Caio não acredita no amor

Door marcobym

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Depois de uma desilusão amorosa, Caio decidiu não mais mais acreditar em amor. O que ele não imaginava eram a... Meer

Três anos atrás...
Sexta-feira e não estou apaixonado
Também conhecido como Cupido
Torta de climão
Erro de percurso
Nunca é muito tempo...
Lá e de volta outra vez
Espalham por aí boatos de que ficarei aqui
Três anos depois...
E no balanço das horas, tudo pode mudar
Time goes by so slowly
As definições de problemas foram atualizadas
Quem vive com medo, vive pela metade
Murphy não se esqueceu de você
Corra, Caio, corra!
Não fui eu e já estava assim quando eu cheguei
Me inclua fora dessa
'Seu' Moura
Encontro com o destino
Press start button
#Temço
De volta para o meu futuro

Sussuro Descuidado

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Door marcobym

Quinta-feira calorosa na Lapa, no Rio de Janeiro. Foi numa conversa de bar entre amigos, que a pergunta surgiu.

Aconteceu no Boteco do Tião, um daqueles famigerados pé-sujos, com mesas invadindo a calçada, máquina de caraoquê no fundo,— onde as pessoas cantavam alegremente sucessos da nossa música popular, desses que evidenciavam uma dor de cotovelo. Sua maior modernidade era a tevê de trinta polegadas presa na parede, passando a novela das oito, que agora era das nove. Em compensação, era muito aconchegante e tinha sempre uma cerva geladinha e um dos melhores frango a passarinho da cidade. Alguns naquela mesa eram amigos de longa data, outros, mais recentes. Caio, uma das pessoas sentada à mesa, estava distraído entre um gole de Coca-Cola e um pedaço de frango a passarinho quando respondeu:

— Eu não acredito em amor.

O grupo calou-se diante da resposta, encarando o rapaz, atônitos, como se tivesse dito uma heresia ou ofendido algum ente querido. Foi Max, um de seus melhores amigos, que quebrou o silêncio, num tom de brincadeira:

— Como assim, cara? Não existe ninguém que não acredite em amor!

— Prazer, ninguém — respondeu o rapaz com um sorriso amarelo, abocanhando mais um pedaço de frango a passarinho.

Aline ajeitou os óculos de aros redondos e o olhava seriamente:

— Como assim não acredita? Em nenhum tipo de amor?

Ciente do estrago que a sua afirmação estava causando, Caio ainda tentou explicar da melhor maneira possível:

— Bom, acredito no amor dos pais pelos filhos, em amizade.... Mas....

— MAS...? — perguntou o grupo em uníssono.

— Eu não acredito que uma pessoa possa amar outra. — E pegou outro pedaço.

Aline se levantou da cadeira, bufando, sendo segurada por Carol, sua namorada (e, diga-se de passagem, a mais sensata do casal).

— Então, o que eu sinto pela Carol é uma mentira??

— Não.

— Mas você acabou de falar que uma pessoa não pode amar outra.

— Sim, mas há exceções. Vocês duas, Pedro e o Max; o....

— Talvez o errado nesse tipo de pensamento seja você — cortou Max. — E pelo que eu me lembro, você estava namorando há um tempo atrás.... Era tudo mentira, então?

Caio sabia que a conversa ia chegar nesse assunto.

— Não, mas foi um erro. Eu não procurava amor. Desde aquela época era complicado eu chegar e fazer essas coisinhas de "fofuxo, amor, sodadi".... No fim das contas eu gostava mais do sexo do que do namoro em si. E olha que o sexo não era grande coisa.

O fuzilamento visual só não era maior do que o silêncio. As veias saltavam na testa de Aline. Pedro, o namorado de Max, parecia estar a dois passos de estourar a cara de Caio com a garrafa de cerveja. Até que foi Carol, a baixinha do grupo, que quebrou o silêncio.

— Faz sentido. — Todos a encaravam com espanto. De todos naquela mesa, Carol era a que Caio tinha menos afinidade. Na verdade, achava ela bem chata, daquele tipo de pessoa que é tão fã de uma coisa que sua gama de assuntos ficava restrita àquela coisa, fosse a nova temporada de uma série ou um café temático recém-inaugurado. Com certeza, ela ia fazer uma dezena de citações a Doctor Who e....

— Desde que conheci a Aline, ela nunca falou sobre você se relacionar de verdade com alguém. Sempre disse que era um ótimo amigo, mas que evitava ter algo a mais com as pessoas.

Nessa hora Aline não tinha onde enfiar a cara. Assim como Caio.

— Na verdade, acho que você até gosta disso — continuou Carol — É a sua zona de conforto. "Se eu não acreditar, não vai me afetar".

Era a vez de Caio ajeitar os seus óculos para disfarçar o nervoso. Queria abrir o chão e se esconder. Na verdade, queria antes tacar cerveja na cara de Carol, depois atear fogo e fugir enquanto os outros a socorressem. Ele sabia que cerveja não é inflamável, mas em sua mente parecia um ótimo plano.

Caio não dizia publicamente, mas sempre se orgulhou da sua capacidade de "ler" as pessoas. Consequentemente, detesta transparecer coisas sobre si. "Isso denota fraqueza",— pensava. E fazia com que coisas ruins acontecessem de novo.

