Viola e Rigel - Opostos 1

By NKFloro

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Se Viola Beene fosse um cheiro, Rigel Stantford taparia o nariz. Se ela fosse uma cor, ele com certeza não a... More

O Sr. Olhos Incríveis
A Cara de Coruja *
A segunda impressão
O pesadelo *
O Pedido
O Presente
O Plano
O Livro
A Carta
O Beijo
A Drums
A Raquetada*
O Queixo Tremulante
Cheiros
Os Pássaros *
O Pequeno Da Vinci
O Mundo era feito de Balas de Cereja
O Dia do Fundador
BOOM! BOOM! BOOM!
A Catedral de Saint Vincent
Ela caminha em beleza
Anne de Green Gables
O Poema
Meu nome é Viola
Cadente
Noite de Reis
Depósitos de Estrelas
70x7
A loucura é relativa
Ó Capitão! Meu capitão!
E se não puder voar, corra.
Darcy
Cupcakes
Capelletti e Montecchi
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Metamorfose
Perdoar
Natal, sorvete e música
Anabelle
Clair de Lune
Eu prometo acordar os anjos
Red Storm
Purpurina da autora: O que eu te fiz Wattpad?
Palavras
Como dizer adeus
Macaco & Banana
Impulsiva e faladeira
Sobre surpresas e ameixas
Infinito
Como uma nuvem
Sobre Rigel Stantford (Mad Marshall Entrevista)
Sobre Viola Beene (Mad Marshall Entrevista)
Verdades
Rastejar
O Perturbador da Paz
Buraco Negro
O tempo
Show do Prescott
A Promessa
O tempo é relativo
Olá, gafanhoto
Olhos de Safira
O caderno
De volta ao lar
A Missão
A pior noite de todas
Grandes expectativas e frustrações maiores ainda
Histórias de amor e outros desastres
Sobre escuridão e luz
Iguais
Sobre CC e RR
Salvando maçãs e rolando na lama
O infame
PRECISAMOS FALAR SOBRE PLÁGIO
Promessas

Ensaio sobre o beijo

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By NKFloro


− Ela está esperando.

E quem perguntou?

Olhei para o rosto sorridente da sra. Dollitle, mas não me dei ao trabalho de parar para falar com ela, estava cansado da sua ladainha costumeira e nem um pouco disposto a ouvir mais daquilo.

Segui para o segundo corredor a passos apressados, e se a Cara de Coruja estava me esperando eu não a vi, não ali pelo menos.

Havia alguns livros sobre a nossa mesa e uma montanha de cadernos, me aproximei mais um pouco e conclui que o notebook sobre a mesa era mesmo o trambolho - trambolho é o nome que eu dei ao notebook da Beene, porque é exatamente isso que aquela coisa é, passa uma vida para ligar e outra para abrir qualquer programa.

− Beene. − chamei, correndo os olhos pelo lugar.

Nada dela. Deixei a bolsa sobre a mesa e aproveitei para tentar tirar um cochilo, não tinha conseguido dormir bem à noite porque desde que as visualizações do "A axila que solta puns" alcançara a assombrosa marca de um milhão de visualizações Arran passara a investir pesado na produção - de vídeos, não de puns, que fique claro.

Mas, para meu azar, a sra. Dolittle resolveu perturbar o que poderia ter sido uma excelente soneca. Eu até tentei fingir que estava dormindo pesado, acontece que depois de alguns cutucões na cabeça fui forçado a abrir os olhos e desistir do que pensava ser um plano perfeito.

─ Não estava dormindo, não é?

─ Não, apenas ensaiando para o dia da minha morte.

─ É jovem demais para desperdiçar tempo pensando nesse tipo de coisa. ─ disse ao sentar-se. ─ Quando tiver a minha idade...

─ Quando eu tiver a sua idade serei velho demais para pensar em qualquer coisa além de fraldas geriátricas, dentaduras e prisão de ventre.

