Viola e Rigel - Opostos 1

By NKFloro

1.1M 133K 226K

Se Viola Beene fosse um cheiro, Rigel Stantford taparia o nariz. Se ela fosse uma cor, ele com certeza não a... More

O Sr. Olhos Incríveis
A Cara de Coruja *
A segunda impressão
O pesadelo *
O Pedido
O Presente
O Plano
O Livro
A Carta
O Beijo
A Drums
A Raquetada*
O Queixo Tremulante
Cheiros
Os Pássaros *
O Pequeno Da Vinci
O Mundo era feito de Balas de Cereja
O Dia do Fundador
BOOM! BOOM! BOOM!
A Catedral de Saint Vincent
Ela caminha em beleza
Anne de Green Gables
O Poema
Meu nome é Viola
Cadente
Noite de Reis
Depósitos de Estrelas
70x7
A loucura é relativa
Ó Capitão! Meu capitão!
E se não puder voar, corra.
Darcy
Cupcakes
Capelletti e Montecchi
Ensaio sobre o beijo
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Metamorfose
Perdoar
Natal, sorvete e música
Anabelle
Clair de Lune
Eu prometo acordar os anjos
Red Storm
Purpurina da autora: O que eu te fiz Wattpad?
Palavras
Como dizer adeus
Macaco & Banana
Impulsiva e faladeira
Sobre surpresas e ameixas
Como uma nuvem
Sobre Rigel Stantford (Mad Marshall Entrevista)
Sobre Viola Beene (Mad Marshall Entrevista)
Verdades
Rastejar
O Perturbador da Paz
Buraco Negro
O tempo
Show do Prescott
A Promessa
O tempo é relativo
Olá, gafanhoto
Olhos de Safira
O caderno
De volta ao lar
A Missão
A pior noite de todas
Grandes expectativas e frustrações maiores ainda
Histórias de amor e outros desastres
Sobre escuridão e luz
Iguais
Sobre CC e RR
Salvando maçãs e rolando na lama
O infame
PRECISAMOS FALAR SOBRE PLÁGIO
Promessas

Infinito

20.2K 2K 6.5K
By NKFloro

Estourou os próprios miolos. Estourou os próprios miolos. Estourou os próprios miolos... As palavras ficavam se repetindo como se fossem um disco arranhado.

Não é verdade, a avó Evie não se matou, ela teve um AVC, foi o que o meu pai me disse.

― Pai?

― Eu estou em reunião, Rigel. ― afirmou ao atender o telefone, nem um pouco solicito. ― O que você quer?

Falar com o Capitão América. Não é óbvio? É claro que eu não digo isso, apesar de tudo, pretendo continuar respirando.

― Preciso falar com o senhor.

― Não pode esperar um pouco? Eu ligo para você quando a reunião terminar.

― Não, eu não posso! ― minha voz subiu algumas oitavas e me sentei em um banco, respirando o mais fundo que consegui.

Alguém pergunta a ele se está tudo bem, e quase posso ver sua cabeça balançar em afirmação enquanto diz: É o Rigel.

― É a Missie Mills? ― A verdade é que eu não gosto nada da tal Missie, e assim que as férias chegarem e eu conseguir dar no pé deste lugar arrumarei uma maneira totalmente eficaz de mandá-la de volta para o salão da avó. Não a quero na empresa, não a quero perto do meu pai, rindo para ele e o encarando com a boca aberta.

― Sim, é ela. ― disse num tom cansado. Ouço um burburinho ao fundo e o barulho de teclas sendo apertadas e posso respirar mais calmamente. ― Você vai dizer por que me ligou, ou não? Estou no meio de uma reunião importante aqui.

― Eu não sei por onde começar.

― Que tal pelo começo?

― O começo pode ser um pouco cansativo e eu não sei se consigo esperar tanto por uma resposta, então vou direto ao ponto. Como a vovó Evie morreu?