O rapaz esboçou o sorriso mais amarelo que pôde e respondeu:

—Gente, vamos mudar de assunto, foi só uma frase infeliz que eu disse. Não vamos deixar uma coisa dessas estragar a noite, certo?

O pior é que estragou. O papo mal durou meia hora e Pedro já reclamava que tinha que ir, pois precisava adiantar algum trabalho e levantaria cedo. Aline, por sua vez, aproveitou a deixa e também resolveu ir. Contas pagas, despedidas secas. A não ser Max, que, ao dar tchau, dá um soquinho no braço de Caio.

— Ai!

— Isso é pra você aprender a ter mais um pouco de tato — falou, baixinho.

— Ok, entendi.... Da próxima vez eu minto. Canto Beatles e tudo.

— Tô falando sério. Você pegou pesado dessa vez.

— All you need is love.... Love is all you need.

A cara séria do Max foi interrompida pela buzina do carro do Pedro, que pelo visto estava com pressa, ou seja: queria estar longe de Caio o mais rápido possível. Apesar de tudo, Max teve tempo de dar um abraço caloroso seguido de um "te cuida".

Mal o carro deles desapareceu de vista e Caio já atravessava a rua, rumo ao ponto de táxi. Felizmente ainda havia um carro disponível, onde o motorista, um senhor de idade que mais parecia um Papai Noel em trajes civis, lia um jornal, a espera de um passageiro. Confirmando que ele estava livre, em minutos o rapaz seguia rumo ao seu lar.

Caio se considerava um ótimo passageiro. Daqueles que confiam plenamente na capacidade do motorista, pois, como nunca dirigiu na vida, seus trajetos para os lugares estavam limitados às linhas de ônibus que normalmente pegava. Tampouco reclamava do gosto musical do taxista. Quando a música não lhe agradava, sacava seu iPod e escutava as suas músicas numa boa. Mas existia uma coisa que detestava: quando o taxista força alguma interação social.

Tudo ia bem até perceber que o rádio estava sintonizado numa dessas estações FM que à noite passavam esses programas românticos açucarados, cujo ápice na programação é a tradução do dia, quando escolhem uma música com altas doses de açúcar/fossa com o locutor voz-rouca-de-tele-sexo recitando a tradução por cima da música.

— E hoje, aqui na Madrugada de Amor da sua FM 103,9 a nossa — voz sussurrantemente sensual — Tradução do Amor... uma música muito pedida pelos nossos ouvintes... —E começa o solo de saxofone da melodia em sincronismo com a cara de incrédulo de Caio — Sucesso de mil novecentos de oitenta e quatro. De George Michael, Careless Whisper... Sussurro Descuidado...

Tinha duas coisas que Caio não era nessa vida: Hétero e Obrigado. Mas evitando se estressar, catou seus fones e colocou a playlist de Roxette,— sua favorita. Classificava as músicas da dupla sueca em duas vertentes: as superfelizes e as me-deixem-aqui-na-fossa. Foi durante June Afternoon que percebeu que o motorista estava falando com ele.

— Hum? Desculpe, eu não escutei o senhor.

— Eu falei que não imaginava que essa música tinha uma letra tão bonita e triste.

"Droga. Interação social" — pensou.

— Desculpe, eu não estava prestando atenção.

— A letra falava de um cara que traiu a mulher que gostava e se arrependeu e ele tentava...

— Homem — interrompe.

— Como assim?

— George Michael é gay. A música fala é de um homem que traiu o companheiro. A letra original é propositalmente dúbia. Você pode interpretar das duas maneiras. Mas eu li que, anos depois, o George Michael admitiu que fez a letra da música pensando num homem que traiu O companheiro.

Mentira. Não havia lido em lugar nenhum. Mas a cara de espanto do taxista já valia a viagem. Com certeza isso ia pôr fim na conversa.

— Mas é triste. Se ele traiu é porque o amor acabou, né?

"Saco." Logo lhe veio à mente o conselho que Max havia lhe dado minutos antes.

— É. Acontece. — falou, tentando ser o mais seco e desinteressado possível.

— Mas e se fosse com o senhor, como reagiria?

Caio olhou pelo retrovisor, encarando o taxista, que esperava a resposta. Respirou fundo, imaginando a cara de Max com a mão na testa, temeroso pelo que ia falar.

— Eu prefiro pensar que, se alguém deixasse de gostar de mim, que, pelo menos, tivesse bastante dinheiro para compensar a perda de tempo. — respondeu secamente.

— Mas dinheiro não traz felicidade, meu jovem.

— Não? Me dê dinheiro para não ver se fico feliz.

— Mas é uma felicidade passageira, já o amor....

— Felicidade é feita de momentos felizes. Nós que temos essa ilusão alimentada pela novela das oito de que ela deve ser constante, assim como a que temos que viver correndo atrás de uma metade de laranja.

Para a felicidade de Caio, o resto do trajeto seguiu tranquilamente em silêncio. Ao descer na porta do prédio onde morava, ainda ouviu do taxista:

— Espero que um dia você seja realmente feliz, rapaz.

— Mas aí é que está! —retrucou Caio — Eu sou feliz sozinho. Te garanto que é mil vezes melhor do que ficar mendigando atenção dos outros com o pretexto de buscar um amor.

Caio entrava pela portaria ostentando um sorriso. Já o taxista ainda ficou alguns momentos olhando para o rapaz.

Talvez se ele soubesse o que aconteceria, teria feito diferente?

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