Uma Garota Incompleta

By brenddafernanddes

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Genna Well vive uma vida que acha ser boa. Ela não tem amigos, não sai, não ama, não se aventura. Tudo isso s... More

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By brenddafernanddes

Ergo a câmera. A casa dos Williams tem um jardim incrível, adoro que a sra. William cultive tantas espécies diferentes. E aposto que significam mais que flores diferentes, ela é esse tipo de mulher, a que vai além.

Registro um dos canteiros ao pé das janelas. São rosas vermelhas, perfeitamente abertas à essa altura da tarde, em alguns minutos estarão se fechando. O sol está quase se pondo. A movimentação na rua diminuindo.

—Well. —tomo um susto com a janela aberta. É Arian, só de cueca no quarto. Tiro uma foto, ele mostra o dedo do meio e tiro mais uma—Puta merda você nunca desiste. ASHER, GENNA ESTÁ TIRANDO FOTOS INDECENTES DE MIM!

—NÃO ESTOU NÃO SRA. WILLIAM!—grito dando zoom na cuequinha de batmam do Arian —Seu geekie de merda. —ele ri —Não era pra ser engraçado.

—Você é tão doida quanto o Sam. —diz agitando a mão no ar —A genética é uma droga.

—Fala isso sendo gêmeo de alguém.

—Vai se foder eu falo o que quiser Well. —ele olha pra trás, acho que pro banheiro —PORRA ASHER VOCÊ TÁ CAGANDO POR ACASO?

Seguro o riso. Arian é o mais triste apesar desse sarcasmo constante dele.

—Tive uma queda por você quando criança. —digo do nada.

Arian olha pra mim com uma camisa em mãos. Ele balança a cabeça de um lado para o outro.

—Havia me esquecido do quanto é fodida Genn. —ele suspira vestindo a camisa branca —Mas quer saber? Eu batia umas vendo sua foto de biquíni no acampamento de verão. O Asher também, a foto era até dele, espera —ele anda pelo quarto e posso ouvi-lo perguntando a Asher se ele também batia umas vendo minha foto.  Arian logo volta pro quarto —Ele não me respondeu, aposto que batia.

Pressiono os lábios escondendo o riso. É meio constrangedor e... Surpreendente. Eu não era sequer bonitinha quando ia no acampamento de verão, é legal saber que alguém me curtia, mesmo que à essas circunstâncias. Arian abre a boca novamente mas Asher surge de toalha no quarto.

—Por que você é tão babaca? —Asher empurra o irmão e então me nota, do lado de fora da janela. Ele cora —Porcaria. Genn, eu não batia punheta vendo você, acredite, só o Arian é pervertido.

—Não sou não.

—Ah não? —Asher aponta em direção a porta —Esse quarto é meu, vaza Arian.

—Você é um saco e Genn, ele batia umas sim que eu sei. —Arian corre pra fugir do tapa.

—Esqueçe isso...

—Tá. —interrompo-o —Estão indo pro jogo?

—É. —ele fica com as mãos nos quadris. Tem um peitoral pálido e malhado —Não é nada importante, Sam vai vencer.

—O time se resume a ele?

—Segundo o nosso treinador, sim. —Ash respira fundo —Quer entrar?

—Quero.

Ele sorri. Sei que está lembrando das centenas de vezes em que eu vinha à sua janela e pedia pra entrar, até no meio da noite ou em madrugadas chuvosas. Eu costumava fugir pra perto dele, Asher passou a representar proteção pra mim desde que me salvou de um ataque do cachorro vira lata do nosso vizinho.

Ele estende o braço e eu passo uma perna pra dentro segurando sua mão. Em segurança, e sem depredar uma rosa, entro no quarto. A casa dos William é toda azul. Os móveis são simples, tudo em tons claros e bastante organizado —tenho dúvidas quanto ao quarto do Arian. Me sento na cama do Ash.

—Me deixe vestir a roupa. —murmura entrando no banheiro —O que faz aqui? —pergunta, sua voz aoa distante.

—Não sei ao certo, só peguei a câmera e saí de casa.