Ele soltou um suspiro, e posso apostar que grudou as costas na cadeira. Normalmente, meu pai evita falar na vovó Evie, a mamãe também, e sempre que seu nome vem à tona em alguma conversa, ele fica estranho.

― Um momento. ― pediu, não para mim. Acho que deve ter deixado a sala porque o vozerio foi substituído pelo silêncio e sua respiração é tudo que eu posso ouvir enquanto espero. ― Que tipo de pergunta é essa?

― Você disse que ela sofreu um AVC. ― comecei baixinho. ― Mas alguém me disse que ela se matou, pai, que era maluca e estourou os próprios miolos e...

― Nem mais uma palavra.

― Por quê? O que foi que eu fiz?

― É da minha mãe que você está falando. ― pontuou num tom duro, quase colérico. ― Quem te disse isso?

― Foi mal, eu não pensei...

― É ai que está o problema, você nunca pensa. ― um suspiro seguido de um profundo e denso silêncio. ― Quem disse?

― A Emily.

― Emily Dawson?

― É, pai. ― colei as costas na parede e deixei os ombros caírem. Eu não tenho tido muitos dias bons ultimamente, mas este estabeleceu um novo patamar. ― Eu só quero saber se é verdade. Não que eu ache que você seja um mentiroso, mas a impressão que eu tenho é que todo mundo nessa família esconde alguma coisa.

― Olha, eu irei ai amanhã e conversaremos sobre isso, é um assunto delicado demais para ser tratado por telefone.

― Então, o que a Emily disse é verdade?

― Conversamos sobre isso amanhã. ― disse de forma definitiva. ― Até lá, tente se acalmar. Tomou seus remédios?

― Sim. ― Não.

― Ótimo! Eu preciso desligar agora. Você ficará bem?

― Sim. ― Não.

― Certo. Vejo você amanhã.

Como eu posso ficar bem quando acabo de descobrir que fui enganado esse tempo todo? O que mais estão escondendo de mim? Quais as chances de eu acabar fazendo o mesmo? Estourando os próprios miolos.

Ainda estou tentando, sem sucesso, digerir o fato de que a minha avó provavelmente é uma suicida quando a avisto, não a minha avó, a Beene, sentada no chão frio com as costas grudadas na parede do meu quarto enquanto os dedos amassam a barra do vestido azul bonitinho.

Enfio o celular no bolso e me aproximo.

Ela ergue a cabeça afastando a juba vermelha e sorri para mim com olhos arregalados. A visão do seu rosto me fez esquecer a avó Evie e que vivo na Pinoquiolândia.

― Ah, oi, estava te esperando. ― começou. ― Você sabia que em uma noite de céu aberto podemos enxergar cerca de 2.500 estrelas?

― Não, mas agradeceria se ficasse de pé, o chão está frio e pode acabar congelando. ― estendi a mão para ela, que não demorou a segurá-la, pulando para cima na ponta dos pés. Estava usando outra vez as sapatilhas de gatinho que, ao que parece, são reservadas para ocasiões especiais.

― Muito obrigada, monsieur Stantford. ― seu corpo se curvou numa mesura e a tiara de pérolas que enfeita sua cabeça deslizou para o lado.

― Não por isso.

Ela deve ter percebido meu olhar para suas meias, porque seu sorriso se alargou e ela deu um rodopio, exibindo asas atadas aos tornozelos com fitas roxas.

― Você gostou? ― perguntou ao estacar, segurando a barra do vestido com as pontas dos dedos.

Não é a sua pior combinação. O vestido é bonito, apesar de cobrir quase toda a canela, armado e com muitas camadas de tecido; as sapatilhas também são bonitinhas, mas as meias-coloridas com estampa de pássaros vermelhos fazem-na parecer uma pequena palhaça.

― Legal.

Uma risadinha.

