Segredos Inabitáveis

Bởi HeloisaBernardelli

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Naquela terça-feira, dia 05 de Abril de 2016, Olivia Harding foi atacada na porta de seu apartamento. Teve su... Xem Thêm

Apresentação
Prólogo
Primeira Parte - Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e Um
Segunda Parte - Vinte e Dois
Vinte e Três
Vinte e Quatro
Vinte e Cinco
Vinte e Seis - Final
Epílogo

Oito

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Bởi HeloisaBernardelli




- Is there anybody going to listen to my story, all about the girl who came to stay? – A voz mansinha e melódica ia atraindo Olivia para fora de seu estado de inércia, convidando a retomar seus sentidos e a realidade – She's the kind of girl you want so much it makes you sorry, still you don't regret a single day... – Olivia começou a sorrir antes de abrir os olhos – Oh, girl... Sssssssssss, girrrrrl! – Sua gargalhada se misturou à de Kacey, e um instante depois Olivia já havia saltado da cama, direto para os braços da amiga – Que saudades, pin-up!

- Eu também senti sua falta! – Confessou a outra, buscando pelos óculos de grau tão logo viu-se fora do abraço – Que horas são? Você disse que chegaria depois do almoço, nem me preocupei em acordar mais cedo.

- É, eu disse... – Kacey falou, afastando as cortinas para abrir a janela do quarto de Olivia – Mas Georg foi pra uma viagem com os amigos, me acordou cedo para se despedir, decidi vir de uma vez... – A claridade já havia se alastrado pelo quarto quando ela se virou outra vez para a amiga – Vista alguma coisa, vamos tomar um café.


    Olivia parecia ter visto o passar de seus últimos dias da janela de um carro em alta velocidade. Mal conseguia se lembrar de segunda-feira, ao mesmo tempo tinha a impressão de fazer apenas algumas horas desde o início da semana.

    Durante o caminho até o centro, Olivia pensou em qualquer coisa para responder ao pedido de novidades de Kacey, mas nada de muito relevante lhe ocorreu.

    Em nome dos velhos hábitos, estacionaram próximo ao Millennium City, um dos edifícios da Universidade de Wolverhampton, onde ficavam alguns cursos da área de Humanas, assim como a escola de Direito e o Instituto de Psicologia. Olivia havia estudado ali os cinco anos de "Escrita Criativa e Profissional e Mídia". Kacey, por sua vez, estudara Fotografia na Escola de Artes, em um prédio há pouco mais de 600 metros dali.

    A loja da Starbucks ficava próxima ao Millennium City, ou MC, como os estudantes costumavam chamar. Normalmente o café ficava movimentado, mas naquele sábado havia uma única mesa ocupada. Fizeram os pedidos de sempre antes de se acomodarem no canto que já pertencia à elas, próximo à janela.

    Era inevitável mergulhar em nostalgia, recordando das conversas que duravam madrugadas inteiras, sobre todos os tipos de assunto – variando do banal ao essencial. Kacey gostava de falar de si. Contava sobre sua história de vida, e sobre os desastres do dia-a-dia. Sobre sua luta constante pelos direitos que lhe pertenciam, e sobre questões que Olivia nunca havia sido convidada a pensar antes de conhecer sua melhor amiga.

    Kacey apresentou Olivia à Jocelyn – que na maioria das vezes era só Joss. E também à Adam. Uma fase diferente de sua vida começava ali, exigindo que Olivia se apurasse para poder se adaptar e aproveitar todas as boas novas – que vieram acompanhadas de uma independência mais sólida, argumentações mais frequentes. Também de um desenvolvimento pessoal, que certamente aprendeu com Joss. O atrevimento e a determinação, que Adam lhe exigia sem trégua. A bravura não poderia ter sido trazida por outra pessoa, se não aquela que era a mais valente entre eles, Kacey.

