Sweet Child O'Mine (Rose e Sc...

By JssicaAlmeida6

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Rose Weasley e Scorpius Malfoy seguiam por caminhos separados desde o final do sétimo ano, quando Malfoy term... More

Prólogo
I - Slipped Away
II - Nobody's Home
III - What Now
IV - Clarity
V- Stop Crying Your Heart Out
VI - Demons
VII - I Miss You
VIII - Pais e Filhos
IX - Dark Paradise
X - Esta Soledad
XI - Memories
XII - How Long Will I Love You
XIII - The Scientist
XIV - Small Bump
XV - Read All About It
XVI - Save Me
XVII - Hearts On Fire
XVIII - Solo Tu
Bônus - Whats Goes Around
XX - When You Look Me In The Eyes
XXI - Dare You To Move
XXII - Time Like These
XXIII - Sweet Child O'Mine

XIX - Xo

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By JssicaAlmeida6


– Eu tô enjoada, mamãe. – Summer disse, fazendo com que Rose se abaixasse para visualizar a expressão esverdeada da menina.

– Já vai passar, amor. É só o efeito da aparatação. Nós sumimos de um lugar, e aparecemos em outro, viu?

Ainda com a mão no estômago e um pouco zonza, a garota prestou atenção no que Rose dizia e observou a sua volta. Rose apertou sua mão, tentando lhe trazer confiança.

Aqui é a casa do seu papai, tio Scar? – Summer perguntou, olhando boquiaberta para os terrenos da Mansão Malfoy.

Rose também estava espantada. Muitas vezes, durante a adolescência, sonhou com o momento glorioso em que estaria de frente para aquela mansão, de mãos dadas com Scorpius, sendo apresentada como sua namorada. O mundo era realmente engraçado, anos depois, ali estava ela, pronta para ser apresentada não como namorada, mas como a mãe da filha de Scorpius. E vendo uma mansão, quase um castelo, muito maior e majestosa do que seus sonhos de menina jamais conseguiram imaginar.

– É sim. – Ele responde sorrindo, enfiando as mãos nos bolsos das calças. – Você gostou?

Summer ainda tinha os olhos arregalados, olhando, especialmente, para uma das fontes que jorrava metros de água para cima.

– Isso é demais! – Respondeu a menina, afastando-se um pouco dos dois para observar, ainda abismada, a fonte que, de perto, tinha como moradores pequenas criaturas aquáticas coloridas e esquisitas que Sunny jamais tinha visto.

Scorpius desviou os olhos da filha para encarar Rose. Encontrou-a ainda encarando a mansão, que tinha todas as luzes do primeiro andar acesas. Tentou imaginar como a mãe estaria, mas, com toda a sinceridade do mundo, Scorpius não tinha a menor ideia de como Astoria teria reagido a notícia e, muito menos, como ela estaria se sentindo.

– Eu estou com medo. – Rose admitiu tão baixo que Scorpius apenas percebeu porque a observava.

Aproximou-se sorrateiramente, fazendo com que ela olhasse pra ele:

–Onde está a sua coragem, Weasley? – Ela o encarou sem compreender. – Oras, antigamente era preciso mais do que uma reunião da família Malfoy para amedrontar você.

Ela o fuzilou com os olhos, indignada.

– Antigamente, eu não escondi a filha do herdeiro deles por sete anos. – Ela ralhou em voz baixa, cuidando para que Summer não ouvisse. – Não tenho ideia de como vou encarar seus pais. Durante muitos anos, quando estávamos juntos, sonhei com o momento em que nossas famílias ficariam sabendo do nosso namoro, que deixariam uma rixa que começou muito antes de nascermos para trás. Mas agora é diferente, você não está indo me apresentar aos seus pais, nas entrelinhas, você está indo apresentar a Sunny. E eu não tenho ideia de como eles estão lidando com tudo isso.

Scorpius revirou os olhos.

– Vocês, grifinórios, como sempre, preocupados com o que os outros estão pensando. – Ele resmungou. – Vou dizer uma coisa pra você: dane-se o resto. Conte a sua história, e se não for o suficiente para eles, paciência.

Um som alto, de trovão, foi ouvido e Summer veio correndo para perto dos dois, agarrando-se às pernas de Rose, que permanecia estática com a audácia de Scorpius em dizer aquelas coisas pra ela. Scorpius, como sempre, não estava nem aí. Ela precisava daquilo.

Desviando os olhos do céu escurecido pelas nuvens negras que denunciavam a tempestade que chegava, Scorpius sorriu para a menina, oferecendo a mão para que ela segurasse:

– Vamos lá, Sunny, está na hora de você conhecer a tia Astoria e o tio Draco!

**

Aquele quarto parecia uma espécie de cápsula do tempo. Enquanto observava a decoração tipicamente adolescente do quarto do filho – com direito a um pôster encardido do time de quadribol favorito dele e a coleção de mini-vassouras, conservada em um vitral – era muito fácil para Astoria fechar os olhos e imaginar que ainda tinha o filho debaixo das suas asas. Que ele estaria em Hogwarts, onde o maior perigo que corria era durante as aulas de Trato de Criaturas Mágicas, e que, em breve, retornaria para casa para passar as férias. Passariam horas na biblioteca lá debaixo, onde Astoria especularia os mínimos detalhes da vida acadêmica do filho. Ele nunca pareceu desconfortável e, pior que isso, sempre pareceu ser sincero em todas as respostas que lhe dava.

Maldição; ela devia ter se lembrado, na época, que Scorpius era da Sonserina. E não somente isso, era um Malfoy e um Greengrass: estava no seu sangue a arte de mascarar emoções.

Se ela já tinha ouvido falar de Rose Weasley antes? Sim, ela tinha. Aliás, ela se recordava bem das duas advertências que Scorpius recebeu pelas implicâncias e brigas protagonizadas pelos dois. Teve uma época, inclusive, que ela chegou a imaginar que talvez o filho gostasse daquela menina, mas nunca conseguiu provar suas suspeitas e as arquivou, sem jamais voltar a se lembrar disso até então.

Seu filho era pai.

A afirmação atirada ao vento, sem que ela fosse preparada para aquilo a deixou fora de centro. Isso sem contar o fato de que Pansy Parkinson parecia ter ressurgido das cinzas, pronta para infernizar a sua família depois de todos aqueles anos. Enquanto Albus e Harry Potter se encontravam no andar de baixo alertando seu marido e traçando alguma estratégia, ela tinha pedido licença e se retirado. Precisava tentar colocar as ideias no lugar, precisava entender como tudo aquilo tinha acontecido debaixo do seu nariz sem que ela percebesse.