― O vestido é novo e eu mesma fiz a tiara. ― falou animadamente. ― Eu teria comprado sapatos novos também, mas no momento estou poupando cada centavo, assim que terminar a escola vou pôr a mochila nas costas e viajar o mundo... e para isso preciso de dinheiro, não de sapatos novos.

― Viajar o mundo?

― Sim. Voar sobre os oceanos e ver tudo com que tenho sonhado: as pirâmides do Egito; o pôr-do-sol em uma ilha paradisíaca. Usar uma máscara no carnaval de Veneza, ser uma Colombina, talvez Julieta; andar de gondola. Quando estiver na América vou tirar um dia para ler por horas a fio na Library of Congress Thomas Jefferson Building. Sabia que é a maior livraria do mundo? Eu chamaria um lugar assim de Paraíso na Terra. ― ela deu um passo à frente, mantendo o olhar firme no meu. ― Você pode vir comigo se quiser. ― Eu não respondi, não sabia o que dizer. Parece uma ideia legal, mas não é algo que eu faria. ― Seus dedos seguraram a manga da minha camisa. ― Ainda falta muito tempo, não precisa responder agora. No momento, basta que me siga até o jardim.

― Seguir você?

― Você escolhe: ou me segue ou eu te arrasto até lá pela manga da camisa. Mas pensa bem, porque esta é uma camisa bonita demais para ficar inutilizada.

Os jardins do Madison são muito pouco, para não dizer quase nada frequentados pelos alunos, mas a Cara de Coruja gosta daqui, e pensando bem, agora que estou encarando os canteiros de crisálidas, rosas e botões-de-ouro à nossa volta e aspirando o perfume frio da noite, não é tão ruim.

Um relâmpago cortou o céu, e depois outro.

― Parece que vai chover. ― disse enquanto era guiado para o jazebo, o mesmo onde estivemos comendo cupcakes no Dia da Família.

― Você não tem medo de água tem? Eu adoro quando chove, é como se o céu jogasse confetes sobre a humanidade. Falando nisso, como foi a sua festa?

Parei, fitando seu rosto alegre.

― Ah, você sabia e não me falou nada?

― Não queria estragar a surpresa. ― afirmou, e parecia estar sendo sincera.

― Teve bolo de ameixa, confetes voando na minha cara e hip-hop.

Ela torceu o nariz e tentou refrear uma risadinha, que no fim escapou por entre os dentes.

― Sinto muito.

― Não é engraçado.

― Eu sei, é que pensar em você ouvindo hip-hop e comendo bolo de ameixa me parece estranhamente divertido.

― Esqueça a diversão, multiplique a estranheza da coisa por cem e terá a exata dimensão do pesadelo.

― Você não vomitou, não é?

― Não, mas cheguei bem perto disso.

Dei mais uma olhada para o alto, bem a tempo de ver outro relâmpago iluminar a noite; não pude me impedir de fazer uma careta.

Eu não tenho nada contra chuva, meu problema são os raios, sei o que dizem: que a probabilidade de ser atingindo por um é bem pequena. Mas tente dizer isso ao Roy Sullivan, que foi atingido por sete, eu disse sete, raios. O cara é, tipo, um para-raio ambulante.

― Fecha os olhos. ― a Cara de Coruja pediu assim que entramos no jazebo, e continuei com eles bem abertos. ― Por favor. ― Eu não estou nem um pouco propenso a atender seu pedido, mas ela me encara com cara de cachorro pidão e acabo cedendo. ― Não abre. Eu volto num segundo. Não abre.

― Eu não vou abrir.

― Promete?

― Prometo.

O relógio da Beene deve estar com problema, porque ela demora cerca de três minutos, talvez mais; tenho que fazer um esforço sobre-humano para não desistir da promessa e abrir os olhos. Impaciente, me apoio na balaustrada e espero, atento ao ir e vir de seus passos e ao barulho de coisas sendo remexidas. Talvez seja uma pegadinha, vai saber, ela pode estar planejando se vingar por todas as vezes que eu fui um idiota - que não foram poucas.

