O começo de um Legado - Degus...

By Joice-Lourenco

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As coisas entre Amanda e Alisson não estão nada boas. Separados após uma grande mágoa, ela precisa voltar a s... More

Novidades ♥
Capítulo 1
Capítulo 2
Surpresa ♥
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Parte 2
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Aviso!

Capítulo 3

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By Joice-Lourenco

Era uma sexta-feira, Sara estava saindo da escola observando o corredor e a biblioteca. Já fazia mais de uma semana que não vira o homem dos olhos verdes. Era loucura, mas aquilo a estava deixando inquieta. E antes que pudesse pensar mais a fundo sobre aquele sentimento escutou vozes a chamando. O casal de amigos se aproximou. Heidy estava querendo testar uma nova receita de torta que havia aprendido com sua mãe e queria que seus queridos amigos fossem sua cobaia. E enquanto Sara e Carlos estudavam na casa da jovem, Heidy começou a preparar a torta, desejando que tudo desse certo.

No meio da tarde o correio entregou-lhe uma caixa grande. Carlos recebeu para Sara e colocou em cima do sofá.

— O que será quem tem aí dentro? Vem da cidade onde morava – a jovem colocou as mãos na cintura, pensativa — Deve ser algo da mudança.

— Vamos ver o que é - animou-se Heidy colocando a torta no forno.

Sara começou a abrir a caixa e tirou de dentro dois quadros pequenos e sorriu colocando-os no sofá.

— Minha mãe gosta muito deles. Ela vai ficar muito feliz quando vê-los.

— Tem mais, Sara - sua amiga mexeu na caixa e o observou — Uau! É o seu retrato.

Sara encarou aquele objeto e ficou estática. A desconfiança de que ela fosse a garota do quadro veio na hora. Observou ao canto e prendeu a respiração ao perceber que havia a assinatura do Carlos. Precisava guarda-lo antes que...

— Sara, esse é o meu desenho – pegou o quadro nas mãos atento a cada detalhe — Eu o reconheço. É a minha assinatura – ela ficou paralisada — Você é a menina do meu quadro – seus olhos brilharam com aquela descoberta e a olhavam seriamente.

Ela assustou-se com o clima que estava se formando no ambiente. Carlos não conseguia disfarçar como estava emocionado. Encarou rapidamente a amiga e percebeu a confusão e a fúria instalada em seu semblante. Para o seu alívio o telefone tocou naquela hora. Assim que tirou o telefone do gancho começou a falar sem parar, ganhando tempo, mas não foi preciso muito esforço, em questão de segundos ela viu os dois saindo pela porta com os semblantes estranhos e confusos.

Droga!

***

Aquele foi o pior fim de semana da sua vida. Tentara falar com sua amiga de todas as formas, e Carlos simplesmente havia desaparecido do mapa. Queria mais do que nunca manter distância dele, mas estava desesperada para ter notícias da sua amiga. Estava muito claro que ela não queria falar com ninguém e não havia nada mais que pudesse fazer, além de esperar os dias passarem.

Aquela manhã de aula a deixou atordoada. Temia receber a notícia que iria abalar a sua amizade, mas o inevitável havia acontecido. Foi Isabelli quem lhe contou. Carlos e Heidy não estavam mais juntos.

— Você tem certeza disso? - ela perguntou pela segunda vez a caminho da biblioteca.

— Tenho. Ele mesmo contou. Você não ficou sabendo?

— Tentei procurar ela no fim de semana, mas não a encontrei. O Carlos sumiu. Você sabe o que aconteceu, por que terminaram?

— Isso eu não sei. Ele só disse que precisava ser honesto.

Sara ficou calada, temia que ela fosse a causa do término do namoro. Tentou espantar a angústia e com dificuldades terminou de fazer a pesquisa com o livro que o bibliotecário havia indicado na semana anterior. Assim que o sinal bateu colocou o livro de lado e fechou o caderno. Estava chateada. Com a cabeça suspensa por um dos braços em cima da mesa acabou pensando no jovem misterioso. Tudo o que precisava naquele dia era olhar para os olhos verdes e sentir que tudo ficaria bem. Ela soltou um suspiro, ergueu a cabeça e seu coração acelerou loucamente. O rosto esquentou e sentiu um leve tremor em suas mãos. Respirou fundo, mas não conseguiu disfarçar o quanto estava encantado em vê-lo. E sem que esperasse, aqueles olhos misteriosos a encararam profundamente, novamente cumprimentando-a apenas com o olhar. Sara deixou um sorriso sincero surgir em seus lábios, e como um imã, ele retribuiu na mesma intensidade.