Lembrou-se da colega de trabalho, Hermione. Tinham tido algumas conversas a respeito de Rose e do quanto ela e Ron Weasley se desentendiam desde que a menina tinha engravidado e decidido não contar quem era o pai. Analisando o panorama, Astoria tentava entender que o fardo de carregar um herdeiro Malfoy no ventre, ela sendo uma Weasley – um inimigo natural, por assim dizer. – foi duro demais para Rose. Mas ela apenas tentava, porque não entendia. Nenhuma avó devia ser privada de saber que tem uma neta. E acertaria suas contas com Rose e Scorpius mais tarde por causa disso.

E pensar que ela teve a criança tão perto dias antes, e nem sequer desconfiou. Sentia-se uma idiota porque, lembrando-se bem, os olhos de Summer não deixavam que mentira nenhuma pudesse ser mantida por muito tempo. E o fato de Scorpius ter invadido o quarto da menina sem a sua autorização, dando uma desculpa esfarrapada que nem mesmo na hora colou, não melhorava em nada a sua situação.

Encarou a velha caixa de prata, presente de sua mãe, ao lado da cama do filho. Visto que Dafne lhe virou as costas de vez assim que descobriu que ela foi o pivô do escândalo no casamento da então melhor amiga – então porque Astoria duvidava muito de que mantivessem contato até hoje porque Dafne simplesmente não era boa em manter as pessoas por perto – Ariana, sua mãe, foi a única que ficou ao seu lado; foi o que lhe sobrou de toda a família. E lhe deu aquela caixinha de presente, um ano depois de se casar com Draco.

Uma caixa de segredos. De lembranças. Astoria nunca guardou nada demais ali dentro, mas gostava de imaginar que tinha algo de si que Draco não conhecia. Não foram poucas as brigas que tiveram por ele querer saber o conteúdo da caixinha e ela se negar a mostrar. E então, ela sentiu que chegou a hora de passar adiante o presente. Deu para o filho, aos treze anos e nunca se interessou por saber o que ele guardava ali.

Pelo menos até agora.

Os dedos longos se esticaram e ela se demorou sentindo a textura da prata contra a pele. Depois, lentamente, temerosa do que poderia encontrar, abriu o recipiente. Repleto de quinquilharias e coisas quase sem importância, Astoria quase se convenceu de que aquilo era loucura, de que não deveria estar bisbilhotando a vida do filho daquela maneira. Mas logo, um pedaço de papel dobrado chamou a sua atenção e toda a sua ética e moral escorreu pelo ralo.

Astoria comprimiu os lábios e apanhou o papel, largando a caixa ainda aberta sobre o criado mudo. Percebeu a letra do filho, quase apagada pelo tempo, mas ainda legível o bastante:

"Acho que vou amá-la de domingo a domingo, do amanhecer ao anoitecer, até o final dos tempos. Lamento ter que deixa-la partir para perceber isso. Quem sabe um dia, eu a reencontre. E quando isso acontecer, vou me redimir. Vou fazer o que não fiz. Vou enfrentar o mundo por você. Por nós."

Um espasmo de reconhecimento tomou conta do cérebro de Astoria, mesclando as palavras escritas pelo filho com outras ditas por Mandy, tempos atrás. Pobre mulher, como iria reagir àquilo? Como suportaria o fardo de estar certa?

Desdobrou a fotografia apenas para confirmar do que se tratava; agora, Scorpius e a garota ruiva da foto, sorriam pra ela.

Estava tão absorta em pensamentos, que assustou-se quando uma batida soou na porta e, pelo vão, a cabeça de Draco apareceu:

– Eles estão lá embaixo, acabaram de chegar. – Sentenciou, olhando fixamente para a mulher.

Inconscientemente, ela guardou a fotografia no bolso do vestido que usava.

– Já estou descendo. – Ela respondeu– Só me dê mais alguns minutos.

– Não demore, por favor. – Ele pediu. – E não deixe tudo ainda pior. A situação já é bastante ruim, preciso de você lúcida.

Astoria riu em escárnio:

– Estou tentando, Draco. Mas admito que essa história me deixou a beira da loucura.

**

Os dois pratos jaziam sobre a pequena mesa de Mandy vazios. Ela olhava para o individuo a sua frente dividida entre a vontade de manda-lo para o inferno ou obriga-lo a dizer logo o que tinha pra falar. Mas nenhuma das opções, com sinceridade, lhe parecia agradável. Mandá-lo embora abaixo de gritos significaria tê-lo no seu pé pelo resto dos seus dias; e ouvir as coisas que ele queria dizer não dava nenhuma garantia de que a primeira opção não iria acontecer.

– Até que pra uma médica, a sua comida não é tão ruim assim, Louie. – James comentou, em meio a um sorriso.

Mandy o fuzilou com os olhos em uma nítida aversão ao antigo apelido: Louie vinha de Louise, seu segundo nome. O que a remetia diretamente aos tempos de faculdade, muitos anos antes.

– Não me chame assim, Potter. – Ela retrucou. – Não seja estúpido.

– Bem, desculpe. Achei que você ainda gostasse de ser chamada assim.

Ela olhou para ele incrédula:

– Por que eu gostaria de um apelido que me remete a lembranças constrangedoras, James? – Ela perguntou, deixando as ironias de lado ao chama-lo pelo nome pela primeira vez. – O que é que tem de bom nisso, me responda?

– Bem, era sobre isso que eu queria falar. – Ele respondeu, balançando a cabeça e olhando-a nos olhos. – Eu queria pedir desculpas. Por tudo.

Aquela frase provocou em Mandy um efeito que James jamais esperaria. Ela levantou-se da mesa furiosa, dando-lhe as costas:

– Qual é o problema de vocês homens, afinal de contas?! – Ela gritou. – Vocês acham que as coisas funcionam assim, que é só chegar na minha frente, ensaiar um monte de desculpas bonitas e tudo vai ficar bem? E como eu fico, James? Você sabe quanto tempo eu demorei pra me reerguer depois do que você fez?

– Bem, você me parece muito feliz ao lado do Perfeito Malfoy, se quer saber. – Ele retrucou azedo.

Ela se aproximou dele, fazendo com que o Potter se encolhesse:

– Não que eu lhe deva satisfações, mas não estou mais com Scorpius. Aparentemente, ele também achava que pedidos de desculpas eram o suficiente pra mim para cada vez que ele pisasse na bola.

– Eu tinha dezenove anos! – Ele se ergueu desesperado. – Você não pode continuar me crucificando depois de todos esses anos. Eu era um calouro querendo me enturmar, você precisa entender que...

– Nada justifica aquela porcaria de aposta, Potter. – A lembrança era dolorosa e fazia o seu rosto arder em chamas.