    E por entre as noites intensas de estudo e as urgências inadiáveis do Wolftown News, haviam as madrugadas em pubs locais, as festas em Londres, os caras legais, os caras nem tão legais, as ressacas terríveis.

    Pelo menos até Kacey se mudar para Birmingham, e os laços que elahavia atado começassem a afrouxar.


- Parece 2012 outra vez! – O espaço aberto fez com que a voz de Jocelyn parecesse vir de todas as partes. Olivia e Kacey endireitaram a coluna, os olhos se atentaram e se encheram de alegria ao reconhecerem a figura esguia e familiar de Joss.

- Ahhhhhh! – Gritaram, em conjunto, como adolescentes que nunca deixariam de ser na presença um do outro.

- Que falta senti de vocês! – Joss murmurou, daquele jeito emocionado que já era costumeiro, os braços longos enlaçando ambas as amigas – Que baboseira isso de nos encontrarmos só uma vez no mês! – Era uma das coisas que já esperavam ser dita por um deles em algum momento do fim de semana.

- Cadê Adam? – Kacey quis saber quando retornaram para os degraus da escadaria, que ficava em frente ao prédio principal da universidade.

- Ele me mandou uma mensagem, disse que ia passar no Asda antes de vir... – Joss comentou, e houve um minuto de silêncio em que elas apenas se observaram e sorriram.

- A vodca chegou! – Adam disparou, alto o suficiente para que elas ouvissem de onde estavam. Mais gritos. Mais abraços.

- Vamos precisar mesmo de muita vodca... – Kacey disparou, e sob olhares confusos e curiosos, fuçou em sua bolsa até encontrar o que procurava. Um panfleto, notaram – Há quanto tempo vocês não vão à uma festa universitária?


    Há dois anos, se lembraram em silêncio. Não achavam que algum dia poderiam esquecer.

    Janeiro de 2014. O frio mais rigoroso do qual, ainda hoje, conseguiam se recordar. Já estavam graduados. Kacey e Adam há um ano e meio, Olivia e Joss há sete meses. Dentre as festas tradicionais do campus, havia a de Ano Novo, que marcava o retorno de um recesso de duas semanas por conta dos feriados.

    Por volta da uma da manhã, aproximadamente cinco horas depois do começo da festa, os quatro abandonaram o campus e cambalearam pelas ruas cheias de neve. Quando acordaram, no dia seguinte, espalhados no chão de um hotel do centro, Olivia tinha uma tatuagem nova e a pior ressaca de sua vida.

"Boa festa, Olivia Harding.
Xxxxx"


    Era o que dizia a última mensagem de Henry.

    Haviam se encontrado, ele e Olivia, duas outras vezes depois do último domingo. Na terça-feira, para um café depois do expediente de Olivia. Na sexta-feira ele escapou mais cedo do bistrô e passou busca-la para um lanche – o que resultou em horas no estacionamento do McDonalds, entre beijos e muitos mililitros de Milk Shake.

Olivia respondeu a mensagem antes de conectar o celular no carregador, sobre a mesa de cabeceira. Reuniu-se com os amigos ao redor do balcão da cozinha para uma última dose de vodca. Joss e Kacey haviam convencido Gracie a ir para a festa. Os argumentos ainda eram os mesmos que usavam contra – ou a favor – Olivia em outra época. "Você não quer se graduar sem ir a essa festa!", garantiam, persuasivas.

Nunca falhava. Especialmente quando Adam começava a lhe dar detalhes de sua vida pós-universitária: sozinha num sofá para dois, tomando chá e assistindo filmes alternativos. Não parecia, de jeito nenhum, um futuro desconfortável para Olivia, mas Adam insistia: "essa mansidão pode esperar, Oli, por hora vamos encher a cara!".

E enchiam – na maioria das vezes, mais do que deveriam.

