normani, Ally e Lauren para fazermos uma palhinha de impossible. Nos colocamos nas mesmas posições que dá primeira vez que cantamos essa música juntas; Eu na ponta direita, Lauren ao meu lado, Normani, Ally e Dinah. Lauren estendeu a sua mão para mim e para a Normani.
Começamos a cantar e conforme a música foi chegando na minha parte, já tinha uma vontade de chorar presa na garganta, não por qualquer tipo de tristeza, muito contrário. Quando chegou a minha vez, aquilo preso em minha na minha garganta acabou por ganhar força e o choro exalou a cada linha.
I remember years ago
someone told me I should take
caution when it comes to love
I did, I did
tell them all I know now
shout it from the rooftops
write it on the sky line
all we had is gone now
Lembro de alguns anos atrás
Alguém me disse que eu deveria
Tomar cuidado quando se trata de amor
Eu tomei, eu tomei
Diga a eles tudo o que eu sei agora
Grite de cima dos telhados
Escreva no horizonte
Tudo o que tínhamos se foi agora
Com o fim da música recebi aquilo que almejava muito; um abraço. As meninas vieram e durante o abraço, disseram que sentiram a minha falta e por fim, senti aquela velha cumplicidade do começo me abraçar também, sussurrando com tom leviano um: seja bem-vinda de volta. Ashleefinalizou o vídeo e não demorou muito para que os nossos celulares começassem a apitar sem parar, várias e várias vezes. Deletei-me nos braços da Dinah, até o momento que o organizador avisou que elas precisavam ir, uma vez que o show iria começar.
Fui para uma parte em especial assistir elas, vendo os fãs e imaginar como será o momento súbito que iria me juntar a elas. Ao faltar duas músicas uma das preparadoras me chamou e entregou-me uma roupa parecida com as das meninas. Ela também fez uma maquiagem e o organizador me levou para um andar abaixo e me pediu para tomar cuidado, pois aquilo iria subir. Fiquei sorridente não nego, além de fazer essa surpresa à todos aqui, ainda vou ter essa entrada.
Pude ouvir a Lauren falar com os fãs enquanto a intro de Work From Home foi estendida.
"– Não é o ódio que acaba com o ódio. O que acaba com o ódio é o amor – Lauren falava enquanto eu subia – há muito tempo vários rumores se reuniram em nossa volta, mas o amor, ele é forte, ele é determinado! – Foi dando continuidade. – Vocês conseguem sentir o amor? – Pude ouvir os gritos dos fãs. – Eu também consigo sentir. Levantem suas mãos, vamos todos juntos com Work From Home – gritou bastante entusiasmada, sua voz."
Quando Lauren terminou de falar também parei de subir, quase cegando com a luz do holofote que acabara por focar em mim. Quando a intro chegou ao fim e eu comecei a cantar, Lauren veio em minha direção e pegou em minha mão para me ajudar assim, descer do pequeno elevado. Fui me adiantando em direção do público, tendo a sensação de estar no céu, se assim posso descrever. Ainda lembro da coreografia, por isso não foi difícil acompanhar elas no ritmo.
Quando a música terminou, elas tornaram a me abraçar, o que fez o som da plateia ficar ensurdecedor, alegre e cheio de energias positivas.
"Camila, nós te amamos!"
Eu me arrepiei completamente com eles dizendo isso, sabe, embora seja loucura e esse show não seja meu, estar no palco com elas foi algo que costumava ser bom. Na época quando as coisas começaram a ficar bem ruins entre Lauren e eu, passei a ter medo, minha liberdade foi espremida, meus sonhos pareciam se tornar um pesadelo, o meu sorriso era apenas representações de integrante feliz. Não, isso não foi culpa de Lauren, havia sempre uma pessoa falando o quanto errado estávamos, eles fizeram com que nós duas acabássemos por acreditar que nosso namoro era um erro para o futuro da banda.
Pelo menos, após a minha saída do grupo, todos os envolvidos tomaram um certo medo de perder mais um integrante, então resolveram parar de sufoca-las como faziam no meu tempo. Normani e Dinah tiveram manifestações de carinho em público, Lauren assumiu sua sexualidade, Ally, bom, Ally sempre sendo uma santa. Há males que vem para o bem, já diziam. Por isso, acho que o tempo curou a maior mágoa que elas tinham sobre mim, até porque disso tudo, elas foram quem tiveram melhores vantagens.
Eu basicamente precisei abrir mão de um amor, sentimento, paixão, grupo, amigos. Eu estava no topo com elas e caí, me machuquei, precisei curar feridas profundas e ressentir o fogo dos sonhos queimar em meu coração para assim, passar dia após dia buscando chegar no céu novamente. Hoje eu sou uma estrela solitária e elas, uma constelação, pelo menos assim era até o momento que subi. Nesse êxtase momentâneo, sinto que faço parte disso aqui, como elas também – afinal desde o início tudo isso foi sonhado por cinco – e em qualquer ponto da minha carreira, a que mais feliz é estar aqui ao lado delas, de Lauren.
– Hoje é um dia muito feliz. Brasil nós amamos vocês, GOSTOSAAAAS.
Acenei com um tchau, saindo do palco junto com elas pois o show acabara de acabar. Quando voltamos para o camarim, Lauren me abraçou e disse que sentia falta disso em nós, essa sintonia que é só nossa.
– Vamos então? – Dinah pergunta, colocando seu boné para trás.
– Aonde? – Pergunto.
– É que a gente alugou um karaoke por uma noite hoje, convidamos alguns amigos e fãs para participar. – Explica Normani.