—Muito aventureiro da sua parte. —ele comenta. Asher apareçe com a parte de baixo de seu uniforme —Sam estava se arrumando quando saiu?

—Faz mais de uma hora que saí.

Ash franze o cenho abrindo uma de suas gavetas. Ele tira um par de meias azuis.

—Brigou com o Sam? —ele arrisca. Faço que não com a cabeça —É que, pelo humor dele e pelo seu, dá pra saber que andam se desentendendo bastante ultimamente.

—É complicado. Tudo. —limpo a garganta —Quero me desculpar pelo outro dia no seu carro, fui muito bruta.

Ele sorri deslizando a meia no pé rosado. A pele dele é como se ele fosse um bebê. Controlo o clique da câmera.

—Você nunca se saiu bem em ouvir algumas verdades Genna. —ele diz terminando de vestir a outra meia —Sam não me mandou ir até você e falar aquelas coisas. Tem que melhorar sua autoestima.

—Desculpe. —murmuro sentindo um nó se formando na garganta. Detesto pensar em como estava na defensiva naquele dia. Asher nunca foi do tipo influenciável, ele é super obstinado com seus assuntos.

—Vai assistir o jogo? —pergunta indo até o guarda-roupas—Minha líder de torcida é nova, gostaria que desse seu veredicto sobre ela.

—Eu não vou, tenho cinema marcado.

—Com o Nicholson?

Reviro os olhos por causa do tom depreciativo dele. Asher pega os tênis azuis como branco e senta no chão para calça-los.

—Não, não vou com o Joe.

—E vai com quem? —pergunta confuso.

—Comigo. —dou de ombros —Gosto de ir ao cinema sozinha.

—É deprimente ir sozinho ao cinema, principalmente se for assistir aquelas comédias românticas, todo mundo te olha como se fosse um retardado social. —Asher ri de si mesmo. É engraçado imagina-lo sozinho no cinema —Mas não me importo, é, está certa em ir sozinha. Eu costumo ir pra ver a Sandra Bullock, e você?

—Não ligo pra quem interpreta os personagens. Costumo ir por causa da trama, não por quem as protagoniza ou assim.

—Genn você é muito profunda, esqueça o que o sr. McAvon vive dizendo de você.

—Ele fala de mim na sua classe? —meus olhos praticamente saltam da cara.

—Calma. Ele só diz que não entende como Sam escreve poemas tão bons se você é tão péssima, foi mal, é o que ele diz. —Ash fica de pé —Mas não acredito nele, ainda tenho aquela música que fez no sétimo ano, ela era muito boa.

—Não era não. —sorrio tristemente. Sam escreve bons poemas e eu sequer sabia disso —Acho que vou indo, vou pegar a sessão das 19h.

Asher sorri pra mim.

—Não quer mesmo ir ao jogo? —pergunta.

—Não Asher, meu universo é outro.

Ele assente.

—Então espero que agente se encontre em alguma galáxia incrivelmente linda.

—Eu estarei lá.

*

Acabei não indo ver nenhum lançamento cinematográfico importante. Fui na sessão de reprises. Eles estavam exibindo Vestida para casar. Esse filme passa quase todo dia na TV mas ainda assim assisti. Gosto dele. Não passa de um enorme clichê do qual se advinha o final antes dos 30 primeiros minutos de filme mas ainda assim, as cenas dos protagonistas juntos trazem um frio na barriga muito bom, principalmente a cena deles cantando no bar. O filme acabou às 21h30, isso porque não peguei a sessão das 19h e sim a das 20h.

Quando saio do cinema vejo uma camionete me esperando. Sorrio.

—Os Sharks venceram? —pergunto chegando mais perto do carro.

Asher está de cabelo molhado. Deve ter tomado banho no vestiário da escola.

—Com certeza. —ele destrava a porta —Entra aí, Sam está convidando todo mundo pra uma festa no Ginásio.

—No Ginásio?

—É, o treinador deixou.

Entro. Sinto o aroma almiscarado do perfume do Asher. Ele usa o mesmo desde que éramos amigos.

—Quem estará lá? —pergunto receosa.

Ele sorri, apaguizando parte do meu nervosismo.

