- Mãe, ele morreu na minha frente, e por minha causa, ele me abraçou para me salvar, e antes de morrer ele disse que nos amava...
- Eu não o culpo, eu faria o mesmo por você, ou por um dos seus irmãos, é isso que eles chamam de amor incondicional.
- Você não me culpa?
- De jeito nenhum filha, eu vou sentir a falta do seu para o resto da minha vida, mas isso não é sua culpa, os culpados foram os delinquentes que estavam no outro carro, se não fosse por eles, seu Pai estaria aqui hoje te dando os parabéns...
- Mãe me desculpa por esses anos todos de silêncio.
- Tudo bem filha, eu disse aquele dia no hospital que quando você quisesse falar sobre isso nos falaríamos.
- Te amo tanto Mãe.
- Eu te amo mais!
- Mãe, de quem foi essa ideia de aniversario surpresa?
- Do Miguel, ele já estava combinando isso desde quando estava na Espanha, era por isso que ele ligava, e a ideia de te tratar mau também foi dele, pode brigar com ele depois.
- Eu não gosto de comemorar meu aniversário, mas gostei de comemorar hoje.
- Eu disse a ele que depois que seu Pai morreu você não comemorava mais seu aniversário, sempre que eu oferecia um bolinho para comemorar, você pedia para levar todos para comer fora, e se recusava a ganhar presentes.
- E ele?
- Ele insistiu em fazer a festinha, e disse que você só não aceitava por sentir culpa pelo seu Pai.
- Miguel não existe.
Nos abraçamos mais apertado, e depois de choramos juntas, e conversar um pouco sobre meu Pai e sobre a festa surpresa tramada pelo meu Miguel nós entramos pra casa dele Mamãe foi tirar o bolo que sobrou na mesa.
- Margot, eu não sou enxerido, mas eu vi você e sua Mãe chorando lá fora, o que ouve? Tá tudo bem?
Ele aproveitou que eu estava sozinha na sala para falar comigo.
- Pois é, choramos um pouco, eu estava falando do meu Pai, eu não disse nada que ela já não soubesse, mas foi um alívio botar tudo para fora, e ela esperava por isso a oito anos.
- Que bom.
- E ela também me contou que foi você que arquitetou esse plano de aniversario surpresa.
- É isso que eu sou.
- O que? Um tramador de aniversário surpresa.
- Não, arquiteto, ou quase isso.
Ele disse isso e saiu antes que eu pudesse encher ele de perguntas, então essa é a outra faculdade dele?
Eu nunca vou saber...
Depois de ver se podia ajudar na cozinha e ganhar um "não, porque hoje é seu aniversário" me sentei na mesa e esperei todos para nos juntar na sala, o Natan, Rafa e Karol estavam sentados no chão, minha Mãe e a Nathi estavam no sofá de dois lugares, o Miguel estava sentado sozinho no sofá de três lugares, só tinha duas opções, ou eu me sentava no chão com meus irmãos ou me sentava ao lado do Miguel, com esse vestido não dava pra me sentar no chão, o destino sempre dava um jeito de deixar nós dois juntos...
- Resolveu se sentar para ver as fotos?
- Sim, estava ajudando as meninas na cozinha.
Brinquei...
- Muito obrigado, acho que vou te contratar para ser minha empregada.
Ele deu uma risadinha, o Miguel gostava de tirar um sarrinho de mim...
- Obriga Miguel, você é muito gentil.
- De nada, você já pensou no que vai fazer.
- Como assim?
- Bom, você disse que quando completasse 18 anos iria procurar um emprego.
- Eu acho que a essa hora a banca de jornal está fechada.
- Você quer trabalhar lá?
- Não, mas é lá que vende um jornalzinho amarelo de emprego.
- Eu sabia que você ia dizer isso.
- Então por que perguntou?
- Pra ter certeza.
- Não te entendo.
- E você ainda não viu nada, vou te deixar mais confusa ainda...
Eu me calei depois do que ele disse, tinha um ar de mistério nas suas palavras, Miguel era isso... Misterioso, sedutor e ao mesmo tempo natural, ele também era lindo, tá bom, eu sei que eu estou apaixonada por ele...Depois de ver as fotos saímos da casa dele e fomos dormir, ele ficou nos olhando do portão dele, eu fui a última a entrar, acenei com um tchau e entrei, fechei o portão, e quando eu entrei em casa a campainha tocou, eu fui atender...
- Miguel!
- Margot...
- O que foi? Esquecemos alguma coisa?
- Na verdade eu esqueci.
- O que?
- Na Espanha toda moça que completa 18 anos tem que tirar fotos, é uma tradição nossa.
- Que bom que estamos no Brasil, por que eu odeio fotos.
- E será que as fotos odeia você?
- Como assim?
- Será que você fotografa bem, é fotogênica?