Tudo passou como um filme diante de seus olhos: durante toda a vida até entrar para o curso de curandeira, ela nunca tinha tido um namorado. Tinha beijado alguns rapazes na época de escola, é claro, mas sua educação rígida e a autocritica não lhe permitiram manter um relacionamento maior do que duas semanas antes do fatídico dia em que conheceu James Sirius Potter em um barzinho trouxa, numa sexta-feira a noite.

– Você lançou o seu charme barato pra cima de mim, fez com que eu me apaixonasse por você pra depois me dar um pé na bunda. E tudo isso porque, mesmo? Porque os seus colegas idiotas decidiram que essa seria a sua provinha de aceitação no grupinho idiota deles!

– Eu escolhi uma profissão medíocre à algo grandioso, como ser auror. Nunca quis correr riscos ou ser famoso, sempre quis ser só eu. Mas um curso medíocre me levou à colegas medíocres. Eu não devia ter feito isso, eu realmente sinto muito Mandy. Sinto mesmo.

– Não coloque nos outros a culpa por você ser um idiota. – Ela resmungou. – Você aceitou. Não se esqueça disso.

– Eu não esqueço isso há, pelo menos, oito anos Louie. Mas você sumiu, não apareceu mais nos lugares que frequentávamos e nunca respondeu nenhuma das minhas cartas. E os cartões de desculpas que eu enviei sempre voltaram. Nem mesmo suas colegas me falavam sobre você. Eu tentei de todas as maneiras ver você depois de tudo, mas era como se você tivesse evaporado.

– Ao contrário de você, que não valoriza nem a profissão que escolheu, eu valorizo muito a minha. – Ela respondeu, sentando-se novamente. – Eu tinha escolhido ser curandeira, salvar vidas. Tinha tomado essa decisão desde os sete anos e, desde então, me dedicado pra isso. Mas então você apareceu, me mostrando uma vida que eu não conhecia. Naqueles meses que ficamos juntos, eu me desliguei do meu objetivo e, quando seus amiguinhos revelaram a aposta, eu tomei um banho de realidade. Tinha tomado bomba em dois exames e estava com pilhas e pilhas de trabalhos atrasados pra fazer, além de um coração partido. Você não me encontrou porque eu não quis que você me encontrasse. Eu precisava me dedicar naquilo que realmente era importante pra mim.

James ficou observando a mulher a sua frente por incontáveis minutos. Durante anos, sonhou com aquele reencontro. E durante todas aquelas semanas, desde que tinha deixado o Instituto de Dragões, na Romênia, para aceitar a proposta no St. Mungus, onde pode rever aquela parte do seu passado, tinha ensaiado todas as frases que podia dizer a ela. Mas agora, toda aquela preparação parecia ser inútil. Não havia preparação para verdades dolorosas jogadas ao ventilador:

– E agora? – Ele perguntou, a voz saindo em um fio quase inaudível e rouco, que arrepiou a nuca de Mandy. – Por que continua me evitando?

Ela riu em escárnio.

– Você ainda não entendeu, não é? Você não tem ideia do quanto aquele episodio mudou a minha vida, James. Eu me formei no curso de curandeira com louvor, um tempo depois, mas levei anos pra me recompor da sua brincadeirinha. Levei anos pra sair com alguém de novo e Scorpius foi o primeiro namorado que tive depois de tudo que aturou as minhas inseguranças por mais de dois meses.

Ele ficou em silêncio; daquela vez todas as respostas que tinha na ponta da língua foram engolidas. Aquela aposta nunca saiu da mente de James. Em seu intimo, admitia que tinha aceito a proposta por puro interesse; queria fazer parte do grupo descolado, é claro. E isso teve um preço.

A escolha por Mandy tinha sido aleatória: eles não estudavam no mesmo centro de ensino, mas frequentavam o mesmo barzinho nas sextas à noite. Ele se lembra até hoje de vê-la sentada em uma mesa afastada, colocando o cabelo atrás da orelha sem olhar pra ninguém nos olhos. E a imagem dela aos prantos depois que prazo da aposta se esgotou sempre aparecia para assombrá-lo de vez em quando.

É claro que teve outras namoradas e várias mulheres na sua vida desde então. Mas a doçura e a ingenuidade de Mandy foram coisas que ele nunca esqueceu.

– Será que podemos, ao menos, tentar nos conhecer de novo... – Ele tentou.

– Sem essa, Potter. – Ela cortou. – Eu não vou cair na sua de novo.

Sem se dar por vencido, ele se levantou e estendeu a mão pra ela em um cumprimento:

– Eu sou James Sirius Potter, costumava ser um idiota na época da faculdade, hoje garanto que estou um pouco melhorado, embora me exceda com as brincadeiras de vez em quando. Trabalho no setor de contas do St. Mungus, lidando com papelada o dia inteiro. E você?

Ela estreitou os olhos pra ele e se levantou, ignorando a mão estendida.

– Não seja ridículo! Eu não vou fazer isso. – Ela retrucou, dirigindo-se até a sala. – E acho que já passou do seu horário. Você queria falar, eu disse que ia ouvir. Cumpri com a minha parte do trato.

Os ombros de James murcharam. Tinha esperanças de um desfecho um pouco diferente.

– Se você prefere assim...

– Sim, eu prefiro. – Ela sentenciou. Respirou fundo, buscando forças. – Eu não tive um dia bom James, apenas me dê um tempo, sim?

Foi a vez dele olhá-la incrédulo:

– Você acha que podemos ser pelo menos amigos, um dia?

Ela revirou os olhos em meio a um sorriso cansado:

– Eu não sou nenhum tipo de monstro. – Ela respondeu, abrindo a porta. – Agora, por favor...

James não retrucou daquela vez. Simplesmente pegou o casaco no sofá e se adiantou para o corredor, não sem antes parar diante dela.

– Obrigado. É sério.

O beijo no rosto a pegou desprevenida, de modo que nem sequer o viu desaparecer.

Mandy, absorta nas emoções daquele dia incomum, entrou em casa. E deixou que as lágrimas escorressem enquanto observava o bolo que James tinha trazido em cima da bancada.

A banheira com água quente nunca lhe pareceu tão convidativa.

**

Rose estava sentada na sala de estar com os olhos fixos em qualquer lugar que não fossem as faces de Draco e Astoria Malfoy. Tinha as mãos sobre o colo e desejava incansavelmente sumir dali o mais depressa possível.

– Mamãe. – A voz de Scorpius chegou aos seus ouvidos, ganhando a sua atenção. – A Summer adora quadribol, será que não teria como a senhora leva-la para conhecer a minha coleção de vassouras?

