Além do Céu (Volume 2) Projet...

By ThiagoConti

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A saga continua! ...O homem se tornou uma máquina cheia de defeitos e procriou-se levando em seu código genét... More

NOTA DO AUTOR
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 7.1
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
EPÍLOGO

CAPÍTULO 10

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By ThiagoConti


Que tipo de roupa você leva em uma fuga? O que é necessário na bagagem de quem está prestes a descobrir o que há entre as estrelas? Talvez um telescópio faria mais sentido do que levar junto um par de tênis imundo, afinal, não dá para correr lá no céu, mas eu ainda tinha uma estrada longa e concreta para percorrer com esses pés que já me levaram para tão longe e nunca parecia chegar perto da verdade. O vidro escancarado, braço apoiado para fora sentido a brisa do vento em alta velocidade, rádio ligado tocando Sons of the east (Hold On) e os cabelos soltos sendo jogados de um lado para o outro em uma coreografia nunca ensaiada. Os pensamentos se dissipavam em uma mistura sem nexo conforme percorríamos pela rodovia um tanto movimentada, divididos entre dois carros como havíamos combinado. O tempo ao nosso redor parecia ficar escuro. Nuvens cinzentas e carregadas se formavam ao longe e isso não parecia nada bom.

A primeira parada foi em um posto de conveniência, cerca de trezentos quilômetros de Amarillo. Saímos de maneira tão sorrateira que mal tivemos tempo de nos alimentar direito, e só aquelas barrinhas de cereais que estavam dentro da mochila não iria sustentar ninguém por tanto tempo.

O posto não parecia muito movimentado pelo lado de fora. Havia apenas cerca de três carros estacionados sendo que um deles já estava se retirando. Ao entrar no lugar nos deparamos com um ambiente rústico e um povo curioso. As paredes eram construídas em alvenaria e o assoalho era feito de taco de madeira muito bem encerado. Haviam quadros antigos e até a cabeça de um alce pendurada bem na entrada. Certamente foi um troféu de uma caçada vitoriosa e de uma lástima para a mãe natureza. Tinha também uma "junkie box" bem no canto da lanchonete que tocava uma coletânea da incrível Nancy Sinatra. Naquele instante éramos recepcionados pela faixa: These Boots Are Made for Walking. Atrás do balcão engordurado ficava um senhor careca com a barba imensa quase ocultando sua face um tanto ranzinza e mal humorada. Seus olhos eram claros e os braços completamente tatuados. Vestia um avental imundo que mais me lembrava um açougueiro do que um garçom simpático que costumávamos encontrar em Seattle. Bem que o meu pai sempre dizia, nada como a casa da gente, e eu sentia tanto a falta da minha. Ele ficava de um lado para o outro com seus braços compridos limpando o resto de comida e outros tipos de sujeira que os viajantes costumavam deixar por lá com pressa de ir embora.

- O que vão querer? – perguntou o careca sem muita simpatia enquanto nos aproximávamos da mesa.

- Um cardápio seria um bom começo. – respondi com um sorriso.

- Vocês estão achando que isso aqui é Nova York? O prato de hoje é ovo com bacon e a segunda opção é um hambúrguer que sobrou de ontem.

- Só uma dúvida senhor. – disse meu irmão mais novo se aproximando – o ovo e o bacon pelo menos são de hoje?

- Vão querer comer ou vão ficar de conversinha comigo bancando a vigilância sanitária? – perguntou ele de maneira nada simpática.

Nos entreolhamos nada contentes com aquele homem. Acho que o excesso de sua simpatia e o cardápio variado explicava o fato daquilo estar tão vazio.

- Quer saber? Perdemos a fome! Mesmo assim obrigado por sua gentileza. De tudo que tem aqui dentro a única coisa que salva é a voz da Nancy Sinatra. Pelo menos um bom gosto musical você tem. Passar bem meu caro senhor. – disse enquanto puxava toda a caravana de volta aos carros sem olhar para trás.

Gerald, Emma e seus filhos entraram no carro. Eu fiquei debruçada na janela do lado de fora discutindo se encontraríamos alguma coisa decente mais à frente, mas como meu próprio sobrinho interveio: qualquer coisa era melhor do que aquilo.

O fato era que a fome já se manifestava em nosso estomago com barulhos estranhos.

- E se comprarmos algum biscoito, refrigerantes não sei...qualquer coisa que seja terceirizada e que não saia de dentro daquela cozinha, só para enganarmos a fome? – perguntei ainda do lado de fora.

