Ainda estávamos todos na minha casa, brincamos de vários jogos de tabuleiros, vimos alguns filmes e nos entupimos de pizza e brigadeiro de panela do Bernardo. À hora estava voando, mas ninguém estava percebendo, eu estava tão feliz. Era quase meu melhor aniversário, só faltava Anna para completar, pensar nela me faz sentir saudade. Eu estava sentada na poltrona, enquanto estava brincando de UNO pela décima vez, eu pego no meu colar e olho a foto dentro mais uma vez, ouço a porta abrir e vou até e finalmente eram meus pais.
— Até que enfim, demoraram... Cadê a pessoa? – Todos ficaram em silencio de repente e eles começam a sorrir e chorar — Que foi gente? – Vou até eles e os abraços
— Angelina! – Vincent me chama e vou até ele
— Que é? – Pergunto.
— Fica aqui na sala rapidinho – Ele pede e meus pais confirmam com a cabeça.
Ele me coloca sentada na poltrona e todos se levantam e ficam em silencio, eles parecia cúmplices de algo, algo bom, espero. Vejo Amanda limpar uma lágrima e Bernardo também. Todos pareciam emocionados ao me olhar e eu estava começando a ficar nervosa. Eu estava com vontade de chorar antes mesmo de saber do que se tratava, eu estava começando a ficar feliz sem motivo, nervosa sem motivo. Como se meu corpo soubesse de algo que minha mente ainda não sabe. Insano né?
— Filha? – Tento me levanta, mas Bernardo faz-me sentar novamente. — Fique sentada, queremos dizer umas coisas – Meu pai diz e se aproxima de mim.
— Pode dizer pai.
— Nós te amamos demais, eu sua mãe e todos esses seus amigos maravilhosos que sabem guardar segredos. Espero que não fique brava, queríamos contar no momento certo e que fosse algo que você jamais fosse esquecer. Quero que esse momento e tudo que aconteceu hoje fiquem gravados na sua memória como uma tatuagem, algo só seu, e quero que você seja feliz com essa memória, eu você e sua mãe sonharam tanto com isso, mas jamais imaginamos que seria possível algo assim, que um dia íamos ter essa benção, que Deus nos atenderia. – Ele estava com lágrimas nos olhos, meu pai abaixa baixa a cabeça e suspiro eu coloco minha mão no seu queixo e faço ele me olhar e em seguida limpo suas lágrimas.
— Pai, o que está acontecendo?
— É melhor você ver! Querida, trás ela! – Meu pai se vira e minha mãe aparece e logo em seguida chama alguém.
A menina está com a cabeça baixa, mas eu a reconheço. Era Anna, eu estava sonhando de novo? Era uma miragem? Eu mal conseguia me colocar de pé, meu rosto estava quente, mas eu estava completamente pálida e minhas mãos estavam gelando, minha respiração estava pesada, levantei-me com ajuda, eu não sei quem foi, pois eu não conseguia prestar atenção em nada além da bela menina com cabelos castanha à minha frente, minha irmã. Não consigo conter tanta emoção e paro no meio do caminho, eu não consigo me mover, minhas pernas estão trêmulas demais para isso e meu corpo estava mole. Senti como se tudo estivesse girando e eu fosse desmaiar, mas me segurei e me mantive lúcida e acordada, eu podia ouvir gemidos e alguns choros, mas eu só conseguia fitar minha irmã que estava com os olhos marejados e um pouco amedrontados. Eu queria tocá-la, mas tinha medo de não conseguir senti-la e perceber que isso é apenas um sonho.
Lembro-me de que nos sonhos pessoas tem mais dedos do que o normal então levanta meus dedos e começo a contar. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito... Nove... Dez. Não era um sonho estava tudo no lugar, isso era real, eu estava soluçando de tanto chorar. Cheguei mais perto dela e ela fitou-me, agora com doçura no olhar, ela estendeu sua mão para mim e eu a toquei. Era verdadeiramente real, ela estava aqui eu estou aqui. Eu não podia pensar em algo melhor que isso, mas algumas dúvidas vieram na minha cabeça. Como? Por quê? Ela ficou tantos meses assim viva e sozinha? Como a encontraram? Minha cabeça estava explodindo com tantas perguntas, mas eu só queria abraçá-la;
Pulei em seu pescoço e ela logo retribuiu o abraço, fechei meus olhos e deixei as lágrimas rolarem mais do que antes, sinto alguém nos abraçar por trás e sei que são meus pais. Eles nos aconchegam mais ainda e ficamos abraçados por vários minutos chorando feita criança. Eu não ligo para mais nada, além disso, dessa realidade absurdamente maravilhosa. Tenho meu anjo de volta, minha irmã.