Rose quase quis enterrar o rosto no piso quando a filha levantou-se mais do que depressa, olhando para Scorpius:

– O senhor tem uma coleção de vassouras, tio Scar?

O cretino riu aquele riso que ela tanto odiava:

– São vassouras pequenas, de colecionador. Mas tenho sim, as vassouras mais clássicas do mundo bruxo estão lá em cima.

Astoria se ergueu em toda a sua elegância, chamando a menina. Summer segurou sua mão com tanta naturalidade que Astoria sentiu os olhos umedecerem.

Rose sabia muito bem porque Scorpius tinha providenciado o passeio da filha: estava na hora de terem uma conversa séria, da qual Summer não deveria fazer parte.

– Mamãe, você não vem? – Ela foi surpreendida pela voz da filha, logo quando seu coração se acalmava.

– É uma ótima ideia. – Astoria concordou com um sorriso, para o desespero de Rose. – Por que não nos acompanha, Rose?

Scorpius sinalizou com um leve empurrão nos ombros que ela deveria se levantar e ir. Ela olhou pra ele quase apavorada, mas ele foi incisivo com um sussurro:

– Vá.

Sem alternativa, ela se ergueu, pedindo licença aos demais. A pequena ruivinha estava em polvorosa, segurando na mão de Astoria e quase a guiando. Rose não conseguia nem repreendê-la. Não sentia as pernas e o coração estava aos solavancos enquanto acompanhava Astoria Malfoy sabe-se Deus aonde.

**

Naquela altura, Summer já tinha vasculhado o quarto todo sob os olhos atentos de Rose, que ralhava vez ou outra com a menina, e os de Astoria, mais suaves e apaixonados, que diziam para ela não se preocupar; que a menina estava em casa. Astoria especulou Summer o máximo que pode, tentando absorver todos os detalhes daquela criatura tão inteligente e espontânea:

– Peter Pan? – A mais velha perguntou. – O que vem a ser Peter Pan.

Rose até abriu a boca para responder, mas Summer, mais do que depressa, já estava dando explicações para a sua nova amiga:

– É uma historinha do meu mundo, como é que vocês chamam aqui, dos...

– Dos trouxas, querida. – Rose interveio com um meio sorriso. Summer também sorriu em resposta:

– Isso, dos trouxas. O Peter é uma criança que mora na Terra do Nunca junto com os meninos perdidos. Lá eles enfrentam muitos perigos e o malvado capitão Gancho, mas o Peter é muito inteligente e nunca deixa ele ganhar. Na história, Wendy e seus irmãos, que moram em Londres, são levados por Peter para a Terra do Nunca, onde criança nenhuma cresce e brincam pra sempre! Os meus tios gostam de dizer que eu sou a Wendy, mas eu não gosto dela. Eu sou um menino perdido!

Astoria riu gostosamente da fala da pequena. Não tinha entendido absolutamente nada, mas não podia negar que a menina era uma graça.

– Eu vou fazer aniversário e a minha mãe me disse que eu vou poder fazer a decoração do Peter lá na loja dela. – Summer tagarelou mais um pouco. – A senhora gostaria de ir na minha festa? – Em seguida, levou as mãos na boca e olhou para Rose, um pouquinho apavorada. – Eu podia chamar a tia Ast pra minha festa, né, mãe?

Rose sorriu, abraçando a menina e fazendo carinho em seus cabelos:

– É claro que pode, amor. Pode chamar quem você quiser.

– Então, a senhora iria?

Astoria fez uma breve reverência pra ela:

– Seria uma honra, pequena. Não perderia por nada no mundo.

Summer acabou pentelhando mais alguns minutos pelo quarto, vez ou outra perguntando algo para Astoria. Quando descobriu que o pôster que Scorpius tinha na cabeceira da cama era de um time de quadribol, ela olhou para a mãe com os olhos brilhando:

– O tio Scar nunca torceria pra um time que não seja bom. – Ela argumentou. – Eu posso torcer para o Puddlemere?

Rose franziu o cenho, entrando no jogo. Não deixaria Scorpius se gabar pelo resto dos seus dias de que a filha tinha escolhido o seu time pra torcer:

– Poder, você pode. Mas eu sempre achei que você gostaria mais das Harpias de Holyhead. Tia Ginny jogou lá antes de ser repórter do Profeta.

– Tia Ginny jogou quadribol? – Summer perguntou, espantada. Não pelo fato de Ginny ser uma mulher, e sim, porque sua cabecinha infantil não conseguia imaginar que, um dia, ela tivesse sido jovem o suficiente para tal feito.

– Sim, e foi uma excelente apanhadora. – Foi Astoria quem respondeu. – Nunca gostei muito de quadribol, mas se tivesse que escolher um time, com certeza escolheria as Harpias.

Rose já não estava tão nervosa, mas ainda descrente da amabilidade de Astoria. Esperava um pouco mais de aspereza da mulher.

– E por que, tia?

– Porque é um time de mulheres. – Astoria disse, dando de ombros. – É bom vê-las ganhando dos brutamontes dos outros times.

Summer, a partir de então, despejou sobre as duas todas as suas dúvidas sobre quadribol. Queria saber sobre os times, sobre como funcionavam os jogos, quem eram os jogadores. Aquela curiosidade da menina, remetia à Astoria a infância de Scorpius, que era naturalmente curioso, embora fosse muito mais tímido que a filha. Elas responderam uma ou outra pergunta da menina, até que Rose percebeu que elas não eram as pessoas certas para aquela conversa. E Scorpius adoraria ter um momento daqueles com a filha, não podia lhe negar mais aquilo:

– Filha, tenho uma ideia melhor. – Rose interrompeu a enxurrada de perguntas da menina. – Porque você não faz todas essas perguntas ao Scorpius, mais tarde. Ele ia adorar ter essa conversa com você.

– Você acha, mamãe?

Rose sorriu.

– Se eu ainda conheço o Scorpius como acho que conheço, há poucos assuntos que ele goste tanto de falar como quadribol.

Astoria concordou internamente e Summer ficou animadíssima com a ideia, tagarelando mais alguns minutos até, inevitavelmente, sucumbir ao cansaço, adormecendo nos braços de Rose, que estava sentada de frente para Astoria nas poltronas estofadas que estavam colocadas em um dos cantos do quarto, próximo das vidraças.

– Parece que a bateria descarregou. – Rose comentou, passando a mão pelo rosto da menina e tirando os cabelos ruivos dela dos olhos.

– Coloque-a na cama de Scorpius. – Astoria indicou gentilmente.