Ela me encarou como a boca entreaberta, e eu me afastei um pouco, vai que a dentadura salta em cima de mim. Eu não era nada afeito a falar com idosos, a impressão que eu tinha era que em algum momento durante a conversa acabaria envolto em uma nuvem de gases ou coberto de saliva, por essa razão me mantinha distante, menos dos meus avós porque eles não usam dentadura, produzem nuvens de gazes ou fedem a naftalina.

─ Deus do Céu, você é uma cópia do seu avô.

─ Obrigado. ─ disse com uma discreta esticada de lábios. Não ia ficar rindo para a sra. Dolittle.

─ Não foi um elogio. ─ devolveu, juntando as patas de aranha que ocupavam o espaço das sobrancelhas. ─ Adolf Stantford é a criatura mais intragável que já tive o desprazer de conhecer, e olha que eu conheci muitas.

Eu cogitei mandar a sra. Dolittle descascar batatas, mas ela devia saber onde a droga da Cara de Coruja se enfiara, então apenas me arrumei na cadeira e banquei o surdo.

─ A senhora disse que a Beene estava me esperando, mas desde que cheguei não a vi em parte alguma.

─ Você a procurou?

─ Não, mas ela deveria estar aqui.

─ Eu vou lhe dar um conselho. Vomite esse rei que tem na barriga, ou acabará tão miserável quanto aquele velhote. ─ disse num tom assustadoramente sério.

─ Meu avô não é miserável, ele ganha em um único dia mais do que a senhora já ganhou na vida. As pessoas o respeitam e...

─ Nunca confunda medo com respeito. As pessoas não o respeitam, elas o temem. ─ interrompeu, pousando a mão rechonchuda na mesa. ─ Quanto ao dinheiro, me permita dizer que um homem pode ter todo o dinheiro do mundo e ainda assim ser a mais pobre de todas as criaturas.

Eu fiquei olhando para a sra. Dolittle, pensando em uma resposta à altura, mas antes que pudesse formulá-la ela ficou de pé e saiu andando.

Pois bem, meu pai ficaria sabendo disso.

Dez minutos depois, a Cara de Coruja ainda não tinha aparecido, então eu decidi procurá-la, só porque aquilo estava estranho para porra.

− Beene. - voltei a chamar, os olhos vagueando por entre as estantes ao passar por elas. - Beene.

− Aqui. - ela chiou do final de um dos corredores.

− O que está fazendo ai?

− Shiii. - pediu eufórica, o indicador sobre o lábio.

Me aproximei, ignorando seu alvoroço, atento ao caderno em sua mão.

− O que está fazendo?

− Observando. - disse num murmúrio. - Fala baixo.

Seus olhos se estreitaram ao passo que a boca se curvava num sorriso. Esperei que ela explicasse, mas ela não o fez, em vez disso, ficou na ponta dos pés, olhando por entre os livros e fazendo anotações.

Que merda estava acontecendo?

Resolvi me aproximar mais um pouco, e quase engasguei ao me deparar com a cena que capturara sua atenção.

Meus olhos viajaram do casal que se agarrava à nossa frente para o perfil risonho da Beene, desceram até seu caderno, e quase parei de respirar ao ver as letras grafadas no topo da página: Ensaio sobre o beijo - Parte V.

− Que porra é essa? − minha voz saiu mais alta e chocada do que eu pretendia. O que fez o casal desistir de trocar saliva e olhar para os lados em busca da origem do barulho.

− Calado. - a Cara de Coruja pediu, arrastando-me pelo corredor.

Ela ostentava um sorriso divertido quando parou na nossa mesa e desabou na cadeira.

− Por que estava... - Honestamente, não fazia ideia de como continuar a pergunta, aquilo era um bocado constrangedor, senti as bochechas queimarem.

− Observando?

− Eu ia dizer espionando. E qual é a desse caderno?

− Ah, eu estou fazendo algumas anotações importantes sobre como beijar da forma correta, é o que eu chamo de Ensaio sobre o beijo. Não se trata de um ensaio realmente, mas de observar o que deve ou não ser feito e passar para o papel.

