Inês estava muito chateada com Victoriano, e fez questão de deixar isso bem claro.
- Ah, sim. Agora você quer conversar?... Pensei que isso não fosse assunto meu. Não foi isso que disse?
- Eu estava nervoso. - disse Victoriano. - Não devia ter dito aquelas coisas à você, mas te ver com aquele sujeito... Aquilo me tirou do sério!
- Eu não estava com ninguém, Victoriano! Estava atentendo a uma emergência de trabalho! - disse Inês. - Você me tratou como se eu fosse sua propriedade, e se comportou como um troglodita!
- Eu sei. Eu exagerei. - disse Victoriano.
- Exagerou?! - exclamou Inês. - Pensei que seu nome fosse Victoriano Santos e não Conan, o bárbaro!
- Inês, eu posso explicar. - disse ele. - Só me dê uma chance.
Inês percebeu que aquele era o momento.
- Muito bem, Victoriano. Você quer uma chance?... Eu vou lhe dar. Mas só se for pra me dizer a verdade. - disse Inês.
- A que se refere? - ele pergunta receoso.
- Você e aquele homem, o tal de Loreto Guzman, tem um passado. Ele mesmo disse. Algo que envolve vocês dois e a sua falecida esposa...
- Como soube disso?! - ele se altera.
- Não interessa! - retruca Inês. - Eu sei e pronto. ... E então?... Vai me dizer, ou não?
- Inês, você não entende! - disse Victoriano.
- O que é que eu não entendo, Victoriano?!... Que você quer que tenhamos uma relação baseada em segredos e mentiras?! - disse Inês.
- Inês, eu te amo. Eu só quero que confie em mim. - disse ele se aproximando dela e segurando em suas mãos.
- Aí é que está, Victoriano. - disse Inês. - Eu confio em você. - ela solta as mãos e se afasta dele. - Mas você não confia em mim.
- Morenita, por favor. - disse ele.
- Victoriano, como é que eu posso ter um relacionamento com um homem que não confia em mim, diga? - disse Inês.
- Do que está falando?
- Acho que começamos com pé errado. - disse Inês com um nó na garganta. - Apressamos as coisas, e no primeiro teste de confiança, nós não passamos. Acho que precisamos nos dar um tempo. Pensar e...
- Não, não, não! - disse Victoriano se aproximando de Inês. - Eu não tenho nada que pensar!... Mi morenita, eu te amo! - ele beija as mãos de Inês. - Quero que fiquemos juntos pra sempre!
- Eu também te amo, Victoriano. - disse Inês. - Mas... Vai ser melhor. - ela se solta.
- Inês, não faça isso. - disse Victoriano.
- Tivemos um dia cheio. Estamos muito cansados. É melhor você ir embora. - disse Inês indo até a porta e abrindo-a.
Victoriano estava sem ação. Por mais que Inês estivesse zangada... Mas ele não pensou que fosse tanto.
- Inês, eu... Me perdoe. - disse ele simplemente a olhando e saindo.
Inês fecha a porta e fica com as mãos segurando a maçaneta por alguns segundos. Ela respirava fundo, olhava para o teto. Era como se estivesse sufocada. ... Mas a verdade é que ela estava segurando o choro. Ela mesma não consegue entender por que fez aquilo, se Victoriano havia ido até lá para vê-la, para pedir deaculpas, para reconhecer o quanto agiu errado. Por que mandá-lo embora?... Mas no fundo Inês sabia que aquilo precisava ser feito.
Rosa aparece.
- Querida, você tem certeza do que fez? - Rosa pergunta.
- Sim, Rosa. Tenho certeza. - disse Inês. - Victoriano precisa entender que uma relação só pode surgir a basa de confiança. ... Eu quero ajudá-lo. Sei que ele é atormentado por alguma coisa de seu passado. E eu quero ajudá-lo. Mas somente se ele deixar.
- Você o ama, não? - pergunta Rosa.
- Com todo o meu coração, Rosa. - disse Inês. - Sabe, eu nunca pensei que eu poderia me apaixonar assim outra vez, mas... Ah, Rosa! Aquele cowboy soube me laçar de jeito! - disse Inês sorrindo.
- Então por que o mandou embora? - pergunta Rosa.