Gerald olhou para sua esposa e ela respondeu:

- Eu acho uma ótima ideia, afinal, não sabemos a quantos quilômetros está o posto mais decente daqui.

- Ótimo. Fiquem aqui. Eu volto lá e compro tudo para nós.

- Você acha que vou deixar você voltar sozinha para aquele lugar Cate? Eu vou junto. – interveio meu irmão abrindo a porta.

Voltamos ao posto de conveniência com uma cara de poucos amigos e fomos recebidos tão pior ou igual que da última vez.

- Hora, hora se não são as pessoas da cidade grande de volta. E então, não resistiram ao ovo com bacon? – perguntou o atendente enxugando um copo com seu guardanapo imundo.

- Obrigado, mas só viemos pegar alguns biscoitos e refrigerantes.

- Ok, vocês quem sabem. Estão perdendo o prato mais gostoso de toda região.

Enquanto ele digitava o valor dos produtos em sua máquina registradora eu mudei minha atenção para a TV que ficava pendurada na parede e noticiava algo nada agradável.

Quando olhei aquele lugar eu tive certeza que era completamente familiar. Deixei o caixa e me aproximei ainda mais do aparelho eletrônico só para escutar melhor a repórter.

...Nós estamos aqui em Amarillo, no Texas, em uma fazenda um pouco distante do centro da cidade. Este lugar ficou muito conhecido há alguns anos atrás pela incrível garotinha Cate que era visitada constantemente por pessoas de todos os cantos do mundo acreditando que ela pudesse ter algum poder sobrenatural, algo que ficou inexplicável até hoje. A região foi sempre alvo de avistamentos de óvnis com certa frequência, principalmente na região do bosque que fica muito perto daqui. Sem contar as coisas estranhas que aconteciam pela redondeza, como o caso do desaparecimento de Peter, um menino com pouco mais de sete anos de idade e que nunca mais foi visto, vivo ou morto. Ele morava na fazenda vizinha, mas agora encontra-se completamente abandonada, tomada por árvores e outros tipos de vegetações que dominaram a estrutura da casa. Hoje foi encontrado um corpo carbonizado nas terras onde morava a família de Cate. O que nos intriga, é que o local parece ter sido abandonado recentemente. Ainda podemos ver os animais vagando aqui dentro pelo pasto, mas as cocheiras estão lotadas de alimento, o que deduz que toda essa movimentação aconteceu a pouco tempo. Dentro da casa tudo está intacto, exceto as roupas que foram tiradas das gavetas e algumas deixadas para trás, talvez na pressa de sair do local. Ainda não se sabe a identidade do corpo carbonizado, mas a polícia já está investigando o caso e suspeita que os moradores tenham ligação com o crime e por isso abandonaram o local. Ao longo da transmissão vamos colocar imagens de Cate e sua família, qualquer informação sobre eles pedimos para que entrem em contato com nossa equipe de reportagem ou com a própria polícia. Sua identidade será mantida em sigilo. Rebecca Korm diretamente do Texas.

Que merda! Pensei em voz alta. Gerald me olhou aflito quando a notícia foi encerrada e o apresentador do telejornal estendeu sobre o assunto, mostrando a foto de toda nossa família que estava foragida como se fossemos uma quadrilha perigosa de assaltos a bancos ou de assassinatos fúnebres. Tentei mudar a atenção do atendente nojento pedindo até um ovo com bacon e o hambúrguer amanhecido, mas ele olhou para a TV justamente na hora em que nossas fotos eram divulgadas.

Ele olhou para a tela de plasma e para o nosso rosto umas duas vezes só para ter certeza de que éramos os procurados, principalmente quando o apresentador mencionou a palavra: recompensa em dinheiro. Cheguei a segurar na do meu irmão, estava prestes a realizar uma tentativa de fuga, mas não deu tempo. Com uma agilidade incrível ele conseguiu tirar uma pistola automática debaixo do balcão e apontou bem no meio da minha testa dizendo:

- Mas que diabos vocês fizeram? Quer dizer que a elite da cidade grande tá metida numa fria?

Levantei as minhas mãos temendo que ele pudesse fazer qualquer loucura por dinheiro e respondi:

- Ei amigo, abaixe essa arma! Eu posso explicar, mas abaixe essa arma.

- Explicar?! Huahah – indagou ele seguido de gargalhadas. – já reparou que todo criminoso tem uma explicação, um álibi perfeito para conquistar ouvidos de quem não sabe nada da vida? Você deve ter uma explicação perfeita para defender toda sua corja, afinal, tão pagando meio milhão de dólares para entregarem vocês. Diga ai, o que foi que vocês fizeram? Não peguei a notícia por inteiro.