Rose, acostumada com o peso da criança, fez o que lhe foi dito, cobrindo a menina com as cobertas e voltando para o seu lugar. Olhou para Astoria, que tinha os olhos cravados nela, também. Rose facilmente conseguia identificar o que os outros estavam pensando apenas olhando nos olhos delas, mas com Astoria parecia diferente.

– Bem, aqui estamos. – A mais velha disse, levando as mãos ao colo, aparentando nervosismo. – Acho que agora que ela dormiu, nós podemos ter a nossa conversa.

– Sei que lhe devo algumas explicações, Sra. Malfoy. – Rose se adiantou. – E eu vou lhe dar, mas antes de tudo, eu quero que saiba que eu fiz as coisas da maneira que fiz porque foi o que eu pensei ser o certo na época. Não escondi a Summer de vocês por egoísmo, eu a escondi porque não tive muita opção quando soube que estava grávida.

– Você e o meu filho tiveram um relacionamento, então? – Astoria perguntou, direta. Podia sentir a foto escondida em suas vestes queimar.

– Sim, tivemos. – Ela admitiu. – Foi em Hogwarts, ainda. Nos dois últimos anos. Nós terminamos um pouco antes da formatura.

– E você sabia que já estava grávida quando terminaram?

– Eu não estava grávida quando terminamos. Veja bem, eu terminei com Scorpius porque não queria que ele recusasse a bolsa na Alemanha por minha causa. Eu sabia que ele sonhava em ser auror desde criança e eu não consegui me colocar no meio disso, por isso, um pouco antes da formatura, eu acabei com tudo. Mas nós tivemos uma recaída depois de uma festa em que nos encontramos casualmente. Tive medo de estragar tudo e sai escondida do quarto antes que amanhecesse.

Rose cogitou contar a história completa, falar sobre a conversa que tiveram quando ela soube da gravidez e sobre quase ter feito um aborto. Mas de que adiantaria falar aquelas coisas? A tornaria mais vítima e mais humana, é claro. Diminuiria um pouco o seu fardo, acrescentando uma parcela de culpa em Scorpius. Mas o que ela ganharia com aquilo? Os olhares chocados de Astoria que não acreditaria nela ou, se acreditasse, jamais tornaria a ver o filho com os mesmos olhos? Acabou decidindo que não valia a pena, que aquela era uma parte da história deles que não deveria ser passada para frente.

– Scorpius soube que você estava grávida?

Rose deu um longo suspiro e comprimiu os lábios antes de dizer:

– Não, ele não soube. Quando eu descobri, ele já estava na Alemanha, não consegui mais contato com ele. Scorpius descobriu só agora, depois que eu voltei. Foi uma cena estranha porque eu jamais imaginei que, assim que ele batesse os olhos em Summer, ele a reconheceria. Foi como se o sangue estivesse chamando, como dois imãs de polaridades opostas se atraindo. Em um belo dia, eu cheguei na casa de Albus e ele estava lá, com um livro lendo pra ela. Eu me assustei com a semelhança e a proximidade dos dois naquela cena e surtei. Isso fez com que, indiretamente, Scorpius pudesse confirmar as suas suspeitas.

– Bem, Scorpius sempre teve um bom raciocínio lógico, uma simples conta matemática deve ter resolvido o problema. – Astoria disse, tentando disfarçar as batidas do coração que estava à mil. – E os olhos azuis dela são exatamente iguais aos de Scorpius, Draco e Lucius. Eu juro pra você que, talvez um dia, alguém consiga explicar qual o fator genético que fazem quase todos os herdeiros dessa família terem esse tom exato de azul nos olhos.

Rose se permitiu rir, bem mais relaxada. Percebeu que Astoria não estava ali para julgar as suas decisões e sim, para, quem sabe, poder entender o que os levou até ali.

– Sabe, eu nunca tinha imaginado esconder a Summer para sempre. Em algum momento, eu me via contando ao Scorpius, embora não soubesse como ou quando. Minha filha, fisicamente falando, é uma Weasley pura. Mas a personalidade dela é muito parecida com a de Scorpius, apesar de ela ser bem mais inquieta do que ele. Não tinha um dia em que eu não repensasse a decisão que eu tomei, e quando ela aprendeu a revirar os olhos e a sorrir pelo canto da boca exatamente igual ao pai, esses lapsos ficavam cada vez mais frequentes.

– Eu reparei que ela ainda não sabe sobre o Scorpius. – Astoria comentou, olhando para a neta que permanecia adormecida na cama que um dia foi ocupada pelo filho. – Como vocês pretende lidar com isso? Porque, de fato, isso é algo que não vão conseguir esconder por muito tempo.

– Quando eu estive no St. Mungus, Scorpius esteve por lá e decidimos que vamos abrir o jogo de uma vez, não só com ela, mas com todos. Ainda não sei bem como vamos fazer isso, mas eu sei que vai ser o melhor pra todo mundo, principalmente para a Summer, que sempre que arranja uma oportunidade, tenta arrancar alguma informação sobre o pai. Mas eu tenho um pouco de receio pela reação do meu pai. Eu não tenho a menor ideia de como ele vai reagir ao saber que a neta dele também é neta de Draco Malfoy. Ele nunca foi exatamente preconceituoso, mas sempre levou muito a sério a rixa dos Weasley e dos Malfoy.

– Não vai ser muito fácil pra ele, Rose. Especialmente porque você deve saber de todas as decisões erradas que Draco tomou e que refletiram diretamente na vida de seus pais e da sua família durante a guerra. Draco, hoje, é uma pessoa melhor. Mas você deve entender que, por enquanto, seu pai não tem nenhuma lembrança boa dos Malfoy para substituir as do passado. E sua mãe foi torturada dentro dos portões desse castelo. Tudo isso vai pesar, e você deve ter consciência disso. E mesmo assim ainda fazer o que é certo.

– Eu nunca abri o jogo com a minha família sobre o Scorpius por causa disso, desse passado que nem era nosso. Em Hogwarts, sempre tomávamos cuidado para que nenhum dos meus primos nos vissem. Eventualmente, Dominique e Lily descobriram. E acho que o meu irmão também viu alguma coisa, embora eu nunca tenha confirmado. Várias vezes conversamos sobre assumir o nosso namoro, mas eu nunca quis, sempre dava uma desculpa. Eu via que tudo era mais fácil daquele jeito, para nós dois. Que não precisávamos enfrentar as nossas famílias antes de Hogwarts acabar. Mas então Scorpius me mostrou a carta de admissão no curso da Alemanha e, de alguma maneira, o fato de não termos assumido pra ninguém a nossa relação, me fez não ter dúvidas quanto ao que eu deveria fazer.