— Eu queria me lembrar de vocês, mas eu me sinto segura aqui, de alguma forma eu sinto que sou sangue do sangue de vocês – A voz dela ressoa pelos meus ouvidos e eu não ligo para o que ela diz, apenas aprecio sua voz suave que eu tanto senti falta.
— Acho melhor irmos embora – Ouço a voz de Vincent e nos desprendemos do abraço.
Aproximo-me dele e o abraço, ele sorri e me dá um beijo na testa, Amanda abre a porta e todos saem logo em seguida.
— Eu não estou acreditando nisso, isso é real mesmo? – Pergunto para meus pais.
— É sim meu amor, sua irmã, nossa Anna está de volta – Minha mãe responde sorrindo e eu a abraço mais uma vez. — Só que ela perdeu a memória.
— Como? – Pergunto, meus pais gesticulam para nos sentarmos e assim o faço, sento ao lado de Anna e Bernardo que estava com o rosto tão inchado quanto eu. Meus pais sentam-se a nossa frente e entrelaçam as mãos.
— E-eu... Posso contar? – Anna pede, com a voz tímida.
— Claro meu amor – Meu pai diz e ela nos encara.
— Eu me lembro que eu tinha ido tirar o lixo fora, então... uma mão veio por trás, senti um cheiro forte e apaguei – ela estava segurando as lágrimas dela, e eu as minhas — quando eu acordei, eu estava vendada, então não vi mais nada antes do Bernardo e seus amigos me ajudarem. Eu só ouvi a voz dela... os gritos... as coisas...
— Ela? – Questionei. — Então foi... uma mulher, mas... por qual motivo? E o carro?
— Lembra que não tinha corpo querida? Apenas achamos a carta da Anna. E depois isso aconteceu.
— Sim, mas... É tão confuso, mãe.
— A carta é real. Eu escrevi aquilo. – Todos a olhamos ao mesmo tempo. — Eu sei porque, assim que eu recobrei a consciência ela me disse "você queria se matar Anna, eu fiz isso por você, agora você não existe mais".
— Então... Ela estava te vigiando. Mas ela quem? Quem é ela? – Olhei para Bernardo num impulso, ele parecia saber de algo. — O que vocês estão me escondendo?
— A gente acha que a Isabel está envolvida. – Meu pai disse, quase não acreditando nas próprias palavras.
— Como é que é? – Subi meu tom de voz. — Como assim? Me expliquem direito.
— Angelina, a Isabel... A família dela é dona do galpão, ela estava lá no dia que encontramos a Anna, a Amanda, Rafael e eu a seguimos até lá, ela ficou um tempo lá e depois encontrou a gente do lado de fora, fomos embora, mas depois voltamos e achamos ela.
Toda história me deixa tonta, é muita informação para mim, mas creio que para ela é ainda mais. Ela perdeu a memória, vejo que ela está nervosa e segura em sua mão, Anna sorri para mim e eu sinto meu coração ficar calmo eu poder senti-la de novo.
— E porque ela perdeu a memória? – Arguo.
— Nós a levamos ao medico e eles disseram que é psicológico, ela esta traumatizada com tudo e quando ela estiver pronta ela vai lembrar, é temporário. Tudo que ela precisa é do apoio da família e amigos. – Meu pai elucida.
— E talvez um golpe na cabeça – Ela diz tímida, mas nos faz rir.
— É melhor vocês irem dormir, já está tarde, hoje foram muitas emoções. – Minha mãe diz e meu pai consente com a cabeça.
— Como vocês podem pensar em dormir? Onde a Isabel está? O que aconteceu com ela? Ela com certeza já percebeu que minha irmã não está mais lá.
— Querida, ela está desaparecida, amanhã é um novo dia, vocês precisam descansar. – Minha mãe fomenta.
— Eu não vou conseguir dormir – Bernardo diz.
— Nem eu – Concordo com ele.
