Inês e Macarena conversavam.
- Mas isso que você está me oferecendo não são férias, Macarena. Eu continuaria trabalhando, só que em outro lugar. - disse Inês.
- Sim, eu sei. Mas são quase umas férias, sabe por quê? - disse Macarena.
- Não. Mas tenho certeza que você vai me dizer. - disse Inês com um leve sorriso.
- Por ser uma cidade pequena, o trabalho é pouco. E você vai ter chance de desopilar, longe daqui. Aqui todo mundo te conhece, conhece o Henrique, querendo ou não vão estar, de vez em quando, perguntando o que aconteceu, e você não quer mais falar no assunto, não é?
- Não. Realmente, me dói muito lembrar do que houve. - disse Inês com certa tristeza.
- Pois é. Tá aí a sua chance.... Olha, não é por muito tempo, é coisa de uns seis meses.
- Seis meses?! Macarena, eu não posso me ausentar da clínica tanto tempo! - disse Inês.
- Não se preocupe. Eu cuido de tudo até você voltar. Por acaso não confia em mim?
- Sabe, muito bem, que não se trata disso, Macarena. Você é a pessoa em que mais confio no mundo. É que... Eu não sei.
- Vamos, Inesita. Só pense a respeito, tá bom?... Afinal, eu só preciso dar a resposta no final da semana.
- Está bem. - concordou Inês. - Eu vou pensar, e até lá, te dou a resposta.
***
Mais tarde, Inês estava saindo para almoçar, quando encontra Henrique a esperando do lado de fora.
- Inês. - disse ele.
- O que você quer? - ela pergunta secamente.
- Precisamos conversar. - disse Henrique.
- Não temos nada pra conversar. Eu disse que o meu advogado procuraria por você, não foi?
- Sim. E é exatamente sobre isso que precisamos conversar. Ele me procurou. Disse que você já deu entrada nos papéis do divórcio.
- Sim. Qual é a sua dúvida? - pergunta Inês sem realmente se importar.
- Vai mesmo insistir nessa história de divórcio?
- Como assim?... Mas é claro que eu vou! - disse Inês. - O que você pensa?! Que isso foi uma briguinha à toa?! Que, a qualquer momento, vamos voltar e fingir que nada aconteceu?!
- Inês...
- Henrique, deixa eu expor a situação pra você mais uma vez: VOCÊ ME TRAIU!... Da forma mais covarde, infame e grotesca! - exclamou Inês.
- Mas eu estou arrependido! - disse Henrique. - Não faz ideia do quanto me sinto culpado por tudo o que houve.
- O seu arrependimento não me serve de nada!... E quer saber mais? Por mim, você pode nadar num mar de culpa até se afogar! Eu não tô nem aí!... Agora, se me der licença, eu vou almoçar.
- Eu posso te acompanhar? - pergunta Henrique.
- Não. Não pode. Não quero perder o meu apetite. - disse Inês.
Se Henrique estava mesmo arrependido ou não, Inês não queria saber. Uma coisa que ela lhe havia dito na época que iniciaram o seu relacionamento, era que ela poderia perdoar qualquer coisa, menos ser enganada. Isso jamais!
Mas Henrique era insistente, ele a procurava no trabalho, em casa, em outros ambientes em que tinham amigos em comum... E sempre com a mesma conversa: "Eu te amo. Estou arrependido. Quero voltar.".
Aquilo já estava tirando Inês do sério. Foi então que ela decidiu...
- Macarena? - disse ela entrando na clínica.
- Sim, Inês?
- Não aguento mais o Henrique no meu pé, pedindo pra que voltemos!... Quer saber? Pode confirmar aquela história das "férias"! Eu aceito!
- Sério, amiga?! - disse Macarena toda contente. - Vou ligar pra minha tia agora mesmo. Você pode ficar na pensão dela.
- Mas eu não quero incomodar a sua tia, Macarena. Eu posso ir pra um hotel. - disse Inês.
- De maneira alguma! Se eu for com uma conversa dessa pra minha tia, ela vai ficar super ofendida! Você não a conhece!
***
Tudo foi combinado. E, finalmente, chegara o dia de Inês viajar.
- Tem certeza que está tudo certo com sua tia Rosa, não é, Macarena? - pergunta Inês.