O barulho cessou.

― Pode abrir agora! ― Minhas pálpebras se erguem e meus ouvidos são preenchidos pela docilidade da sua voz: ― I heard you're feeling nothing's going right. Why don't you let me stop by? The clock is ticking running out of time, so we should party all night.... Boy, when you're with me i'll give you a taste, make it like your birthday everyday. I know you like it sweet, so you can have your cake. Give you something good to celebrate... (Ouvi dizer que você está sentindo como se nada estivesse indo bem. Por que você não me deixa passar aí? O relógio está correndo, estamos ficando sem tempo, devemos festejar a noite toda... Garoto, quando você estiver comigo, vou te dar um gostinho, fazer como se fosse seu aniversário todos os dias.
Eu sei que você gosta de doce, então você pode ter seu bolo. Te darei algo de bom para comemorar...) ― A Cara de Coruja segura um cupcake amarelo na frente do corpo e a chama da vela bruxuleia à medida que as notas são desenhadas por lábios compenetrados. Ela parece apreensiva, balançando na ponta dos pés com olhos arregalados e queixo tremulante. ― So make a wish, i'll make it like your birthday everyday. I'll be your gift, give you something good to celebrate. (Então faça um desejo, vou fazer como se fosse seu aniversário todos os dias. Serei o seu presente, te darei algo de bom para comemorar.) Feliz aniversário! ― concluiu com um sorriso nervoso ao tempo que um flash iluminou o céu.

Continuei a encará-la, paralisado e mudo, isso é bem mais do que eu mereço, entretanto, acho que não se trata de merecimento. Abro um sorriso fraco e balanço a cabeça enfaticamente antes de cuspir um:

― Uau!

Como eu pude sequer pensar que um simples parabéns seria tudo que teria dela? É de Viola Beene que estamos falando: a garota que resumiu uma matéria inteira para mim, que me comprou macaroons e cantou Cinco Macaquinhos quando eu estava hiperventilando.

― Não vai soprar a vela? ― perguntou diante do meu silêncio. ― Pode fazer um pedido. Ela se aproxima um pouco mais, a pequena chama ilumina nossos rostos e seus olhos faiscam quando, após alguns segundos, sopro a vela.

Mais silêncio.

― Obrigado por, você sabe, isso. ― agradeci, apontando a toalha estendida sobre o banco de mármore.

Ergo uma sobrancelha e rapidamente contabilizo quatorze mini-cupcackes coloridos, quatro refrigerantes, alguns macaroons com carinhas engraçadas e uma porçâo de balas de cereja.

― O que você pediu?

― Nada. ― É verdade, eu não consegui pensar em qualquer coisa, a não ser no fato de que seu rosto estava próximo demais do meu e sua boca parecia pedir para ser devidamente beijada.

― Por que não?

― É tolice.

― Você me dá o seu pedido, então?

― Não acho que pedidos de aniversário sejam transferíveis.

― Não importa, pedirei mesmo assim.― O vento soprou uma mecha de cabelo sobre seu rosto e ela balançou a cabeça para afastá-la. ― Mas agora, o que acha de cupcakes e refrigerante? Não consigo pensar em nada melhor que isso.

Eu consigo.

― São de cream-cheese. ― foi logo avisando. ― Eu sei que você adora, então peguei a receita e pedia à Sra. Bishop que os fizesse para mim. É melhor comermos antes que algum monitor apareça e nos mande para dentro com uma bela advertência.

Advertência? Eu prefiro nem pensar no que meu pai faria comigo caso levasse uma. Adeus mesada. Adeus raquetes.

Me sento em um extremo do banco e ela no outro, não quero ficar muito perto e agradeço mentalmente por ela respeitar meu espaço.
Os cupcakes estão realmente bons, e o que é melhor, sem nada de ameixas. Mas enquanto como e mando goles de refrigerante para o estômago, atento para a sua boca em formato de coração e me pergunto como pude compará-la ao bico do Patolino.

