Viola e Rigel - Opostos 1

By NKFloro

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Se Viola Beene fosse um cheiro, Rigel Stantford taparia o nariz. Se ela fosse uma cor, ele com certeza não a... More

O Sr. Olhos Incríveis
A Cara de Coruja *
A segunda impressão
O pesadelo *
O Pedido
O Presente
O Plano
O Livro
A Carta
O Beijo
A Drums
A Raquetada*
O Queixo Tremulante
Cheiros
Os Pássaros *
O Pequeno Da Vinci
O Mundo era feito de Balas de Cereja
O Dia do Fundador
BOOM! BOOM! BOOM!
A Catedral de Saint Vincent
Ela caminha em beleza
Anne de Green Gables
O Poema
Meu nome é Viola
Cadente
Noite de Reis
Depósitos de Estrelas
70x7
A loucura é relativa
Ó Capitão! Meu capitão!
E se não puder voar, corra.
Darcy
Cupcakes
Capelletti e Montecchi
Ensaio sobre o beijo
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Metamorfose
Perdoar
Natal, sorvete e música
Anabelle
Clair de Lune
Eu prometo acordar os anjos
Red Storm
Purpurina da autora: O que eu te fiz Wattpad?
Palavras
Como dizer adeus
Macaco & Banana
Impulsiva e faladeira
Infinito
Como uma nuvem
Sobre Rigel Stantford (Mad Marshall Entrevista)
Sobre Viola Beene (Mad Marshall Entrevista)
Verdades
Rastejar
O Perturbador da Paz
Buraco Negro
O tempo
Show do Prescott
A Promessa
O tempo é relativo
Olá, gafanhoto
Olhos de Safira
O caderno
De volta ao lar
A Missão
A pior noite de todas
Grandes expectativas e frustrações maiores ainda
Histórias de amor e outros desastres
Sobre escuridão e luz
Iguais
Sobre CC e RR
Salvando maçãs e rolando na lama
O infame
PRECISAMOS FALAR SOBRE PLÁGIO
Promessas

Sobre surpresas e ameixas

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By NKFloro

― Para onde estamos indo?

― Shiii. ― Emily chiou, me puxando pela mão. ― Cala a boca e me segue.

Eu sei que é tolice acompanhar a Emily, ou fazer qualquer coisa que ela peça, mas depois da visita do meu pai, não  estou com muita disposição para discutir o que quer que seja, então tudo o que eu faço é segui-la para o segundo andar, me arrastando pela escada e corredores vazios. Passa das 19:00hrs e a esta hora, eu pretendia estar no meu quarto, não aqui, não sendo arrastado pela Emily.

Quando ela apareceu na minha porta mais cedo, eu pensei em mandá-la catar coquinhos, mas não seria legal fazer algo assim, não quando ela se empenhara tanto em organizar uma festa para mim, eu fiquei sabendo da tal festa  pelo Arran, a Emily contou para ele e, como era de se esperar, ele acabou batendo com a língua nos dentes.

Meu primeiro pensamento foi fingir que estava doente, eu não gosto nada de festas, menos ainda quando sou a atração principal. Mas depois da visita do meu pai, acho que será bom ocupar um pouco a cabeça com outros assuntos. "Não o quero perto daquela garota.", ele fez questão de reiterar, e parecia falar mais sério do que nunca. Por falar "naquela garota", não é como se ela estivesse fazendo questão da minha companhia, não hoje pelo menos. Deve estar ocupada demais chorando a partida do Porter. Ouvi dizer que ele integrará a categoria de base de um time Espanhol e, para ser honesto, estou torcendo para que ele se dê muito bem, consiga chegar ao time principal, faça muitos gols, ganhe boladas por dinheiro e gaste tudo com bebidas e marias-chuteiras, assim não precisará voltar tão cedo para Madison Place. Bem, voltando a Cara de Coruja, me sinto um pouco, eu disse um pouco, decepcionado, e talvez este seja mesmo o real  motivo de eu estar aqui agora. O fato é que eu esperava mais dela que um simples "Feliz Aniversário", que foi tudo que ela me disse hoje pela manhã, um pouco antes do professor entrar na sala. A minha reação aos adesivos pode não ter sido a melhor, mas eu tentei, juro. E o Pequeno Stan, que é como ela apelidou o macaco de pelúcia, é simpático, uma daquelas coisas que de tão feias acabam se tornando engraçadas, tipo..., tipo, a própria Beene. Não que eu a ache tão feia, mas ela era quando nos conhecemos, e era estranha também, isso não mudou, acho até que sua estranheza se intensificou consideravelmente com o tempo.

