A banda de garagem do Joe é totalmente amadora. Não é que eles sejam ruins, porque não são. Eles são bons mas não passam de 6 caras que se reúnem pra “fazer um som”—segundo a explicação básica do Joe. O papel dele na banda é tocar violão e baixo. Assisti ao ensaio com o máximo de empolgação que consegui. Hoje é domingo e só consigo pensar em Asher que numa hora dessas deve estar na Wave House. Tentei conversar com ele mas Asher simplesmente me ignorou, ele passou por mim como se eu não existisse e sequer sei descrever a sensação.
Joe belisca a pele atrás do meu pescoço com suavidade. Estamos caminhando por Rock Bottom agora, os ensaios aconteçem na garagem da família dele.
—Não te senti no ensaio. —ele diz—Não tenho te sentido presente em parte alguma.
—Estou bem.
—É a questão da tia do Sam? Ela só não queria incomodar vocês?
—É, ela só queria estressar meu pai. —essa história já foi encerrada —E não é isso.
—É porquê ainda não começamos a procurar seus parentes? Podemos começar agora se quiser. —ele se ofereçe.
—Não é isso. Pra procura-los temos tempo, não estou preocupada com meus parentes. —paro de andar massageando as têmporas —Tenho estado com muita dor de cabeça.
—O que não está me dizendo? —Joe pergunta com as mãos nos quadris—Qual é Genn, eu consigo ver nos seus olhos que está triste... Sou eu? Fiz algo de errado?
—Não, não é você. —enfio as mãos nos bolsos da jaqueta dele —Não é nada demais.
Joe revira os olhos. Ele aparou o cabelo e a barba está rala. Os olhos verdes estão curiosos.
—Fala vai. —ele insiste.
—Bem... —pigarreio—Asher William sabe de nós.
Joe ergue as sobrancelhas.
—Por isso está almoçando comigo.
—Não é...
—É por isso sim mas tudo bem, você tem amigos. —Joe me lança um olhar questionador—São só amigos né?
—Joe!
—É que eu não tinha como saber. Sei lá, honestamente sempre achei que rolasse algo entre vocês aliás, “seria perfeito se fosse apaixonada por ele”.
Bufo.
—Você tem que parar de usar minhas palavras contra mim.
—É um poder meu e não vou abrir mão dele. —Joe descontrai —E se você está tão dispersa é porque o Asher não reagiu bem não é?
—Ele não reagiu nada bem.
Joe desvia o olhar.
—E você está triste por ele estar triste.
—Não é bem assim Joe.
—É apaixonada por ele?
—O quê? Não. Joe! —seguro o rosto dele e o beijo com vontade —Eu amo você, ok? Só que eu amo o Asher, ele tem sido um amigo essencial para mim.
—Ok, nossa. —ele arfa sem ar do beijo—Acredito em você.
Solto-o.
—Então me ajude a consertar tudo. —peço.
—E o que pretende fazer?
—Não sei. —mordo o lábio pensativa —Só quero que as coisas voltem a ser como antes.
*
Joe vem comigo até a casa dos William. Ainda é domingo, e não acho que Asher tenha voltado do Wave House tão cedo mas estou aqui mesmo assim.
Vou sozinha tocar a campainha. Segundos depois ela é aberta por Arian, um Arian todo amassado. Não está com aspecto de quem esteve em uma festa.
—Hey. —cumprimento-o e Arian fecha a porta atrás de si rapidamente. Ele olha além de mim e sei que está vendo Joe do outro lado da rua encostado na moto—Asher está?
—Está. —Arian volta a me encarar —Mas você não pode vê-lo.
Franzo o cenho.
—Porque não? Ele está doente ou assim?
—Não, ele não está doente, ele só não vai falar com você. —responde na lata—Sabe que ele não vai falar. Genn, eu gosto de você, somos amigos e eu até fiquei do seu lado contra o Sam mas... Mas Asher é meu irmão, consegue entender? Ele está magoado e, honestamente, com toda razão. Ele esteve aqui pra você e tempo todo e sequer o viu. Eu não posso ficar do seu lado agora, não quando está namorando Joe.
—E qual é o problema dele?
—Qual o seu problema?—ele retruca —Namorar o Nicholson, ok Genna, faça isso mas que pelo menos tentasse contar pro Asher de forma menos impactante.
—Eu não tive escolha.
—Podia ter contado assim que aconteceu, se Ash fosse realmente importante pra você.
—Ele é!
—Você não pensou nele quando disse “sim” pro Nicholson? —Arian pergunta de forma que me sinto pequena —Por que tenho certeza que o Asher, antes de sair com alguém, sempre pensa em você.
—Eu não sabia que ele gosta de mim, eu tinha minhas dúvidas e...