- Tudo certíssimo, Inesita! Você chega na cidade e pergunta onde fica a pensão da dona Rosa. Todo mundo a conhece por lá! - disse Macarena.
- Tudo bem... Preciso que me faça um favor. - disse Inês.
- O que quiser, amiga.
- Só você sabe pra onde estou indo, e por motivo algum eu quero que o Henrique saiba disso!
- Que é isso, amiga! Acha que eu vou contar pro Henrique?! Ficou louca?! - exclamou Macarena.
- Por mais cara de coitado que ele faça, não conte nada a ele!
- Nem se preocupe com isso. Agora é melhor você ir.
E Inês pega a estrada. No início, ela estava até empolgada com a possibilidade de trabalhar em um lugar novo.
- Vai ser uma experiência interessante! Vou aprender coisas novas, conhecer gente nova!... É. Vai ser legal! - disse Inês enquanto dirigia.
***
Um pouco mais tarde, a empolgação já não estava assim tão aparente. Principalmente, porque caia um verdadeiro temporal.
- Mas onde é que eu estava com a cabeça quando aceitei que Macarena me botasse numa dessa!... Povoado de El Paso! Onde fica esse lugar, afinal, meu Deus?! - exclamava Inês.
Essa é uma daquelas situações onde você pensa que nada mais de ruim pode acontecer. Porém, acontece. No caso de Inês, o carro começa a falhar.
- Ah, não!... Não! Não! Não!... Vamos rapaz, não faça isso comigo!
Os apelos não serviram. O carro morre no meio da estrada. Inês sai para ver se consegue ajuda. De repente, ela vê uma caminhonete se aproximando, ela começa a dar sinal pedindo ajuda.
- Tem uma mulher precisando de ajuda, senhor. Não deveriamos parar? - perguntou o empregado.
- Não temos tempo pra isso! - disse o homem. - E eu não vou ficar todo ensopado só porque uma mulher foi se meter em dirigir! Toque esse carro Benito!
O empregado até que queria parar e ajudar, mas ele estava cumprindo ordens então não tinha o que fazer. Porém, tentando desviar de um buraco ele acaba por dar um banho de lama em Inês.
- Seu infeliz! Quem você pensa que é?! - ela esbraveja enquanto a caminhote se afasta.
Perdida, com o carro enguiçado, e toda suja de lama. Inês levantou a cabeça e olhou para o céu como se pedisse uma ajuda divina.
- O que é que a "Dona" tanto olha pra cima? - perguntou um senhor já de certa idade que dirigia um trator.
- Oh!... Olá! - surpreende-se Inês.
- O que a "Dona" faz aqui parada num temporal desse? - pergunta o senhor.
- Meu carro enguiçou. Será que o senhor pode me ajudar? - ela pergunta.
- Pra onde a "Dona" vai?
- Para El Paso. - ela responde.
- Ah, mas a senhora tá com muita sorte! Está bem perto! - disse ele sorrindo.
- Sério?!... Mas como vou chegar até lá com o carro assim?
- Ah, isso é vai ser moleza, "Dona"!
O senhor pegou uma corda amarrou no carro de Inês e o rebocou até a cidade.
***
Rosa cuidava de seus afazeres, quando escuta o barulho do trator na frente de sua pensão. Ela pega o guarda-chuva e vai ver do que se trata.
- Jacinto! Você não tem um pingo de juízo, não é?!... Andar com esse trator por aí, num tempo desse! - disse Rosa. - E ainda mais rebocando um carro!
- Ora, Rosa! Se eu não faço isso como é que eu ia trazer a moça?! - disse Jacinto.
- Por favor, não brigue com ele. - disse Inês. - Ele só estava me ajudando.
- Minha Nossa!... - surpreende-se Rosa ao ver Inês toda suja de lama. - Quem é a senhora?
- Me chamo Inês Huerta. Sou a nova veterinária da cidade.
- Você é a amiga da Macarena? A outra doutora que ela falou?
- Sim, senhora. Sei que não parece por causa dessa lama toda... - disse Inês sorrindo. - ... Mas sou eu sim.
Finalmente, Inês chegara à El Paso. O que o destino estaria lhe reservando, agora que estava naquela cidade?