A Série Espelho dos Olhos - L...

Da NicolasCatalano

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E, se por causa de uma revelação, sua vida mudasse? E, se por causa de ser quem você é, as pessoas te julgass... Altro

Sinopse - Espelho dos Olhos
Prólogo
Capítulo 1 - (Parte I - O Desdenho: As Íris)
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6

Capítulo 4

24 6 10
Da NicolasCatalano


Pega pelo cansaço.

Depois de muito ouvir as histórias intermináveis de tia Joly, era hora de ir embora. Consequentemente, ao chegarmos ao vilarejo, sob a fraca luz dos postes, sei que estou praticamente em casa. Em uma placa de madeira está escrito com nanquim: "Bem-vindos ao vilarejo Pilbuin – capital da Ilha do Sul, a ilha da madeira". E, logo à frente, há pessoas com lanternas iluminando algumas partes escuras do vilarejo. Os astutos Guardiões, que são aqueles que possuem íris castanhas e são especialistas em proteção, rondam a capital da ilha por segurança enquanto algumas novas decorações do segundo dia são cuidadosamente colocadas em seus devidos lugares. A decoração da Viagem de Busca se baseia no preto e no amarelo. Máscaras brancas com olhos de cores específicas são distribuídas e penduradas em vários lugares. Além de conter símbolos de losangos por todos os lados. Também há diversos balões ornamentais amarelados, milimetricamente aquadrelados, que transparecem o fogo pelos postes e que parecem ser "foguinhos noturnos distantes ao ar livre". Sem contar os inúmeros pôsteres de divulgação da Escola Talental nas paredes, apenas demonstrando o enorme monumento em formato de torres gigantescas com cristais variados e uma pirâmide no meio, que gera imensa vontade de estar lá em quem a olha.

Enquanto isso, em cada canto do vilarejo, alguns zero-classes dormem enrolados em papelões para se protegerem do frio.

Meu pai tem uma expressão desanimada.

                                                                   X

Vinzel está num sono profundo. E eu não consigo dormir.
As horas passaram. Meus olhos não queriam mais ficar fechados. 3h40. É como se o tempo estivesse dentro do meu corpo, estivesse for- migando de uma forma interminável dos pés à cabeça. Todas as imagens estão em minha mente: a igreja, meu tio, meu primo, Classes de Talento, injustiças, o país, tudo girando. Eu não consigo dormir há horas. Sinto-me estafada e sem sono ao mesmo tempo. Minha mente ecoa, não para de pensar em minha suposta Classe de Talento. Meu coração está acelerado.

Eu não aguento mais.

Por que sou assim? Por que nunca me surgiu algum sinal de habilidades? Quero gritar. Sair por aí correndo e ficar para sempre em um lugar certo, um lugar onde incertezas não existam. Se Remi Claus não tivesse criado a tal experiência, nada disso estaria acontecendo. Que dia...

Turbulências presas em meu estômago.

                                                                    X

– Venham! Venham! – As pessoas passam batendo de porta em porta, gritando com entusiasmo: – Viva a Viagem de Busca! Viva!

O sábado. Sempre quando penso nesse dia, cores vivas aparecem em minha mente, porém, apenas lamento por não ocorrer esse tipo de pensamento alegre hoje. Por sorte, não tenho aula na escola do vilarejo, cujo período é integral, de segunda a sexta. Bem, estudar lá não é nada legal. Sem contar que os professores zero-classes são extremamente desanimados quando dão as aulas, sempre com o mesmo assunto e propósitos que nunca nos levarão a ter um futuro promissor, já que, certamente, não possuímos Classes de Talentos nem o Certificado Comunal Humano para ser alguém. Contudo, o pior em estudar naquele lugar é o fato de que nunca fui aceita por meus colegas zero-classes. Eles sempre me desprezaram por pensar que eu tenho uma Classe, dizendo, amargamente, que não admito por pirraça, que só por que não tenho dinheiro não dou o braço a torcer. Mas está tudo bem. Eu mesma acredito em mim.