- Porque Victoriano precisa aprender a controlar esse gênio que ele tem. E entender que as coisas, às vezes, não saem do jeito que ele quer. - disse Inês.
***
Victoriano rodou com seu carro por muito tempo antes de ir para casa. Ao chegar em sua fazenda, ele vai até o quarto das filhas, que já estavam dormindo. Ele as observava e sorria.
"Minhas amazonas, minhas princesas, meu amores!... Não há nada que eu não fizesse por vocês. Eu as amo tanto!" pensava ele enquanto afagava e beijava o cabelo da cada uma enquanto dormiam.
"Prometo que não vou deixar que nada nos separe. ... Principalmente esse meu jeito grosseiro e turrão!... Inês está certa. Como posso dizer que a amo se não me abro com ela? Como posso pedir confiança, se eu mesmo não lhe dei?"
Aqueles pensamentos martelaram na cabeça de Victoriano a noite inteira.
***
Na manhã seguinte.
Henrique tomava café da manhã no restaurante do hotel, quando alguém se senta em sua mesa.
- Me desculpe, senhor. Não o conheço e nem lhe convidei pra sentar. - disse Henrique.
- Muito prazer, sou Loreto Guzman. - disse ele. - Desculpe incomoda-lo no seu café da manhã, mas precisamos conversar sobre algo que temos em comum.
- Acabamos de nos conhecer, senhor. O que poderíamos ter em comum? - pergunta Henrique sem entender "patavinas".
- Ambos fomos prejudicados por Victoriano Santos. - disse Loreto.
***
Fazenda Santos.
Victoriano acordara cedo e saíra. Suas filhas estranharam um pouco, já que sempre que seu pai fazia isso, costumava avisar.
- Consuelo, meu pai já foi pra empresa? - pergunta Diana.
- Querida, eu não sei. - disse Consuelo. - Ele saiu cedo e não disse onde ia.
- Estranho, né Dianita? - disse Catarina. - O papai não é de fazer isso.
- É mesmo. - disse Ana.
***
Pensão da Rosa.
Inês já estava de saída quando vê aquela caminhonete parada na porta.
- Victoriano, o que quer aqui tão cedo? - disse ela. - Pensei que já haviamos conversado ontem e concordamos dar um tempo.
- Você concordou. - disse Victoriano bem sério. - Vamos, temos que conversar. Entre. - disse ele abrindo a porta.
- Como assim, "entre"?... Nada disso! Eu tenho que trabalhar! - disse Inês.
- Você quer a verdade, não quer? - disse ele em um tom autoritáro. - Então venha comigo.
Inês poderia não ter ido. Afinal, ela detestava quando Victoriano falava daquele jeito. Mas ela tinha dito a ele que conversariam se ele estivesse disposto a contar a verdade. Então, ela resolve aceitar.
- Espere só um minuto. - disse ela pegando o seu celular e fazendo uma ligação. - Alo? Margarida?... Sim, sou eu. Me faça um favor, eu tenho um assunto muito importante pra resolver agora pela manhã, então remarque as consultas pra amanhã e só me ligue se for uma emergência tá bom?... Obrigada, pra você também. - ela desliga. - Está bem. Podemos ir.
Ela entra no carro e os dois saem.
***
Enquanto isso, no restaurante do hotel...
- Então, quer dizer que o senhor também tem algo contra esse homem? - disse Henrique.
- Assim como Victoriano está com sua ex-esposa...
- Inês ainda é minha esposa! Nãa assinei os papéis do divórcio ainda. Só estamos passando por uma crise. A Inês me ama. Ela vai voltar pra mim, custe o que custar. - disse Henrique.
- Claro, claro. O senhor tem toda a razão. - disse Loreto. - Uma coisa só acaba quando termina, não é? - disse ele com uma pontinha de deboche. - ... E pode-se ver que o senhor é muito apaixonado por sua esposa.
- Será que dá pro senhor ir direto ao ponto? - disse Henrique impaciente.
- Gente da capital!... Sempre apressados!... Bom, como eu dizia, assim como o senhor, Victoriano Santos também tem algo que me pertence e eu quero de volta. O senhor me presta serviços como advogado, e eu lhe ajudo a recuperar sua esposa. - disse Loreto.
