- Acorde menina Allie. O pequeno-almoço está servido.
Despertei com a voz doce da Margaret e espreguicei-me. Saí da cama e dirigi-me para o meu gigante armário, cheio de diversas peças de vestuário. Tirei umas das calças de ganga pretas, uma sweatshirt cor-de-rosa com a Minnie na frente. Calcei os meus all star brancos e desci as escadas. Caminhei devagar para a sala de jantar. À minha disposição havia croissants, jesuítas, baguetes, sumo de laranja, leite, fruta, manteiga, fiambre, queijo e variadíssimos doces.
Peguei num croissant e barrei-o com doce de frutos vermelhos. Verti sumo de laranja para um copo. Comi apressadamente depois de ter visto as horas. Despedi-me da Margaret e agarrei na minha mala e levei novamente o veículo da minha mãe. Acelerei o máximo que podia e cheguei ao aeroporto. Depois de ter feito o check-in, sentei-me, reparando num rapaz alto com caracóis. Esqueci-me dele. Harry. Como é que eu não me lembrei dele? Decerto que não vou conseguir voltar antes de amanhã e aí já será tarde. Neste momento ele deve de estar a dormir, telefonar-lhe-ei depois.
- Passageiros do voo EI485 com destino a Dublin é favor dirigir-se à gate nº18. Obrigada. – falou uma mulher, fazendo eco por quase todo o aeroporto.
Procurei a gate e passado algum tempo encontrei-a. Dei o meu bilhete á senhora e entrei no avião. Como não tinha lugar marcado, sentei-me junto á janela, perto da asa da aeronave. Como é que eu me vou embora nesta altura? Não tinha sorte nenhuma. Nunca mais o vou ver. Nunca mais vou ter aquela estranha sensação no ventre. Em tão pouco tempo, tornou-se tanto. Não sei ele vai ficar chateado ou mesmo devastado com a minha partida repentina. Ele estava “sozinho” no mundo. Ele era responsável por muita coisa. Acho que é demais para uma pessoa jovem. Harry significava muito para mim; um grande amigo.
# POV Harry #
Ouvi a porcaria do despertador do telemóvel e logo me apressei a ir desligá-lo. Enganei-me a pôr a hora no alarme e já eram 11h. Fiquei assustado, mas depois lembrei-me de que ainda faltava umas horas até ao meu voo. Telefonei para a receção para pedirem a alguém para me trazer o pequeno-almoço. Rapidamente um empregado bate á porta e deixa o tabuleiro em cima da mesa de vidro com um centro de mesa no meio.
***
Caramba, já eram 15h e a Allie ainda não apareceu. Ela normalmente vem cá de manhã…se calhar teve de fazer algo, mas daqui a pouco vou ter de ir a casa buscar roupas. Telefonei de novo para a receção e solicitei que efetuassem uma chamada para a Allie.
A luzinha vermelha voltou a aparecer e ao quarto “pi” a Allie atendeu.
- Oi Harry!
- Oi Allie, onde estás?
- Estou em casa.
- Não é por mal, mas eu vou-me embora daqui a nada.
- Desculpa, mas não posso ir aí – notei um certo nervosismo na sua voz.
- Tudo bem. Só te queria agradecer novamente e dizer-te que um dia vou pagar-te tudo o que tens gasto comigo.
- Não sejas ridículo. Eu não preciso do dinheiro.
- Mas eu preciso de ter a consciência tranquila.
- Ok. – de repente houve uns segundos de silêncio, sendo a única coisa audível eram as nossas respirações.
- Bem, adeus Allie.
- Adeus Harry. Desejo-te toda a felicidade deste mundo.
- Igualmente. – desliguei a chamada e coloquei o auscultador no seu devido lugar.