− E por que está fazendo algo assim? Quero dizer, qual a finalidade disso?

− Estou me preparado para quando o meu momento chegar. A última coisa que quero é que algo saia errado.

A China atravessou a minha garganta impedindo que as palavras saíssem. Deixei meu corpo cair na cadeira e balancei a cabeça, atordoado. A imagem de Viola Beene beijando um cara qualquer arrancou o ar dos meus pulmões, e por um breve momento tive a impressão de que começaria a hiperventilar.

− Você está bem? - perguntou, esticando a mão sobre a mesa para tocar a minha.

− Estou, é só que... Está pensando em beijar alguém? − O que eu queria dizer era: "Está pensando em beijar alguém que não seja eu?"

Não que eu me importasse, é só que... Ok, eu me importava muito mais do que deveria, só não tinha ideia do porquê. Eu não gostava de Viola Beene, sabia disso. Ela era esquisita, falastrona, desleixada, tinha cara de coruja e ainda por cima era filha do sr. Bosta de Cabrito.

− O que você acha? Eu tenho quase quinze anos, e todo mundo que eu conheço já beijou pelo menos uma vez, não que eu me importe com isso, mas vai acabar acontecendo para mim também, preciso estar preparada.

Eu nunca tinha parado para pensar nisso, que mais cedo ou mais tarde ela acabaria mesmo trocando saliva com algum filho da mãe. Normalmente, eu pensava nela como alguém não beijável, tolice. Mas é que a Beene sempre foi a coisa mais esquisita que já pisou este planeta, e quem em sã consciência iria querer beijar uma garota com boca de latão e olhos de coruja? Acontece que as coisas estavam mudando rápido demais, ela estava mudando rápido demais, e embora não fosse uma beldade, também já não era mais a coisinha monstruosa que eu conheci no auditório do Madison.

─ Por que está me olhando com essa cara?

Balancei a cabeça, piscando infinitas vezes ao desviar o olhar.

Pelo amor de Deus, eu estava mesmo encarando a Beene?

─ Não é nada. ─ disse. ─ Quero dizer, é sim, você devia estar preocupada com a AULRP e a escola, em vez de ficar desperdiçando tempo com tolices. Você não aprende a beijar escrevendo sobre beijos, esse é o tipo de coisa que só se aprende na pratica.

─ Então eu devo praticar? ─ ela arregalou aqueles olhos numa expressão confusa e em seguida abriu um sorriso.

─ NÃO! ─ disse de supetão, o sangue congelando nas veias. ─ Melhor não.

─ Mas você disse que esse é o tipo de coisa...

─ Eu sei o que eu disse, mas pensando bem, pode ser interessante reunir um pouco de informação antes.

─ Eu já tenho bastante informação. ─ garantiu, passando apressadamente as folhas do caderno. ─ Assisti a um monte de filmes românticos e observei uma infinidade de casais, acho que tenho toda a informação de que preciso.

─ Que seja, mas ainda precisa encontrar o cara certo, não pode beijar qualquer um.

─ Eu não vou beijar qualquer um. ─ retrucou com uma careta. ─ Não posso beijar um cara por quem não esteja apaixonada, posso?

Não vou negar que ouvir aquilo foi como ouvir Fleetwood Mac.

─ É claro que não. Vou ter dar um conselho: Nunca beije alguém por quem não esteja completamente apaixonada, paixão faz toda a diferença.

─ Espera. ─ pediu, rabiscando no caderno. ─ Paixão faz toda a diferença.

─ O que você está fazendo?

─ Anotando o seu conselho. Eu reservei algumas páginas para anotar conselhos e dicas dos meus amigos.

─ Posso ver? ─ Puxei o caderno das suas mãos e enquanto meus olhos corriam a página escrita ela contornou a mesa, deixando o corpo de agulha cair ao meu lado.

Mamãe: Você precisa encontrar a pessoa certa.

Lilian: Mão na nuca sempre ajuda.

Papai: Não beije ninguém até que tenha terminado a Faculdade.

Arnie: Abra a boca e deixe a língua entrar.

