Era a primeira semana naquele inferno e, sim, eu já estava com vontade de matar alguém. Mais particularmente a pessoa que colocou esse despertador alto perto de mim, que obviamente era a Amanda, pois eu jamais faria isso.
—Acorda! Vamos nos atrasar – Ouvi a voz da Amanda ecoar nos meus tímpanos.
—Se você não desligar esse despertador eu quebro ele na sua cabeça - Vociferei.
—Se a inspetora ver você aqui vai ficar de castigo, só estou tentando te ajudar.
— Eu não quero sua ajuda. Saí fora! – Jogo uma almofada que estava ao meu lado nela.
— Está bem – Sinto a almofada nas minhas costas novamente.
Ela não disse nem mais uma palavra, obviamente magoada por minhas palavras. Será que ela não entende que não quero aproximação com ela? Depois que ouvi a porta bater, bem forte por sinal, me revirei um pouco e enfim me levantei para me arrumar. Eu não ia deixar ninguém mandar em mim assim.
Fui para o banheiro e fiz a minha higiene, vesti o uniforme e peguei o material necessário para as aulas de hoje. Pelo que fiquei sabendo – algo que prestei atenção durante a longa visita com o diretor ao colégio – no primeiro dia teriam algumas aulas apenas pela manhã e na parte da tarde uma apresentação de balé clássico. Obvio que eu pretendo fugir da segunda parte do dia e colocar em prática minha missão de procurar pelo mau caráter.
Saio do quarto em direção ao refeitório. Fiquei um pouco confusa sobre a direção dos corredores, mas logo me situei. Fui andando devagar pelos corredores e observando bem o quão grande esse colégio era. Criado para abrigar alunos, realmente. Com o preço que meu disse pagar, o diretor não fez mais que a obrigação cuidando das instalações tão bem.
— Oi – Uma voz fina e animada soou por trás de mim, então me virei. — Você é a Angelina, novata, não é? – Apenas balancei a cabeça concordando. — Somos as "guias" oficiais do colégio, podemos ajudar se quiser.
— Podemos? – A loira ao seu lado bufou, cruzando os braços.
— Claro que sim! Fazemos o que nos mandam. – Rosnou a menina que tinha iniciado a conversa, dei de costas, mas antes de poder voltar ao meu caminho ela me virou de volta para ela. — É falta de educação deixar as pessoas falando sozinhas.
— Ela claramente não quer nossa ajuda Paola – A menina ao seu lado a puxou.
— Você é muito sagaz – Pisco para ela.
— Não vai chegar ao refeitório nunca. – Ela cruzou os braços enquanto sorriu de leve.
— Não me importo – Dou de costas.
— Boa sorte tentando achar a comida! – Gritou, enquanto eu me afastava.
Como se eu fosse me virar e implorar por algo. Patético.
Demorei um pouco, mas achei o refeitório. Assim que entrei os olhares me encontraram. Mas logo se dispersaram quando a Barbie entrou logo atrás de mim, fui logo pegar algo para comer e sentei sozinha em uma mesa qualquer. Coloquei meus fones de ouvido e comi meu café, sossegada. Mesmo sentindo que alguns estavam falando de mim, eu fiquei como se não estivesse vendo.
— Porque está comendo sozinha? – Ouvi uma voz baixa, por conta do som alto no meu ouvido, e então ele se sentou ao meu lado.
Olhei-o mortalmente, mas ele não se tocou, apenas continuou falando algo que não prestei atenção.
— Hein? – Ele tirou um dos meus fones.
— Não encosta – Rosnei.
—É de vidro? Não posso encostar agora? – Ele me olhou, sem hesitar um segundo.
— Procura teu rumo e me deixa em paz – Bufei.
— Hum... – Ele riu.
— O que é? – Indaguei, pouco interessada.
— Você está cheia de graça, mas aposto que é fácil que nem a sua irmã... – Olhei-o bem. — O que foi? Acha que ninguém aqui sabe que você é a irmã da Anna Forbes? – Tirei meus fones enquanto ele ria alto.
