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Laura

O motor do jipe ganha vida enquanto afivelo o meu cinto. Seguimos pelas ruas empoeiradas nesse ar morno do deserto da Somália em direção a Mogadíscio.

Enquanto o homem ao meu lado segura firme uma de suas mãos no volante, ele retira habilmente com a outra, o tecido escuro que cobre parcialmente o seu rosto, jogando-o casualmente no banco de trás. Sua face se revela totalmente e, por um momento, fico admirada com a sua aparência. De perfil, ele é um homem muito bonito. Seus cabelos castanhos curtos e expressão fechada, o faz parecer misterioso, instigante. Sua postura controlada me impressiona. Sem dúvida, este homem não aparenta uma pessoa que acabou de salvar uma mulher dentro de um carro em chamas prestes a morrer. Parece que nada o abala.

— Qual é o seu nome? — questiono, mas ele continua com o seu olhar fixo na estrada. Sua expressão séria não deixa nenhum resquício sobre o que ele está fazendo aqui. — Meu nome é Laura Ryder e eu realmente preciso de sua ajuda. Não tenho a quem recorrer estando presa neste país. Eu realmente agradeço por ter me tirado daquela perua ou eu teria morrido. — espero que ele diga alguma coisa, mas é como se eu não tivesse dito absolutamente nada.

Fico alguns segundos observando-o, mas decido continuar falando até que ele diga alguma coisa.

— Será que alguém me atingiu?

— Se tivessem atingido, você não estaria falando como se estivesse engolido um gravador com defeito. Aliás, você não estaria aqui. Eles não costumam errar a mira e geralmente atiram para matar.

— Mas eu ouvi barulhos de explosão e...

— Foram os pneus da perua que estavam velhos e gastos. Eles estouraram.

— Sim, mas parecia realmente que alguém tivesse atirado. Eu senti um tremor  enquanto eu dirigia e pode ser que...

— Fique calada. Não fale besteira. — ele me corta com uma voz áspera, fazendo com que eu me vire instintivamente para frente. O homem está claramente fazendo isso contra a sua vontade. Ter me salvado e trazido, parece deixá-lo contrariado de alguma forma.

Algumas horas se passam e o silêncio permaneceu durante todo o percurso. Finalmente saímos do meio do nada passamos por ruas marcadas pelo terror. O carro derrapa no cascalho e salta sobre pedras, com os eixos fazendo ruídos estridentes; passando pelas ruínas de casas que estão crivadas de balas. O sol brilha sobre os ossos ressecados de animais mortos espalhados no deserto. Mogadíscio é um dos lugares mais devastados pela guerra civil. Cada lugar que passamos, retrata marcas da destruição, morte e de uma guerra que dura mais de duas décadas.

Não fiz nenhum contato visual ao completo desconhecido e rezo silenciosamente para que ele não me deixe no meio deste caos. O carro aproxima-se de um porto e eu o reconheço imediatamente. Aqui seria o próximo lugar onde faria algumas reportagens com Christian. Porém, não tivemos tempo para fazer muitas coisas, no entanto. O farol de Mogadíscio  está em total ruína assim como em algumas fotos que havia visto pela internet. O jipe estaciona e eu não consigo entender o que ele faz aqui.

— Desça. - ele exige sem fazer contato visual.

— Você não pode me deixar aqui. — pela primeira vez, o homem rapidamente me encara nos olhos. Eu ainda estou com o lenço bem atado e não pretendo tirá-lo.

— Iremos trocar de carro, mas antes preciso pegar uma encomenda. - é a sua única resposta. Faço o que ele manda e desço do veículo ajeitando o tecido que cobre o meu rosto.

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