- O senhor está me propondo uma aliança, é isso? - pergunta Henrique.
- Exatamente. O que me diz? - disse Loreto.
- Isso pode ficar interessante! - disse Henrique.
***
No trageto que estavam percorrendo, tanto Victoriano quanto Inês, estavam num total silêncio. Trocaram alguns olhares, mas estavam estranhos um com o outro. Era como "pisar em ovos", qualquer palavra que não fosse dita com cuidado poderia resultar em outra discussão, e nenhum dos dois queria isso.
- Será que eu posso saber pra onde estamos indo? - pergunta Inês.
- Vamos a um lugar pra conversarmos melhor e que não possa aparecer ninguém pra nos interromper. - disse Victoriano.
- E por que não vamos pra fazenda? - pergunta Inês.
- Se eu quisesse conversar com você na fazenda, eu não teria ido te buscar, não é?... Esperaria você lá - disse Victoriano.
- Não precisa ser grosso. - disse Inês, que depois disso, fiicou ainda mais calada.
Eles vão rodando até que Victoriano pára.
- Chegamos. - disse ele.
- Chegamos onde? - pergunta ela.
- Desça e vai descobrir. - disse ele.
Quando Inês desce do carro, dá de cara com um lindo chalé.
- Nossa!... Que lugar bonito. - disse ela com um sorriso que estremeceu Victoriano.
- Você gostou?... Luiza também adorava esse lugar. - disse ele. - Por isso mandei construir esse chalé
- Ela deve ter adordo. - disse Inês.
- Ela não chegou a vê-lo ficar pronto. - disse Victoriano com tristeza.
- Sinto muito. - disse Inês.
- Você, Inês, é primeira pessoa que trago aqui. - disse ele fitando-a.
- Pra mim, é uma honra. - disse ela sorrindo.
- Vem. Vamos entrar. - disse ele.
Eles entram.
- Quer alguma coisa?... Um café, um suco... - disse Victoriano.
- Quero saber o motivo de estarmos aqui. - disse Inês indo direto ao assunto. - Se você nos trouxe pra cá, é porque, seja lá o que for que você quer me contar, não quer que ninguém na fazenda saiba, não é?
- Você está na profissão errada, morenita. - disse Victoriano. - Deveria ser detetive, você leva jeito. - ele sorri.
Inês tentou disfarçar um sorriso também.
- Sente-se, por favor, Inês. - disse Victoriano.
Inês se senta perto dele.
- Antes de mais nada, - diz ele segurando na mão dela. - Quero que me desculpe, por ter sido grosso com você, quando vinhamos pra cá. É que eu não queria perder a coragem.
- Está tudo bem, Victoriano. Mas por que você não queria perder a coragem? O que está acontecendo?... Eu sei que algo te aflige, cowboy. Me conta, por favor. - disse ela colocando sua outra mão sobre a dele.
- Está bem... Eu vou te contar um segredo que vive me atormentando há muito tempo. Um pouco mais de quinze anos pra ser preciso. Como você mesma já deve ter desconfiado, esse segredo tem a ver comigo, com Luiza e com Loreto.
Inês ouvia tudo com muita atenção.
- Loreto e eu éramos amigos. Inseparáveis pra ser sincero. Apesar de termos pensamentos diferentes, isso nunca afetou nossa amizade, e pensávamos que nada o faria. Até que Luiza apareceu em nossas vidas. Ela era tão linda, tão amável!...
- Que você se apaixonou à primeira vista, não foi? - disse Inês sorrindo.
- É verdade. - disse Victoriano com um leve sorriso, que em seguida se desfez. - Mas pra minha infelicidade, Loreto também se interessou por Luiza. E como "desgraça pouca é bobagem", ela preferiu o Loreto.
- Ela não te escolheu?! -- disse Inês surpreendida.
- Não. Por mim, ela só sentia uma grande amizade. E eu me contentava com isso. O que me inressava era a felicidade da Luiza, mesmo que não fosse comigo. - disse Victoriano.
- É um gesto muito bonito. Uma grande prova de amor. disse Inês. - Mas vocês se casaram, Victoriano. O que houve? - pergunta Inês.
- Houve uma noite. - disse ele. - Uma noite que marcou a vida de todos nós pra sempre.