– Eu me lembro bem da madrugada da festa de formatura. Scorpius chegou em casa bêbado, sem falar coisa com coisa e gritando com os quadros pendurados nas paredes coisas bem inteligíveis. – Astoria sorriu com a lembrança. – Achamos que fosse normal, que ele tivesse apenas exagerado na bebida por ser a noite da formatura. O levamos para cima, ele tomou um banho e dormiu todo o dia seguinte. Quando acordou, estava mais quieto do que de costume, mas pensamos que fosse pelo nervosismo e pela proximidade da mudança para a Alemanha. Não demos importância, eu não percebi que, na verdade, o meu filho estava sofrendo.

– Eu sinto muito. – Rose disse, sem estar muito certa.

Astoria fez um movimento com a mão de como quem diz "deixa pra lá!" e sorriu:

– Não sinta, querida. Ele pode ter sofrido, mas analisando tudo o que me contou, você também sofreu, afinal, você amou o meu filho.

– Bem, eu...

– Sim, você amou. – Astoria sentenciou, embora, olhando nos olhos da Weasley, ela tivesse duvidas quanto ao tempo verbal utilizado. – Se você não ama uma pessoa, você não faz sacrifícios por ela. E você se sacrificou para vê-lo na Alemanha, realizando um sonho que ele poderia muito bem ter realizado aqui.

– Eu não fiz nada demais, Sra. Malfoy. Fiz o que qualquer pessoa decente faria.

Astoria, então, remexeu nos bolsos das vestes, retirando de lá a fotografia que tinha achado mais cedo. Rose observou-a lhe estendendo aquele pedaço de papel dobrado sem entender:

– Pegue, acho que isso é seu. – Astoria disse.

Rose, com as mãos trêmulas, viu a imagem diante de seus olhos embaçar. Ela quis controlar as lágrimas, se comportar apenas como a mãe da filha de Scorpius, mas observando aquela velha fotografia, que ela nem se recordava de ter sido tirada, não passava de uma adolescente.

– Vire. – Astoria ordenou e Rose precisou de toda a sua força de vontade para controlar o choro de emoção que ameaçava irromper enquanto seus olhos corriam pela letra desproporcional de Scorpius.

– Onde? – Rose questionou, a voz saindo em um único fiapo.

– Eu encontrei nas coisas de Scorpius, mais cedo, dentro de uma caixa de lembranças. Acho que ele nunca teve a oportunidade de entrega-la a você. – Astoria se explicou analisando friamente todas as reações de Rose observando aquela fotografia. – Eu sei que você amou o meu filho. E estou te entregando essa fotografia pra você ter a certeza de que, um dia, ele também a amou de volta. E é isso que faz Summer ser tão especial. Ela não nasceu de um erro; ela foi fruto de uma história de amor. Uma história complicada, cheia de nuances de um amor que, talvez hoje, nem exista mais. Mas que um dia existiu. Ela pode não ter vindo no momento certo, mas nasceu pelo motivo certo.

Rose não soube fazer outra coisa a não ser agradecer a Astoria Malfoy pelas palavras e, principalmente, por ter tentado compreender os seus motivos, mesmo não concordando com eles. Mesmo, no fundo, não os achando suficientemente fortes para fazê-la esconder Sunny por todos esses anos.

Enquanto pegava Summer nos braços para descerem de volta a sala onde os outros estavam, Rose tentava aplacar o dragão que se agitava dentro de si. Mas ele já havia colocado fogo em tudo, nenhuma resistência tinha sobrado.

**

Assim que Scorpius viu Rose e sua mãe descerem as escadas, ele se adiantou, andando até elas e prontamente pegando Summer nos braços, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Draco, que estava bastante exaltado devido à conversa que teve com o filho e os Potter nos últimos minutos, aproveitou aquele momento pra relaxar, observando Scorpius agir como o ser humano que ele sempre sonhou. O cuidado que ele via nos olhos do filho ao olhar para Summer o fez sentir que tinha feito um bom trabalho, tinha criado um homem, apesar de tudo.

– Onde estão Albus e o tio Harry? – Rose se viu perguntando, antes de conseguir refrear a língua.

Foi Draco quem respondeu:

– Eles já foram, tinham que passar no quartel, pelo que parece, antes de irem pra casa.

Ficaram os quatro em um silêncio perturbador, que foi quebrado por um longo trovão, seguido da chuva forte, que, depois de tantas ameaças, finalmente caia nos terrenos da mansão.

– Vocês vão para casa, ou ainda vai passar na casa de Mandy, Scorpius? – Astoria perguntou.

Scorpius franziu o cenho, meio confuso. Então se deu conta de que quase ninguém sabia que Mandy tinha terminado o namoro:

– Nós não estamos mais juntos. – Ele largou, olhando para Rose, que permanecia impassível o encarando. – Ela terminou comigo hoje de manhã.

– Você contou... – Rose começou, sendo prontamente interrompida.

– Não, não tive tempo de falar sobre Summer. Ela apenas terminou. – Scorpius disse simplesmente, dando de ombros. – Não éramos mais os mesmos, ela só percebeu antes de mim.

Astoria não deixou que o silêncio se instaurasse novamente, sendo direta ao filho:

– Então porque não dormem aqui? De qualquer maneira, já está tarde. Amanhã de manhã, todos voltamos aos nossos afazeres.

– Sra. Malfoy, eu preciso abrir a loja amanhã cedo, aliás, preciso ver como o dia fechou porque eu sai antes que o expediente terminasse.

– Oras, não seja boba e me chame de Astoria. Sobre a sua loja, todos levantamos cedo nessa casa, você vai estar lá antes do expediente começar. E se quiser saber algo, podemos lhe emprestar a coruja da família para se comunicar com alguém.

Rose abriu a boca para rebater, mas foi interrompida por Scorpius, que já se movimentava escada acima com a filha.

– Eu vou levar a Summer para um dos quartos de hóspedes. Sugiro que me acompanhe, Rose. – Scorpius comentou, olhando pra ela em meio a um sorriso. – Ninguém consegue fazer Astoria Malfoy tirar uma ideia da cabeça.

– Além do mais, eu gostaria de ficar um pouco com a minha neta amanha de manhã. – Draco surpreendeu os presentes. – Acho que todo mundo já tirou um pedaço dessa criança, agora é a minha vez.

Um sorriso escapou dos lábios de Rose sem que ela pudesse evitar.

– Está bem, mas não queremos incomodar. Amanhã bem cedo nós...

– Deixe de explicações, Rose, e me siga, por Merlin! Eu não sou tão acostumado quanto você com o peso da Summer.

Um pouco encabulada, ela seguiu Scorpius escada acima, enquanto Draco passava os braços por cima dos ombros de Astoria. Quando os três já estavam fora de vista, ele olhou para a esposa:

– Então, como foram as coisas?