Divididos em dois táxis, foram conduzidos até o cruzamento entre a Waterloo Rd e a Oxley St. Muito antes de virarem a rua Lomas, onde ficava o condomínio com os dormitórios e acomodações vinculadas à universidade, já podiam ver a movimentação típica de uma noite de festa. Haviam pessoas por toda a parte, em pequenos aglomerados na calçada, encostadas em carros estacionados aqui e ali.

    O panfleto anunciava o local da festa como jardim do City Campus. A grande maioria das festas programadas por estudantes eram realizadas nos clubes do centro, já que havia uma política rígida de barulho e desordem no condomínio de acomodações. Também porque a maior parte dos dormitórios eram individuais e mal cabiam o locatário. Já haviam até frequentado uma festa ou outra que começava no quarto de algum estudante, e terminava pelos corredores do prédio. Geralmente, mesmo com o formulário de pedido oficial devidamente assinado, aquelas noites acabavam com a presença da polícia.

    Era estranho, embora esperado, que não reconhecessem nenhum daqueles rostos. O mesmo não se aplicava à Gracie, que cumprimentava com desinteresse uma ou outra pessoa com as quais cruzaram enquanto atravessavam o jardim.

    Olivia, dentre os outros, foi a única que permanecera em Wolverhampton. Talvez por ser quem tinha um emprego garantido. Talvez por ser quem não tinha o menor interesse fora dali, e nenhuma pretensão de voltar para a cidade natal.

    Depois de Kacey se mudar para Birmingham, levou menos de seis meses até Adam decidir arriscar-se em Londres. Joss, que se formou um ano depois, junto com Olivia, voltou para Burntwood para viver com os pais.

    Ainda assim, foi igualmente nostálgico para todos os quatro, perambular por aquele prédio, onde haviam passado anos de suas vidas. Grande parte do tempo, juntos. Olivia não conseguia pensar em outra palavra que não fosse "desagradável" para a sensação de estranheza que a atingiu – e não só a ela – ao perceber que, embora todos aqueles corredores estivessem exatamente do mesmo jeito – as paredes tingidas num tom encardido de bege, enfeitadas com quadros de mal gosto, o carpete vermelho desbotado e cheirando a mofo – havia restado muito pouco da familiaridade de sempre. O sentimento assustador de não pertença refletido em seus olhos vagantes e caminhar hesitante.

- Na nossa época era melhor. – Adam resmungou, finalmente se rendendo ao desconforto quando voltaram para o jardim. Procuraram logo um lugar para se encostar.

- Era melhor porque era nossa época. – Joss respondeu, com um bom humor que raramente lhe escapava.

- Não achei que ia viver o suficiente para ver Jocelyn Fitch sendo arrogante, senhoras e senhores. – O rapaz brincou, depois encheu as bochechas de vodca com suco de laranja passada.

- Você me entendeu errado! – Ela falou, acima da música – Eu não estou dizendo que era melhor porque estávamos aqui, e sim que temos essa sensação justamente porque estávamos aqui... – Olivia sorriu na borda de seu copo, depois molhou os lábios no pior gim-tônica que já havia provado – Conhecíamos grande parte dos estudantes, tínhamos nossos grupos de amigos, pessoas por quem tínhamos interesse amoroso...

- Ou sexual... – Kacey reiterou, provocando riso nos outros.

- Você tem razão. – Adam admitiu, olhando para os lados – Sinto falta de fazer parte daqui.

- Eu sinto falta de vocês... – Kacey falou, distraída com o movimento – Não daqui, definitivamente. – Olivia lambeu os lábios e observou por um instante o rosto absorto da amiga.

- Às vezes é preciso deixar essas coisas para trás, Kay... – Jocelyn arriscou.

- Acho linda a sua capacidade de perdoar, Joss... – Kacey sorriu para a moça, depois mostrou seu copo vazio – Já eu, me viro bem bebendo.