— Acho que alguém fisgou o Bruno – Isabelli sussurrou.

— Quem é Bruno? - Sara perguntou baixinho se recompondo do momento.

— O cara que você fisgou – respondeu encarando o jovem rapidamente — Ele se chama Bruno. Não sabia?

Sara negou com a cabeça.

— Percebi já na outra aula o olhar dele sobre você.

— Você o conhece bem?

— Um pouco. Formou-se ano passado e parece que faz um trabalho terceirizado com a biblioteca. Estão fazendo um teste, uma coisa assim, não sei explicar direito.

— Então ele não é nenhum conquistador barato, né? - Isabelli olhou-a assustada — Disse alguma coisa que não devia?

— O Bruno é um jovem muito respeitado. Ele é bem o contrário de um conquistador barato. Vai por mim, ele deve estar muito interessado por você, nunca o vi assim antes.

Sara animou-se com a possibilidade. Será que Bruno realmente estava gostando dela? Mas, nem se conheciam direito... Parou de pensar sobre isso quando um movimento lhe chamou a atenção. Foi a primeira vez que viu Carlos desde sexta-feira, ele entrou na biblioteca e foi na direção do seu homem misterioso. Conversavam seriamente, compenetrados sobre o assunto. Tudo indicava que eram amigos. Alguns sorrisos, uma pequena risada e quando menos esperava os dois a fitaram por breves segundos. Sara congelou. Será que estavam falando sobre ela? Justamente os dois? Não, aquilo não poderia estar acontecendo. E sem que pudesse fazer nada a respeito, os dois logo saíram e ela se viu sozinha e confusa.

Naquela tarde Sara foi até a casa da amiga, e se entristeceu ao saber que não estava. Tudo parecia piorar a cada minuto. Os últimos dias não estavam sendo como planejado. Precisava dar um jeito de cancelar a aula particular com Carlos, mas como? Não teria ninguém que pudesse intervir por ela, até pensou em Isabelli, mas provavelmente teria que contar o motivo, e não achou sensato contar aquela história para mais ninguém. E não podia mais estar sozinha em casa com ele.

— Sara! Preciso falar com você – ela ficou surpresa em vê-lo sentado em sua varanda. Ele parecia tranquilo, mas ela se mostrou distante.

— Por que terminaram?

— Eu tentei, mas não deu.

— E a Heidy como está? Como aconteceu?

— Conversamos amigavelmente no domingo, expliquei para ela o porque de tudo. Ela ficou um pouco triste, mas parecia bem. Liguei hoje de manhã, mas não estava em casa - seu olhar se tornou triste — Apesar de tudo fico preocupado, não quero perder uma amizade por causa de um namoro que não deu certo. Ela ainda é especial.

— Dê tempo ao tempo, Carlos. Mesmo que vocês terminaram amigavelmente, deve estar sendo difícil. Ela sempre foi apaixonada por você - Sara respirou fundo e o encarou ainda mais séria — Não me leve a mal, mas gostaria de cancelar as nossas aulas particulares. Você já me ajudou muito nesses dias com a Química e estou conseguindo entender melhor – mentiu ao final.

Ele ficou surpreso com o pedido, no entanto, concordou ao perceber que o clima não estava bom entre eles. Talvez fosse a decisão mais sensata a tomar.

***

A semana se passou lentamente. Sara só viu a amiga na escola nos dois últimos dias, no entanto, ela estava distante e não conseguiu se aproximar. Não sabia o que fazer para reatar a amizade. Mas naquela noite, inesperadamente recebeu o telefone da mãe da sua amiga. Ali estava a oportunidade que tanto precisava. E sem hesitar, conversou com seus pais, pegou sua bolsa e foi para a sua casa apreensiva.

Uma senhora elegante que já a conhecia atendeu e a recebeu de braços abertos, grata por estar ali. Sorriu e deu total acesso a casa, apontando as escadas que a jovem já conhecia. Ela sorriu, e tentou disfarçar o nervosismo e avançou naquela direção. Lentamente abriu a porta do quarto.