— Mas podem tentar. – Minha mãe nos olha e confirmamos — A polícia já está investigando e Isabel não vai conseguir fugir do país. Não se preocupe, eles sabem que ela é a maior suspeita, tiveram três testemunhas que a viram lá. – Isso não me acalma muito, mas eu não falei mais nada. — Angelina mostre o quarto da Anna pra ela.
— Está bem.
Ainda de mãos dadas subimos até seu quarto, sento-me na cama dela e ela fica olhando ao redor do quarto de pé. Ela meche nas coisas dela e fica observando algumas fotos nossa que havia em uma gaveta. Ela vê um pequeno enfeite com cristais pequenos e artificiais pendurado na sua escrivaninha e a balança fazendo uma sintonia. Eu a observava como algo precioso, e ela era. Eu ainda acho que estou sonhando acordada, Deus foi tão bondoso conosco, ainda me sinto perdida e feliz ao mesmo tempo, minhas pernas ainda não firmes e meus olhos ainda estão marejados.
— E-eu... – Ela para virada para um quadro com uma foto nossa — São muitas coisas que eu ainda tenho que lembrar, acha que não vou conseguir dormir aqui sozinha. – Ela sorri fraco e me olha.
— Se quiser... Eu fico com você – Eu me ofereço, nós fazíamos isso as vezes.
Esse sentimento é coisa mais maravilhosa que existe tê-la de volta é maior presente que Deus poderia me dar, nenhum dinheiro ou sentimento se compara a isso, ao amor que sinto pela minha irmã ou por Deus. É algo que não consigo descrever. Agora me sinto ainda mais endividada com Deus, Ele merece tudo que eu tenho todo meu ser, tudo o que sou pertence a Ele. Isso é tão arrebatador, algo insano assim só aconteceu nos meus sonhos. Anna viva! Eu terei que repetir isso algumas vezes para me convencer que é real. Que eu não estou ficando louca. Esse com certeza são o melhor aniversário da minha vida.
Um dia eu contarei isso aos meus filhos... E netos, algo emocionante e surpreendente, que eu vivi e senti e vou contá-los que devem sempre ser gratos a Deus por ter trazido Anna de volta para a família porque ela é uma peça essencial entre nós.
Sinto a cama mexer e acordo dos meus pensamentos, Anna se deita virada para mim e eu me ajeito e viro-me para ela.
— Eu ainda não acredito que você está comigo outra vez, eu te amo tanto Anna – Eu digo sem esperar uma resposta, ela apenas sorri e fecha os olhos então faço o mesmo.
[...]
Abro meus olhos que estão um pouco embaçados, sinto uma dor de cabeça forte e sento-me rapidamente na cama, olho para o lado e não encontro Anna e um desespero tomam conta de mim. Eu não sei o que pensar. Será que foi só mais um sonho? Saio do quarto, desesperada, e procuro-a na parte de cima da casa e depois desço correndo, vou até a sala de jantar e vejo todos reunidos. Então não era um sonho.
— Eu pensei que... – Quase me jogo na cadeira ao lado de Anna e passo a mão na testa e respiro fundo.
— Eu não consegui dormir mais e desci e a senhora... – Minha mãe a fita um pouco triste, mas parece compreender — A nossa mãe... Já estava preparando o café então ajudei. Tentei ajudar. – Ela parece querer dizer algo mais, então apenas esperamos. — Desculpa não me lembrar de vocês.
— Não tem problema Anna – Bernardo diz e seus olhos brilham.
Fizemos uma oração e tomamos nosso café tranquilamente, em família, como antigamente. Eu estava tão feliz e eufórica, mas por algum motivo ainda sentia falta de algo, eu sabia o que era, mas não era hora de pensar nisso. Seria egoísmo demais da minha parte, eu só queria estar com minha família agora e aproveitar esse momento desejando ardentemente que ele jamais acabe.
Continua....
"O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade". Provérbios 17:17
Nota da autora.
E mais um para vocês, espero que gostem, e me digam nos comentários o que acharam desse reencontro maravilhoso??? o que vocês acham que vai acontecer com a Isabel e com a Anna... E Bernadanna? Será que vai ter esse casal? apesar de que esse Bernardo já está enrolado até o pescoço com as nossas lindinhas Vicky e Elisa haha. Bjuus
Até a próxima... ♥