― SURPRESA! ― esse foi o grito que eu ouvi quando a Emily abriu a porta da Sala de Música.

Confetes voaram no meu rosto e uma música animadinha ecoou pelo lugar, e isso é um problema porque eu não gosto de músicas animadinhas e, neste exato momento, tem confete na minha boca. Tiro o minúsculo pedaço de papel rosa dos lábios e me viro para cuspir o resto. Isso não vai prestar.

Emily bate palminhas e me arrasta pelo espaço decorado com bexigas, fitas e umas coisas brilhantes e coloridas que eu não faço a menor ideia do que sejam, enquanto recebo abraços e tapinhas nos ombros acompanhados de felicitações e sorrisos.

Dou uma olhada para trás, para a porta agora fechada, e faço um cálculo mental: seis passos e estaria livre deste pesadelo chamado festa surpresa.

― Não vai me agradecer pela surpresa? ― Emily pergunta quando finalmente conseguimos alcançar o sofá próximo a pilha de instrumentos de sopro e afundar entre as almofadas. ― Deu o maior trabalhão convencer o Dir. Prescott, ele veio com aquele papo de que festas privadas não são permitidas no Madison e que não podia abrir exceções porque isso não seria certo. Você sabe como ele é com essas coisas, um grande de um chato. Mas bastou uma ligação do seu pai para que ele pusesse o rabinho entre as pernas e concordasse. É isso que eu adoro no tio Max, ele é tão persuasivo.

Assenti , observando os corpos adolescentes que se moviam no ritmo da música.

― É... Obrigado.

― De nada. Para você eu faria mil festas, mesmo porque eu adoro isso. ― ela riu. ― Quer dançar?

Com um sorriso largo, Emily ficou de pé à minha frente, e nem que eu quisesse poderia ignorar o fato de que ela estava perfeita naquele vestido vermelho superjusto. Mas vermelho me faz pensar em cabelos vermelhos e no quanto não quero estar aqui.

Sou grato à Emily por se dispor a fazer uma festa para mim, embora saiba que isso não tem a ver apenas comigo, mas com seu apreço desmedido por festas. No verão passado ela organizara uma megafesta com direito a bolo gigante e DJ para a Kim Kardashian, a cadela, não a socialite, cerca de duzentos convidados encheram o jardim da sua casa e teve até fogos, coisa que deve ter espantado a pobre Kim. Não sei se a Emily sabe, mas cães não curtem fogos de artifício.

― Só se eu puder dançar sentado.

Ela deu um passo à frente, agarrou as minhas mãos e as posicionou em volta da cintura, ocupando o espaço entre minhas pernas.

― Eu fiz tudo isso para você e não vai sequer dançar comigo? ― choramingou com um biquinho. Levantei os olhos e vi que Arran nos espreitava, recostado na mesa de comida com a boca cheia e uma lata de bebida na mão, ele deu uma piscadela e fez uma pequena encenação obscena, que eu preferi ignorar. ― É só uma dança, o que custa?

― Acho que o Arran está me chamado, eu volto no segundo. ― disse, meio sem folego. Uma coisa sobre a Emily: ela é gostosa para cacete; outra coisa sobre a Emily: ficar com ela é roubada. Emily Dawson não sabe diferenciar ficada de relacionamento sério e beijo de aliança, então é melhor correr antes que eu acabe enredado.

Parei ao lado do meu amigo, esbaforido, e peguei uma bebida, derrubando alguns sanduiches no processo. Luzes estroboscópicas piscavam diante de mim e tudo que eu conseguia pensar era em sair correndo e voltar para o meu quarto, de onde nunca devia ter saído.

― Qual é o seu problema?

― Como assim qual é o meu problema? ― desisti da bebida, tinha gosto de chá-verde açucarado.