"Evangellyne, Joly nos deu belos grãos de café na noite passada. Espero que que contente com a cafeteira cheia! Olhe a mesa (bem na pontinha dela). E, ah, quase me esqueço (pois é... seu pai já está ficando meio biruta)! Há biscoitos de gérbera também, dê alguns ao Pimp!

P.S.: não se esqueça: eu a amo, filha. Você é tudo para mim. Tenha um ótimo sábado.

Com afeto, seu pai, Vinzel Allins."

Dou um sorriso espontâneo ao ver o bilhete. Vinzel sempre quer agradar-me da melhor forma. E, para ser honesta, ele realmente consegue. Enquanto tomo meu café, espio receosa a movimentação pela janela. Vejo poeira no ar. Vejo crianças que correm de um lado para outro em volta do poço, usando uniformes marrons e máscaras exclusivas do evento, divertindo-se à beça, sendo apenas crianças.
O sol está ardente. Observo, também, que o vilarejo Pilbuin sempre foi amarelado, desgastado. Com pessoas simples. Mas, bem, para ser honesta, nunca houve nada de especial. Aliás, este vilarejo deveria ser atualizado. Eu não posso crer que um lugar se sujeite a ser desta maneira, tão antigo.

Os ferreiros, que moram em uma pequena casinha de madeira perto do poço escuro, são conhecidos por fabricarem móveis usando madeira de todos os estilos, já que a Ilha do Sul foi nomeada "ilha da madeira", tendo em vista que cada ilha ficou responsável por um material após a Guerra do Terremoto, a qual causou a separação de territórios e o surgimento de Stravânsia. Já perto da ponta, onde há um pequeno pedaço da floresta, há as senhoras gêmeas dos lenços brancos, que vendem frutas em suas tendas. Por sorte, às sextas-feiras, sempre consigo um pequeno desconto em suas maçãs verdes, meu alimento preferido desde sempre.

Eu fecho a cortina. Surgem mais pessoas entusiasmadas com a Viagem de Busca; passam batendo em minha porta. Mas eu apenas quero paz. Assim que termino meu café da manhã, dou biscoitos ao Pimp e observo um livro que deixei bem em cima da mesa, perto de onde estava o bilhete. Ele é um guia de Classes de Talentos exclusivos que loquei no dia anterior na biblioteca do pai de Mabelle. Os Stanfall têm uma pequena biblioteca no vilarejo. Sem contar que Acácia Stanfall, mãe de Mabelle, é uma das Mestras de uma das Classes de Talentos da Escola Talental. Os honráveis "Vocalizadores", aqueles que possuem habilidades inteiramente ligadas à voz e íris roxas.

Livros e mais livros, pois bem, é muito raro ter um livro referente à Escola Talental aqui no vilarejo. Os zero-classes normalmente não se interessam por informações relacionadas aos que possuem Classe de Talento. Só se animam com os famosos que aparecem por aqui e pelos belos eventos que a Viagem de Busca proporciona quando desembarca nas ilhas, fazendo sorteios e dando brindes supérfluos que, no fundo, enjoam-me. Ao folhear as páginas desgastadas, vejo informações contidas no guia de Classes de Talentos e subdivisões. É meio complicado de entender no início, mas estou acostumada a ler.

Pesquisei muito sobre os Glorificadores e, como sempre, em nenhuma das duas únicas subdivisões denominadas primeiramente "Clérigos", que prezam a religião acima de tudo, ou "Assistentes", que utilizam a medicina e a cura, eu me encaixo. Somente as cores dos meus olhos. Como visto, uma subdivisão é a consequência da Classe de Talento, e é como se descobre em qual grupo você se encaixa, com base em seu gene. Uma triste ilusão para quem mora no oposto do norte de Stravânsia.

Moramos em uma ilha localizada no sul, uma ilha menosprezada, que, pelo que percebo, deve conter mais pessoas zero-classes do que qual- quer outra ilha neste país. Tudo ocorre na Escola Talental, a qual fica na Ilha Central, que visa impor uma monarquia nada justa. Certamente, eu não sei como deve ser aquele lugar. Só tenho certeza de que essa escola é enorme, pois, além de ensinamentos, nela se localiza o reino onde a rainha Scherzer Straferry toma decisões, impõe leis e "organiza" o país, ou seja, governa Stravânsia.