Ela ergue a cabeça e seus olhos gigantes encontram os meus, os cílios longos tocando as lentes dos óculos. Percebo a pequena nuvem de cream-cheese no cantinho da sua boca e desvio o olhar para me impedir de limpá-lo. Sorrindo, ela sorve mais um gole de refrigerante e parte para o sexto - sétimo - cupcake.

Um trovão ribomba sobre nós e pesadas gotas de chuva fustigam o telhado. No mesmo instante, a Cara de Coruja abandona o doce, fica de pé e corre para a saída.

― Confetes celestiais! ― comemorou como se assistisse ao fim de uma longa estiagem.

Me mexi no banco, pensando se não era o caso de sair correndo.

Com olhos alegres ela me encara, corre de volta para o banco e despenca, por pouco não amassando os doces.

Ela não ia...? Ah, ia sim.

Minha testa franze ao perceber o que ela planeja. As mãos rápidas arrancam a sapatilha, que são lançadas longe junto com a tiara e as fitas.

― O que está fazendo?

― Preciso aproveitar meu desejo. ― afirmou, me fitando como se eu fosse o maior dos tolos por ter perguntado.

― Você pediu chuva?

― Ah, eu pedi um monte de coisas. Vê só isso, os céus estão jogando confetes sobre a terra, meu pedido foi atendido. Estou tão feliz que sinto vontade de dançar em agradecimento. ― discorreu ao esticar a canela para fora do jazebo.

Por que ela tem que estragar tudo sempre? Por que não pode só ficar quieta e agir como uma pessoa normal? É noite, está frio e relâmpagos cortam o céu a todo momento e, enquanto eu quero ficar aqui e me manter seco, ela quer cair na chuva e dançar em agradecimento.

― Você não pode deixar a dança para..., sei lá, amanhã?

― O amanhã é uma ilusão.

― Não vai mesmo fazer isso, não é? ― a minha voz sai cansada, abafada.

― Você pode vir comigo.

― Nem pensar.

― Por favor. ― anuiu com as mãos cruzadas sob o queixo. ― Por favorzinho.

― Sem chance.

― Se vier comigo, eu te conto um segredo.

― Se você me contar não será mais um segredo. ― rebati, esticando o braço para pegar uma lata de refrigerante. ― Por que não desiste disso e volta para cá?

Caindo na chuva, ela anunciou:

― Não posso desperdiçar meu presente! ― um pulinho. ― Você precisa vir aqui! A água está morninha. ― outro pulinho.

― Não, obrigado. Eu tenho bastante água morna no chuveiro.

Seus braços se abriram enquanto o olhar ia para o alto.

― Não é a mesma coisa. Como pode comparar confetes celestiais com água de chuveiro?

― Beene, por que não para de rodopiar e sai dessa chuva antes que pegue um resfriado ou seja atingida por um raio?

― Eu posso ser atingida por um raio em qualquer lugar. O avô do avô da minha bisa Elizabeth foi atingindo por um raio enquanto dormia na sala de casa. Um raio também atingiu nossa amendoeira uma vez, o tronco ficou todo sapecado, mas a mamãe garantiu que voltaria a florescer, e voltou.

― Você não é uma amendoeira.

Ela correu até o jazebo e descansou o queixo na balaustrada, me encarando, os cabelos e as roupas encharcadas.

― Você gosta de amêndoas?

― Por que quer saber?

― Você gosta?

― Sim.

― Então eu sou uma amendoeira. ― afirmou com um sorriso.

É inútil lhe pedir que saia da chuva, além de maluca, ela é teimosa. Então me recosto no parapeito, dou um pequeno gole na soda, agora quente, e tento ignorar o fato de que neste exato momento ela está cantarolando Singing In The Rain e remexendo o corpo magricela pelo jardim.