― Cara, a Emily estava praticamente se servindo em uma bandeja e, em vez de aproveitar, você foge. Eu entendo que corra da Beene, mas a Emily é outo nível, ela é gata... e gostosa. Já olhou para os peitos dela? E para aquela bundinha linda?

― Garotas são mais que apenas peito e bunda, Arran.

― Eu sei, mas a Emily também tem pernas incríveis que, a propósito, eu não reclamaria de ter em volta da minha cintura.

― Quer saber, não dá mesmo para falar com você. Tudo que você pensa é em pernas, peitos e bundas, nisso e no Axila que Solta Puns.

― Que acaba de chegar aos cinco milhões de inscritos. Cara, eu sou, tipo, o novo PeewDiePie.

― E eu sou o novo Sinatra.

― Que se dane. ― tornou. ― Mas saiba de antemão que o seu nome não aparecerá na minha Biografia.

Eu passei a meia hora seguinte me escondendo nas sombras a fim de que a Emily não me visse, por mais de uma vez tentei sair pela tangente, mas não podia, ela contaria ao meu pai e isso, muito provavelmente, o deixaria com um humor de cão, ele continua insistindo para que eu seja legal com ela, e para o meu próprio bem é melhor fazer o que ele manda. A última vez que o desobedeci tive minha mesada indevidamente confiscada por três meses e não estou nem um pouco a fim de voltar a nadar nas águas rasas da pobreza. Eu sei que um monte de gente diz que ser pobre não é defeito e coisas do tipo, pode até não ser defeito, mas qualidade também não é. E a verdade é que eu não gostei nem um pouco da experiência, as duzentas libras que minha mãe me mandou no período mal deram para cobrir as despesas com xampus e cafés e eu ainda estou me perguntando como sobrevivi a isso sem nenhum arranhão. Estava tão desesperado que até cogitei ligar para o vovô, mas acabei desistindo e ligando para o Henri, ele me emprestou algum dinheiro e aqui estou, são e salvo.

O meu pai não vê problema em cortar a minha mesada porque não sabe o que é ficar sem dinheiro e ter que se contentar com a comida da cantina, que já foi muito boa, mas com a intervenção da nova nutricionista acabou se tornando algo muito parecido com lavagem – talvez seja esse tipo de alimentação que o Sr. Beene oferece aos porcos.

Mas o inferno é só o inferno até que o capeta apareça, e ele apareceu em forma de bolo. A minha história com ameixas não é das melhores, eu tinha cinco anos quando fui apresentado a elas, naquela época eu ainda era tolo o suficiente para acreditar em adultos, a babá me garantiu que aquelas coisinhas enrugadas eram uma delicia e eu caí na sua lábia. Acredito que não seria de bom tom descrever aqui o que aconteceu, mas posso dizer que envolve leite morno, biscoitos moídos e um pedaço de ameixa envoltos em muita baba, suco gástrico e saliva regorgitados no tapete da minha mãe.

Mas aqui estou, na minha pretensa festa de quinze anos, após ter soprado quinze velas, cercado por rostos sorridentes e encarando uma generosa fatia de bolo de ameixa.

― O que foi? ― ouço a Emily perguntar enquanto segura a fatia debaixo do meu nariz. Ela está ensaiando um bico de pato e abre um sorriso diante da minha não reação. ― Não vai pegar?

― Claro. ― digo ao segurar o prato.

Não quero parecer mal-educado e acabar decepcionando todo mundo, então me afasto com o monstro de ameixa em mãos e paro ao lado de um trompete, onde, na primeira oportunidade, o enfio com prato e tudo. Sinto por quem o encontrar, mas o que eu poderia fazer? Comer? Sem chance.

A Emily está vindo na minha direção e se move como uma serpente, me afasto do trompete para não correr o risco de ser descoberto. Ela joga os cabelos para o lado e sussurra em meu ouvido:

― Tenho um presente para você. ― Sua boca corre para a minha e, antes que ela cole os lábios nos meus, ponho uma boa distância entre nós. ― O que foi? Não quer me beijar?

Quero tanto quanto quero comer o bolo de ameixa.