Viro meu rosto. Quatro toques irritantes e repentinos surgem: alguém bate na porta.

– Olá, há alguém aí? – Mais três toques.
 Mas que raios essas pessoas estão batendo tanto em minha porta!
– Alguém aí? – Mais quatro toques. – Há alguém aí? – Mais três toques. Sou pega pela insistência. Eu finalmente abro a porta. – Olá, sou Mary Roseanne Vásper e... – O olhar dela pasma na mesma hora. – O que... o que é que você está fazendo aqui?!

Eu engulo seco.
 – Eu... eu moro aqui.
 Ela escancara a porta e entra sem eu nem mesmo convidá-la.

Um garoto musculoso de íris amareladas entra atrás dela.


– Ué, vocês já se conhecem? – Ele me olha gentilmente. – Prazer, sou Rurick Buckerman – cumprimenta o Guerreador, esticando a mão direita em direção à minha.

Eu não compreendo. Permaneço muda por um tempo. 
– Mas...
– Mas que casinha, hein?! – murmura Mary Roseanne, olhando tudo com exclusividade, invadindo totalmente a minha privacidade. – Não é à toa que você não tem dinheiro para pagar a Escola.

– M. Rose, não fale assim – diz o garoto.


– Oras, Rurick! Não estou mentindo!


– O que fazem aqui? – Eu perco a paciência, cortando-os. – Eu vou chamar os Guardiões para expulsar vocês de casa! Que invasão é essa?!

O Guerreador fica constrangido.


– Desculpe-me, senhorita, é que pensei que vocês fossem... amigas. Nós apenas estamos passando de casa em casa para inscrever futuros alunos da Escola Talental. – Ele arranca chocolates de suas vestes. – Tome, brindes da Viagem de Busca! Com toda a gentiliza, são Chocolates Solares. A senhorita aceita?

– Eu...

O Guerreador. Eu não havia notado. Finalmente encaro seus olhos. Amarelos. Seus olhos são pequenos e amarelados, seu nariz, levemente empinado, e seus lábios carnudos deixam seu rosto mais impactante. Mas, oras, de onde surgiu um garoto de beleza tão rara?!

– Quem é este velho? – pergunta Mary Roseanne, xeretando o criado-mudo perto da mesa. – É o seu avô?

– É o meu pai. E se eu fosse você pararia de xeretar, antes que eu perca a minha paciência.

Ela dá de ombros.


– E como é que um velho zero-classe, acromático, pode sustentar você? Eu arranco o porta-retratos das mãos dela.


– Isso não lhe interessa! – digo com raiva.


– É claro que me interessa. Como um velho pode sustentar uma classe-furada como você?!


Meu coração acelera. "Classe-furada". É a pior ofensa que alguém pode receber. Ter uma Classe e não ter poderes por motivos físicos é humilhante. Meu primo Zachary Allins, por exemplo, é considerado um classe-furada.

O Guerreador fica incomodado.

– Deixe a garota em paz, Mary Roseanne. Não é legal falar... "Classe-furada", olhe só para a cor dos olhos dela! É verde!

– Falso verde. Ela nunca será alguém. De que adianta ter a cor se ela nunca poderá desfrutar de suas habilidades? Você sabia que ela não tem a Classe, Rurick? É o que estão falando por aí: "Evangellyne Allins, a impostora dos olhos".

Rurick, ao ouvir, franze levemente o seu olhar.


– Isso é sério? Eu nunca vi alguém assim... – Eu o encaro seriamente.

Coloco os chocolates na mesa.


– Eu não preciso provar a ninguém que eu não tenho habilidades – digo olhando para Mary Roseanne. – Do que adianta? Ninguém acre- ditaria, não é mesmo?

– Espere... Eu não compreendo... – diz Rurick, que parece estar inconformado. – Se seus olhos são verdes, você devia ter a Classe. – Em seguida, ele me surpreende, elevando suas mãos com veias saltadas até mim, começando a examinar os meus olhos, tocando em meu queixo com firmeza, de forma que eu começo a sentir um leve arrepio em minha nuca. Tento desviar o meu olhar. – Mas, se diz não ser, quem sou eu para duvidar de sua palavra, jovem? – Ele sorri confortavelmente, demonstrando simpatia. – Como ousaram duvidar de olhos sinceros tão nítidos como esses?