Um relâmpago atravessa a escuridão, seguido de um estrondo, e sinto a terra chacoalhar sob meus pés ao ser engolido pelo silêncio que se segue. Mais que depressa fico de pé, estreitando os olhos à procura da maluca, que parecia ter evaporado.

E se o raio a atingiu?

Meu coração saltou no peito e perdi o ar ao imaginá-la estatelada na grama.

― Beene! ― chamei. Nada. ― Beene! ― minha voz saiu mais alta, e um pouco trêmula também.

Apressadamente disparo pelo jardim; as gotas me atingem furiosamente e apresso o passo, tentando manter a calma ao vasculhar os arredores.

― Ai, meu Deus! ― ela exclama de algum ponto às minhas costas e me viro para vê-la com a cabeça para o alto, perplexa. ― Foi... Você viu aquele relâmpago? Foi assombrosamente magnifico! ― Só pode ser uma piada! Magnifico o caramba! ― E o jeito como ele acendeu a noite.

Solto o ar.

― Quer saber, que se dane. ― disse num tipo de soluço ao passar por ela, o coração dando socos violentos à medida que as mãos trêmulas afundavam nos bolsos. Qualquer coisa, até mesmo essa droga de chuva, é melhor que continuar olhando para a Cara de Coruja.

Chega de confetes celestiais. Chega de relâmpagos magníficos. Chega de Viola Beene.

Avanço a passos largos, amassando a grama e recebendo pingos de água gelada na cara. Ela segue no meu encalço com seus "O que houve?" e "Você está bem?" e preciso fazer uso de todo auto-controle para não me virar e mandá-la para a hospedaria do capeta.

― Você pode, por favor, me dizer o que eu fiz de errado?

― O problema não é o que você fez, mas o que você é. Você é maluca, Beene, completamente pirada. ― paro bruscamente e encaro sua boca aberta, a expressão chocada. ― E está me deixando pirado também.

― Como pode dizer isso? ― ela devolveu, o queixo tremendo, não sei se de frio ou nervoso.

Respiro com força e, segurando seu rosto molhado entre as mãos, despejo as palavras:

― Você quase me matou de susto, caramba! Eu pensei que tivesse sido atingida por um raio, morrido, batido as botas, adiantado sua entrada no céu! Droga, Beene. Eu pensei que tivesse perdido você.

― Ei, tudo bem, eu estou aqui, você nunca vai me perder. ― assegurou. Seus dedos envolvem meus pulsos, e percebo que ela está tiritando de frio. ― Foi só um trovão. Fica calmo e respira devagar.

― Está tremendo. Por que você tem que fazer esse tipo de coisa? Por que não pode agir normalmente pelo menos uma vez na vida? Não estaria assim se tivesse me ouvido.

― Mas também não teria tomado banho de chuva, nem você estaria me abraçando agora. Já reparou que na maioria das vezes são as reações que fazem a ação valer a pena? ― Engulo em seco. Ela tem razão, eu a estou abraçado. Assustado comigo mesmo, deixo as mãos caírem ao lado do corpo e dou um pequeno passo para trás. ― O que foi? Eu disse algo de errado?

― Não, só acho melhor voltarmos para dentro antes de pegarmos um resfriado. ― minha voz sai firme, mas meu coração vacila.

Seu cabelo cai nos ombros, pelo colo pálido e sardento, o que me faz pensar em pequenas constelações e sutiã de gatinhos. Não dá para continuar olhando para ela, não quando cada átomo do meu corpo alerta para o fato de que seu vestido encharcado marca mais do que deveria e a luz tênue dos postes duplos deixam-na insanamente bonita.