― Olha, Emily, eu agradeço pela festa e por seu empenho em tentar fazer isso especial para mim, mas a verdade é eu não estou a fim.

― Não?

― Não.

― Que maravilha! ― ela joga as mãos para o alto. ― Então eu fiz tudo isso por nada?

― Não foi por nada, eu realmente agradeço, foi uma ótima festa. ― não foi não, eu só não via necessidade de dizer a verdade e piorar ainda mais as coisas.

― Eu não quero a sua gratidão, eu quero você.

― Bem, parece que temos um impasse aqui, porque eu não sou um sapato numa vitrine para o qual você aponta o dedo, diz eu quero, e num piscar de olhos é seu. Você não pode ter tudo que deseja, Emily, eu sinto muito. Existe um abismo enorme entre querer uma coisa e possuí-la de fato.

― Acontece que você é meu. ― afirmou, enrolando uma mecha loira no dedo. ― Nós nascemos para ficar juntos, eu soube no momento em que vi você vestido naquela camisa branca com estampa de coelhinhos. Eu te convidei para tomar chá no jardim e você disse que eu era a garota mais bonita do mundo, eu te dei um beijo na bochecha e arrumei sua gravata borboleta, porque você também era o garoto mais bonito que eu já tinha visto. Depois disso, você não voltou mais para o chá, mas eu sabia, sabia que seria meu um dia. ― explanou.

― Emily, eu tinha cinco anos e a minha mãe me mandou ser bonzinho com você.

― Não importa. Você é meu, eu vi você primeiro, eu fiz colagens com as nossas fotos e escrevi seu nome com glitter no meu caderno do jardim de infância.

Certo, agora ela estava começando a soar como a Glenn Close em Atração Fatal e eu estava começando a ficar assustado de verdade.

Talvez eu seja um ímã de malucas: primeiro a Bridget, depois a Beene, e agora a Emily.

Sua mão pousou no meu peito e ela fungou como se estivesse chorando, acontece que não havia uma única lágrima naqueles olhos.

― Você me pertence.

― Emily, isso aqui é a vida real, não um clip da Taylor Swif. E se você pensa que eu vou cair nesse papo-furado, é melhor rever seus conceitos sobre mim. ― retorqui ao afastar sua mão.

Ela me fitou por alguns segundos, empertigada e prestes a soltar faíscas pelo nariz.

―Tem razão, se isso aqui fosse um clip você seria um cara legal, não um pirado, medroso e covarde que inventa crises de pânico para disfarçar a loucura. ― sua voz saiu cortante. ― Eu só queria aproveitar um pouco, antes que seja mandado para um hospital psiquiátrico ou estoure os próprios miolos, como a maluca da sua avó fez, sabe? ― concluiu.

Olho pela janela, a grama está molhada, mas depois de três dias de chuva o sol voltou a aparecer.

― Sua comida. ― Nancy diz ao entrar no quarto com uma bandeja nas mãos. Seu tom é animoso, ela parece estar sempre irritada com alguma coisa, comigo, conosco.

Já nem sei mais a quanto tempo estou aqui, costumava contar os dias desenhando palitos, mas desisti de contar quando passaram dos trezentos. Semana antepassada, a mamãe veio me ver, ela disse que sente a minha falta e que não aguenta mais viver longe de mim. É engraçado porque é exatamente assim que me sinto, como se não pudesse mais viver.

Passo a mão pelo vidro embaçado e, após mais olhada nas flores, me afasto da janela. Sento na cama, encarando a comida: purê e lentilhas.

― Não vai comer? ― Nancy pergunta com as mãos nos quadris.

― Estou sem fome.

― Se acha bom demais para lentilhas e purê, Alteza? ― zomba.

― Não, não é isso, só estou sem fome. ― explico. Desde que vim para cá, tenho sentido pouca ou nenhuma fome. A mamãe me trouxe chocolates, mas eles acabam rápido, todo mundo aqui parece gostar bastante de chocolate, em especial Elizabeth, ela adora. ― Hoje é o meu aniversário, sabia? Da última vez que esteve aqui, a mamãe me disse que faltavam oito dias, eu contei, é hoje.

Nancy arruma a pilha de roupas azuis sobre a cômoda de madeira e se vira para mim.

― E?