- Que tal se entrássemos num acordo? Mas abaixe essa arma para conversarmos. - disse meu irmão se aproximando com cautela.

Do lado de fora escutávamos a buzina dos carros provocando algazarra. Deveriam estar temendo nossa demora, e mal sabiam o que estava acontecendo aqui dentro.

- Ei, mamãe, dá um pulinho aqui! Venha ver essas merdinhas da cidade grande que estão valendo meio milhões de dólares. – gritou o homem barbudo com a arma ainda apontada na minha cabeça.

Lá do fundo, atrás de uma cortina imunda surgiu uma senhora completamente obesa. Deveria pesar muito mais de cento e cinquenta quilos dentro de uma blusa esgarçada com manchas de gordura e suor. O short parecia que ia explodir a qualquer momento pelas gorduras que transbordavam nas laterais e empurravam o cós da roupa. Tudo oculto por trás de um avental sujo de sangue que nem era possível amarrar devido a sua circunferência. Seu rosto escorria suor como uma cachoeira desaguando em algum rio desconhecido. Levava um cigarro na mão e uma cara de poucos amigos.

Ela tragou o cigarro antes de falar qualquer coisa e baforou a fumaça nojenta em minha cara.

- Meio milhão de dólares? – perguntou ela olhando para o filho. – vocês devem ter um valor muito grande para o governo hein.

- Dona, podemos entrar em um acordo, mas abaixe essa arma, por favor. – disse com um pouco de medo.

- Albertyne, pode me chamar de Tyninha se quiser. Todos no interior texano me chamam assim, "Tyninha, a empalhadora de porcos" ahuaha – respondeu ela em gargalhadas terminando de tragar o cigarro. – e esse é meu filhinho Bull. Tenho certeza que ele não se apresentou a vocês, ele não tem "bons modos", é assim que o povo da cidade grande fala?

- Tyninha muito prazer. Veja, eu posso pagar esse valor à vocês. Podemos ir ao banco mais próximo, eu retiro a grana e todo mundo fica numa boa.

- Olha só, a mulher aqui é milionária então?

- Não, nem eu nem ninguém aqui é milionário, mas eu dou um jeito de conseguir. Todo mundo deve ter suas economias, posso fazer um empréstimo, dou minha casa...não sei...arrumamos um jeito.

- Todo mundo? Tem mais gente?

- Tem sim mamãe, estão todos lá fora em dois carros. – respondeu seu filho.

- Bull, fique de olho nesses dois, qualquer movimento você mete bala. Aliás, melhor, vamos amarra-los primeiro.

- Amarrar? Pra que isso?

- Bom, para ficar solta que não é queridinha. Eu já volto, só um segundinho meus amores. Vou pegar as cordas e ligar para o meu marido.

Nossos braços foram amarrados por uma corda feito uma serpente se entrelaçando prestes a esmagar os ossos do antebraço. Deixaram apenas as pernas livres para a locomoção. Ficamos acomodados em duas cadeiras enquanto todos os outros eram trazidos para dentro acompanhado de Tyna e seu marido com uma cara tão rabugenta quanto a dela. Era um careca bem alto, tinha a pele bronzeada do sol e usava um bigode no rosto com trajes de motoqueiro.

Um a um foi amarrado e seguidamente nossos olhos foram vendados. Conduziram-nos até os veículos e de lá fomos levados para algum canto que ninguém conseguia ver.

O caminho percorrido era cheio de pedras e desfilamentos o que pudemos deduzir que estávamos sendo levados por uma estrada de terra. Ficamos por um longo tempo dentro dos carros até que chegamos ao desconhecido.

As vendas em tecido preto foram tiradas dos nossos olhos e nos obrigaram a entrar em um grande estábulo onde um cavalo magro se alimentava do pouco que havia na baia. Todos nossos pertences foram tomados, principalmente os celulares.

Ficamos trancados naquele lugar, havia apenas uma pequena janela bem no alto onde a luz entrava e conseguíamos enxergar o céu.

- Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – perguntou Emma ainda assustada com toda aquela corda espremendo o seu braço.

- O governo está atrás de nós. Estão noticiando nossas fotos como foragidos. Somos procurados da polícia e ofereceram uma grana alta para quem encontrasse e entregasse-nos. – respondi tentando resumir ao máximo o acontecido enquanto permanecia olhando para a luz que vinha da janela em meio a raios furiosos.