Sim, eu disse bonita, e acho que isso prova algo sobre mim: eu estou enlouquecendo, pirando, caminhando a passos largos rumo ao quarto branco de um hospital psiquiátrico. Mas esse não é o meu maior problema, sou perfeitamente capaz - talvez não - de ignorar o fato de que ela parece uma fada com orelhas élficas adoráveis despontando por entre a teia de cabelos flamejantes. O que eu não posso ignorar é o aperto no meu peito, a vontade esmagadora de prendê-la em meus braços e beijá-la. Pelo que eu sei, a melhor forma de resistir à tentação é fugir dela; por esse motivo, me afasto e sigo andando. Não é uma atitude muito digna. Mas que se dane a dignidade, eu preciso fugir antes que seja tarde demais.

Não consigo ir muito longe, avanço menos de cinco metros antes que ela me alcance e me faça parar. Seus dedos gelados pousam no meu braço, se demorando por um momento, e encaro a trama de veias sob a pele de cera. Minha alma congela, o olhar dispara para um canteiro de peônias e de volta para sua boca, não consigo parar de olhar para ela ou ignorar o fato de que quero desesperadamente beijá-la. Ela continua quieta, me olha como se soubesse exatamente no que estou pensando.

Sinto a respiração pesar.

― Você já dançou na chuva alguma vez?

― Não que eu me lembre. ― afirmo num tom tão amorfo quanto apreensivo.

Ela sorri.

― Dançaria comigo?

― Aqui? Agora?

― O agora é tudo que temos, não é? ― pontuou, o sorriso ficando maior. ― Só um pouquinho.

― Beene, eu não vou fazer isso, sem chance. Estou tremendo de frio e tudo que eu quero é voltar para dentro e tomar um banho quente. Esquece a dança e vem comigo antes que pegue um resfriado.

Ainda sorrindo, ela agarra minhas mãos e as leva à sua cintura.

Meu coração bate na boca.

Eu não sou um bom dançarino, tenho tanto gingado quanto um poste e nas poucas vezes que arrisquei alguns passos acabei pisando no pé de alguém e morrendo de vergonha. Mas minhas mãos estão devidamente posicionadas em sua cintura esguia e ela está se movendo devagar entre meus braços, oscilando para lá e para cá enquanto a observo, petrificado. Seu rosto se ergue e seu sorriso é como um archote na escuridão. Continuo parado, não consigo me mover, afastá-la, nem quero isso. Esqueço os trovões, a chuva e o frio. Esqueço o quão tolo isso é e intensifico meu aperto em volta da sua cintura, me movendo num balanço desajeitado. A consciência do seu corpo colado ao meu, do roçar das suas pernas nas minhas me tira o fôlego.

Ela pousa a cabeça no meu peito e estremeço com a certeza de que que ela pode ouvir seu descompasso. Não sei por quanto tempo ficamos assim, oscilando na chuva sem dizer palavra. Seus olhos se erguem encontrando os meus e há estrelas em suas retinas.

― Se eu não tivesse o amanhã, você me beijaria hoje? ― as palavras cortam o silêncio e, surpreso, vislumbro o expandir de suas pupilas. ― Quer me beijar agora?

Felizmente não há muita luz, porque estou certo de que estou mais pálido que o Gasparzinho.

O que eu posso dizer?

Balançando devagar a cabeça, engulo em seco e me inclino para ela, que fica congelada em meus braços, como se não pudesse acreditar. Movo meus lábios nos seus, no começo com toda delicadeza, não quero assustá-la.

― Você tem que me beijar de volta. ― sussurro contra seus lábios trêmulos, ofegante.

Ela assente entreabrindo os lábios tímidos, que agora se movem mais vivamente.

Meu coração bate como se eu estivesse beijando uma garota pela primeira vez. E enquanto a beijo a verdade me atinge, sinto uma dor apunhalante no peito: eu não estou enlouquecendo, não da forma usual, é pior que isso, muito pior, eu estou... Eu estou ferradamente apaixonado. Pela Cara de Coruja.