― Ela virá me ver.

― Duvido muito. ― Nancy chia para si mesma. ― Por que não para de falar e come de uma vez? Seu pai está vindo para cá e eu não acho que ele vá gostar de encontrá-lo de barriga vazia.

― Eu já disse, estou sem fome. ― reafirmo, pensando em seu "duvido muito".

― Garoto, isso aqui não é um hotel cinco estrelas, então pare de botar banca e engula isso antes que eu perca a paciência. ― seu cenho franze e ela empurra o prato para mim.  ― Se comer tudinho te dou uma gelatina de morango.

Eu gosto de gelatina de morango, e adoraria ganhar uma, mas não estou mesmo com fome. Só consigo pensar na mamãe e na sua promessa de me tirar daqui no meu aniversário.

― Nancy?  ― chamo após um tempo.

― O quê?

― Você acredita que os animais têm uma alma? 

― Não sei, nunca parei para pensar sobre isso. ― disse rispidamente, enfiando uma camisa na gaveta.

― Eu vi o gato noite passada, no meu sonho, ele me pediu para ficar bem e disse que lá é bonito e tem muita comida. Lá onde eu não sei ao certo, mas ele parecia feliz. Se eu for muito bom posso ir para lá também algum dia, o Doug chama o lugar para onde o gato foi de Paraíso.

― Tolice.

― O sonho?

― Sim, e essa coisa de Paraíso também. ― ela continua a arrumar as roupas na gaveta. ― Paraíso. Céu. Inferno. Nada disso existe. O que existe é o agora, o aqui.

― Então você acredita que o gato não existe mais?

― Não desde que você quebrou o pescoço dele.

Nancy é uma péssima cuidadora e eu adoraria   fazer xixi na sua tumba.

Todo mundo acha que eu matei o gato, menos a mamãe e o Doug, eles acreditam em mim, sabem que eu não sou maluco, mas com o restante das pessoas é diferente, e esse é o motivo de eu estar aqui agora. Meu pai disse que eu preciso de tratamento e que ficarei aqui até aprender a viver em sociedade. O que pode nunca acontecer. Eu ainda penso no gato, penso nele o tempo todo, não acho que algum dia esquecerei aqueles olhos.

A mamãe disse que eu terei quantos gatos quiser na nova casa, que posso ter um abrigo de gatos só para mim quando chegarmos à América. Mas nós nunca chegaremos à América ou a qualquer outro lugar, não enquanto ele estiver vivo.

Ela não queria que eu viesse para cá, eu também não queria, no mais. ouvi seus gritos quando ele contou que me traria para cá, ela parecia desesperada, batendo nos móveis e socando a porta do quarto, mas ele a manteve trancada. Na manhã seguinte, seus olhos estavam inchados e havia um hematoma do tamanho de um abacate em seu rosto.

Ela me abraçou e caminhou comigo até o piano, me falou sobre Van Gogh e todos os gênios que por serem diferentes foram considerados loucos, depois tocou para mim pelo resto da manhã, parando vez ou outra para falar que me amava e que eu sempre seria a sua estrela mais brilhante.

Naquela mesma tarde o meu pai me convidou para ir ao golfe, ele parecia alegre, com um sorriso que ia de uma ponta a outra do rosto, eu quis avisar a mamãe, mas ele pediu para que eu não a perturbasse, então eu entrei no carro; e foi assim que acabei aqui.

O Santa Ephigenia fica nas cercanias de Londres e abriga toda espécie de maluco que você possa imaginar, é o lugar mais triste que eu já vi: as paredes são em sua maioria brancas, a Sala de TV é legal, mas nunca assisto nada que quero porque mesmo quando sou o primeiro a chegar alguém maior acaba sempre me tomando o controle remoto. Também tem a Sala de Pintura, mas ninguém sabe pintar nada. A Orquestra Sta. Ephigenia é uma piada e, eis ai o motivo de eu andar sempre com os bolsos atulhados de algodão, preciso estar preparado caso eles decidam fazer um concerto de última hora, não que isso aconteça muito, os instrumentos ficam trancados na Sala de Música, mas prefiro não arriscar.