—Calma Genn, são só algumas pessoas.

               Não são só algumas pessoas. São muitas. Até os jogadores do time perdedor ficaram. Há um grande círculo formado no centro da quadra. Não preciso nem olhar pra saber que Sam está lá com a turma toda. As meninas estão vestidas como se fosse a maior festa de todos os tempos. Ignoro o fato de eu estar de shorts jeans e regata sem graça. E de chinelos. Asher vai na minha frente. Está com o casaco azul do time. Antes eles usavam bonés brancos também mas houve uma palestra sobre bullying no verão e quando citaram Columbine eles viram que boa parte dos jogadores mortos tinham um perfil visual pareçido com o deles—apartir daí não só deixaram de mão os bonés como passaram a incluir os garotos menos favorecidos, esportivamente falando.

Asher para abruptamente e se vira pra mim. Uma linha de suor se formou em sua testa. Aqui é quente, ainda mais lotado desse jeito.

—Quer uma bebida? Daqui a pouco não vai ter mais nada.

—Estou bem.

—Legal, então vem, Sam quer falar com você. —Ash volta a andar e eu o sigo. Ele abre caminho entre alguns caras do time e então vejo Sam. Sam e Joe. Estão rindo alto e a mão de Sam está no ombro de Joe. Não seria nada demais se os dois não fossem gays, e se eu não fosse apaixonada por um deles. —Aqui está ela Sam, totalmente entregue. —Ash me dá uma piscadela e sai.

Sam me olha todo animado.

—Como foi no cinema? —pergunta com a mão ainda no ombro de Joe.

—Bem. —pressiono os lábios —Não sei se é boa idéia eu ficar Sam, estou com dor de cabeça.

—Bebe. —ele estende o copo vermelho pra mim —E não mente pra mim, sei que quando está com dores de cabeça sequer sai de casa.

Reviro os olhos aceitando a bebida. Viro tudo evitando olhar na direção dele.

—Wow Genn, pega leve. —Joe adverte. Ele sabe que não sou de beber mas não importa.

—Deixa ela. —Sam sorri —Genna mereçe ser jovem de vez enquando.

—É, acho que sim, me dêem licença, preciso de mais disso. —murmuro saindo de perto deles. Pra minha sorte, avisto Asher na mesa de bebidas —ASH! —grito sobre a música. Ele se vira e quando chego perto perçebo que este gêmeo tem os olhos maliciosos, não é ele. —Arian.

—Sempre fico chocado em como nos diferencia. Até a mãe se confunde Genna mas você não! —ele diz com a voz arrastada. Está bêbado.

—Ahn... Por acaso viu seu irmão? Ele acabou de vir me deixar aqui mas o perdi de vista.

Ele olha ao redor.

—Deve estar comendo aquela lourinha que dá em cima dele. —Arian dá de ombros —Talvez ele esteja comendo outra pessoa. Não sei.

—Você está mais que bêbado e ainda é cedo.

Ele abre um sorriso puramente bêbado.

—Não existe hora pra ficar chapado Genna.

—Eu acho que já deu pra mim. —sussuro comigo mesma —Até mais Arian.

Quando deixo o copo sobre a mesa de plástico vejo Joe vindo na minha direção de relance. Mas agora ele está se virando para trás. Sam o chamou. Sam vai até ele e diz algo em tom baixo, Joe está sorrindo e então é isso. Ele está progredindo. Os dois saem, andando lado a lado, passam pelas portas da saída e meus pés se movem sem que eu queira. Acho que só preciso ver. Sei que vai doer. É como... Uma injeção, é algo bobo do qual tenho medo. Me sinto indo até a sala do médico.

Passo pelas portas vai-vêm e o vento frio me atinge. Inspiro fundo procurando os dois. E os acho próximo a moto do Joe. Estão como achei que estariam. Juntos. Lábios unidos. Mãos segurando o rosto um do outro.

Ergo a câmera, abaixo a intensidade do flash, e tiro uma foto. É algo dolorosamente lindo.

Sigo andando pra fora do colégio. Talvez seja bom andar até em casa. A câmera está pendendo em meu pescoço. Pareçe mais pesada. Assim como meus pés.

