POV Gui
Nunca me senti tão mal em fazer algo como fiz hoje. Eu não devia ter deixado a Bia sozinha em casa, mesmo sabendo que algo não estava bem com ela.
Depois da sua reação quando a levei a casa, fiquei ainda mais desconfiado que realmente algo de grave está a acontecer. No fundo sei que ela precisa de mim e mesmo assim tive a coragem de me vir embora. Agora estou a sentir-me a pior pessoa do mundo por o ter feito, mas ela também insistiu muito para eu ir embora e quando a Bia põe uma coisa na cabeça, nem vale a pena contrariar. Eu devia ter feito mais pressão para puder entrar com ela dentro de casa, apenas para me certificar que tudo estava bem e ela ficava segura.
Não gosto desta sensação nem um pouco.
Foi entre estes pensamentos que acabei por chegar a casa. A minha vontade era voltar atrás, mas sei que se o fizer a Bia vai ficar ainda mais chateada comigo. O que menos quero agora é discórdia entre mim e ela. O melhor é evitar mais discussões e esperar que tudo esteja bem.
Assim que abri a porta de casa ouvi umas risadas na cozinha, sorri ligeiramente apercebendo-me que os meus pais já estão em casa. Normalmente eu chego primeiro que eles, mas hoje com isto tudo atrasei-me. Entrei na sala sem fazer muito barulho e caminhei até à cozinha e logo vi os meus pais sentados à mesa enquanto conversavam muito animados.
- Boa noite! – Falei chamando a atenção e eles logo olharam para mim.
- Olá, querido! Estava quase para te ligar, normalmente chegas primeiro que nós. - A minha mãe comentou.
- Perdi a noção das hora! Desculpem. - Eu tentei explicar e eles sorriram.
- Estavas com a Bia? - O meu pai perguntou-me.
- Sim, eu fui leva-la a casa hoje. - Eu falei um pouco mais triste e eles olharam para mim desconfiados.
- Aconteceu alguma coisa, filho? – A minha mãe perguntou-me um pouco preocupada.
- Não, mãe! Está tudo bem. - Eu respondi tentando mostrar um pouco de animo, mas falhei completamente.
- Sabes que podes nos contar tudo, filho. - O meu pai falou.
- Nós já percebemos que algo se passou e que te está a preocupar. - A minha mãe comentou e eu suspirei. - Mas também compreendemos que não nos queiras contar, mas espero que saibas que estamos aqui filho. - Ela falou e eu sorri ligeiramente.
- Eu sei, mãe! Mas não se preocupem, está tudo bem. - Eu garanti e eles assentiram. - Eu vou tomar um duche rápido, quando o jantar estiver pronto podem me chamar? - Eu pedi.
- Claro que sim, filho! Podes ir, ainda está um pouco atrasado o jantar. - O meu pai falou e eu assenti saindo da cozinha e indo até ao meu quarto.
Assim que entrei no quarto, coloquei as minhas coisas na cadeira e deitei-me na cama a olhar para o teto, voltando a pensar na Bia e neste aperto no coração. Tirei o meu telemóvel do bolso e fiquei a olhar para ele. E se eu tentasse ligar para ela, apenas para ouvir a sua voz e para me acalmar um pouco. Decidi ligar e fiquei à espera que ela me atendesse, mas para meu espanto deu sinal de desligado, piorando a situação. Se eu já estava preocupado, então agora estava ainda mais.
(...)
- Terra chama Gui! – A minha falou dando-me um pequeno toque na mão e eu olhei para ela um pouco assustado. Estava tão longe nos meus pensamentos que nem me apercebi que já estávamos a jantar e que ainda não tinha tocado no meu prato.
- Desculpem, estava longe. - Eu brinquei e o meu pai sorriu.
- Isso nós já percebemos. Tens a certeza que não nos queres contar o que se passa? - O meu pai voltou a insistir.
- Ás vezes desabafar ajuda, filho. - A minha mãe falou e eu assenti.
- Eu sei, mas eu não vos quero estar a chatear com as minhas coisas. - Eu respondi voltando a olhar para o meu prato.
- Tu és doido! Está bem que és nosso filho, mas não precisas de ser tão doido assim. - O meu pai falou conseguindo arrancar-me um sorriso sincero.
- As tuas dúvidas e preocupações nunca nos vão chatear, filho. Nós somos teus pais e é nossa obrigação estar ao teu lado quando as coisas não correm tão bem. - Eu assenti.
- Vocês têm razão! Eu preciso de falar, senão vou ficar maluco. - Eu comentei e eles assentiram incentivando-me a contar. - Eu estou muito preocupado com a Bia. - Acabei por falar o que me tem atormentado nos últimos dias.
- Vocês voltaram a discutir? - O meu pai perguntou e olhei para ele surpreso.
- Como é que sabes que andamos a discutir? - Eu perguntei.
- Nós ouvimos uma discussão no outro dia, mas não dizemos nada. - A minha mãe comentou e eu suspirei.
- É o que mais temos feito, agora. - Eu comentei. - Eu não sei explicar mas algo muito estranho se está a passar com a Bia e ela não me quer contar o que é. - Eu expliquei.
- Estás desconfiado de alguma coisa? - O meu pai perguntou-me e eu assenti.
- Eu acho que... - Eu olhei atentamente para os meus pais e eles assentiram. - Eu acho que a Bia sofre de violência. - Eu expliquei a minha teoria e a minha mãe arregalou os olhos.
- Como assim? – Ela perguntou nervosa.
- Como vocês já devem ter reparado, a minha relação com a Bia anda um pouco tremida. O que mais temos feito agora é discutir e ela tem evitado de estar mais tempo comigo. - Eu estou a tentar explicar tudo aos meus pais. - Ao principio pensava que era eu que estava a fazer alguma coisa errada, mas não. Só de uns dias para cá é que fui perceber o que realmente se passava com ela. - Eu falei e senti um arrepio na espinha.
- Ela contou-te alguma coisa? - A minha mãe perguntou e eu neguei.
- Não, mãe e o problema é esse. Ela simplesmente não me conta mais nada. - Confessei um pouco frustrado. - Um dia vi o corpo dela cheio de hematomas. Ela disse-me que tinha caído no banheiro, mas eu não acreditei nem um pouco nessa desculpa. - Senti os meus olhos marejarem enquanto contava tudo aos meus pais.
- Meu Deus! - A minha mãe falou um pouco assustada.
- Hoje fui levá-la a casa e em todo o tempo que lá estive ela tentava de todas as maneiras que eu me fosse embora. Como se estive a esconder alguma coisa. Eu tenho a certeza que algo se passa naquela casa. - Eu expliquei.
- Estás desconfiado de quem? – O meu pai perguntou-me direto e eu olhei para ele.
- Do pai dela! – Eu admiti e os meus pais mantinham um olhar preocupado. - Só pode ser isso, pai! - Eu não tinha mais justificação nenhuma.
- Nunca imaginei que pudesse ser uma coisa dessas. Pensava que era apenas uma discussão entre vocês. - A minha mãe comentou preocupada.
- O pior é que eu tentei falar com ela até agora, mas o telemóvel está desligado! Eu sinto que aconteceu alguma coisa com ela! – Suspirei preocupado.
- Queres ir ver como é que ela está? – O meu pai perguntou-me e eu olhei logo para ele.
- Quero! Eu estava a pensar ir lá, agora. Só mesmo para ter a certeza que ela está bem! – Eu falei e o meu pai assentiu.
- Ok! Eu vou contigo, não quero que vás sozinho. – O meu pai falou e eu sorri ligeiramente concordando com ele. Levantei-me logo da mesa e ele fez o mesmo.
- Quando souberem de alguma coisa liguem, por favor. E tomem cuidado. - A minha mãe pediu e nós assentimos.
O meu pai pegou na carteira e nas chaves do carro e logo saímos de casa.
(...)
- É aqui! – Eu apontei para a casa da Bia e o meu pai estacionou o carro numa vaga perto da casa.
- Parece que não tem ninguém em casa. - O meu pai comentou assim que saímos do carro. A verdade é que as luzes de casa estavam todas desligadas.
- Que estranho! Eu deixei a Bia em casa e ela disse-me que não ia sair para lado nenhum. - Eu comentei enquanto caminhamos até à entrada da casa.
Assim que chegámos à porta toquei na campainha da mesma mas nada aconteceu. O meu pai espreitou pelas janelas da casa e olhei para mim dando de ombros. Isto está cada vez mais estranho.
- Se calhar falou a luz e a campainha não funciona. – O meu pai comentou e eu olhei ao meu redor e a vizinhança tinha todos luz.
- Não me parece, pai! – Eu comentei apontando para a casa ao lado e o meu assenti.
- Ou então, não pagaram a luz! Acontece! Uma vez também esqueci-me de pagar a nossa e a tua mãe quase que me matava! – Eu olhei para o meu pai atónito e ele sorriu ligeiramente. – Estou a brincar filho, é só para quebrar um pouco a tensão. - Ele falou e eu revirei os olhos.
Eu voltei a andar até à porta e desta vez decidido a tocar na mesma. Assim que preparava para tocar apercebi-me que a porta estava aberta. Eu olhei automaticamente para o meu pai que olhou-me preocupado. Sem perder tempo abri a porta e entrei dentro de casa.
- Bia, estás aqui? – Eu chamei-a mas não ouvi nenhuma resposta.
Eu carreguei no interruptor e liguei a luz da entrada e o meu pai ficou admirado.
- Eu procuro por aqui e tu vais ver na cozinha. - Eu apontei para uma porta e ele assentiu fazendo o que eu pedi.
Assim que chego à sala acendo a luz e a primeira coisa que vi foi tudo virado do avesso. Como se eu furacão tivesse passado por ali. O meu coração começou a bater acelerado e desesperado para encontrar a Bia.
- BIA! ONDE É QUE ESTÁS? - Eu gritei por ela e assim que entro dentro do cómodo o meu coração para de bater assim que a vejo desmaiada no chão de casa.
- BIA! – Eu corri até ela e os meus olhos arregalaram ao ver o seu estado. – Amor, fala comigo! – Eu peguei nela com cuidado e andei até ao sofá. - PAI, ELA ESTÁ AQUI! – Eu gritei e deitei-a com cuidado no sofá apercebendo-me que ela estava cheia de feridas e marcas no corpo. - Por favor, amor! Acorda, fala comigo. - Eu senti os meus olhos cheios de lágrimas.
- Como é que ela... MEU DEUS! – O meu pai gritou e correu até a mim. – Eu vou chamar já uma ambulância! – Eu assenti continuando a olhar fixamente para ela.
- Gui! – Ela falou baixinho e eu suspirei um pouco mais aliviado.
- Eu estou aqui, linda. Vai ficar tudo bem. Eu prometo. - Eu falei e ela mal consegui abrir os olhos.
- Dói! – Ela falou ainda mais baixo e eu beijei-a ligeiramente.
- Eu, princesa! Mas vai passar. – Ela tentou assentir.
- Eu pensava que ele me ia matar! – Ela falou e eu arregalei os olhos. Ela acabou por desmaiar outra vez.
- PAI! ONDE É QUE ESTÁ A AJUDA? – Eu gritei enquanto chorava de raiva e preocupação.
- Estão mesmo a caminho, filho! – Ele falou entrando rápido na sala. – Os enfermeiros disseram que é melhor deita-la no chão. Ela pode ter algo partido. – O meu pai falou e eu assenti colocando-a no chão devagar. Eu não aguentei e comecei a chorar.
- Isto é culpa minha! - Eu falei completamente desesperado.
- Claro que não, filho! Ninguém podia desconfiar disto. - O meu pai tentou-me acalmar. - Tu precisas de ser forte por ela. A Bia vai precisar muito de tia agora, filho. - Ele falou e eu assenti.
POV Bia
Abri os meus olhos devagarinho e logo uma luz forte atingiu o meu olhar. Fechei e abri os olhos várias vezes para me habituar à esta luz intensa. Quando consegui normalizar a minha visão tentei perceber onde é que estava. Reparei que estava deitada numa maca e que tinha à minha volta várias máquinas que faziam uns barulhos estranhos. Logo deduzi que devia estar num hospital.
Eu suspirei e fechei os meus olhos e a minha mente foi invadida pelos momentos de terror que vivi em minha casa. As lágrimas invadiram os meus olhos e chorei. O medo apoderou-se de mim e eu tentei mexer-me para fugir daquele lugar, mas a verdade é que estava com tantas dores que até respirar doía.
- Socorro! – Eu tentei gritar mas até a garganta me doía. - Socorro! - Eu voltei a pedir e logo entrou dentro do quarto uma enfermeira.
- Ah, graças a Deus, já acordou! – A enfermeira falou um pouco animada.
- Ajude-me! – Eu falei baixo.
- Tenha calma, querida! Você está a salvo, agora! - Ela falou e eu suspirei um pouco aliviada.
- Doí-me o corpo todo. - Eu falei baixo e ela olhou para mim um pouco triste.
- É normal, querida! Você foi violentamente agredida e se o seu namorado não tivesse chegado a tempo... Mas agora está tudo bem! - Ela falou e eu olhei admirada.
- O Gui está aqui? – Parece que de repente a minha voz voltou.
- Está sim, querida! Assim como os pais deles e uns amigos seus. - Ela falou e eu comecei a chorar.
- Eu quero vê-lo, por favor! – Eu pedi enquanto chorava e a enfermeira olhou para mim com pena e acabou por assentir.
- Eu não devia, mas eu vou buscá-lo. - Ela falou e eu assenti.
Eu só quero o meu namorado por perto agora. Eu precisava de me sentir segura e só ele é que me pode transmitir essa segurança. O meu corpo estava bastante dorido, mas nada se compara à dor que sinto no meu coração. É uma dor que sei que me vai acompanhar por um bom tempo e a que mais vais custar a passar.
- Bia! – Eu olhei para a porta e a pessoa que eu mais amo no mundo estava ali.
- Gui! – Eu comecei a chorar e ele correu até mim e abraçou-me com cuidado. Só quando o tentei abraçar de volta é que reparei que tinha um braço engessado.
- Eu tive tanto medo de te perder! – Ele falou e deu-me um selinho.
- Foi horrível! – Eu não conseguia parar de chorar. – O meu pai bateu-me muito, a minha mãe fugiu de casa e eu... - O Gui beijou-me devagar.
- Não penses nisso, agora! Eu estou aqui e nunca te vou abandonar, nunca! – Ele falou e eu olhei para ele.
- Ele disse que a culpa foi minha, Gui! Mas eu não fiz nada errado, amor. Eu juro! – O Gui olhou para mim e vi que também ele chorava.
- Eu sei que não, anjo. Agora tem calma! – Ele juntou as nossas testas e eu apenas conseguia chorar.
- Eu não quero vê-lo de novo, Gui! Eu tenho tanto medo! – Eu pedi e o Gui assentiu.
- Eu não vou deixar que ele te faça mais mal, fofa. Ele vai ter que passar por mim primeiro. - Ele falou determinado passando aquela segurança que precisava para descansar o meu coração.
- Prometes? – Eu pedi e ele sorriu ligeiramente.
- Prometo, amor! – Ele falou e beijou-me.
- Eu amo-te. – Eu falei e abracei-o apenas com um braço.
- Eu amo-te ainda mais, Bia! - Ele falou.
- Fica aqui comigo, amor! Eu tenho medo de ficar sozinha. – Eu pedi ele assentiu unindo novamente os nossos lábios.
- Claro que fico, princesa. - Ele deitou-se na minha maca e fez com que eu deitasse a minha cabeça no seu peito. – Agora descansa. Eu estou aqui para te proteger. – E foi assim que acabei por adormecer, segura.
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FINALMENTE! FESTAAA!
Eu sei que foi muitooo tempo sem postar.
Mas eu não tinha mesmo como e só agora é que consegui comprar um pc. Vida de pobre é assim mesmo kkk!
Tirando que ando a trabalhar muito e só nas folgas é que tenho um tempo :)
Em principio voltarei a postar na próxima terça. Espero que possam compreender.
Beijinhos Sofia!