- E agora?! Sentamos e esperamos para sermos presos? Claire deve estar em perigo! – disse Emma aflita.

- Acalme-se, nós vamos sair dessa! Nossa filha é esperta, ela vai ficar bem. – respondeu Gerald tentando acalmar a esposa.

- Eu estou com fome, e essa corda está me machucando! – disse Willy tentando se livrar do nó.

- Ei pessoal, não adianta nos desesperarmos. Já sabíamos que corríamos todo o tipo de risco nessa fuga. O negócio agora é encontrar uma maneira de nos soltarmos e fugirmos das mãos dessa família nojenta. – disse Jhony acomodado em um monte de feno.

- Se conseguimos nos soltar e recuperar o celular eu posso procurar pela senhora Z, ela vai nos ajudar. – disse Louis.

- Senhora Z? Quem é essa? – questionou Jhony.

- Sim Jhony, é uma espécie de codinome que ninguém mais e ninguém menos Loren passou a usar.

- Loren?! A mulher que teve a filha abduzida?

- Sim, a mesma Loren. Acho meio difícil que ela nos ajude. Primeiro fui eu que escolhi ficar ao lado de Edward achando que estava fazendo a escolha certa, ocasionando a morte de Kyoko e colocando o grupo de contatados em risco. Depois foi meu irmão e Edward que a torturaram. Será que ela confiaria em nós uma outra vez?

- Eu só fiz isso porque eu não tinha escolhas. Foster garantiu que eliminaria minhas dívidas e me colocaria em um bom cargo. Só tinha que conter pessoas querendo falar sobre as "verdades" da criação humana, e no caso, arrancar de Loren o paradeiro da própria filha. O general não acreditava nesse papo de que a menina teria sido abduzida. Quem, em minha situação, não faria isso? – respondeu meu irmão mais novo tentando se defender.

- Eu não consigo acreditar até agora que enquanto eu estava na minha casa achando que estava totalmente protegida, Edward e você estavam torturando os contatados. Lembro como se fosse hoje de estar dentro do carro acompanhada de Daymond vendo ela sendo levada pelo exército e... espera, vai dizer que Daymond também é...?

- Sinto muito irmã...

- Logo imaginei que ele e George não passam de dois "judas". Todos movidos por interesses financeiros...

- Bem-vinda a sociedade capitalista.

- Mas se vocês a torturaram como foi naquele vídeo, quer dizer que mantiveram-na em Seattle, afinal, o meu falso escudeiro nunca se ausentou por mais de um dia.

- Sim, por um tempo ela ficou em Seattle em uma casa abandonada fora da cidade. O projeto de exílio dos contatados ainda estava no início, por isso o uso de rastreadores era primordial. Foster queria de todo jeito que ela dissesse onde estava escondendo a filha, era de uma linhagem primogênita como você e Willy, mas o que ouvíamos todas as vezes é que ela não sabia, que também queria encontrá-la. No começo achamos que era mentira, mas mesmo sobre pressão e tortura, nada foi revelado. Depois de quase um mês assim ela foi levada para o Arizona onde não tive mais contato. É muito raro alguém sair do exílio no Arizona, ou são mortos ou são contidos para sempre. Como será que ela conseguiu fugir de lá? Tem algo de estranho com essa "senhora Z".

- Será que dá para deixar essa conversa para depois e pensarmos em uma maneira de sair daqui? – indagou Emma.

- Emma tem razão, deixe esse acerto de contas para depois. Precisamos sair daqui, com vida de preferência. – interveio o meu pai.

-Pessoal, cadê Willy? Ela estava aqui agora mesmo se contorcendo e reclamando do nó, mas fiquei prestando atenção na conversa e ela sumiu. – perguntou Louis.

- Willy? Onde você está? – gritei para que ela pudesse me responder.

Sem que pudéssemos esperar ela surge de dentro da baia com as mãos desatadas e um sorriso no rosto caminhando em nossa direção.

- Como conseguiu escapar garota? – perguntou seu irmão.

- Esqueceu que o papai me colocou na escola de escoteiros? – disse ela toda orgulhosa.

- Essa minha neta é um orgulho para a família!

- Que orgulho filha, agora tente desamarrar as nossas cordas. – argumentou Gerald estendendo os braços.

Conforme fomos nos soltando, um foi ajudando o outro para agilizar o processo. O cavalo parecia curioso com toda aquela movimentação dentro do seu estábulo. Deixamos as cordas por perto, afinal, se alguém surgisse teríamos que fingir um entrelaçamento nos braços. Para garantir a nossa segurança, Jhony ficou na porta do local observando por uma fresta a movimentação da casa, e qualquer atitude suspeita seriamos notificados instantaneamente.