Passa das 5:00hrs quando a porta do meu quarto volta a se abrir, deixo meu livro sobre a mesa de cabeceira, que é pequena e branca, como tudo aqui, e sou pego de surpresa pela visão da minha irmã.

Desde que vim para cá, ela me visitou apenas quatro vezes, sempre diz que não gosta deste lugar e que me ver aqui é doloroso. Talvez por isso seus olhos estejam vermelhos.

― Oi. ― ela acena no seu habitual tom baixo, quase inaudível. ― Senti saudades.

― A mamãe não veio?

Ela põe a bolsa sobre a cômoda e com passos hesitantes caminha até a cama; segurando as minhas mãos entre as suas, senta com a perna dobrada sob o corpo e inspira.

― Ela não pôde.

― Mas é o meu aniversário, ela prometeu que viria no meu aniversário.

― Ela queria. ― minha irmã suspira e abaixa a cabeça, ainda está segurando as minhas mãos, mas tenho a impressão de que apenas seu corpo está aqui. Sinto um frio percorrer a a coluna de alto a baixo e inclino a cabeça para tentar ver seu rosto.

― Então por que ela não veio?

― Eu trouxe roupas novas, o papai está esperando no saguão, você vai para casa.

― Vou?

Ela assente, e percebo uma gorda lágrima solitária deslizar por sua bochecha, e isso basta para que meu sorriso esvaneça.

― Por que está chorando? ― pergunto. ― Não quer que eu volte para casa?

― Não é isso, querido, é claro que eu quero que volte. Só... ― ela enxuga a lágrima e levanta a cabeça. ― Eu vou sair e esperar enquanto você se troca.

Mia aperta a minha mão e me beija na testa antes de ficar de pé e marchar até a porta.

É estranho que ela esteja aqui e não na escola, sei que não largaria o colégio apenas para comemorar meu aniversário em família. Mas não estou reclamando, a Mia é a minha segunda pessoa favorita no mundo, ou terceira, estou em dúvida entre ela e o Doug, a primeira é a mamãe.

Quando ela retorna ao quarto eu já estou vestido e pronto para dar o fora daqui, preciso apenas me despedir da Elizabeth antes, espero que ela me reconheça hoje, na maioria dos dias ela sabe quem eu sou, mas em outros age como se nunca tivesse me visto, algumas pessoas acham que ela é maluca, eu acho que ela é apenas velha. Muito. Sua coluna parece um arco e as pernas são tão fracas que ela nem consegue mais andar sem a ajuda de um andador. Mas ela é legal e acredita em mim. Ela sabe que eu não matei o gato, que não sou maluco.

Elizabeth está no jardim, sentada em sua cadeira, e me reconhece, beija a minha testa e afaga meus cabelos, seu hálito tem cheiro de chá e o cabelo branco parece nuvem, normalmente, ela usa chapéus, mas hoje decidiu pôr uma pena de cada lado da cabeça e até que ficou bonito. Ela é uma artista, trabalhou no teatro e tinha dezenas de admiradores, isso foi o que ela me disse. Sua filha se chama Suzanah, e deu a Elizabeth uma neta, que tem quase a minha idade, elas moram na Irlanda e, infelizmente, o marido da Suzanah mandou a Elizabeth para cá no ano passado depois que o seu negócio faliu. Ela diz que ele é uma boa pessoa, mas que é trabalhoso cuidar de alguém idosa quando não se dispõe de dinheiro e uma moradia digna. Se eu pudesse daria uma moradia digna e algum dinheiro para eles, mas toda minha fortuna se resume aos cinquenta centavos que trago no fundo do bolso.

― Vou sentir a sua falta. ― Elizabeth sussurra para mim. ― Vou sentir a sua falta todos os dias.

― Eu prometo voltar para ver você.

― Ora, meu rapaz ― ela dá um tapinha maroto no ar. ―, não faça promessas que não pode cumprir.

― Mas eu posso, e vou. Não vou falhar com você, não como falhei com o gato. ― seu sorriso se desmancha e as feições enrugadas ficam sérias. ― Não foi culpa sua, nem ouse pensar que foi. Aqueles pirralhos. Se eu ainda estivesse na fazenda do meu pai na Irlanda pegaria uma espingarda e puft!

