Inferno Perfeito () LIVRO CO...

By CamilaFerreira21

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Obra registrada na Biblioteca Nacional. Sinopse: Laura Ryder sempre sonhou em fazer história com uma grande... More

Sinopse
Prólogo
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Dan Walker - Passado Confidencial
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Amor Confidêncial
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By CamilaFerreira21


Laura Ryder

As primeiras batidas inconfundíveis da música:  "Smoke on the Walter" da banda " Deep purple" ressoa no interior da espaçosa caminhonete. No momento em que havia entrado, o outro homem não deixou que o silêncio reinasse, ligando o som logo em seguida. Agora ele acelera pelas ruas irregulares, deixando para trás a grande fumaça escura que sobe em abundância em direção ao céu.

♪ ♫ ♩ ♫ Smoke on the water, fire in the sky... ♪ ♫ / Fumaça sobre a água, fogo no céu... ♪ ♫

Viro-me, ficando novamente de frente para a estrada, encarando os dois homens a minha frente. Dan Walker abre sua maleta, parecendo concentrado enquanto vasculha os papéis no interior. Prendo o meu cinto e engulo em seco, tentando discernir todos esses últimos acontecimentos. Minha mente tenta entender esses dois pontos de interrogação nos bancos dianteiros.

Quem é este homem que segura a direção, afinal? Devo confiar nele também, ou eles irão me despejar em qualquer lugar assim que tiverem uma oportunidade?

♪ ♫ Smoke on the water, fire in the sky... ♪ ♫

Eles não pronunciaram uma única palavra até agora, e eu me pergunto como conseguem agir tão friamente? O que são um para o outro ou o que planejam? Será que eles irão me abandonar no Quênia? Não é o que quero realmente, mas não estaria com tanto medo se isso acontecesse. Afinal, eu estou viva e se ele me protegeu até agora, não acredito que iria me fazer algum mal. 

Ou faria?

Tento não pensar nessas coisas e esperar até chegarmos ao nosso destino, no entanto, sou surpreendida com freios derrapando e uma súbita parada da caminhonete onde estamos. Meu coração dispara e minha mente tenta entender o motivo do homem ter parado o veículo de forma abrupta,  já que não vejo nenhum perigo por perto. Ainda bem que estou com o cinto, esses homens são imprevisíveis demais.

— Aconteceu alguma coisa? — tento manter uma voz normal, mas eu falho. Os dois homens se entreolham e se viram simultaneamente para me encarar.

— Tire toda a sua roupa. — Dan Walker ordena. Amplio meus olhos e engulo em seco.

— O que, o que vocês vão fazer comigo? — eles se entreolham novamente e o outro homem retira sua blusa de manga comprida e escura, jogando-a sobre mim.

— Embora Mohamed esteja morto, você ainda está sendo rastreada. Tire a roupa e nos entregue. — sua breve explicação me faz soltar um longo suspiro de alívio. Ao menos eles ainda querem me ajudar e, é claro, se proteger de um súbito ataque.

— Será realmente necessário que eu retire... tudo? — seguro a blusa sobre meu colo encarando-os com expectativa.

— Você precisa tirar absolutamente tudo. — Dan instrui e, sem fazer mais perguntas, começo a abrir a minha abaya. Porém, eu paro no mesmo instante em que percebo que eles ainda estão me observando.

— Podem se virar, por favor? — o homem se vira dando vida ao motor do carro novamente enquanto Dan ainda me encara. Prendo a respiração. Nesse instante tenho uma  estranha sensação de que ele me vê por trás de todas essas roupas. Não precisarei estar vestida ao lado deste homem. Sempre me sentirei nua.

Depois que ele se vira calmamente com a sua habitual expressão sisuda, eu retiro a minha roupa e visto o gigante suéter do outro homem desconhecido. Entrego-o e ele apenas abre o vidro da caminhonete jogando-a para fora da janela. Estou completamente nua, coberta apenas por uma única blusa que parece ser ainda maior que a burca que estava vestida.

Me segurei ao máximo  para não falar e por incrível que pareça, consegui ficar muda durante todo o trajeto até passar pela fronteira da Somália com o Quênia. Vi milhares de refugiados tentando conseguir um espaço no maior abrigo do mundo em Dadaab que fica a 100 km da fronteira.

É triste me imaginar no lugar dessas pessoas que chegam ao ponto de fugir de seus lugares para não serem mortas pela guerra, movida principalmente por razões religiosas. Uma boa parte da Somália está tomada por grupos Islâmicos prontos para matar.