O próximo passo foi definir quem entraria na casa para pegar os celulares. Era uma atitude de muito risco, mas sem nos comunicarmos não chegaríamos tão longe.

A pior parte de tudo isso foi concordar que Willy seria a melhor opção para invadir a casa. Pelo fato dela ser pequena seria mais fácil de se ocultar lá dentro até encontrar os celulares.

Mesmo assim definimos que cada um ficaria em um ponto estratégico do lado de fora, que tivesse uma visão panorâmica da casa. Qualquer sinal de perigo iriamos intervir imediatamente lá dentro.

Antes que o plano iniciasse, verifiquei se a chave dos carros estavam lá dentro. Para a nossa sorte elas estavam na ignição, prontos para serem ligados a qualquer momento. Um trabalho a menos para ser realizado.

O que não cooperou muito foi a chuva que começava cair pouco a pouco do céu acinzentado e aumentava a intensidade conforme o tempo passava.

Não tínhamos mais escolhas, restava apenas acreditar na nossa garota, e esperar pelo melhor, sempre.

Willy entrou na casa como um rato procurando por comida no meio da noite. De maneira ligeira e com total cautela para não provocar ruídos ardilosos, conseguíamos vê-la pela janela alcançando o segundo andar.

Em algum momento Bull cruzou o corredor. Ficamos com o coração na mão, e a expressão aflita. Emma chegou correr em direção a porta da casa, mas eu consegui segurá-la. Qualquer passo em falso e poderíamos colocar tudo a perder. O que nos aliviou foi vê-la minutos depois na janela imunda do segundo andar fazendo sinal positivo com a mão, possivelmente por ter encontrado os telefones.

Ela voltou com passos sucintos tentando evitar qualquer tipo de ruído. Em silêncio absoluto, acompanhados apenas do barulho da chuva, pegamos nossos aparelhos eletrônicos e corremos em direção aos carros.

Liguei imediatamente para o telefone de Gerald e disse:

- Vou contar até três, quando eu falar três nós ligamos e aceleramos esses carros sem medo de ser feliz, ok?

- Ok, vamos começar esse "rally".

- Um, dois...três!

Não houve tempo nem de olhar para trás, aceleramos os veículos em disparada pela estrada de terra sem saber ao certo onde iriamos chegar.

Louis teve a brilhante ideia de ativar o gps do seu celular e através de mensagens monitorou o nosso trajeto. Ao mesmo tempo ele mantinha contato com o grupo de contatados, na esperança de que a "Senhora Z" ou qualquer membro que estivesse mais próximo pudesse nos dar abrigo.

Passamos por cada barranco que eu temia em ficarmos atolados a qualquer momento. O negócio era acelerar sem medo. O pneu chegava a patinar, mas nós éramos mais persistentes do que os obstáculos da natureza. Tive a impressão de ouvir um terceiro veículo que vinha bem atrás, era bem provável que a família de Tyna houvesse escutado o ronco do motor no momento da fuga, e isso só aumentava a adrenalina.

Ao olhar para o retrovisor eu só conseguia enxergar lama e mais lama com um céu tenebroso no horizonte que não parava de mandar chuva e raios que cortavam a imensidão acinzentada.

Meu sobrinho ligou durante a fuga e eu pedi para que meu irmão atendesse ao telefonema no viva-voz. Ele mencionou que o membro do grupo mais próximo que poderia nos oferecer ajuda era na direção que já estávamos seguindo, para Carolina do Norte.

Emma conseguiu falar com sua filha Claire e por sorte estava tudo bem com o casal. Eles já se encontravam na casa como havíamos combinado, só esperando pela nossa chegada, mas diante de tudo que estava acontecendo achamos melhor passar o endereço de onde a anfitriã dos contatados iria nos receber, afinal, a polícia poderia a qualquer momento investigar aquela casa sabendo que pertencia a um membro da minha família.

A nova localização era nas redondezas de Brown Mountain, em um condado que se estendia na região próxima as montanhas. A viagem se tornou um pouco mais longa. De Hayesville até Brow Mountain levaríamos mais três horas aproximadamente.

Alcançamos a rodovia e seguimos nosso trajeto dispersando aqueles malucos caipiras.

Agora era preciso contar com a sorte e ter algum tipo de fé enquanto voávamos pela estrada em busca do nosso porto seguro.


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