Astoria tinha os olhos brilhando quando respondeu:

– As duas são incríveis.

**

Rose estava deitada com Summer ao seu lado há pouco mais de meia hora, mas não conseguia pregar o olho. Sua mente estava muito agitada devido aos recentes acontecimentos e o coração estava aos solavancos dentro do peito, fazendo súplicas que ela pouco entendia.

No criado mudo ao lado da cama de dossel, ela apanhou a fotografia que Astoria tinha lhe entregado. Ela nem se lembrava daquela imagem. Não se recordava do momento, do que estavam fazendo, em que época do ano estavam... Nada. Mas sabia que, inevitavelmente, tinha vivido aquela lembrança. Uma lembrança importante o suficiente para Scorpius guarda-la.

Releu a dedicatória escrita pela letra desparelha dele. Quando deu por si, estava erguendo as grossas cobertas da cama de hóspedes e beijando a testa de Summer, garantindo que a menina estava em um sono profundo do qual não acordaria até a manhã seguinte.

Não deu ao trabalho de vestir-se; sobre a lingerie tratou de colocar um roupão cinza com o emblema da família bordado, que estava cuidadosamente dobrado dentro do armário disponível no quarto. Apertou-o bem na cintura e certificou-se de que o peito estava bem coberto pelo tecido. Então, esquecendo-se dos chinelos, marchou para fora do quarto com os pés descalços. Percebeu o fato apenas quando emergiu no corredor, sentindo o mármore gelado sob os pés. Pensou em voltar, mas tinha quase certeza que o carpete do antigo quarto de Scorpius devia ser tão quente e macio quanto o seu próprio.

**

Scorpius tinha acabado de se deitar quando ouviu as batidas suaves na porta. Involuntariamente, fechou os olhos em busca de algum tipo de autocontrole: pela hora da noite, só poderia ser a sua mãe em busca das respostas que ele ainda não tinha dado. Devagar e com receio, abriu a porta. Acabou surpreso ao encontrar Rose Weasley, com as pernas de fora e descalça, parada e olhando pra ele:

– O que faz aqui? – Ele perguntou surpreso, dando passagem para que ela entrasse.

– Acho que estou sem sono. – Ela respondeu, enterrando os pés no carpete do quarto com prazer. – Pensei que podíamos conversar, sabe?

Scorpius sentou-se em na poltrona em que ela esteve sentada, horas antes, oferecendo a outra para que ela ocupasse:

– Pode ser uma boa ideia. – Ele disse, tentando decifrar a imensidão dos olhos azuis dela, ainda mais intensos naquela noite. – Sobre o que, especificamente, você quer falar? Summer?

Ela comprimiu os lábios e fechou os olhos, em busca da coragem que parecia ter sumido. Levou pouco mais de segundos para encontra-la e ver nos seus lábios sussurrando algo que nunca tinha imaginado que faria novamente:

– Não, dessa vez não. – Scorpius a encarou, franzindo a testa e perplexo. – Talvez eu queira falar sobre nós dois, ou sobre o que sobrou da gente nesses anos todos.

– Não acho que tenha sobrado muita coisa, se quer saber. – Resmungou ele, levantando-se incomodado. Suas dificuldades eram estratosféricas quando era condicionado a falar dos próprios sentimentos.

– Concordo, mas você me beijou, se lembra? – Ela retrucou ácida, fazendo questão de fuzilá-lo com os olhos.

– E você me escorraçou! – Scorpius disse, encarando-a. – Você me mandou embora e nunca mais tocou no assunto, foi como se nunca tivesse acontecido. Não pensei que um dia quisesse trazer isso à tona.

– Terminou com a Mandy...

– Não foi bem assim, na verdade...

– E ainda tinha isso guardado. – Ela estendeu a fotografia pra ele.

Scorpius travou quando percebeu do que se tratava:

– Como conseguiu isso? – Ele questionou um pouco agressivo. Estava se sentindo violado, como se alguém o tivesse tentado roubar. – Quem deu isso a você?

Rose levantou-se, colocando-se a centímetros dele. Apesar do rosto sério, desmoronava por dentro diante das palavras que precisava dizer e que estavam trancadas dentro de si:

– Isso não importa. Eu quero saber o porquê. – Ela foi enfática, direta. Scorpius apenas a observava, aguardando pelo resultado daquela conversa, que tinha tudo pra ser catastrófico. – Por que você ainda tem uma fotografia nossa guardada nas suas coisas? E por que você terminou com a sua namorada depois de me beijar? Scorpius, isso não está certo, não é direito.

De repente, ele pareceu se dar conta do que tinha acontecido e como foi que ficou tão exposto diante dela:

– O que a minha mãe disse a você? – Ele questionou. – Vocês duas se divertiram muito discutindo sobre os sentimentos do Scorpius, sobre como ele se sente e as coisas ruins que podem acontecer? – Ela abriu a boca para responder, mas nenhum som saiu – Mas, já que você parece muito curiosa, vou esclarecer as coisas pra você: em primeiro lugar, essa fotografia devia ter sido jogada fora, não sei como a minha mãe a recuperou e, muito menos, porque ela resolveu te entregar isso. – Ele mentiu. – Em segundo lugar, eu não terminei com a Mandy porque nos beijamos, se é o que está pensando. Ela decidiu terminar por causa da montanha de mentiras que eu precisei colocar entre nós depois que eu soube sobre a Summer. E em terceiro lugar: eu não devia ter beijado você. Aquele foi o maior dos meus erros até aqui.

Todas aquelas afirmações doeram. Especialmente a última, que não ousaria rebater ou repetir em voz alta; a remoeria sozinha, nas noites intermináveis em que não conseguisse vencer a insônia. Mas apesar de toda a mágoa, algo ainda a prendia ali, a impedia de cuspir nele, e sair daquele quarto com o restante da sua dignidade:

– Eu só queria deixar as coisas claras, ter certeza de que você não estava confundindo as coisas, principalmente agora que vamos ter que viver debaixo do mesmo teto por um tempo. – Ela disse o mais calma que conseguiu.

Scorpius ainda a encarava, inconformado com o fato de nunca poder atingi-la, de suas palavras nunca a derrubarem diante dele como as dela faziam. Em um golpe de misericórdia, disse a única coisa que lhe veio à cabeça:

– Acho que se alguém confundiu alguma coisa, Weasley, esse alguém foi você.

Os lábios dela crisparam e a fúria brilhou em seus olhos. Por um instante, Scorpius pensou que ela iria o esbofetear, gritar e virar as costas para nunca mais voltar. Mas esse instante foi apenas isso; um momento passageiro, apagado pelo ato mais impensável que poderia partir dela.