Paro bruscamente e a encaro; seus lábios estão vermelhos, o rosto ruborizado. Ela abre os olhos e me encara de volta.

― Eu não sei fazer isso, não é? ― perguntou num tom baixo demais, o ar gelado nos açoitando enquanto o céu desaba sobre nossas cabeças. Não respondo, estou meio incapacitado de formular qualquer resposta ou pensamento decente, só consigo pensar em beijá-la e beijá-la mais um pouco, até que todas as estrelas morram e o sol se apague.

Dedilho suas costas, não posso suportar a ideia de tirar minhas mãos de cima dela, não ainda. A puxo contra mim e deslizo os lábios por seu rosto gélido, sinto a maciez cálida do interior da sua boca, o toque suave de seus dedos no meu pescoço, entre os cabelos, e intensifico o beijo. Então não há mais medo, nem dor, nem morte. A vida pulsa em minhas entranhas, desliza nas veias. Estou vivo. Estou inteiro. Sou infinito.

Olá, gafanhotas

Aqui estou com mais um capitulo e quero saber o que acharam, amorinhas. Aprovado ou nem?

Chegamos ao capitulo 50 - mal posso acreditar - e daqui a alguns capítulos diremos adeus a essa história. Estou triste, mas feliz.

Muito, muito obrigada por estrem nessa com essa pessoinha aqui, por comentarem, votarem, me ajudarem. Muito, muito obrigada por adicionarem às listas e mais do que isso, por fazerem listas para a série, nem tenho como agradecer.

De todo coração eu agradeço.

Peço todas as desculpas do mundo por não estar respondendo muito ultimamente, mas estou mesmo sem tempo ultimamente, quero finalizar logo este livro , e meu Wattpad está todo bugado, amorinhas.

Minha gata teve filhotes, estou muito feliz, mas ela acabou matando um ao deitar por cima do pobrezinho.

Vamos às perguntas:

Quem acha que a Vi é maluca?

Quem acha que não?

Quem acha que o Oli é pirado?

E vocês gostam de banho de chuva?

O que me dizem do beijo?

Eu não pude revisar o capitulo, perdoem os erros e não me matem.

Quem mais?

Aguardem o próximo capitulo.

O que acontecerá agora que o Oli percebeu o que todo mundo já estava cansado de saber?

a- aceita que dói menos e fica com a Vi.

b- Não aceita nem morto e foge.

c- Acaba de pirar.

Imaginem a reação do nosso adoradíssimo Arran e da nossa queridíssima Emily ao saber disso - isto é, caso fiquem sabendo.

Max vai fazer uma visita e parece que a Eliza também. O que esperar de m possível encontro?

Muito obrigada a vocês que me indicaram atores no último capitulo, viu.

Quem quer mais Vigel kiss?

Quem não quer?

Quem acredita sempre alcança, a Viola alcançou.

Não abandonem o crush, se até ela conseguiu, vocês também conseguirão.

O que esperam que aconteça nos próximos capítulos?

A todas você que vieram me falar que a Viola parece a Anne de Green Gables, eu amo vocês. Eu não fiz a Viola inspirada nela, quando comecei a escrever essa história, em dois mil e quatorze, ainda nem conhecia a personagem, mas saber que acham a Viola parecida me mata de alegria, viu.

Imaginem a cara da Emily ao descobrir que foi "trocada" pela Cadente. Qual será a sua reação?

Se o Max descobrir o que acham que ele fará?

a- matar o Oli.

b- arrancar sua cabeça e afundar na neve.

c- mandar ele para a Suíça.

Acham que a Vi aprovou o kiss?

Qual será a reação dela?

E a do Oli?

Pensem no dia seguinte.

Quem acha o Oli tarado?

Quem acha que a Viola tramou para conseguir um beijo?

Muitos kisses

A música que a vi cantou para o Oli é esta:

Músicas do capitulo e spoilers:

Aproveitem os videos, são resumo deste livro.

Muitos kisses

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