— Heidy?

— Sara? O que faz aqui? - levantou assustada.

— Vim ver você. Estava preocupada. Mal falou comigo na escola.

— Estou bem – sorriu — Já deve estar sabendo o que aconteceu – Sara confirmou — Não se preocupe, graças a Deus hoje estou bem melhor, só não estava a fim de sair de casa e ficar conversando. As pessoas te perguntam, ficam observando... detesto essas coisas - Ela parou de falar e fitou a amiga — O Carlos te contou alguma coisa?

— Na verdade não falou muito.

— Acredita que ele gosta de você? –

Ela ficou paralisada, justamente essa era a notícia que temia. E sua amiga falava com toda aquela tranquilidade? Não estava entendendo mais nada.

— Na... Não sabia. Nunca fiz nada para atrapalhar o seu namoro. Ele apenas me ajudou no estudo, só isso...

— Tudo bem Sara, não precisa ficar com essa cara – sorriu novamente — Confesso que no começo fiquei muito brava, pois foi por esse motivo que ele terminou. Mas eu sabia que você era inocente nessa historia.

— Ele contou mesmo isso? – estava pasma com a atitude do colega.

— Desde o começo fomos sinceros um com o outro. Na primeira semana ele conversou comigo e disse que gostava de mim, mas não o suficiente para namorar. Concordamos em tentar mais um pouco, ele queria isso também. Mas depois que viu o seu quadro em sua casa as coisas mudaram. Aquele dia ele me deixou em casa e não disse nada, só conversamos no domingo – ela levantou-se e calmamente pegou um buque de rosas brancas que estava em cima da sua escrivaninha — Ele mandou essa semana. Estava muito preocupado comigo.

Sara pegou o cartão que a amiga lhe dera e leu silenciosamente.

Querida Heidy! Você é linda, uma dádiva de Deus. Espero que continuemos amigos, e com certeza Ele tem alguém muito melhor que eu para você. Com carinho, Carlos.

Ela ficara impressionada com o cartão, não esperava uma atitude dessas.

— Admirável! Ele sempre foi assim, atencioso e preocupado com todos. É um homem lindo e maravilhoso... Mas como ele disse, tem alguém muito melhor para mim, e eu espero mesmo que esse outro alguém seja apaixonante como ele – suspirou tristemente.

Sara abriu um sorriso quando sua amiga dissera as ultimas palavras e deu um abraço reconfortante. Após aquela semana intensa, finalmente sentiu que estava tudo bem entre elas, mesmo com todas as últimas revelações. Heidy realmente era uma amiga de ouro. Outra pessoa em seu lugar jamais voltaria a amizade como antes. Ela suspirou e agradeceu em seus pensamentos por aquele tesouro. E no meio de tudo isso foi inevitável não pensar em um assunto que há dias estava querendo falar. E seria a hora perfeita.

— Preciso confessar uma coisa - sentou-se na cama ao lado da amiga — Isso está na minha cabeça nas últimas semanas...

— O que é? - interrompeu curiosa.

— Conheci um jovem moreno com os olhos mais lindos que já vi, na escola. Fiquei sabendo que ele se formou ano passado. Ele me deu uma olhada daquelas que você nem consegue respirar direito.

— Sério? Do nada ele te olhou assim?

— Sim, do nada. Estava indo para a biblioteca no intervalo e ele surgiu na minha frente e ficou me encarando, e depois quando eu pequei um livro ele estava de novo lá. E você nem acredita o que ele fez...

— O que? - levantou-se ainda mais curiosa.

— Pegou minha mão e a beijou dizendo: "Princesa, sempre Princesa".

— "Sempre princesa"? O que isso quer dizer? - tentou decifrar o enigma.

— Não tenho a mínima ideia. Estava tão perdida que nem perguntei, apenas fui embora.

Heidy ficou pensativa e de repente se virou para a amiga numa euforia que não pôde controlar.

— Não me diga que é o Bruno da biblioteca?

— É, ele mesmo. Você conhece? - seus olhos brilharam.

— Não acredito que a minha melhor amiga conquistou o coração de um gato desses! Mas, vou te avisando, vai precisar de coragem e paciência, aquele homem é lindo sim, mas é um mistério.