Missie: Deixe-se levar.

Dean: Prefiro não falar sobre isso.

Donald: Use enxaguante depois. Bactérias são um problema.

Liam: Vai catar coquinho.

Jason: Quer que eu te mostre?

Panaca.

Adie Dolittle: Você vai saber o que fazer quando o momento chegar.

Zelador Johnson: Beijar é bom.

Prof. Krasinski: Desculpe, Viola, mas não seria apropriado falar sobre isso com uma aluna.

Padre Cadence: (ainda não perguntado).

* Oli: Nunca beije alguém por quem não esteja completamente apaixonada, paixão faz toda a diferença.

Respirei fundo antes de olhar para ela novamente, aquilo era pura doideira.

─ Por que o asterisco no meu nome? ─ perguntei, embora já desconfiasse do motivo.

─ Por-porque... Não é um asterisco, é uma estrela. Rigel.

─ Aham.

Estava na cara que era mentira, mas eu preferi deixar para lá, não ia ficar dando corda para a Cara de Coruja, ou acabaria enforcado.

Ela arrancou o caderno das minhas mãos e riu.

─ Obrigada pelo conselho. Mas o restante do dossiê é confidencial.

Dossiê? Fala sério!

Aquele não era um bom dia, para começar minha mãe adiara pela milésima vez a visita que vinha prometendo me fazer. Meu pai não dera a minima para o meu relato, e ainda por cima me dissera para não aborrecer a sra. Dolittle, Arran cismara de passar a madrugada inteira gravando vídeos, motivo pelo qual eu mais parecia um zumbi transitando pelos corredores e me arrastando de aula em aula, e para acabar de danar a minha existência, Emily Dawson estava novamente na minha cola.

Mal pude acreditar quando uma de suas mensagens pipocou na tela do meu celular. Eu havia deixado claro que não estava a fim, que não ia rolar, mas acho que a Emily não é daquelas que desiste facilmente.

Você não é o Caribe, mas me faz querer tirar a roupa.

Enfiando o celular no bolso, pedi aos Céus que ela entendesse o meu silêncio e me deixasse em paz. Mesmo assim, não pude evitar pensar em como seria vê-la totalmente nua. Acho que estava passando da hora de eu começar a ver garotas nuas, só não queria começar pela Emily porque, honestamente, ela era um pé no saco.

Passava das dez da manhã, e eu dobrava o corredor a caminho da aula de Química quando uma mão grudou no meu braço e me arrastou para uma sala vazia.

─ Preciso da sua ajuda. ─ a Cara de Coruja disse com um sorriso enorme.

Olhei para os lados, para me certificar de que não havia ninguém por perto, enquanto ela ria e oscilava na ponta dos pés.

Açúcar em excesso induz à hiperatividade.

─ Não me diga que decidiu conquistar Romeu e quer que eu faça as vezes de ama.

Havia passado o último mês ouvindo-a suspirar por um personagem fictício e enaltecer as qualidades do mesmo. Para ela, ele era um herói romântico, para mim, um imbecil.

Eu me perguntava como raio a Cara de Coruja podia chamar aquilo de história de amor, quando estava bem claro que a porcaria não passava de uma hecatombe protagonizada por uma menina extremamente ingênua e um cara completamente volúvel.

─ Não seja bobo. ─ retrucou após entornar um saquinho de confetes na boca. Cruzei os braços e me recostei na mesa, esperando que ela terminasse de engolir. ─ Quero que se junte à AULRP. ─ Tentei conter o riso, mas não adiantou. ─ Não é uma piada, Oli.

─AULRP? ─ minha sobrancelha se ergueu ao ver seu rosto circunspecto. ─ É sério?

─ O que você acha?

Que você está pirando.

Parei de rir e me sentei na beirada da mesa, pensando em algo a dizer, elaborando uma rota de fuga. Pensei em alegar que a minha religião não permitia, mas acho que ela sabia que eu não tinha uma.

Não demorou até que a Cara de Coruja deslizasse ao meu lado com aqueles olhos de coruja arregalados e os braços cruzados frente o lugar onde as outras garotas tinham peitos.