Dei pulinhos e bati minhas mãos empolgada com esse convite, o que as fez rir. Passou um tempo até que nossa fã chegou e nossos seguranças nos levaram até lá. Quando chegamos ao Karaokê, me serviram uma bebida gelada, meu olhei para o drinque e lembrei que amanhã é o desfecho.
– Mas Lauren, amanhã vocês aguentam o show? – Questiono.
– Camz, só se divirta. Vamos encarar essa noite como a retoma da nossa amizade, aonde conseguimos lembrar porque sempre seremos cinco por uma e uma por cinco.
– Ai, o que tu fez com a Lauren, Lolo? – Pergunto, irônica.
– Camz, ela só lembrou de algumas coisas. – Morde o lábio ao responder. – Vamos cantar?
– Deixa eu beber um pouco. – Dou risadas e ela acaba por me deixar com a Ally.
Comecei a beber com a Ally, batendo cabelo com a Normani que acabara de se juntar a nós duas. Começamos a dançar juntas enquanto bebemos vodka pura, deixando qualquer nível de tensão para o lado de vez. Colamos nossas costas e jogamos nossas mãos para cima, curtindo a batida da boa música brasileira. Fui sentindo o álcool ganhar o controle, o que diverte também. De repente, vemos Lauren pegar o microfone e pedir a atenção de todos, o que nos fez parar de dançar.
Ecos de Amor
Acordei na escuridão
sem deixar de pensar em você
sua marca ainda está no meu travesseiro
vejo teu rosto na minha frente
sinto que ainda está aqui
meu corpo inteiro sente sua falta
Posso ver sua sombra na lua
quando você ilumina meus pensamentos
ja estão desgastadas
todas as palavras
o que temos você e eu
já não te alcança o coração
ainda no meu peito
sinto sua falta
tudo o que fomos nós dois
são ecos de amor
oh oh oh... oh oh oh
estou perdendo a razão
você fala comigo em qualquer musica
seu nome está em cada palavra
estás tão perto e tão longe
só me apego ao seu reflexo
te perco
já estão desgastadas
todas as palavras
o que temos você e eu
já não te alcança o coração
ainda no meu peito
sinto sua falta
tudo o que fomos nós dois
são ecos de amor... oh oh oh
ecos de amor... oh oh oh
ecoam mais e cada vez m oco mais
ecoam e não posso me acostumar
Dinah esbarrou a mão dela na minha, aproximou sua boca do meu ouvido; "Ela quer Camila". Sussurrou. Todos filmaram a Lauren cantar isso, completamente bêbada e ao mesmo tempo séria. Ela acabou por devolver seu microfone para o organizador e ir para o bar, sentar perto da bancada. Peguei o drinque da Dinah e fui até ela, com meu rosto levemente suado e minha respiração pesada, por conta do meu coração acelerado. Sentei-me ao lado dela e a fiz olhar para mim, por um segundo, olhei para trás e vi todos olharem para mim e isso me fez ser mais cautelosa. Sei que só de estar sentada aqui com ela já vai rolar muitas teorias sobre nós – não que isso me importe mais, exceto pelo Shawn – volto a olhar para ela e sorriu.
– Que tal dançarmos uma, em? – Pergunto.
– Eu te amo Camz. – Ela fala, séria. – Eu sinto muito por querer sempre culpar você por tudo.
– Lauren, estamos bêbadas. Outro dia falamos sobre isso.
– Eu só queria que soubesse de uma coisa, pode?
– Diga, Lauren.
– Só teve duas vezes na vida que eu te odiei de verdade: Quando você saiu da banda e quando você assumiu estar com o Shawn. Eu sempre te culpei muito por tudo, mas eu comecei a ter conhecimento da minha parcela de culpa em tudo que acabou por acontecer. Só quero que saiba que nem mesmo disso. Eu senti meu coração dilacerado. Doeu Camila. Eu queria que doesse em você e me esqueci o quanto já doía e com tudo isso, piorei a nossa dor. – Ela se levantou da cadeira. – Bêbada ou sóbria, essa é a verdade que você merece e eu também; Eu te amo, Camila Cabello! Mas odeio você e sua mania de quebrar suas promessas. Contudo, eu sinto muito por ter agido como agi e não ter te ouvido mais uma vez.
Ela me deu as costas e eu fui atrás dela. Começou a tocar uma música do Ed Sheeran que conheço bem; Dive. Realmente, quando puxei Lauren para dançar e me dei conta da música que isso aconteceria, meus nervos acabaram por contrair enquanto seus olhos verdes me encaram como quem espera o passo seguinte da minha parte. Eu sei, isso será um prato cheio para a mídia e um coração certamente se partirá, mas vou fazê-lo. Peguei na mão dela, colocando nossos corpos, fechei meus olhos para esquecer que estamos cercados de pessoas que provavelmente jogará isso na internet e me concentrei apenas na Lauren.
– Não faça isso, exceto que você o queira. – Ela sussurrou em meu ouvido.
– Eu quero isso, mais do que qualquer coisa que já quis depois de você.
Respondi a ela, voltando a abrir meus olhos e, quando levantei a minha cabeça enxerguei as duas garotas de dezesseis anos que se apaixonaram, amaram-se e fizeram promessas que mesmo em meio a tantas circustâncias negativas, estão nessa dança revivendo parte delas agora.
– Aliás, eu também te amo. – Lauren sorriu e acabou por segurar a minha cintura.
Disfarçar que só está nós duas aqui é completamente impossível. Nossa dança em si acabou por ser interrompida pelas meninas que nos arrastaram para os microfones aonde cantamos músicas diversas, bebemos muito, de um jeito que acabara por exterminar qualquer sentimento ruim entre nós, e isso, bom, isso é tudo que esperava para nós e é bom ver que finalmente meus sonhos acordados desde que saí da banda, estão se tornando a mais linda realidade.