E antes que pudessem se aprofundar no assunto, dona Adelaide, apareceu na porta com um sorriso reconfortante.

— O jantar está pronto, venham meninas!

As duas se entreolharam animadas e foram para a cozinha. Um cheiro delicioso invadia o local. Uma macarronada apetitosa às aguardava. A dona da casa orou antes de começarem a comer e Sara ficou admirada. Em sua casa sempre agradecia a Deus pela comida em seus pensamentos, mesmo sua família não tendo esse costume, mas achava maravilhoso fazer isso. Acreditava em Deus!

Aproveitaram bastante o sábado, colocando a conversa em dia e fazendo planos que envolvia um convite especial que Heidy fizera. E agora estavam terminando de se arrumarem para ir ao encontro que a nova amiga ia todos os sábados.

Sara ficou surpresa quando dona Adelaide estacionou o carro em frente a uma ampla igreja. Ela as deixou ali e partiu de volta para casa. A expectativa era grande e quando adentraram aquele lugar sagrado, Sara ficou feliz em encontrar alguns rostos conhecidos.

— Ei, aquela moça é da na nossa sala!

— É a Karin, prima do Carlos. Você não sabia?

— Não! Só conversei uma vez com ela, mas foi pouca coisa.

Continuaram a caminhar calmamente enquanto os jovens conversavam animados entre si. Sentaram em um banco perto do púlpito e não demorou para um conhecido se aproximar.

— Heidy! Que bom que você veio!

— Estou bem Carlos, fique sossegado! - ela sorriu tranquilamente ao ver a expressão em seu rosto. Ele sorriu compreensivo a fitando por alguns instantes, em seguida voltou seus olhos para Sara que desviou rapidamente. Quando tentou puxar assunto foram interrompidos por uma voz forte que se aproximava rapidamente.

— Oi galera! Desculpem o atraso, tive um contra tempo no trânsito.

Sara sentiu um tremor invadir o seu corpo. Aquela voz era familiar. Virou a cabeça lentamente e encontrou o dono dos olhos que acompanhavam os seus sonhos todas as noites. E como se estivessem em sincronia, em segundos ele captou o seu olhar. Um sorriso surgiu em seus lábios e ele deu alguns passos em sua direção, deixando-a atordoada.

— Pessoal, quero que conheçam a Sara Princess. Ela é amiga da Heidy e do Carlos – fixou seus olhos por mais algum tempo sobre ela e como se tivesse percebendo o que estava fazendo, rapidamente tomou a sua posição e se afastou — Esses dias estive com uma pessoa muito especial - mostrou um livro com capa verde para os dez jovens que estavam presentes — Ele me deu esse livro e fiquei surpreendido com o que tem aqui dentro. Então, faremos um estudo rápido todos os dias com ele. Tenho certeza que no final entenderão a necessidade disso.

Fizeram um pequeno círculo e Bruno explicou como funcionaria o estudo. O título chamou a atenção de todos, inclusive Sara que se concentrou ao máximo para aprender mais sobre o livro "Apaixone-se por Deus".

— Vamos falar sobre a vida e seu propósito. Em Efésios 1.11 diz, em outras palavras, que Cristo nos predestinou, ou seja, antes de estarmos no ventre da nossa mãe, Deus já havia planejado a nossa vida, como seríamos, tanto o nosso físico, como o emocional. Ele tem um propósito para nós, não nascemos em vão, nem foi sem querer que nascemos, como às vezes os pais nos dizem. Tudo já estava planejado, inclusive uma vida maravilhosa para nós, coisas que nem imaginamos e que estão muito além da nossa compreensão. Ele nos ama além do nosso entendimento - sorriu observando o semblante de cada jovem — Tem uma frase que gosto muito de Bertrand Russel: "A menos que se admita a existência de Deus, a questão que se refere ao propósito para a vida não tem sentido". Quero que pensem nisso essa semana; o que Deus tem sido para você?

Todos se silenciaram, então Bruno orou agradecendo por Deus ter criado cada um que ali estava, e que Ele mostrasse a verdade para cada jovem e ao final, agradeceu pela presença de Sara.

A reunião acabou após algumas músicas que Carlos cantou com seu violão, a surpreendente. Enquanto todos se levantavam, conversando sem parar, continuou sentada absorvendo o que escutara. Sempre desejou conhecer a Deus mais profundamente e estava radiante em ter encontrado aquelas lugar tão especial, e Bruno, com as palavras mais tocantes que já ouvira.