Eu nem sei mais como é possível estar aqui, ou como possa doer tanto sem nenhuma ferida. Ouvi dizer que faz parte do problema, e se faz mesmo, sei que não vai parar até que eu desista.

Ouço uma buzina atrás de mim e me assusto. Eu estava no meio da rua.

—Desculpe. —sussuro e quando os faróis são abaixados vejo que é Asher. É tão bom vê-lo que começo a chorar.

—Genna! —ele corre até mim rapidamente —O que está havendo?

—Eu estava procurando por você. —digo limpando as bochechas —Mas não te encontrei.

—Eu só fui até meu carro e demorei pra achar porque o Arian quem trouxe. —explica visivelmente preocupado —Você precisa de uma carona.

—Acho que sim.

—Vem comigo.

Só dentro da camionete consigo me acalmar. Respiro fundo enquanto Ash dirige em silêncio.

—Não é nada. —murmuro.

—Estava perambulando no meio da rua e então chora, deve ser alguma coisa, não minta pra mim Genn, eu não sou todo mundo.

—O que quer dizer? —fungo passando as mãos sob os olhos.

—Que você anda mentindo pra todos, o tempo todo.

—Isso não é verdade.

—Não é? —ele me encara.

—Não quero falar sobre isso.

Ele bufa, está tentando me aturar, conheço bem essa expressão.

—Sobre o quê quer conversar?—ele pergunta em voz baixa.

—Sua mãe está bem?

—Está. —Asher dá de ombros —E o seu pai?

—Támbem. —mordo o lábio —Vocês ainda criam aquele gato, qual era mesmo o nome dele?

—Sr. Caramelo.

—É, o sr. Caramelo, ainda criam ele?

—Não, o Arian atropelou ele.

—O Arian tem usado muitas drogas. —comento —Sua mãe sabe?

—Não, não sabe. Eu quem seguro as pontas. Digo que é só bebida mas... Ultimamente ele tem pegado mais pesado. —Asher hesita —Tudo é por causa da mamãe.

—Como assim?

—Ela... Está namorando.

—Merda.

—É Genn, merda.

O lançe é que o Arian era louco pelo pai e sua mãe seguindo a vida pode ser difícil pra ele.

—Não vamos mais falar sobre isso. —digo ligando o som dele —O que você ouve Ash?

—Um pouco de tudo.

E então The Kooks começa a tocar.

Continuamos na camionete, mesmo parados à frente da minha casa. Suddenly i see está tocando. Amo essa música.

—Amo essa música. —digo em voz alta.

—Todos amam. —Ash aumenta o volume —Você consegue ver, ela é uma garota linda. Ela é uma garota linda. E tudo ao seu redor é uma piscina prateada de luz. As pessoas que a cercam sentem o benefício disso. Deixa você calmo. Ela mantém você preso na palma da mão.

De repente percebo.É isso o que eu quero ser. De repente percebo.Por que diabos isso significa tanto pra mim? —canto junto dele. Abaixo a música —Quer saber a minha verdade Asher?

Ele aquiesçe.

—Eu acho que sou uma pessoa deprimida. —admito.

—Isso não era exatamente un segredo. —ele pondera—Mas imagino que signifique algo estar dizendo em voz alta.

—Significa.

—Quer saber minha verdade Genna? —ele pergunta e eu aquiesço —Tenho tentado ser o melhor em tudo pra que minha mãe não perçeba o quanto Arian desabou.

—Não é exatamente um segredo. —repito o que ele disse deitando a cabeça na janela —Mas é preciso dizer em voz alta pra que se torne real de verdade.

—É... —Asher aumenta o som, e uma música que não conheço começa a tocar. Ficamos em silêncio até uma determinada parte da música, quando ele repete um trecho do que foi cantado —“Se nós sempre olhássemos para trás. Nós enlouqueceriamos. À medida que a amizade se esvai, o ressentimento cresce”.

Então penso na minha vida toda. A mamãe morrendo, meus amigos indo embora, Sam virando um astro, meu pai solitário, eu deprimida, Nicholson gay, Asher infeliz...

—É, o ressentimento cresce.

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