- Oli... – Adam chamou, sua mão rodeando o pulso da amiga para chamar sua atenção – Não olhe agora, mas tem um cara que não parou de te encarar desde que chegamos... – Por algum motivo, o rosto de Lars estourou imediatamente na memória da moça – E ele é o maior gato!

Os olhos confusos de Olivia foram atraídos para dentro dos daquele rapaz, sentado no encosto de um banco de cimento, não muito longe dali. Ela não o reconheceu num primeiro momento, mas foi incapaz de desviar o olhar e, um tempo depois de ter sua atenção toda monopolizada por ele, começou a identifica-lo – Troy, o rapaz com quem Yvonne, supostamente, costumava trair Lars.

    Virou o rosto para o lado oposto imediatamente, de pernas ligeiramente fracas e estômago revirado. Havia algo de perturbador no olhar urgente de Troy. Não necessariamente ameaçador, Olivia pensou, mas nem de longe despreocupado. Era como se tivesse algo a dizer para ela, mas se descobrisse incapaz.

    Ela fingiu rir do que quer que seus amigos estivessem rindo, tentando não mostrar seu desconforto. Engoliu o resto de sua bebida e tratou de ignorar, por todos os próximos minutos, o impulso de retribuir o olhar atento de Troy.


- Ah não, que fila! – Kacey reclamou, as palavras pareciam confusas, como se sua língua estivesse inchada. Ela cambaleou uma vez e respirou fundo antes de se escorar na parede. Os olhos examinaram Olivia por um tempo. — Eu te amo. – Kacey murmurou e, motivada pelo álcool, envolveu a amiga em um abraço apertado – Eu sinto tanto sua falta, pin-up! Você deveria se mudar para Birmingham! – Se afastou e, como se nunca tivesse feito aquela proposta um milhão de vezes antes, arregalou os olhos com entusiasmo – Eu e Georg podemos montar um quarto para você, como se você fosse nossa filha! – Olivia sorriu com carinho.

- O que será que George acharia disso, hm? – Perguntou, brincalhona.

- Ora, ele ia adorar! E se não adorasse, dane-se ele, a casa é minha! – Disparou, e riu de si mesma – Pense nisso.

- Vou pensar. – E, mesmo que não fosse, não parecia boa ideia chatear Kacey quando ela já estava tão bêbada – Eu vou buscar bebida e te espero ali na escada.

- Ok, dear.


    Olivia desceu a escadaria e saiu pela porta do prédio, estava chuviscando, percebeu, mas quando é que não estava? Ninguém parecia se importar ou ter a pretensão de se refugiar.

    Encolhida dentro de seu casaco, ela seguiu o caminho asfaltado até o bar improvisado, no centro do jardim. Conseguiu dois copos de bebida, embora talvez fosse melhor que Kacey suspendesse o álcool pelo que restava da noite.

    Enquanto voltava, caminhando distraidamente pelo gramado, observava pacientemente seus copos, cuidando para não derramar nenhuma gota do que havia neles. Por um instante, viu-se agarrada à sensação de estar sendo observada. Pensou em Troy, mas ao parar onde estava e olhar para todos os lados, não encontrou ninguém.

    Andou mais depressa e voltou para o prédio, sentando-se no canto superior do lance de escadas que levava para o segundo andar. Deixou o copo de Kacey no degrau de baixo, entre suas pernas, e bebericou um pouco de sua bebida.


- Oi, linda... – Olivia ergueu os olhos para encontrar o dono da voz arrastada, um rapaz que devia ter pelo menos cinco anos a menos que ela, acompanhado de um amigo – Por que está sozinha aqui? Nós vamos te fazer companhia. – Ele sugeriu, bêbado e malicioso.

- Obrigada, mas estou acompanhada. – Disse, e desviou os olhos outra vez para seu copo, contando que isso faria com que eles fossem embora.

- Eu acho que está mentindo pra gente... – Olivia empertigou-se quando ele se sentou ao seu lado, o cheiro de álcool e perfume enjoando seu estômago – Por que está mentindo pra gente?

- É, nós somos boas companhias! – O outro disse, agachando em frente à ela.

- Com licença... – Olivia disparou e tentou se levantar, mas o braço do rapaz sentado ao seu lado a impediu.

- Por que você não fica mais um pouco? – Ele soava como se estivesse sugerindo, quando estava, na verdade, impondo – Vamos só conversar!

- Me solta. – Ela exigiu, sem alterar voz.

- Mas por que está tão nervosa? – Perguntou o rapaz, enquanto o outro destemidamente derrubava um punhado de droga na bebida que Olivia havia separado para Kacey – Só queremos te conhecer melhor!

- Eu disse que estou acompanhada, pode por favor me soltar? – Olivia deu um tranco para se livrar do abraço, mas ao tentar se erguer, foi trazida outra vez para o degrau. Seus olhos ansiosos buscaram qualquer pessoa no corredor. Suas pernas adormeceram quando notou que estava vazio. Pensou em gritar, mas ninguém ouviria por conta da música.

- Não acredito em você... – O rapaz disse, e deu de ombros, divertindo-se com o terror nos olhos dela.

- Olivia? – Ela não reconheceu a voz imediatamente, embora soubesse tê-la ouvido antes. Zonza, reconheceu o rosto de Lars. Ele subia as escadas lentamente, encolhido dentro de seu casaco, ambas as mãos protegidas no bolso.

- Ah, amor, finalmente! – Olivia disparou, sua voz tremeu, mas ela conseguiu se levantar.

- Está tudo bem? – Ele perguntou, seus olhos confusos esquadrinhando o rosto dos rapazes que agora estavam de pé.

- Está... – Olivia garantiu, segurando a mão de Lars, tão gelada quanto a sua. Os rapazes riram e começaram a descer as escadas para longe.

- Cuidado, Olivia, ele costuma ser bom em esconder corpos... – Um deles disse, num humor ácido. Olivia observou o rosto rígido de Lars. Podia apostar que, caso ele tivesse a chance, daria uma surra neles, mas se conteve.

- Me desculpa, Lars... – Pediu, afastando-se um passo – A culpa é minha, eu só... Fiquei desesperada.

- Está tudo bem, não é culpa sua. – Ele disse, sem olhar para ela – Eles... Hm... Te machucaram?

- Não, está tudo bem... – Ela respondeu, cruzando os braços. Houve um silêncio que era, no mínimo, desconfortante – E então... Está curtindo a festa?

- Ah não... Quer dizer, não vim para a festa, meu dormitório é aqui... – Lars explicou, enfiando as mãos outra vez no bolso de seu casaco – E você? Está se divertindo?

- É... Sim... – Respondeu, bêbada e incomodada – Será que eu poderia... Não, quer dizer... Eu vou... – E apontou para a porta, escadaria abaixo. De cenho contraído, Lars a observou – Vou entrar na fila do banheiro.

- Você pode usar o meu, se quiser.


    Olivia se revirou por dentro atrás de uma razão para ter aceitado aquela proposta. Soube, antes do primeiro passo, que não era uma boa ideia, ainda assim deixou que Lars mostrasse o caminho até seu dormitório. Atravessaram o corredor até a escadaria na outra extremidade, subiram mais dois lances de degraus até o terceiro piso. O quarto de Lars era um dos primeiros. Era individual, e provavelmente o mais organizado que já havia visitado.

    Sem dizer nada, ele entreabriu a porta do banheiro e tateou rapidamente a parede antes de encontrar o interruptor. Olivia agradeceu em um murmúrio ansioso, depois desapareceu para dentro do outro cômodo. Sentiu-se algo ansiosa o tempo todo em que esteve lá dentro. Como se não soubesse o que esperava por ela do outro lado da porta.