— Fiquei surpreso em te ver aqui! – o jovem moreno sussurrou, sentando ao seu lado. Ela o fitou lentamente e deu um pequeno sorriso.

— Estou passando o fim de semana na casa da Heidy e ela me convidou.

— O que você achou? Gostou?

— Gostei muito de tudo o que você disse. Precisava ouvir essas palavras – revelou animada.

Bruno sorriu e não disse mais nada, apenas a encarou estudando cada traço do seu rosto. De repente, pediu licença e saiu rapidamente pelo corredor a deixando sem compreender o seu comportamento.

— O que deu nele? - indagou após perceber a presença da amiga do seu lado — Estávamos conversando e ele simplesmente saiu.

— Bom, mas ele deu umas olhadas bem profundas para você. Eu vi!

— Eu amo o jeito que ele me olha – suspirou.

— Ama? Já? - riu do jeito apaixonado da amiga.

— É modo de falar, Heidy – revirou os olhos.

— Aconteceu alguma coisa com o Bruno? Ele saiu, não disse nada e foi embora – Carlos entrou no meio da conversa com o semblante sério.

As duas deram de ombros, sem saber o que falar.

— Ei Carlos! - Karin, uma morena baixa de olhos azuis o chamou de longe — Alguém mais vem com a gente?

— Onde?

— Na pizzaria de sempre - respondeu Karin sorrindo — Vocês vão, meninas?

As duas não precisaram falar nada, seus sorrisos diziam tudo e logo se juntaram ao pequeno grupo.

A noite na pizzaria foi animada. No entanto, tudo o que ansiava era poder colocar a cabeça no travesseiro e repassar as últimas horas. Amou conhecer os jovens da igreja e principalmente ter visto Bruno em um lugar jamais imaginado. E aquelas palavras... tão sábias... profundas... Não saiam da sua cabeça.

Enquanto ficou pensando escutou as músicas baixinhas que saíam do pequeno rádio que a amiga sempre colocava para dormir. Em minutos fechou os olhos e sentiu paz com aquelas canções tão inspiradoras. Havia algumas calmas, outras agitadas, mas as letras eram reconfortantes.

Já passava das duas da manhã e continuava ouvindo a rádio. Uma voz feminina começou a citar um versículo que Sara achou interessante, ficava no livro de Eclesiastes e falava sobre tempo. Há tempo para tudo, e cada coisa tem um propósito; tempo para morrer, para nascer, para amar, chorar, rir... Enfim, tempo para todas as coisas.

— E Deus tem o tempo certo para você. Será que esse momento não é agora? Existe algo muito mais profundo e que vale a pena viver. Ele está apenas esperando você o chamar - a locutora sussurrou ao final.

De repente surgiu na mente de Sara todas as palavras que Bruno dissera. Algo dentro dela confirmava aquele sentimento. A hora era agora! Estava ansiosa para conhecer mais desse Deus que ela apenas conhecia de longe e não de viver um relacionamento verdadeiro. E era um dos seus maiores desejos.

Se dizem que Deus é maravilhoso, quero provar um pouco disso. Olhou para o teto escuro como se visse Deus através dele.

— Eu quero Deus, te conhecer mais. Não sei como vai ser, mas vou arriscar. Quero que o Senhor me ajude a viver uma vida em sua companhia. Quero experimentar essas coisas tão maravilhosas que as pessoas comentam. Deus, fique em meu coração e me mostre o caminho. Eu preciso do Senhor para aprender, porque na verdade eu não sei de nada - Suspirou e fechou os olhos dizendo — Boa noite Deus. Cuida de mim!

Aquele fim de semana foi especial e Sara estava entusiasmada com a nova fase em sua vida. Queria conhecer e descobrir cada vez mais os mistérios de Deus. Estava tão feliz que a primeira coisa que fez na segunda-feira foi ir direto à biblioteca. Precisava falar com Bruno. Sorriu e diminuiu o ritmo da sua caminhada ao perceber ele de costas, concentrado, mexendo em alguns livros. Estava fácil, era só chamar o seu nome, e então ele se viraria e poderia contemplar novamente seus olhos, no entanto, decidiu ficar parada, o admirando até que ele percebesse sua presença. Mas de repente, algo totalmente diferente do imaginado aconteceu. Ele começou a cantar baixinho e justamente a música que havia escutado na rádio naquela madrugada em que decidira mudar sua vida.