Por um segundo, o meu mundo muda. Meu coração bate mais for- te. Pois uma pessoa que acredita nas minhas palavras sem nem mesmo me conhecer... Isso pode ser considerado um verdadeiro milagre. Posso contar nos dedos as pessoas que já acreditaram realmente em mim.

– Desprezível – diz Mary Roseanne com a voz enjoada, surgindo de maneira repentina, cortando todo o êxtase especial e ainda bisbilhotando a minha casa. – Você sabe que isso não existe, garota. Não queira inventar suas próprias regras para se safar.

– Eu não estou criando regras! – Coloco as mãos na mesa, tentando deixar os chocolates intactos. – Agora vocês podem ir embora? – Pimp começa a latir.

– Isso é tão velho. Um cachorro em Stravânsia! Quem diria?


E, repentinamente, o meu sangue ferve. Sinto uma raiva descomunal.

– Quer saber?! – digo em um tom firme. – Você é uma mal-educada! Prefiro não ter a Classe do que nascer uma mimada como você. Como consegue invadir a casa de alguém sem uma permissão sequer?

– O que foi que você disse? – Os olhos dela fulminam ira. "O verde do gramado noturno", como esquecer? – Ela se aproxima de mim.

– Que você é uma pessoa desagradável, sem um mínimo de senso! Vá aprender a ter educação antes de entrar na casa dos outros.

– Ei, parem com essa discussão; vamos, Mary Roseanne. Temos muito para...

Mas Mary Roseanne fica vermelha como um pimentão. Os buracos do nariz dela se abrem mais ainda, o que lembra uma "leitoa humana".

Ela fecha as mãos com força.

– Eu irei ensiná-la a nunca mais se meter comigo, sua pirralha! – E, repentinamente, a Glorificadora abre suas mãos, e agora brilham luzes celestiais: – 12 Luzium, 13 Neun: 25 Luzium Neun! – E luzes voam, explodem em minha direção. ZIUM!

Sou jogada. Sinto uma queimação imediata por todo o corpo. Eu caio para trás, bato as costas na pia, sinto uma tremenda dor. Engulo seco sem ação.

– Chega, Mary Roseanne! – grita o Guerreador com desespero, quase retirando a espada transparente azul-celeste de sua cintura. – Você passou dos limites! O que pensa que estava fazendo? Você a machucou!

– Eu a ensinei a nunca mais se meter comigo. – Seu olhar está fulminante. – Ela me tirou do sério! Cretina! – Em seguida, aproxima-se de mim, ainda com mais raiva, cometendo algo que jamais pensei que pudesse acontecer, um ato extremamente humilhante: ela cospe na minha cara. Sinto ânsia.

– Eu odeio pessoas que querem ser diferentes das outras! Odeio! Pobres! – Seus olhos ridicularizam-se.

Pimp vem ao meu lado, encruado. Um choro interno surge dentro do meu peito imediatamente. Mas eu não posso chorar, eu não posso combatê-la. Eu... eu não tenho habilidades. Tudo parece flutuar sob sentimentos obscuros. Estou aqui. Ainda caída no chão, observando-os sem saber o que fazer. É um verdadeiro desprezo. Tudo parece embaçar devido à adrenalina causada pela raiva. Inspiro angustiada: penso em como sinto nojo de Mary Roseanne. Sua feminilidade não é leal. Porca! Entretanto, ao olhar ao redor de casa, com algumas cadeiras quebradas devido a um de seus desprezíveis atos, tento ignorar o fato de que recebi um cuspe em meu rosto sem motivos. Minhas costas ardem. Porém, o mais difícil não foi aguentar tamanha asquerosidade, e sim ser humilhada e não ser capaz de fazer nada. Na-da.

Rurick, que apenas me olha com pena, retira a Glorificadora de minha casa à força, calado. Assim que a porta se fecha, lágrimas sofridas escorrem dos meus olhos.

Eu me sinto um nada

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