― Você está dizendo que os mataria?

― Claro que não, o que você pensa que eu sou? Uma assassina? ― ela passa a mão pela roda da cadeira. ― Eu nunca os mataria, só os deixaria aleijados.

― Acho que eles iriam preferir a morte, Elizabeth.

― Ora, ser aleijado não é tão ruim. Olhe para mim, mal posso sair do lugar e ainda pareço uma estrela de cinema, isso quando não estou usando fraudas ou me sujando com a sopa. De qualquer forma, é bom estar aqui, existe beleza na vida, se não está vendo é porque não está olhando para ela como deveria, pequeno príncipe.

― Eu não sou um príncipe, mas prometo me lembrar disso.

― Mas é pequeno, pequeno demais para alguém da sua idade. ― ela alcançou o broche em seu peito e o entregou a mim. ― Fique com isto, foi a minha neta quem me deu no meu aniversário de.... Desculpe, mas que uma dama nunca revela a sua idade. Como eu disse, foi um presente da minha neta, ela disse que me traria sorte, e estava certa, afinal eu encontrei você no meio de todos esses velhos gagás. Espero que funcione para você como funcionou para mim.

― Eu não posso aceitar.

― Por que não?

― Porque foi presente da sua neta.

― Ela tem centenas dessas coisas, os coleciona desde que abriu os olhos na maternidade, direi que perdi e ela me arrumará outro em um piscar de olhos. Agora pare de me olhar com essa cara de enterro, não é um adeus, nada pode nos separar daqueles a quem amamos. Aceite o presente e me dê um abraço.





Olá, gafanhotas

Aqui estou com mais um capítulo e queria saber se gostaram.

Peço que perdoem os possíveis erros, meu computador não está muito ok e, por esse motivo acabo não revisando muito. Mas, caso percebam erros, me avisem para que eu arrume, sim.

Agradeço por todo carinho e apoio, por votarem e comentarem, não estou respondendo muito porque eu estou me empenhando em escrever e postar com mais frequência. Peço muitas desculpas, mas caso seja algo que qieram muito saber, comentem em forma de pergunta e me marquem que eu respondo.

Não vou mais fazer as tags por enquanto, por motivo de tempo, mas eu agradeço a quem as responde, é maravilhoso conhecer mais e mais as senhoritas.

Lembram que eu contei que meu cachorro estava doente, lindonas? Eu o perdi, mas estou bem, pensei que fosse me acabar, mas ele ficou doente por tempo demais e eu acho que prefiro a sua partida ao seu sofrimento.

Agora vamos âs perguntas?

Aprovaram a festa?

O que me dizem de Emily Dawson?

Acham que ela pegou pesado com o nosso Oli?

Ela contou que a avó dele se matou, acreditam nisso?

Acho que todo mundo aqui já sabe quem é o narrador, não é?

O que me dizem de Elizabeth?

Muito obrigada por me contarem suas teorias, eu amo usando me contam.

Por falar nisso, alguém tem alguma?

Muita gente matou a charada do Pink e Cérebro, eu sabia que são espertas.

A Vi volta no próximo capítulo.

Se essa história não terminar como esperam, prometem não me matar? É que eu acho que o fim pode ser um pouco decepcionante para algumas de vocês.

A Viola mal parabenizou o pequeno Oli, por quê?

Arran está ficando famoso.

Eu sei que querem Kiss, mas esperem mais uma piscadela.

O narrador vai voltar para casa, por que será?

Quem será a neta da Elizabeth?

Quem acha que o Oli foi ruim para a nossa Emily? Pobrexinha, organizou uma festa e nem kiss ganhou, uma mega pena.

Quem é o pai do narrador?

Parece que a Vi sumiu, será que alguém fez a cabeça dela contra o Oli, queridas?

Muito obrigada por me ajudarem a escolher o elenco de Iridescente - a história da Julie e do Theodore -, alguém acertou quem eu escolhi pro papel do Theodore, mas ainda estou em dúvida quanto a Julie. Quem conhecer atores e atrizes negros me indique porque eu preciso de personagens negros para meus próximos opostos e não encontro nenhum que se encaixe, quem quiser ajudar, eu agradeço muito.

Muitos kisses

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