— É linda essa música! – sussurrou emocionada.

Bruno se virou rapidamente e abriu um sorriso tímido.

— É verdade! - seus olhos se cumprimentaram novamente, sem mais palavras. E durante um tempo apenas se fitaram.

— Eu a ouvi ontem na rádio - ela quebrou o silêncio.

— Então acho que nós dois estávamos acordados até tarde ouvindo a mesma rádio. Você ouviu também sobre Eclesiastes? Sobre ter tempo para todas as coisas? – deu alguns passos em sua direção.

— Sim! Como posso dizer... foi o meu tempo com Deus – confessou sorridente.

— Quer dizer que você disse para Deus... cuidar... da sua vida? - Ele ficou ainda mais feliz e se aproximou. Ela não respondeu, apenas continuou a sorrir. Era impossível não fazer isso. Sem que esperasse, Bruno quebrou a distância entre eles e passou os braços em sua volta, abraçando-a carinhosamente — Há tempo para tudo, Sara! - e antes que pudesse sentir mais a intensidade dessa aproximação ele a soltou e saiu repentinamente da biblioteca.

Por que você faz isso, Bruno? Uma hora está um clima legal entre a gente e depois muda, como se nada tivesse acontecido. Ela suspirou fundo completamente confusa e foi para a sala.

Ao final das aulas, Sara foi a primeira a sair da sua classe. Sua amiga iria ficar mais um tempo para pegar algumas matérias atrasadas com os professores. Mas ela não estava com paciência para esperar, só queria ir para casa e ficar sozinha com seus pensamentos. Ainda podia sentir o abraço reconfortante de Bruno e infelizmente sua saída repentina.

— Ei, Sara! - uma voz masculina a chamou, sobressaltando-a.

— Você me assustou – murmurou.

— O que aconteceu? – percebeu a impaciência em sua voz.

— Coisa minha – respondeu e mudou de assunto — Fiquei sabendo do buquê de rosas brancas que você mandou para a Heidy.

— Ela merece. E só quero que você saiba que fui honesto com ela desde o começo.

— Fiquei sabendo, é difícil hoje em dia os homens agirem assim.

— Não fiz mais nada do que a minha obrigação - Carlos pegou sua bolsa, tirou uma pequena caixa e entregou em suas mãos — É seu! Estava no centro da cidade no sábado, vi esses brincos e me lembrei de você - sorriu tímido.

Sara abriu a caixinha e ficou maravilhada com o presente. Eram brincos lindos, com três flores ao meio com pedrinhas azuis brilhantes — Obrigada, mas não precisava - ficou sem jeito.

Andaram mais um pouco e dessa vez em um silêncio incômodo. Sara viu que estava próximo da sua casa e ficou aliviada. Respirou fundo e despediu-se normalmente do vizinho que, inesperadamente pegou em suas mãos a deixando em transe por alguns segundos.

— Você continua sendo a mesma menina que conheci pela primeira vez. Linda e com um coração puro! E é isso que gosto em você - deu-lhe um suave beijo no rosto e soltou suas mãos deixando-a na porta de casa.

Sara entrou rapidamente e foi direto para o quarto, apreensiva. Carlos havia se declarado a ela? Não sabia como reagir diante disso. Embora aflita, não podia negar que estava achando Carlos interessante. Depois que ficou sabendo do jeito que tratara Heidy; sendo honesto com ela o tempo todo, as flores com os dizeres no cartão, o jeito dele sempre preocupado com as pessoas, o carinho que sempre demonstrou... e essa declaração? Lembrou-se imediatamente do passado, do dia em que conhecera Carlos. Eles tiveram uma breve conversa, conheceram-se apenas um pouco e ela começou a gostar do menino, pensando nele por algum tempo, mas depois acabou o esquecendo. Inevitavelmente parecia que o mesmo sentimento estava voltando. Mas não... Não podia, não agora. Como Heidy iria ficar se soubesse do que acontecia dentro dela? E Bruno?

Deus, o que eu faço? Estou muito confusa...

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