CAPÍTULO 14

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Percorremos dentro daquele caminhão por horas, sem saber para onde estávamos sendo levados e qual seria o nosso destino.

Muitos chegaram a desmaiar pela falta de ar e nervosismo que se misturavam em um momento repulsivo naquele ambiente hostil.

Alguns clamavam por Deus em orações sem saber que "Deus" era responsável por tudo que vinha acontecendo, outros choravam, principalmente as crianças que foram separadas de seus pais e sentiam-se desoladas.

Pensei muito no meu pai dentro daquela estação de metrô, temia o que poderiam ter feito com ele ou com qualquer outro membro que havia ficado. Fiquei imaginando como estaria o coração de Emma agora separada de seus filhos, de Claire longe do marido e de tantas outras famílias que ali se encontravam.

Houve uma parada no meio do trajeto depois de mais de doze horas. Todos foram retirados do caminhão fechado e pediram para que uma fila fosse formada entre homens e mulheres. Estávamos no meio de um grande deserto onde um acampamento havia sido construído de maneira improvisada. Diferente do estado de Virginia não havia nevasca, mas um calor insuportável que se enfatizava pela presença do segundo astro no céu e os ventos que sopravam areia em nossos rostos.

O povo clamava por água, e aos poucos todos eram atendidos com pequenas garrafas. Fiquei olhando para toda aquela movimentação sem entender absolutamente nada. Afinal, o que eles queriam? Primeiro tratam como animais e depois presenteiam com água?

Aqueles que se atreveram a fugir pelo deserto foram covardemente baleados pelas costas, e isso inibiu qualquer um que pensava em tomar a mesma atitude. Os caminhões fechados voltavam em direção a cidade, certamente para fazer novas buscas enquanto outros adentravam no recinto com outras centenas de pessoas. Chegavam a todo tempo conduzindo humanos como se fossem mercadorias.

Soldados armados ficam próximo a todo momento. A ordem era para não trocar nenhum tipo de informação, nenhum tipo de gesto, mesmo que fosse um singelo abraço de quem havia reencontrado seu ente querido no meio daquele caos.

O tempo todo nos entregavam água. Eles pareciam de certa forma preocupados com nossa sobrevivência, só não entendia o porquê.

Conforme aproximava a minha vez, notei que bem lá na frente havia uma tenda onde todos entravam e passavam por uma espécie de interrogatório, curto e objetivo. Alguns saiam pela direita escoltados por soldados e eram conduzidos, aos prantos, mais à frente, onde imensos precipícios se formavam. Quanto mais avançávamos por aquela fila, mais perceptível se tornavam os gritos que vinham bem lá do fundo. Raramente, algumas mulheres eram conduzidas pela esquerda até um helicóptero. Pude contar quatro deles estacionados em um heliporto, fora os que haviam deixado o acampamento.

Faltando apenas algumas pessoas na minha frente eu tive uma grande surpresa. Loren estava acomodada em uma mesa fazendo perguntas corriqueiras. Escondia-se atrás de um óculos escuro e trajava uniforme militar. Mal olhava na cara das pessoas, até que chegou a minha vez.

- Quero que seja sincera e objetiva em suas respostas. Será breve. Nada de perguntas, sou eu quem questiono. – disse ela com a mão apoiada na cabeça sem nem olhar para o meu rosto. – me diga seu nome, onde nasceu e se por acaso tem sonhado com este homem da foto.

Fiquei por um tempo olhando aquele rosto um tanto familiar até que seu olhar voltou-se para mim de maneira surpresa.

- Vejam só, se não é a incrível Cate que está na minha frente. Você não sabe o trabalho que deu para te encontrar.

Além do Céu (Volume 2) Projeto DeusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora