A Demanda

By madalenamarques126

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Quando olhamos para Ava James vemos uma rapariga que pouco ou nada fala, o que nos leva a acreditar que é don... More

Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo IXX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Epílogo
Notas da Autora

Capítulo IV

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By madalenamarques126

A vida decorria como sempre. Ava assistia às mesmas aulas aborrecidas todos os dias, passava os intervalos a ler os seus livros enquanto segurava a velinha para Molly e Peter e chegava a casa para se encontrar com Isaac e Minouche.

Quarta-feira era o único dia da semana em que a ruiva não tinha aulas à tarde. Geralmente almoçava no refeitório e seguia para o restaurante, todavia naquele dia trocara de turno para estudar para o teste de Matemática que teria no dia seguinte.

Ao chegar a casa encontrou Isaac, para sua surpresa.

- Isaac? O que é que fazes em casa?

- Já olhaste lá para fora? Está um gelo e até já está a começar a pingar. Hoje daqui não saio.

Ao olhar mais atentamente Ava reparou que o velho tinha nas mãos Mrs. Dalloway de Virginia Woolf, o seu livro Mrs. Dalloway.

- Porque é que estás a ler o meu livro sem ter pedido permissão?- enervou-se a rapariga. Ela era bastante ciosa das suas coisas e Isaac sabia bem isso.

- Não te exaltes, petite rouquine. Até fico bastante contente por saber que tens algum material de leitura de qualidade.- respondeu o velho com um brilho de orgulho nos olhos.

- Não respondeste à minha pergunta, o que é que te deu para o tirares da prateleira onde estava?

- Bem, eu estava aqui por casa sem nada para beber... quer dizer fazer! Por isso fui ao teu quarto ver se tinhas alguma coisa de jeito e se não é que eu encontro este velho amigo!- falava Isaac entusiasmado enquanto abanava o livro para dar enfâse.- Nem sabes a nostalgia que este livro me traz.

- Duvido muito. Livra-te de estragar o livro ou de o tirar de casa!

Isaac resmungou qualquer coisa e voltou a concentrar-se na leitura, enquanto que Ava fez uma chávena de café e dirigiu-se para o quarto. Nem por um segundo a rapariga acreditava que Isaac alguma vez lera Virginia Woolf, contudo agora precisava de se concentrar na Matemática. O quarto não era muito grande e tinha paredes brancas. Do lado esquerdo havia a cama de solteiro que ocupava a parede quase toda e no bocadinho que restava até à porta estavam todos os sapatos que a rapariga tinha no chão. Na parede da porta havia um armário onde a roupa era guardada e na parede paralela à cama havia uma pequena prateleira que continha livros e CD's, mais uma aparelhagem encontrada algures por Isaac no cimo. De resto havia a secretária de madeira ao lado da cama em frente à janela onde Ava depositou os livros, cadernos e lápis que precisava mais a caneca de café.

Passou uma hora a tentar estudar mas não se conseguia concentrar, por isso pegou nas suas coisas e saiu para as escadas de incêndio. Dois andares abaixo viviam os gémeos Harris. David e Daniel eram dois irmãos idênticos e eram o mais próximo de amigos que Ava tinha neste momento. Eles não andavam todos na mesma escola, contudo eles eram os únicos que sabiam da verdadeira história de Ava e Isaac e eram com quem a rapariga convivia a sério. Para além do mais, os rapazes estudavam numa escola de música e ouvi-los a praticar ajudava Ava a concentrar-se.

A ruiva sentou-se nas escadas com a caneca ao lado e o caderno no colo. Naquele momento David estava no quarto a praticar violino e depressa a rapariga se absorveu nos números e equações.

- Olá, desconhecida. Ficas aí à janela do meu quarto e nem cumprimentas?- disse David da janela.

Ava quase que se engasgou com o café devido ao susto.

- Olá, eu só vim aqui para estudar, ouvir-te tocar ajuda-me a concentrar.

- Consegues concentrar-te a estudar ao frio e à chuva enquanto estás sentada num degrau de ferro? Muito bem, estou impressionado. Agora entra, eu peço a Melanie para te fazer alguma coisa.

Ava obedeceu e entrou. Lá dentro estava calor e sem dúvida que aquele apartamento era muito mais acolhedor do que do que o seu. O quarto que os rapazes partilhavam evidenciava a personalidade oposta de ambos e podia ser dividido por uma linha. De um lado estava a parte de David, bastante arrumada e organizada com o violino pousado em cima da cama. Do outro lado estava a parte de Daniel completamente desarrumada com a guitarra encostada a um canto e os livros da escola espalhados por todo lado.

A rapariga dirigiu-se para o corredor e entrou na sala cuidadosamente decorada por Mrs. Harris. Ava apenas tinha visto a mãe dos rapazes umas três vezes e tinha sido bastante constrangedor pois não estava habituada à presença dela. Mrs. Harris era loura e de olhos azuis tal como os filhos e tinha o perfil de mulher que vivia do dinheiro do marido e passava a vida no clube com as amigas e a organizar eventos sociais, o que era exatamente que ela fazia o tempo todo.

- Melanie! Podes preparar-nos um lanche? Ava, está cá.- gritou David para a empregada.

- É para já, menino David.- respondeu a empregada.

- Ouve, eu não quero mesmo incomodar. Eu ainda tenho de estudar Matemática, tenho teste amanhã.- referiu Ava.

- Eu ajudo-te a estudar, já estava farto do violino.

Os dois passaram o resto da tarde a estudar e a comer o ótimo lanche preparado por Melanie. A empregada dos gémeos era a mulher mais doce que ela alguma vez conhecera. De certa forma a rapariga considerava que a empregada é que era a verdadeira mãe dos gémeos pois era ela que estava sempre em casa a cuidar deles. Para além do mais, também fazia a comida mais deliciosa do mundo e às vezes quando fazia comida a mais dava alguma a Ava.

Por volta das 17:00 Daniel chegou a casa.

- Olá, estou a ver que temos companhia.- cumprimentou Daniel que de seguida se dirigiu ao quarto para atirar para o chão o saco com a roupa da dança, que era a sua verdadeira paixão.- O que é que me dizem de irmos dar uma volta?

- Por mim pode ser, ainda tenho tempo até ao meu turno.- aceitou a rapariga ao olhar para o relógio.

Assim, a ruiva arrumou as coisas na mochila e saíram os três à rua.

- Então, Ava, que tal vão as coisas?-perguntou Daniel.

- Vai tudo na mesma.- respondeu a rapariga. Ela era uma pessoa de poucas palavras, por isso era difícil pô-la a falar.

- No outro dia encontrei Isaac numa livraria, não sabia que ele era tão intelectual.- contou Daniel com um certo gozo na voz.

- Nem eu, ele realmente anda com uns comportamentos estranhos...- disse Ava misteriosa.

- Que tipo de comportamentos?- questionou David.

- Bem, quando eu hoje cheguei a casa Isaac tinha tirado um livro de Virginia Woolf da minha estante e disse que o fazia sentir nostálgico.

- Até essa palavra parece demasiado cara para ele. Tens a certeza de que ele não estava bêbado?- interrogou David.

- Absoluta. Nunca o tinha visto a ler nada para além do jornal do metro, agora até avalia os meus livros. Não sei o que é que se passa.

- Oh vá lá malta! Nós não sabemos nada sobre a vida dele. Quem diz que ele não tem uma paixão por literatura e que até é culto?- opinou Daniel.

Os outros dois olharam para ele com uma expressão cética. Em poucos segundos começaram-se todos a rir da ideia.

- Tens bastante imaginação, mano. Se não te conhecesse desde a barriga da nossa mãe até diria que andas a ler de mais.

- Eu? Ler?- respondeu Daniel.- Deixa estar. Isso já fazem vocês os dois que chegue. Eu prefiro ficar com os pés na terra.

Claro que de seguida foi logo contestado por Ava e David. O trio continuou a conversa até que a ruiva teve de ir para o restaurante que estava pouco cheio por sinal.

Enquanto trabalhava atendeu um homem bastante peculiar. Usava uma boina e um cachecol que tapava a sua cara. Quando Ava o atendeu, olhava-a como se vigiasse cada movimento seu.

- Pode ser uma lasanha.- pediu o homem que tinha os olhos azuis como gelo e um anel de ouro no dedo.- E um café para levar.- continuou enquanto enfiava as madeixas grisalhas para dentro da boina.

Mais tarde quando chegou a casa encontrou-a vazia. Logo, saiu do apartamento e subiu as escadas para o telhado que se encontravam no patamar. Ali encontrou Isaac a ler o livro e Minouche ao seu lado.

- Olá, tudo bem?- cumprimentou Ava.

- Salute! - disse Isaac sobressaltado.- Estou só a acabar o livro.

- O que gostas tanto nesse livro?- interrogou a rapariga curiosa.

E assim os dois começaram algo que a rapariga nunca esperou acontecer. Uma conversa sobre literatura.

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