─ Quer? ─ ofereceu, abrindo outro saquinho de confetes.

─ É muito cedo para doces. ─ Ela pôs metade da língua para fora e levou a uma das mãos ao pescoço, como se estivesse se enforcando. ─ Por que você faz isso?

─ Eu enforco a mim mesma para evitar enforcar você. ─ disse com uma risadinha. ─ Então, topa me ajudar?

─ Sinto muito, mas não vai dá. Quem sabe da próxima.

Com um movimento rápido ela saltou da mesa e arrumou as alças da mochila, parecia decepcionada.

─ É, quem sabe.

─ Eu queria, queria muito, mas...

─ Não queria não. Quem quer faz, não fica arrumando desculpas. ─ foi tudo que ela disse antes de arrancar porta afora.

Que se dane. Eu tinha criado a minha própria campanha, a FDCC - Fuja da Cara de Coruja.

Depois disso a doida resolveu bancar a difícil e me evitar, como se eu me importasse com o fato dela está brava e fosse de repente aceitar participar da palhaçada. Sem chance.

Eu deixei rolar, só para ver até onde ela iria com aquilo, até que na Quinta-Feira, apenas um dia e meio depois da negativa, ela me procurou para dizer que, apesar de eu não ajuda-la, as aulas continuavam de pé. Assenti com um sorriso enviesado e, ao invés de sorrir de volta, a Cara de Coruja fechou a cara e saiu andando.

Pensei em não aparecer, em pôr um ponto final nessa coisa de aulas particulares, mas acabei cedendo. Minha fraqueza era irritante.

─ Bom dia, Beene. ─ disse, despencando na cadeira à sua frente.

─ Eu estou sonhando? ─ rebateu com os olhos colados em um caderno. Os óculos pendendo para o lado.

─ Como assim sonhando?

─ É que pela primeiríssima vez não está atrasado.

Joguei os livros sobre a mesa e cruzei os braços atrás da cabeça, me equilibrando nos pés traseiros da cadeira. Ela não olhou para mim, nem mesmo quando me inclinei um pouquinho em sua direção. Aquele seria o momento perfeito para me desculpar, mas antes precisava saber se ela ainda estava brava comigo, afinal ficar cuspindo desculpas sem necessidade é coisa de gente fraca.

─ Ainda está brava?

─ Não.

─ Olha só, eu sei que essa coisa é importante para você, mas aderir a campanhas ou movimentos não é a minha.

Ela me observou por um tempo, em silêncio, até que seus lábios finalmente desenharam um discreto e compreensivo sorriso.

─ Eu entendo, nem devia ter te pedido aquilo.

─ Então está tudo bem?

─ Aham. ─ garantiu, deslizando a caneta pelo papel.

Colei as costas na cadeira e respirei aliviado.

─ E como a campanha está indo?

─ Bem. Tivemos algumas dificuldades no início, mas tudo se resolveu quando Jay decidiu aderir à causa. Uma boa parte do time acedeu e foi demais, você não faz ideia. Foi tão divertido.

Uma fagulha de raiva percorreu todo o meu corpo e tive que fazer um enorme esforço para manter a voz estável.

─ Jay?

─ É. Jason Porter, o irmão da Lilian.

Larguei o laptop sobre a mesa, mal podendo acreditar nos meus ouvidos.

─ Desde quando o chama de Jay?

Ela fez uma pausa e olhou para o nada, pensativa, enquanto batia a caneta no queixo.

─ Uhmm... Eu não lembro muito bem, desde ontem, eu acho. Por quê?

Eu queria dizer um monte de coisas e no fim pedir a ela que se afastasse daquele filhote de cruz-credo, mas depois de hesitar por um momento o que saiu foi:

─ Por nada. Podemos começar agora?

─ É para isso que estamos aqui, não é? ─ disse, empurrando-me um calhamaço. Não demorei mais que dois segundos para reconhecer sua caligrafia folheada.

─ Que droga é esta?