—Até um cego vê que ele te ama. —Arian me interrompe —Sempre amou Genn. Se você parar pra pensar, em todas as vezes, ele estava lá. Pense.
Arian entra e me deixa sozinha, completamente perdida em pensamentos. Como eu conheçi Asher? Bem, nós todos nascemos e crescemos juntos. A fase da infância e pré-adolescência fora passada com todos juntos. Eu estava brincando com os gêmeos quando minha menstruação desceu pela primeira vez. Arian não sabia a origem do sangue do meu shorts, teimou que um animal tinha sido esfaqueado no parque do centro. Já o Arian, foi correndo até em casa e trouxe absorventes da mãe dele. E sem falar que ele me deu seu casaco para amarrar nos quadris. Mais tarde naquele dia fomos ao Sea Word com nossos pais. Ninguém ainda sabia da minha novidade e não saberia até quando eu quisesse já que Ash me comprou um monte de absorventes depois. Mas isso é o menos que ele fez por mim. Quando criança eu sentia muita falta da minha mãe e ele me levava pra passar uns dias na sua casa quando percebia. A presença feminina da sra. William foi fundamental na minha vida. E mesmo que ele não falasse comigo durante todo aquele tempo que fora devoto do Sam, Asher estava por perto. Ele me observava de longe. Eu sentia no refeitório, quando eu saia cedo ou chegava mais tarde pro almoço, o olhar dele me seguia até a mesa. Mas eu nunca poderia imaginar que Asher William se apaixonaria por mim. Ele é um os garotos bons, um dos peixes grandes do ensino médio e da vida também. Ele será um parceiro incrível.
—E então? —Joe pergunta. Ele está na minha frente —O que Asher te disse?
—Não era ele. —murmuro. É difícil pros estranhos diferência-los—Era o Arian.
—E?
—Asher me ama.
Joe assente.
—E essa notícia te abalou.
Olho pro Joe. Tenho certeza absoluta dos meus sentimentos por ele. Mas por Asher. Se eu parar pra pensar.
—Talvez eu o ame também. —cubro meu rosto com as mãos —Eu não sei.
Joe me abraça.
—Tudo bem, vamos resolver isso.
—Como?
—Vai ficar com ele.
—Joe!
Ele ri mas vejo algo em seus olhos. Nicholson pareçe um pouco quebrado.
*
Essa vai ser a minha segunda tentativa de falar com o Asher. Acordei mais cedo e vim até a casa dos William. Ele não pode fugir de mim se eu estiver dentro da casa dele.
Ao invés de tocar a campainha dou a volta na casa e apareço na porta dos fundos que pela manhã fica aberta. Vejo a sra. William preparando o café.
—Hey sra. William!— ela olha pra mim surpresa —Posso entrar?
—Sim, claro querida. —sorrindo ela puxa uma cadeira para mim —Quer tomar café conosco hoje?
—Não, obrigada. Na verdade eu vim falar com o Asher, ele ficou com as chaves do meu armário na semana passada. —minto —Ele está no quarto?
—Sim, sim acho que deve estar no banho agora. Vá lá ver.
Sigo pelo corredor e tento abrir a porta dele. Destrancada. Abro a porta lentamente e vejo alguém sob as cobertas mas também ouço a água caindo no chuveiro. Franzo o cenho entrando no quarto. Quando olho novamente pra cama vejo que é uma garota, pelas unhas dos pés pintadas de rosa claro.
—Merda. —sussuro perplexa. Dormir com alguém certamente o fará me superar.
—Genn? —porcaria. Fecho os olhos enquanto penso no que dizer —O que faz aqui?
Me viro pro Asher. Que está apenas de toalha.
—Eu... Eu ia falar com você mas acho que... Que você não vai querer me ouvir.
Ele não está me olhando nos olhos, está fitando meus pés.
—Não vou mesmo. —Ash anda até a porta e abre ela pra mim —É melhor ir.
—É, pareçe que sim. —me abraço saindo do quarto mas me detenho no vão da porta, próxima dele, Asher inspira fundo. Olho pra ele, bem nos olhos —Se você tivesse dito o que sentia há algum tempo atrás , uma única vez, tudo seria diferente.
—Não tente colocar a culpa em mim Genna.
—Não estou te culpando. Só estou dizendo que se eu fosse mais atenta e se você tivesse dito que gosta de mim, nós estaríamos juntos.
Ele balança a cabeça negativamente.
—A realidade é que você está com Nicholson e eu com a Cheryl então vá logo Genn, me deixa em paz.
E é o que pretendo fazer porque se eu parar pra pensar, como Arian me sugeriu, vou acabar perçebendo que perdi algo muito especial.