    Ensaiou, apenas em sua cabeça, algumas frases para dizer quando saísse do banheiro e torceu para que não deixasse escapar, por entre as palavras, a urgência que sentia em si. Desde quando agia como se houvesse uma tragédia iminente em seu encalço? Foi o que se perguntou observando seu reflexo muito pálido no espelho do banheiro.

    Ao voltar para o quarto, encontrou a figura deprimida de Lars junto à janela – por onde entrava a iluminação que fazia sua pele parecer amarelada.


- Todo mundo parece estar se divertindo... – Ele comentou, mas não virou-se em direção à ela. Olivia deu uma olhadela para a porta do quarto, e sua respiração recobrou o ritmo normal quando notou que estava entreaberta – Ninguém mais fala sobre o que aconteceu... – Ela desejou ser uma daquelas pessoas com um arsenal de palavras de conforto, mas não era – O centro de buscas só não foi desfeito porque Patrice não deixou, mas ninguém aparece lá de qualquer maneira... Ontem o reitor reuniu todo mundo em um anfiteatro, para fazer um discurso sobre o ano letivo, fez um minuto de silêncio por Yvonne, depois disse "mas a vida segue". Com essas palavras... a-vida-segue. Segue pra quem? Eu fiquei me perguntando. Porque parece seguir para todo mundo, mas não para nós. Não pra mim. Não pra Hammond. Não pra Patrice. – E pelos próximos segundos, tudo o que se podia ouvir era a respiração ruidosa de Lars, cansado de seu desabafo e de todos o resto – Me desculpa, Olivia. Eu nem sei porque estou dizendo essas coisas pra você... Volta pra festa. Seus amigos devem estar te procurando.

- Ah, é... Ok... – Olivia alcançou a porta em dois passos, mas não saiu. "O mínimo de solidariedade", exigiu de si mesma. Lars estava no mesmo lugar, e levou um tempo até ele notar sua aproximação hesitante. Ele não era uma criatura de abraços, havia dito outro dia. Olivia tampouco o era. Pelo menos antes dos seis copos de gin-tônica. O corpo de Lars pareceu pequeno entre os braços dela, uma fragilidade que havia deixado de ser só interna – Sinto muito. – Ele não disse nada, mas retribuiu o abraço num enlace frouxo e pouco confortável – Fique bem... – Ela pediu, dando um passo para longe, depois outro.

- Obrigado, Olivia.


    A voz dele se perdeu no meio da frase, e Olivia fingiu não notar seu desconcerto. Abraçou o próprio corpo e dirigiu-se para a porta. Uma vez fora do quarto, pegou-se andando apressadamente para longe dele. Disparou escadaria abaixo, tentando não pensar sobre a bagunça que Lars representava para ela. Já não confiava nele como no início, sentia-se vulnerável em sua presença e isso não podia negar. Por outro lado, não conseguia se desfazer daquele sentimento de compaixão que a dominava todas as vezes que ele estava por perto.

    Apertando o casaco contra seu corpo, saiu do prédio e avançou pelo jardim, recorrendo ao caminho mais curto para voltar ao lugar onde havia visto os amigos pela última vez. Eles deviam estar preocupados, Olivia considerou. Pensou no que diria à eles e, distraída em meio à sua busca por explicações coerentes, Olivia não reconheceu o que havia arrastado seu corpo, aos tropeços, pelo gramado até a árvore onde viu-se dolorosamente espremida. Pensou serem os mesmos caras que haviam lhe abordado há pouco, mas então abriu os olhos, cheios de susto e confusão, para encontrar os lábios e o maxilar tenso de Troy. Ele não estava tão próximo que ela não conseguiu ter uma visão geral de seu rosto, podia sentir sua respiração pesada e o aperto pouco cuidadoso no alto de seus braços.


- Fique longe de Lars... – As palavras pareciam prensadas entre seus dentes trincados. Olivia fechou os olhos e reprimiu um choramingo qualquer – Você não sabe com quem está se metendo, Olivia.

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