— O que você está falando dela? Seu babaca! – Levantei-me e ele fez o mesmo, erguendo as mãos em inocência.
— Olha só... toquei no ponto fraco. Você tem que saber... Sua irmã era assim também, fechada no início, mas depois... Abriu o coração... E as pernas. – Ele pegou no meu rosto.
— Tira seu bafo de álcool de perto de mim – Empurrei a mão dele para longe.
Ouvi os gritinhos das pessoas em volta. Já torcendo para ver uma briga. Acho que isso não muda em nenhum colégio. Todos gostam de uma boa briga.
— Quem mandou se meter com a irmã do diretor? – Sussurrou para mim.
— Eu vou acabar com você – Olhei para ela, que ria sem parar. — Você não sabe com quem mexeu. – Ela levantou e se aproximou de mim.
— O que você vai fazer coisa horrorosa? Vai me bater? Tenta. – Eu me aproximei ainda mais dela, mas uma mão me segurou. Amanda.
— Para com isso! – Ela retalhou.
— Isso mesmo. Para com isso. Se coloca no seu lugar – Ela cruzou os braços.
— O que está acontecendo aqui? – A mulher com um uniforme entrou no meio de nós duas e nos afastamos. — Espero que a senhorita não estava brigando. – Virou-se para mim.
— Eu? Brigando? Claro que não. Mas se fosse o caso, acho que precisaria de duas pessoas... – Disse e ela desviou o olhar. — Porque está apenas falando comigo?
— Porque eu já conheço a senhorita Elise e você é uma aluna nova. Se coloque no seu lugar. Agora todo mundo para a sala de aula agora! Andem! – Ela mandou e todos suspiraram enfadados e começaram a reclamar.
Saí do refeitório e fui em direção ao meu armário pegar meu material. Amanda e sua trupe vieram atrás de mim. Ela não desiste nunca.
— O que foi aquilo, sua louca? – Ela pega no meu ombro, mas eu tiro sua mão dele.
— Amanda – Suspiro. — Me deixa em paz! – Bato meu armário.
— Você devia escutar a Amanda. – Outra menina, que eu não conhecia começou a falar. — Sério. A Elise é encrenca e pode fazer você se dar muito mal.
— Eu não estou nem aí para ela e não tenho medo que nem vocês. Se ela é encrenca, eu sou o diabo em forma de pessoa. – Fui em direção a sala de aula, mas mais uma vez meu braço foi agarrado e parei de andar.
Fechei meus olhos, tentando ter forças para não bater em nenhuma delas.
— Eu sei que parece que você é melhor que ela agora, mas nos escuta. Ela vai acabar com você. Ela já fez duas garotas serem expulsas e as outras andam com ela agora. – Amanda disse. —A Kathy mesmo quase foi expulsa por causa dela. A Paola já foi suspensa e ela é bolsista.
— O negócio é que eu sou pior do que vocês pensam. Eu estou muito motivada e não me importo nenhum pouco com suspensão ou brigas com essa Barbie humana. Eu sou melhor que ela – Sorrio de canto. — Vocês é que precisam parar de ser medrosas. Ela não é nada mais do que uma garotinha mimada pelo irmão. Agora me dá licença, se alguma de vocês me segurar de novo eu vou mostrar meu pior lado. – Rosnei e finalmente consegui entrar na sala de aula.
O professor estava sentado e me olhou um pouco demais. Ele parecia ser mais uma marionete desse colégio. Todos aqui parecem estar hipnotizados por essa garota e seu irmão, é impressionante.
O que eles fizeram com a minha irmã? Cada vez eu tenho mais ódio.
Infelizmente o garoto de mais cedo foi posto ao meu lado na divisão de carteiras e Amanda atrás de mim. Eu não estava acreditando que tanto azar pode cair sobre apenas uma pessoa.
Pelo menos era aula de História e, apesar da cara, ele era um bom professor. Claro que não era o melhor, mas eu consegui prestar atenção até ele ter que sair para conversar com o diretor sobre algo.