Vi crianças chorando de fome e pessoas dividindo um mísero copo de água. Muitos viajaram à pé por 22 horas sem colocar um alimento na boca. Eles são de uma magreza extrema, algo que chega a doer na gente. Os braços de alguns, parecem gravetos, nos dando a sensação de que irá quebrar a qualquer momento. Eu chorei novamente quando os vi. Mesmo que eu tenha passando por terríveis problemas, ainda sim, eles parecem pequenos perto de tudo que vi até hoje.

Depois de um tempo que pareciam horas, finalmente chegamos a um hotel no Quênia. Finalmente a Somalia ficou para trás, mas as lembranças ficaram presentes em minha mente... para sempre.

Todos estávamos em silêncio durante o trajeto. O silêncio parecia certo é bem mais confortável agora.  Não tivemos problema algum na fronteira. Meus documentos novos funcionaram como se fossem verdadeiros. Ainda sou Laura Ryder, mas sem o "Melissa" — o meu nome do meio. Arrumaram uma foto em algum lugar, algo não muito difícil de se conseguir, levando em conta meus trabalhos jornalísticos em Boston.

O carro estaciona e eu não espero que ele abra a porta. Decido descer e fecho-a atrás de mim. O lugar é simples e, pela primeira vez, sinto-me livre daquele inferno, embora ainda esteja bem longe de casa.

— Desculpe, não me apresentei. — o homem que estava ao volante, abre um sorriso aproximando-se de mim. Minhas sobrancelhas se unem. — Meu nome é Steve Cooper. Muito prazer! — ele estende sua mão para que eu o cumprimente. Tento sorrir, mas o meu cansaço não permite que eu faça.

— Laura Ryder — cumprimento-o, segurando sua enorme mão. Ele é mais alto que imaginei e com certeza é bem mais simpático que Dan Walker.

— Eu sei quem é você. — ele responde com os lábios levemente curvados.

Claro que ele sabe.

Ele sorri novamente e quando eu olho para os seus olhos negros e expressivos, consigo ver sinceridade neles.

— Preciso muito falar com o meu pai. — Sua expressão se fecha e Dan Walker aproxima-se de mim.

— Quando estiver no quarto você liga. — Ele informa, e eu abraço meu próprio corpo.

— Acho que preciso de um banho também. — Dan segura o meu cotovelo e encara o homem, cujo o nome agora eu sei que é Steve.

— Onde ficam os quartos? — Steve retira duas chaves do bolso de sua calça jeans.

— Aqui. — ele o entrega — Os quartos ficam no segundo andar. O hotel, embora seja simples, é o melhor que consegui para que possamos descansar até que o helicóptero fique pronto. Talvez amanhã, no máximo. Dan acena com a cabeça e me conduz, ainda segurando o meu cotovelo como se eu fosse uma fugitiva. Estou coberta pela enorme blusa, mas ao menos vestida com algo, mesmo que esteja parecendo uma louca vestida assim.

Entramos diretamente por uma escada do lado de fora para não chamar atenção dos poucos hóspedes e funcionários que circulam por aqui. Subimos apenas dois lances de escadas e isso foi o suficiente para me deixar exausta.

Ainda calados, seguimos em direção a uma porta no meio do longo corredor. Dan gira a fechadura e a empurra, entrando primeiro. Rolo os olhos pela sua "gentileza" de não me deixar entrar.

Ele começa a vasculhar cada centímetro e minhas sobrancelhas se unem.

— O que você está fazendo? — questiono-o. Ele naturalmente me ignora e continua a examinar cada maldito canto deste quarto. Ele termina de vasculhar o banheiro e logo faz o seu caminho ficando de frente para mim. Ele está perto demais.

Seus olhos finalmente encaram diretamente os meus e eu faço o mesmo encarando-os de volta, mas no meu caso, eu estou tentando procurar algum vestígio de algo ali dentro para que eu possa começar a formar uma ideia sobre o que ele quer ou é.

— Não abra a porta para ninguém, entendeu? — concordo com a cabeça enquanto ele retira do bolso a chave.

— Eu já sai daquele inferno. — pego-a de sua mão. — Você conseguiu matar aquele homem. Não há mais perigo aqui, ou há?! — ele solta um ar pelo nariz e olha para fora da janela.

— Sempre há perigo. O meu trabalho exige que eu seja cauteloso o tempo todo !

— E qual seria o seu trabalho? — pergunto desafiadora.