─ Não é uma droga, é um resumo dos assuntos abordados em Literatura Inglesa. Eu fiz para você.

─ Você resumiu a matéria para mim? ─ Passei as páginas, cerca de duzentas. Não sabia o que dizer, não fazia qualquer ideia do que responder. ─ Por quê?

─ Eu notei que está tendo dificuldade com a matéria, que o excesso de palavras e explicações te deixam confuso. Ai pensei, por que não resumir e deixar apenas o que é importante?

Deixei o calhamaço sobre a mesa e me obriguei a olhar para ela. Queria dizer alguma coisa, mas o quê? Ninguém nunca fazia nada por mim, a menos que o meu pai pagasse, mas ali estava a Cara de Coruja me oferecendo algo, fazendo por mim o que ninguém nunca fizera, sem pedir nada em troca. E o pior é que eu sabia que não merecia nada daquilo.

─ Oli. ─ chamou, balançando a mão na frente do meu rosto, os olhos azuis cheios de preocupação. ─ Você está bem?

Com um suspiro, fiz que sim.

A verdade é que eu me sentia péssimo, péssimo por ter lhe negado ajuda com a AULRP, por agir como um babaca.

─ Obrigado de coração. ─ foi tudo o que consegui falar.

─ De coração?

Assenti com um sorriso enviesado, ansioso pra desviar sua atenção do assunto.

─ Quanto à c-campanha... Q-quando é a próxima reunião? ─ Por que raio eu e-estava g-gaguejando? Excelente, ao que parece até o meu pensamento era gago.

─ No Sábado, por quê?

─ E-eu estou dentro.

Seus olhos esbugalharam e ela ria tanto que cheguei a pensar que seu rosto racharia. Foi necessário bastante autocontrole da minha parte para não rir de sua expressão.

─ Verdade? ─ perguntou com o mindinho em riste. ─ Jura juradinho?

Aquilo era ridículo, mesmo assim enlacei meu dedo ao seu.

─ Juradinho.

Sem aviso, ela deixou meu dedo no ar e contornou a mesa. O sol brilhava em seu rosto, pintando-o com a luz dourada da manhã.

─ Levanta. ─ pediu, quase arrancando meu braço ao perceber que não me moveria. Os braços magricelas enlaçaram meu pescoço e me vi envolto numa nuvem de balas de cereja. ─ Os lêmures agradecem. ─ sussurrou ao pé do meu ouvido, desencadeando uma onda de arrepios que me fez gelar.

De repente, ela encostou o rosto no meu ombro, as mãos alisando meus cabelos úmidos de suor.

Minha mão deslizou por sua costa, o coração arremetendo contra o peito, ameaçando estilhaçar a caixa torácica enquanto me concentrava em continuar respirando, enchendo e esvaziando os pulmões, seu hálito de cereja fazendo cócegas no meu pescoço.

Não entendia o que estava acontecendo comigo, nem queria entender. Sentia como se andasse na beira de um abismo. Eu tentei resistir, mas não me restava mais força, a consciência do seu corpo contra o meu, das minhas mãos apertando as costas do vestido de coelhinhos era como a morte.

Afagando sua cintura a puxei ainda mais para perto, os lábios roçando sua bochecha quente, parando quase no canto da boca.

Eu estava perdido, sabia disso.

─ Viola. ─ a voz explodiu como um trovão pelo interior da biblioteca, fazendo com que nos afastássemos rapidamente.

Que merda eu estava fazendo?

Ainda um pouco zonzo, ergui a cabeça e acabei me deparando com a cara amarrada do filhote de cruz-credo.

A promessa

Olho para o céu cinza, todos os dias parecem iguais, escuros e sem vida. Ela sorri para mim, acenando enquanto espera meu sorvete de pistache, os óculos escuros encobrindo as marcas e as feições outrora perfeitas.

Arrumo-me no banco de madeira e continuo a esfregar as unhas na crosta descascada com cuidado para não manchar a roupa. Ele odeia quando me sujo, diz que fico parecendo um porco. Não quero parecer um porco, tampouco quero me parecer com ele.