— Ei! – Eu estava cansada, mas mesmo assim olhei em direção a voz que me chamava. — Você é nova aqui, mas já está fazendo sucesso. Mal entrou e já está tão falada, parabéns.
— Em compensação eu não sei quem é você – Retruquei e ele riu.
— Meu nome é Leonard. – Ele estendeu a mão, mas eu apenas virei para frente. — Você é irmã da Anna, né? – Perguntou, mas eu continuei sem olhá-lo. — Como ela está?
Sua pergunta me interessou. Isso queria dizer que ele tinha alguma ligação com ela, assim como Amanda. Olhei para ele, sua expressão tinha mudado assim como seu olhar.
— Está longe. Bem longe. – O professor entra na sala, tirando nossa atenção.
Enquanto ele voltava a explicar a matéria, comecei a desenhar no caderno. Primeiro dia e eu já não tinha mais saco para nada. Eu queria mesmo é que essas aulas acabassem e eu pudesse voltar para cama, me afundar no meu travesseiro e esquecer que estou aqui.
Senti o olhar de Leonard em cima de mim. Minhas orelhas esquentaram, mas não disse nada. Apenas continuei desenhando algo que nem eu sabia o que viria a ser. A aula acabou e outra começou, fiquei completamente encantada com a professora de Biologia, ela era insana e então consegui tirar toda essa coisa de colégio novo da minha cabeça.
Fomos ao laboratório e, graças aos céus, eu sobrei nas duplas e pude fazer sozinha o experimento. Eu realmente não queria ser forçada a fazer coisas com pessoas. Se bem que, ficar ao lado de Leonard agora seria proveitoso. Eu realmente estou interessada em saber qual era a relação dele com a minha irmã.
—Angelina, acho que você está muito solitária. – A professora tira minha atenção do microscópio. — Escolha alguém para fazer dupla. Agora!
— Eu não quero. – Digo.
— Eu não perguntei se queria, eu mandei escolher alguém. – Retrucou e todos sussurraram com risadas.
— Eu faço dupla com ela, prof. – Leo se dispôs e então veio em minha direção.
— Não quero gracinhas Leo. – Ela apertou os olhos, desconfiada.
— Professora, eu sou um anjo disfarçado. – Ele faz uma expressão angelical.
—Então turma... – Ela se vira e continua com sua aula.
— Então, qual é a sua? – Perguntou ele, com seus olhos castanho escuro em cima de mim. — É daquelas que fingem ser o que não são? – Sorriu.
— Você não me conhece. – Cruzo os braços e olho pela grande janela de vidro ao meu lado.
—Nem preciso. – Ele disse.
— Mas então... Como conheceu minha irmã? – Entrei no assunto, mesmo sem ter deixa para isso.
Ele me olhou, um pouco desconfiado, mas depois sorriu.
—Ah, Anna. Um amigo meu, ela e eu eramos amigos.
— Amigo? Que amigo? – Pergunto.
— Aquele ali com a Kathy – Ela aponta para ele, mas mal consigo vê-lo, pois estava olhando no microscópio, mesmo quando tira seus olhos dele, não consigo ver muito bem, pois a professora andava na minha frente sempre. — O nome dele é Vincent. Mas ainda não me disse como sua irmã está, apenas disse que ela está longe. Ela se mudou? Intercambio?
— Não. – Encostei na cadeira, sentindo um nó se formar.
— Então o que?
— A irmã dela morreu. – Elise elevou a voz. Eu já reconhecia a voz dela.
Todos pararam de falar naquele momento.
— Anna Forbes. Dezesseis anos, cheia de vida. Morreu. – Ela ironizou e eu apenas respirei fundo.
Bem fundo.
Continua...
" É melhor ter companhia do que estar sozinho,
porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas.Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se.Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se! " Eclesiastes 4:9-10
Hey fofas, espero que tenham gostado do capitulo apesar dele estar bem curtinho, espero mesmo que gostem fiz com todo amor ♡ Até a próxima ♡
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