Eles estavam próximos o suficiente para que ela enlaçasse o pescoço de Scorpius e acariciasse levemente a pele exposta por ali. Em seguida, Scorpius a observou fechar os olhos e aproximar sua boca da dele. Ele fechou os olhos ao sentir e textura suave dos lábios dela cobrindo os seus. Mas no momento em que ele pensou em se aprofundar naquilo, seu momento glorioso evaporou.

Lentamente, ela se afastou dele e, com lágrimas nos olhos, admitiu:

– Talvez você esteja certo, talvez quem tenha confundido algo tenha sido eu.

Em seguida, ela lhe deu as costas, ciente de que não aguentaria ficar muito tempo a mais de pé.

E Scorpius, mais insano do que jamais se sentiu na vida, a puxou pelo braço, apertando-a contra o seu corpo e forçando-a a olhar pra ele. Algumas lágrimas escorreram pelo rosto de Rose, ao mesmo passo em que seu coração saltitava dentro do peito, ansiando por algo que jamais poderia ter. Mais uma tempestade estava prenunciada, não pelos trovões, cada vez mais intensos nos céus, mas pela troca de olhares feita por eles. Era o cinza e o anil mais uma vez travando sua própria guerra.

Rose fechou os olhos quando sentiu os dedos longos de Scorpius subirem para o seu pescoço e depois para o seu rosto. E não conseguiu fazer outra coisa que não fosse corresponde-lo com todo o entusiasmo que o momento pedia. Daquela vez, Scorpius se certificou de não deixar brechas para que ela reagisse e o chutasse de novo; ele não suportaria se ela o fizesse.

Rose, então, enlaçou o pescoço de Scorpius ao mesmo tempo em que as mãos dele desciam pelas suas costas, provocando arrepios, se fixando em sua cintura e trazendo-a para ainda mais perto dele. Ela estremeceu quando Scorpius soltou os lábios dos dela, escorregando-os com cuidado pelo queixo e, descendo para o pescoço, mordiscando-o uma vez ou outra, antes de voltar a beijá-la.

Todos os movimentos pareciam estar sincronizados em uma dança que nenhum dos dois tinha esquecido. As bocas se mexiam em perfeita harmonia, assim como as mãos de Scorpius, que não demoraram a fazer com que o roupão que Rose usava escorregasse direto para o chão, do mesmo jeito em que as pernas de Rose encontraram uma maneira de se envolverem na cintura de Scorpius no exato momento em que ele proporcionou o impulso.

O impacto do seu corpo com a parede doeu e fez um barulho tremendo, mas Rose teve dificuldades em pensar em qualquer outra coisa que não fosse o seu próprio corpo formigando enquanto Scorpius a devorava.

As roupas dele não demoraram a encontrar o caminho do chão, assim como as peças intimas dela, que Scorpius arremessou de qualquer jeito para qualquer lugar.

Quando Rose deu por si, estava completamente nua, de pé, sendo observada pelos os olhos escurecidos de desejo de Scorpius, que sentou-se na cama para observá-la melhor.

Era óbvio que ele nunca tinha se esquecido das poucas vezes que tinha visto o corpo dela totalmente descoberto. Mas nenhuma das vezes anteriores se comparava a visão que ele tinha agora. Não passavam de dois adolescentes começando a viver quando a viu, daquele jeito, pela primeira vez. Estavam os dois muito mais maduros, agora; crescidos. Adultos.

E ela estava infinitamente mais bonita aos seus olhos, na sua melhor fase de mulher. Scorpius, então, olhou pra ela, que tinha o rosto avermelhado. Algo pelo menos não tinha mudado: ela ainda ficava envergonhada quando ele a olhava daquele jeito:

– É tão linda... – Ele sussurrou, mordendo os lábios ao sentir sua intimidade pulsar como nunca, e puxando-a pela mão, para que ela se aproximasse.

Rose se posicionou com uma perna de cada lado do corpo de Scorpius, fechando os olhos e reprimindo um longo suspiro quando uma das mãos dele apertou seu seio e a outra migrou para o meio das suas pernas. Ela não precisou de um segundo convite para interrompê-lo e se sentar de uma vez só sobre ele, olhando-o nos olhos enquanto se movimentava e se deliciando com a expressão de prazer e surpresa estampada nos olhos dele.

Ele segurou a cintura dela com firmeza, ajudando-a a se movimentar e a impulsionando para cima, na medida em que seus corpos aumentavam o ritmo. Por alguns minutos, não se importaram com quem eram, onde estavam e o que estavam fazendo. Não existiu passado, muito menos futuro. Por um determinado tempo, apenas o presente importou.

– Scar... – Era o que ela sussurrava, em meio a palavras que não pareciam ter sido inventadas ainda.

Scorpius estava no ápice da loucura quando ela gritou mais forte e desmoronou sobre ele. As mãos dele, imediatamente, acariciaram suas costas enquanto ele aproveitava a posição para mergulhar o rosto nos cabelos dela, que tinham o mesmo cheiro de xampu de sempre. Ela ergueu o rosto suado emoldurado pelos cabelos ruivos despenteados pra ele, encarando-o:

– Merlin, Scorpius, isso foi...

Imediatamente, ele levou o indicador aos lábios dela, a calando:

– Não, agora não. Podemos terminar a noite sem brigar?

Ela mordeu os lábios, dividida. Por fim, balançou a cabeça afirmativamente, fazendo com que ele a fizesse se deitar na cama, ao seu lado. "Vamos ter o resto das nossas vidas pra nos arrependermos disso", ela pensou.

Rose sentiu os olhos se encherem de lágrimas quando Scorpius a aconchegou no seu peito, acariciando seus cabelos esperando que ela fosse dormir. No fundo, tudo o que ele desejava, era que ela ficasse ali. Não conhecia o amanhã, não poderia prever o que aconteceria. Mas no agora, naquele exato momento, tudo o que ele queria era que ela permanecesse em seus braços, fazendo de conta que ali era o seu lugar e anulando o aviso incessante que o seu cérebro enviava o alertando sobre ter ultrapassado um limite que não deveria ser ultrapassado.

Rose aceitou, rendida a tentação que emanava do corpo quente dele. Mas não adormeceu. Talvez, em outro tempo, se aquela fosse uma vida diferente, ela teria se dado àquele luxo. Mas não podia. Não eram mais adolescentes inconsequentes se descobrindo. Eram dois adultos que já conheciam as consequências do sexo. E que já sabiam o que aconteceria na manhã seguinte.

Por fim, a culpa era dela de novo. Fraca demais pra suportar qualquer coisa ligada a Scorpius.

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