Um miado macilento penetra meus ouvidos e ao correr os olhos pelo parque avisto a pequena caixa esquecida ao pé de um flamboyant arroxeado.

Antes de ir até o local, dou uma olhadela para o carrinho de sorvete, ela continua parada, pacientemente esperando pelo sorvete que pediu há quase cinco minutos.

Aproximo-me da caixa, e depois de pensar um pouco, me agacho e afasto a tampa esburacada.

O filhote amarelo está atarantado, louco para abandonar sua prisão. Eu o entendo, sei bem como é viver preso.

─ Está com medo, não é? ─ chio ao tirá-lo da caixa.

Seu pelo amarelo, encharcado, tem um cheiro esquesito. Retiro meu casaco e o enrolo em volta do seu corpo pequeno, apertando-o contra o peito. Mas quando ele mia incomodado, afrouxo o aperto.

─ Desculpe, gato. ─ peço ao cogitar a possibilidade de tê-lo machucado. Observo suas pupilas dilatadas e me dou conta de que é um filhote muito magro, quase desnutrido. ─ Você está com fome? Pedirei à minha mãe que te compre um cachorro-quente. Você gosta de cachorro quente, não é? Eu gosto, mas meu pai diz que é comida lixo.

─ Ah, meu Deus, isso é um gato? ─ a mamãe pergunta quando paramos diante dela, atônita ao se deparar com o pequeno embrulho que trago em meus braços.

Assinto e arrisco um sorriso. Ela faz um esforço para sorrir de volta, mas percebo que não está nada confortável com aquilo. O sorvete está começando a derreter, a calda dourada e fina conspurcando seus dedos.

─ Onde o encontrou?

─ Dentro de uma caixa, embaixo daquela árvore ali ─ Esticando o pescoço, ela arrisca uma olhadela para a árvore. ─... Acho que ele foi abandonado. Pode comprar um cachorro-quente?

─ Mas e o sorvete que você pediu?

─ É que o gato prefere cachorro-quente.

Ela assente.

─ Entendo.

Em silêncio caminhamos até o carrinho de cachorro-quente, ela está dando lambidas no sorvete, mas quase posso ouvir as engrenagens de seu cérebro trabalhando.

Cinco minutos depois nos encontramos sentados de volta no banco, e enquanto observo o ritual de alimentação do gato, ela brinca com o botão do seu casaco de cachemere.

─ Acho que ele estava faminto. ─ comenta.

─ É, mas a partir de agora, ele terá quanta comida quiser. ─ digo, e o sorriso em seu rosto se desfaz. ─ Algum problema?

─ Querido, você sabe que não pode ficar com o ele, não é?

Paro de acariciar o pelo macio.

─ Por que não?

─ Seu pai... ─ ela suspira. ─ Seu pai odeia gatos.

─ Mas eu posso escondê-lo no meu quarto, o papai nem precisa saber. Ele nunca descobrirá a menos que você conte, e você não contaria, não é?

Sua mão alcanca minha cabeça ao passo que uma rajada de vento sopra seus cabelos sobre o rosto.

─ Podemos deixá-lo em um abrigo, o que me diz disso?

─ Abrigo? Eu não vou abandoná-lo, ele é pequeno e precisa de mim. Não é certo abandonar um amigo justo quando ele mais precisa de você. ─ soluço sentindo uma crescente dor na garganta.

─ Ah, meu querido, não chore. ─ ela fez um carinho na minha bochecha, parecia arrasada. ─ Eu prometo arranjar alguém para cuidar dele.

─ Mas eu posso fazer isso, posso cuidar dele.

─ Por favor, não piore ainda mais as coisas. Você é suficientemente esperto para saber que não podemos levá-lo para casa.

Abaixo a cabeça, as lágrimas pingam no banco.

─ Eu vou arranjar alguém que cuide dele para você até que possamos pôr o plano em prática. Ai, o pegaremos de volta e fugiremos com ele para bem longe deste lugar, por favor.

Não acredito mais que algum dia conseguiremos de fato escapar, "O Plano" nunca atravessará a barreira da imaginação, mas concordo mesmo assim. É importante para ela acreditar, manter viva a esperança, e é importante para mim que ela continue acreditando em algo.

Passo o dorso da mão pelos olhos molhados e em seguida acarcio o pelo macio do gato, a manchinha branca em forma de bota no topo da sua cabeça peluda.

─ Eu volto para buscar você, gato, é uma promessa.

Olá, gafanhotas

Pois é, demorei um bocado dessa vez, me desculpem por isso, ok. Acreditam que o capítulo tem perto de cinco mil palavras?

Quero agradecer a cada uma pelos comentários deixados, pelos votos e pelas adições às listas, obrigada. Obrigada também às novas leitoras por comentarem e votarem, por aparecerem. Eu estou atrasada com as respostas dos comentários faz um tempo, mas estou respondendo aos poucos. Peço que me desculpem por isso, eu sei que é chato comentar e não ser respondido, mas estou fazendo o possível, preciosas.

Ultimamente eu tenho andado muito doida, mais que o normal, quando isso acontece eu alterno momentos de euforia com momentos de desânimo. Durante os momentos de euforia eu quero fazer mil coisas ao mesmo tempo, e até uma borboleta me faz ficar animadona. Quando o desânimo bate eu fico depressiva e acabo não fazendo nada, é como se o mundo perdesse a cor. Nesses dias nem o Alex Pettyfer poderia me alegrar. Eu sei que isso parece bipolaridade, mas nem tudo é o que parece, amoras. Acredito que muitas de vocês passam pelo mesmo.

A minha mente não para nunca, eu estou sempre pensando em um milhão de coisas, e é exaustivo ter uma mente que não fecha, sem contar os problemas de concentração que isso acarreta.

Mas por que você está dizendo isso, Naah?

Para que vocês saibam que quando eu desapareço não é porque estou fazendo doce, mas porque provavelmente não estou ok.

Agora vamos às perguntas do capitulo:

Aprovaram o capitulo?

Que tal me contarem o que acharam o do quase beijo Vigel, pessoas? Pois é, foi por muito pouco.

O que me dizem do narrador misterioso?

Descobriram que é, ou nem? Algumas descobriram no capitulo anterior. Meus parabéns, acertadoras.

Parece que Oli está amolecendo, perceberam?

Algumas de vocês disseram que a pessoa que as está enganando sou eu. Uma maldade, eu não minto para vocês.

Alguém ai quer matar o Jason? Alguém ai amando ainda mais essa pessoa?

Quero agradecer a @LizzydeSouza por fazer um desenho divo da Vi. Obrigada de coração.

Aprenderam algo coma Emily hoje, pessoas?

Quem deu o melhor conselho a Vi, preciosidades? Querem acrescentar mais algum?

Como acham que a Vi reagirá depois desse quase beijo?

E o Oli, qual será sua reação?

Qual vocês consideram o maior defeito do Oli, pessoas?

E o da Vi, preciosidades?

Complete a frase:

Oli é podre de rico, pena que...

Jason é um bom garoto, pena que...

Viola é uma pessoa de bom coração, pena que...

Emily é rica, popular e gata, pena que...

Arran é muito criativo, pena que...

Max é praticamente dona da cidade, pena que...

Eliza tem uma família linda e um casamento perfeito, pena que...

Escrita criativa:

Agora, forme uma frase com as seguintes palavras: Viola, estrela, pés, puxa, corre, arqueja, toca, sente.

Eu vou escolher a melhor e postar nas notas do próximo capitulo.

Kiss

Quem quiser uma capa no estilo das minhas comenta aqui. A primeira a comentar fatura.

Oli aos quatorze. VIOLA PIRA DEMAIS.

Quem queria conhecer o primo doido do Rigel, Will, eu postei a história dele. Starcrossed é uma adaptação de A Bela e a Fera, então quem quiser passar pra olhar, fique à vontade, eu agradeço.

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