Não pensei nisso, mas agora me dei conta que tirei poucas fotos em toda minha vida, eu particularmente não gostava disso, a Nathi é que gostava, ela vivia na frente do espelho com o celular fazendo caretas, depois de tirar umas duzentas fotos ela escolhia duas ou três para por nas suas redes sociais, e dizia... Essa vai render muitos likes, em fim eu nunca entendi ela...
- Não sei, as últimas fotos que eu tirei eu...
Eu me lembrei qual foram as fotos, foram na formatura e antes disso eu tirei aquelas fotos com a Dra. Alice, essas fotos me marcaram, parei de falar com a lembrança, com certeza eu não fiquei bonita nelas, por que eu estava toda machucada e estava sem roupa, apesar da moça que tirou minhas fotos ser a pessoa mais gentil que eu vi na vida e parece ser boa fotógrafa, eu não tinha como ficar bonita, ele percebeu que eu me calei por ter lembrado de algo ruim...
- Tá bom, se você não quer que eu tire as fotos é só falar...
- Você quer tirar fotos minhas? A troco de quê.
- Nossa, um cara não pode ser gentil e querer seguir suas tradições?
- Tradição?
- Tá bom, não é tradição, é que você está bonita hoje, e a partir de hoje você é uma adulta, e eu queria te dar um CD com fotos suas, para mostrar como você é bonita.
Meu Deus! O mundo tá rodando, me apoiei no portão, e tenho certeza que abri a boca com a surpresa das palavras dele... Vamos recapitular, na formatura ele me elogiou e depois me emprestou o paletó dele com todo romantismo que eu só vi em filmes, e agora ele veio me dizer que eu estou bonita, que sou adulta, meu Deus, agora eu vou acordar, só pode ser um sonho, pisquei os olhos e ele continuava na minha frente, não era sonho...
- Eu vou retocar a maquiagem...
- Tá bom, eu te espero aqui, não demore.
Entrei no meu quarto para ver minha cara, era a mesma de sempre, retoquei o delineador, e passei um batom rosa clarinho, dei beliscões de leve nas bochechas para dar uma cor, chacoalhei os cabelos e joguei ele de lado, fiquei bem bonita, então eu fui até a porta e ele estava lá me esperando...
- Pronto, vamos.
- Tá linda, mas falta alguma coisa.
- O que?
Ele estendeu a mão em punho e abriu os dedos, eu nem acreditei nisso, minha correntinha estava pendurada na mão dele...
- Conhece isso?
- Minha correntinha?
- Isso mesmo.
- Como, o... Bom, ela foi quebrada e caiu no chão, depois que voltamos da delegacia eu procurei por ela e não achei.
- Eu sei, você estava meio desnorteada, ela estava caída no chão da cozinha, levei ela para a Espanha, por que esqueci de te entregar, lá eu conheço um bom lugar que conserta joias, a Mamãe sempre levava as joias dela lá...
Nem acreditei nisso, que fofo, além de tudo o que ele fez por mim naquele dia do ataque, e além de organizar um aniversario surpresa pra mim, ele ainda teve a doçura de arrumar minha correntinha...
- O concerto deu muito trabalho?
- Não, só precisou substituir um pedaço que quebrou.
- Então quer dizer que tem um pedacinho da Espanha aqui?
-Sim - Ele deu um risinho .
- Como eu posso agradecer? Eu estou sem palavras.
- Não precisa agradecer, vem aqui pra eu por pra você.
Ele abriu a correntinha eu andei para perto dele virei de costas e ele passou ela para frente do meu pescoço, depois eu segurei meus cabelos no alto, ele fechou a correntinha sem tocar em mim, mas eu pude sentir a respiração dele perto do meu pescoço, isso me causou arrepios...
- Pronto?
- Pronto, vamos ao meu estúdio.
- Onde é seu estúdio?
- Você está de frente pra ele...
- A pracinha?
- Isso...
Saímos de casa andamos até a pracinha... Ela era tão pequena que nem cabia nós dois juntos na calçada, tinha que ficar um na frente e outro atrás, ele foi na frente e eu o segui...
- Aqui está bom, agora fique do lado dessa árvore, e passe o braço por trás dela, como se estivesse abraçando ela.
Fiz o que ele disse...
- Assim está bom?
- Agora sorria, com vontade... Isso, Agora olhe para um ponto fixo atrás de mim, e faça um sorriso de Mona Lisa... Isso assim, agora olhe para mim séria... Isso...
Eu me senti pouco à vontade por que não gosto de tirar fotos, ele estava com uma câmera grande, devia ser profissional, ele deve ter feito curso de fotografia também, depois ele pediu para eu me sentar no banquinho da praça, e depois pediu para pôr as pernas em cima do banco, fiz todas as poses que ele pedia...
- Agora feche os olhos... Isso... E agora imagine algo que te deixe feliz... Algo que você deseje muito...
Fechei meus olhos, e imaginei um emprego onde eu trabalhe pouco e ganhe muito, e depois que ele disse "Algo que você deseje muito", ai eu imaginei ele sentado nesse banco e eu me curvando para beijar-lo... Nessa hora eu senti minha boca se abrir em um sorriso...
- Nossa Margot, ficou muito bom... Agora pode abrir os olhos...
Depois de mais um monte de fotos...
- Miguel, não fique chateado comigo, mas eu não quero mais tirar fotos. Acho que não nasci pra ser modelo...
- Tudo bem Margot, já chega, eu vou na minha casa passar as fotos para uma mídia, e depois eu te trago.
- Poxa Miguel, você é um cara muito legal...
- Xiii... Vai começar a rasgação de seda.
- É sério, tudo o que você fez por mim, e ainda está fazendo, eu nem sei o que dizer.
- Não precisa dizer nada, faço isso por você e por sua família por que me sinto parte de vocês, e gosto de você.
- Você com certeza é parte da família.
Se casar comigo, aí é que vai ser mesmo.
- Vai pra sua casa, se eu passar as fotos logo vai dar tempo de te levar ainda hoje.
- Tá bom, estou curiosa para ver as fotos.
Entrei sem olhar para trás, quando dei alguns passos eu vi o clarão do flash da câmera, então virei a cabeça pra trás bem rápido, meu cabelo esvoaçou no ar, e nessa hora ele tirou mais uma foto.
- Eu pensei que você ia parar.
Eu disse rindo, e ele tirou mais uma foto, e depois foi embora para a casa dele... E então eu entrei na minha casa, ouvi vozes na cozinha, era a Mamãe e a Nathi, fui até lá.
- Olha isso gente!
Eu disse apontando para o meu pescoço.
- Ele arrumou mesmo. - Disse a Mamãe.
- Então todo mundo sabia, quando iam me contar.
- Filha, nós íamos te contar quando ele entregasse a você... Simples assim.
- Vocês... Eu nem sei o que dizer, vou tomar banho que eu ganho mais.
Sai da cozinha e elas ficaram rindo de mim... Tomei meu banho bem devagar e depois me sequei e fui para o quarto, o Rafa estava no lá mexendo no computador da Nathi.
- Rafinha, você me da licença.
- Claro Margot.
- Obrigado, você é o irmão mais lindo do mundo.
- Mais que o Natan?
- Bem mais!
Ele deu aquela risada de criança e saiu do quarto dizendo.
- Vou falar para ele que eu sou o mais lindo!
Procurei uma roupa para vestir, por que ainda não íamos dormir, era feriado e no dia seguinte era sábado, então nós ficávamos acordados até a hora que quiséssemos... Me vesti e fui para a sala, não demorou muito e a campainha tocou.
- Mãe, atende a porta pra mim, acho que é o Miguel com as fotos.
- Tá bom, mas só por que eu estou mais perto da porta, acostuma não.
Rimos, e ela foi buscar ele no portão, eu não vou mentir, eu não gostava de tirar fotos, mas eu queria ver as fotos que ele tirou, ele entrou.
- Olá de novo... Vocês estão vendo alguma coisa na TV?
- Não, nada importante, pode me dar o CD que eu mesma ponho do DVD.
Ele estendeu a mão com a mídia, eu peguei e coloquei no DVD e as fotos começaram a aparecer.
- Nossa! Quem é essa?
- É você filha, você não sabia que era linda?
- Não, o que eu sei é que a máquina do Miguel faz milagres.
Eu me sentei no chão e fiquei olhando as fotos, as do banquinho ficaram lindas, e a que ele me pediu para fechar os olhos e imaginar ficou ótima, mas a as melhores foi a que eu estava virando para trás, meu cabelo ficou volumoso e dançando no ar, e na foto seguinte eu estava sorrindo, mas não por sorrir, eu estava sorrindo pra ele.
- Nossa maninha que linda que você está... - Disse a Nathi.
- Obrigado Nathi.
Depois de ver as fotos a Mamãe foi para a cozinha fazer um café, e eu levantei e tirei o CD, e como sempre cada um foi para um lado, e eu fiquei sozinha com o Miguel, a Nathi saiu depois que todo mundo saiu, ela passou por mim e deu uma piscadinha...
- Miguel, ficaram...
- Lindas? É eu sei, foi o que eu disse.
- Vamos tomar um café, e isso sim é tradição.
- Quem sou eu para dizer não.
Ele me acompanhou até a cozinha, depois do café ele foi embora, e fomos dormir, então no dia seguinte antes de tomar café eu fui na banca de jornal, quando eu estava voltando percebi que o Miguel ainda não tinha levantado, cheguei em casa e todos já estavam na mesa.
- Filha onde você foi?