— Excelente tentativa, senhorita Ryder! — Ergo as sobrancelhas surpresa pela forma na qual ele me chama. Sem dizer mais nada, Dan Walker se vira e caminha em direção à porta. Quando ele está prestes a sair, ele para, virando-se de repente para me encarar.

— Steve comprou peças de roupas para você, incluindo roupas íntimas. Estão sobre a cama. Às dez em ponto estarei batendo na sua porta para comermos algo. Amanhã  você ligará para o seu pai em Boston, avisando que estará indo para casa.

— Por que não posso ligar agora ? — ele comprime a mandíbula e solta o ar pelo nariz.

— Até mais tarde! — ele se vira, e sai fechando a porta atrás de si.

Fico com os olhos presos sobre a porta fechada por alguns segundos, tentando assimilar tudo que me ocorreu até agora. Puxo o ar com força e exalo-o pesadamente. Viro-me e pego sacola sobre a cama. Abro-a e encontro um vestido simples, fechado até o pescoço de com mangas curtas e até mesmo uma lâmina de barbear. Uma calcinha, sutiã e um creme corporal feminino também estão no interior da sacola.

Fico maravilhada como se aqui dentro, tivessem os mais raros diamantes. Me pergunto quando Dan pediu para que ele comprasse isso e quando ele comprou, mas logo meus pensamentos são substituídos pela sensação de que irei tomar um banho de verdade depois de tantos meses.

Rapidamente caminho em direção ao banheiro levando comigo os produtos. Paro de frente ao espelho encarando o meu decadente reflexo. Me assusto com a imagem que vejo refletindo. O sangue está seco em minha pele formando uma textura grossa e enrugada. Alguns minúsculos cortes na testa e outro quase imperceptível no canto da boca parecem ser as únicas feridas que tenho, fora os hematomas que imagino ter por todo o corpo. Toda a parte que circula os meus olhos estão escuras, consequência da fumaça negra daquele incêndio misturada com a poeira. Mesmo que eu tenha tirado aquele lenço, eu estou quase irreconhecível com essa camada de sujeira impregnada na minha face.

Depois de retirar o grande suéter de Steve,  deslizo meu corpo nu para dentro do box de vidro. A impressão que tenho é que eu não tomo banho à séculos. Na realidade, eu não me lembro da última vez em que joguei água no meu corpo ou me higienizei como um ser humano normal.

Ligo o chuveiro como se estivesse prestes a realizar o maior sonho de toda a minha vida e quando os primeiros pingos de água começam a cair, abro um sorriso como há muito tempo não fazia. Deixo a água quente tocar o meu rosto e corpo enquanto passo o sabonete cheiroso sobre minha pele. Meu banho é como um ritual, como se estivesse lavando não só a sujeira, mas também tudo de ruim que passei por tantos meses.

Fico no chuveiro até que meus dedos se enruguem e só então decido sair. Saio mais leve e me sentido bem melhor como há muito tempo não me sentia. Enxugo meus longos cabelos castanhos agora brilhantes e devidamente lavados e em seguida me visto. O vestido é um pouco largo e meio estranho, mas é bem melhor que aquelas roupas fechadas que usei durante todos esses meses. Sinto-me gente.

Depois de retirar o vestido que experimentei; de fazer minha higiene, hidratar a minha pele, decido ficar apenas de calcinha e sutiã. Apago as luzes e me deito sobre a cama, não resistindo a maciez do espaçoso colchão. Encosto a cabeça no travesseiro e meus olhos pesam instantaneamente. É quase noite e Dan só virá às dez como havíamos combinado. Acho que tenho tempo para descansar, ao menos um pouco. Encaro o teto escuro e não demora muito para que eu mergulhe em um sono profundo.

Ouço estridentes assobios de bombas caindo do céu. Fecho os olhos com força, mas é impossível ignorar aquelas crianças e mulheres desesperadas. O rio de sangue corre pelos meus pés e inunda a rua que está repleta de pessoas em pânico. Isso me deixa horrorizada. O pavor que sinto é indescritível. Meu coração bate com fúria em meu peito e eu tento correr, mas alguém segura com força meus ombros. Grito desesperadamente, sentindo a morte próxima a mim.

— NÃO! — consigo ouvir a minha própria voz no mesmo instante em que abro meus olhos, encontrando alguém em meio à escuridão sentado ao lado da cama. Estava prestes a me afastar, mas mãos fortes me seguram.

— Sou eu. — essas duas simples palavras foram o suficientes para eu me acalmar. Dan Walker está aqui e eu não faço a menor ideia de como ele entrou.

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